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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Desabafos de um Vagabundo: Memarrachos de Campo de Ourique I - No Melhor Pano Cai a Nódoa.

Mamarracho I.jpg Nem sempre tudo é belo e bonito no melhor bairro de Lisboa. Como em tudo na vida... ele há coisas que fogem ao nosso entendimento. Quem terá sido o arquiteto que desenhou este cofre gigante e quem foi o arquiteto da Câmara Municipal de Lisboa que o autorizou?

Não posso afirmar que tenha havido corrupção, mas que cheira a algo estranho cheira, ou serei só eu a achar isso? Na volta sou só eu, provavelmente este pode vir a ser o novo modelo, quiça... dos futuros edifícios da capital.

 

Gil Saraiva

 

 

 

Desabafos de um Vagabundo: Seja Bem-Vindo(a) quem vier por bem.

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JÁ SOMOS 7007, MAS QUEREMOS SER 8.000 EM 2024,

TEMOS DE TER VOZ SE NOS QUEREMOS FAZER OUVIR

Damos as boas-vindas aos nossos novos membros do grupo,  Campo de Ourique, no Facebook nesta semana:

Maria Madalena Goncalves,

Ana Fernandes Homem,

Juju Dealmeida,

Marta Marta,

Paulo Espadanal,

Sónia Borges de Carvalho,

Filipe Vieira,

Teresa Valente,

João Trindade,

Vítor Ferreira Alves,

Carlos Carvalho,

Paula Reis Nunes Correia,

Isabel Sena,

Cristina de Camacho,

Bruno Alexandre,

Paulo Riço,

Alberto Taveira,

Sofia Colombo,

Adriano Cunha Pinto-Nano,

Cátia Pedroso

 

Quem vem como amigo,

Venha e entre, a casa é sua.

Quem não vem também lhe digo

Que é melhor ficar na rua.

(quadra popular)

 

Obrigado,

Gil Saraiva

 

 

 

Desabafos de um Vagabundo: Jardim da Parada. Lago Limpo - O Impossível Apenas Demora Mais Tempo

Os meus parabéns à Junta de Freguesia. Desta vez Pedro Costa cumpriu!

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Desabafos de um Vagabundo: Divulgação dos Prémios Alma de Campo de Ourique 2023/2024 - 6/21

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Os Prémios Alma de Campo de Ourique 2023/2024

Os Prémios Lisboa com Alma visam destacar e galardoar algumas das maiores estrelas ao serviço de Campo de Ourique ou seja: o Maior Centro Comercial ao Ar Livre de Portugal. Estes Prémios envolvem a Restauração, o Comércio Lojista e todo o tipo de serviços da Freguesia e Bairro de Campo de Ourique. Os Prémios atribuídos estão a ser revelados três a três ao longo desta semana, entre dia um de maio e o dia sete deste mês. Mas vamos ao Segundo trio:

  • Na Categoria de o Melhor dos Melhores como: Hamburgueria de Bairro do Bairro de Campo de Ourique tem todo o destaque o Vencedor: hamburgueria Santo Graal Burger & Grill.

A hamburgueria fica localizada na Rua Ferreira Borges 47, 1350-126 Lisboa, onde pode ir comer mesmo não sendo um grande apreciador de hambúrguer, pois na verdade há excelentes alternativas, mas se optar pelo hambúrguer, ficará a entender o porquê do prémio.

Pode comer um bife da vazia cortado à moda de naco de carne, em sangue, ou um hambúrguer, um Holy Grail, por exemplo, entre um excelente conjunto de opções. O vinho tinto alentejano da casa, servido à taça, é de boa qualidade, mas pode optar por um leque vasto de alternativas. A comida é sempre maravilhosa e o hambúrguer bate todo o top da Time Out.

O atendimento prima por ser de 5 estrelas para cima. O ambiente convida ao convívio e tem um não sei o quê que o torna muito acolhedor, talvez tenha a ver com a magnífica decoração. Um espanto. O preço, não sendo um achado, acaba por ficar muito em conta tendo em consideração a qualidade e quantidade da comida. Não lhe será fácil imaginar melhor dentro do género.

