Carta à Berta: Eutanásia
Olá Berta,
O Parlamento nacional aprovou ontem a eutanásia. Mais uma vez Portugal entra no grupo da frente dos países que defendem os direitos fundamentais dos seus cidadãos. É claro que a lei ainda tem de passar pelo crivo do Presidente da República, porém, mesmo com o seu veto, depois de reconfigurada novamente pela Assembleia da República, o Presidente será obrigado a promulgar a lei.
É claro que se trata de uma lei polémica. Também é certo que há quem ache que a eutanásia é efetivamente contrária aos verdadeiros direitos dos cidadãos. Todos têm direito à sua opinião. Eu, minha querida amiga Berta, penso que se trata de um avanço civilizacional. O facto de alguém ter o direito de poder pôr fim à sua vida, sendo para isso assistido por um especialista, por ter perdido completamente a integral qualidade da mesma, parece-me um claro progresso da civilização ocidental e neste caso concreto do país.
A título pessoal relembro-me da minha mãe que faleceu devido ao Alzheimer há uns anos atrás. Ela era profundamente católica e crente, isto enquanto foi senhora da sua própria vontade, é claro. Todavia, assim que tomou conhecimento da sua doença, ainda num estado precoce, pediu aos filhos que não prolongassem artificialmente a sua vida e que a deixassem partir em paz. Não me lembro, pois já passou muito tempo, se alguma vez usou a palavra eutanásia, mas, mesmo que não o tenha feito, o pedido expresso que fez, significa precisamente o mesmo.
Não sei o que pensas pelo assunto minha querida, contudo, pelo que conheço de ti, acho que pensas como eu. Espero que esta lei se torne quanto antes uma realidade em Portugal. Despede-se este teu amigo de sempre, com um beijo de saudades,
Gil Saraiva