  • Na Categoria de o Melhor dos Melhores como: Pastelaria e/ou Padaria do Bairro de Campo de Ourique – Vencedor: pastelaria “AZ DE COMER”.

A pastelaria fica situada na Rua Almeida e Sousa nº. 32, 1350-007 Lisboa e é muito popular entre os locais, oferecendo boa comida portuguesa com menus diários do almoço que mudam regularmente. O serviço é rápido e as refeições são muito económicas, com porções de tamanhos diferentes disponíveis em muitos dos pratos, como mini, meia porção e o normal.

Também tem um serviço prático de padaria mas o destaque vai para a pastelaria e confeitaria, sendo uma das casas que maior variedade de bolos oferece, quer os pequenos e as miniaturas, como os grandes para levar para casa ou ali comer à fatia. Para quem gosta de bolinhos cremosos com frutas recomenda-se especialmente um São Marcos com deliciosos pedaços de ananás.

Outra das vantagens é a excelente amplitude e dimensão da casa que não só parece muito acolhedora como, pelo conforto, se torna ponto de encontro das senhoras de mais idade. A grande esplanada é mais frequentada por gente jovem, embora a freguesia seja muito variada. É verdade que há casas nesta categoria com preços mais baratos, porém a qualidade tem preço.

  • O prémio na Categoria de o Melhor dos Melhores como: Tasca e/ou Pequeno Restaurante do Bairro de Campo de Ourique tem como grande Vencedor: restaurante “O Bitoque”.

O restaurante fica localizado na Rua Ferreira Borges, nº. 59, 1350-127 Lisboa e é a genuína e verdadeira tasca de Campo de Ourique, quiçá uma das últimas de Portugal.

Trata-se de uma pérola da cozinha tradicional portuguesa, um tesouro único no bairro, escondido, bem à vista de toda a gente, mas perfeitamente conhecido pelos residentes mais sábios. Não estou a falar dos novos, mas dos que, com 10 ou mais anos de bairro, conhecem bem as suas preciosidades e onde comer bem, sem perder couro e cabelo, para o alcançar com a qualidade desejada.

O interior cheio leva 32 pessoas, tendo, para isso de ficar 8 ao balcão. O bom e velho, estilo das tascas nacionais que se aprimoraram, no contexto do país, a partir dos anos 60 do passado século e que o requintaram até quase meados dos anos 90, tem aqui toda a sua mais ilustre representação. A decoração é alegre e saloia, desdenhando a necessidade da existência dos designers neste mundo. Qual joia da coroa, um maciço balcão corrido, de ponta a ponta, no espaço principal com, pelo menos 8 lugares sentados, forrados a lona azul, carimba a tasca.

Nas carnes, os destaques são tantos que só vou mencionar alguns, pois encontramos desde o cozido à portuguesa, das quintas-feiras, até à dobrada à moda do Porto, passando pelo arroz de pato no forno, a carne de porco à alentejana, os escalopes de peru grelhados, as favas tradicionais, os rojões ou o bitoque à casa. Em todos eles, sem exceção, a sensação de regresso à aldeia é inevitável. Quanto aos peixes variam, conforme a oferta existente aquando das compras, efetuadas antecipadamente, pelo raiar do dia. É fácil encontrar um bacalhau à lagareiro, peixe espada grelhado, filetes de pescada fritos, perca, robalo ou dourada grelhada e, até mesmo, um delicioso arroz de gambas com ameijoa.

Gil Saraiva

 

 

 

Desabafos de um Vagabundo: Divulgação dos Prémios Alma de Campo de Ourique 2023/2024 - 3/21

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Os Prémios Alma de Campo de Ourique 2023/2024

Os Prémios Lisboa com Alma visam destacar e galardoar algumas das maiores estrelas ao serviço de Campo de Ourique ou seja: o Maior Centro Comercial ao Ar Livre de Portugal. Estes Prémios envolvem a Restauração, o Comércio Lojista (incluindo Supermercados, Frutarias, Minimercados, Lojas de Conveniência e Quiosques) os Serviços Liberais, os Serviços Solidários, de Saúde e Sociais, os Espaços Desportivos, Recreativos, Artísticos e Culturais e os Espaços de Lazer, Culto e Segurança, da Freguesia e Bairro de Campo de Ourique.

Os Prémios atribuídos irão sendo revelados três a três ao longo desta semana, entre dia um de maio e o dia sete deste mês. Mas vamos ao primeiro trio:

  • Prémio Máximo de Superação de 2023/2024, com o Diploma Superlativo de Excelência – Vencedor: Movimento Salvar o Jardim da Parada.
  • Na Categoria: Espaços e Atividades de Solidariedade, Lazer, Culto e Segurança, do Bairro de Campo de Ourique – Vencedor: Movimento Salvar o Jardim da Parada.

Ambos os prémios atribuídos pela luta aguerrida com que, contra tudo e contra todos têm tentado alterar a localização da Estação de Metro prevista para o Jardim Teófilo de Braga, vulgo Jardim da Parada. Sempre com uma lisura e respeito não correspondido pelas pessoas e instituições adversas a esta mudança. Reunir, em petição, mais de 8.000 assinaturas, num bairro cuja população ronda as 22.000 almas, contando bebés, crianças e adolescentes é um feito cujo agradecimento e louvor aqui prestado fica muito aquém do que realmente este movimento merece por direito próprio e pelo empenho solidário e sacrificado de todos os seus elementos.

  • Na Categoria de o Melhor dos Melhores como: Restaurante de Bairro, do Bairro de Campo de Ourique – Vencedor: restaurante Verde Gaio.

O Restaurante fica situado na Rua Francisco Metrass nº. 18, 1350-142 Lisboa e tem mesmo que experimentar porque, seja carne ou seja peixe, sejam petiscos ou acompanhamentos, todos os pratos são servidos com comida fresca, em que se pode efetivamente confiar.

Aqui, a relação qualidade versus preço é sempre uma agradável surpresa, num restaurante que se moderniza a cada instante, tentando manter-se moderno, eficiente, limpo, atrativo, para conseguir conquistar cada vez mais um estatuto de restaurante familiar e de bairro de excelência comprovada. É notável poder comer com guardanapos de pano num restaurante onde o preço das refeições apenas pedia guardanapos de papel. Com efeito, tudo faz a diferença.

No comando da equipa o senhor Jorge gere não apenas o esforço do pessoal, em grande parte familiares, mas, igualmente, uma grelha a carvão como poucos o conseguem fazer. É escusado dizerem-lhe que a casa está perfeita pois este patrão empregado continua a pensar que para o mês que vem ou para o ano ainda pode fazer mais e melhor.

Gil Saraiva

 

 

 

Desabafos de um Vagabundo: Prémios Lisboa com Alma

Desabafos Prémios Lisboa com Alma.jpg Prémios Lisboa com Alma

Prémios Alma de Campo de Ourique

2023/2024

Os Prémios Lisboa com Alma tiveram início em 2012 e visam destacar e galardoar algumas das maiores estrelas ao serviço de Campo de Ourique ou seja: o Maior Centro Comercial ao Ar Livre de Portugal. Estes Prémios envolvem a Restauração, o Comércio Lojista (incluindo Supermercados, Frutarias, Minimercados, Lojas de Conveniência e Quiosques) os Serviços Liberais, os Serviços Solidários, de Saúde e Sociais, os Espaços Desportivos, Recreativos, Artísticos e Culturais e os Espaços de Lazer, Culto e Segurança, da Freguesia e Bairro de Campo de Ourique.

Serão entregues individualmente os seguintes diplomas:

  • Diploma Superlativo de Excelência
  • Espaços e Atividades de Solidariedade, Lazer, Culto e Segurança, do Bairro de Campo de Ourique
  • Restaurante de Bairro
  • Hamburgueria de Bairro
  • Pastelaria e/ou Padaria
  • Tasca e/ou Pequeno Restaurante
  • Restaurante Vegetariano e/ou Vegan
  • Restaurante Italiano e/ou Pizaria
  • Snack-bar
  • Cafetaria, Croissanteria, Leiraria, Casa de Chá e Geladaria (gelataria)
  • Restaurante de Petiscos e/ou Tapas
  • Restaurante Temático, Especializado, de Chef
  • Restaurante de/com Cozinha Internacional
  • Restaurante Regional
  • Restaurante de Peixe e/ou Marisqueira
  • Takeaway
  • Bar
  • Comércio Lojista (Loja Comercial de Retalho, Bazar, Supermercado, Frutaria, Minimercado, Loja de Conveniência e Quiosque)
  • Pequenos Serviços Comerciais (Espaços criativos)
  • Serviços (Liberais, Saúde e Sociais)
  • Espaços Desportivos, Recreativos, Artísticos e Culturais

Estes Prémios de Mérito são atribuídos pela marca  apoiada pelos mais de 8.500 votos possíveis dos grupos do Facebook: Encontro de Palavras / Lisboa com Alma / Turma de Campo de Ourique / Viver Feliz em Campo de Ourique / Bairro de Campo de Ourique / Campo de Ourique. Assim, os Prémios Alma de Campo de Ourique 2023/2024 são distribuídos no biénio 2023/2024 como Grandes Prémios do Melhor dos Melhores nas categorias: Diploma Superlativo de Excelência / Espaços e Atividades de Solidariedade, Lazer, Culto e Segurança / Comércio Lojista (Loja Comercial de Retalho, Bazar, Supermercado, Frutaria, Minimercado, Loja de Conveniência e Quiosque) / Pequenos Serviços Comerciais (Espaços criativos) / Serviços (Liberais, Saúde e Sociais) / Espaços Desportivos, Recreativos, Artísticos e Culturais e na área da Restauração são ainda distinguidos os seguintes tipos: Takeaway / Snack-Bar / Bar / Cafetaria, Croissanteria, Leiraria, Casa de Chá e Geladaria (gelataria) / Pastelaria e\ou Padaria / Restaurante de Petiscos e\ou Tapas / Restaurante Vegetariano e\ou Vegan / Restaurante Italiano e\ou Pizaria / Hamburgueria de Bairro / Tasca Tradicional e\ou Pequeno Restaurante / Restaurante de\com Cozinha Internacional / Restaurante de Peixe e\ou Marisqueira / Restaurante Temático, Especializado, de Chef / Restaurante Regional / Restaurante de Bairro.

O Diploma é válido e considerado ativo entre 01/05/2023 e 01/05/2025, altura em que serão entregues os prémios do biénio seguinte, cujas categorias poderão ser as mesmas ou ser alteradas consoante a deliberação do próximo júri.

Conforme já foi explicado anteriormente, o júri é constituído por 25 elementos dos grupos do Facebook atrás referidos, cujo voto tem peso dois, e pelos membros dos grupos que, através de mensagem enviada para mim, queiram votar e cujo voto tem peso um.

Os prémios refletem a opinião do júri e dos 8.500 membros pertencentes aos grupos participantes e são divulgados no próximo dia um de maio de 2023, sendo entregues até 5 de maio aos respetivos vencedores. 

Gratos a todos os que já participaram e bem-vindos sejam os que até 30 de abril ainda venham a participar. Não se esqueçam que para votar basta enviar-me uma mensagem escrita. Obrigado.

 

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta n.º 632: Primeiro-Ministro e Presidente Têm uma Relação Gay.

Berta 632.jpg Olá Berta,

O Primeiro-Ministro, António Costa é gay, querida amiga, e presentemente, tem um caso sério com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também ele gay. Trata-se de um caso amoroso e com o óbvio envolvimento sexual. Ao contrário do que possas imaginar isto não é um segredo nacional, o Correio da Manhã prepara-se para lançar a notícia em primeira mão. Não sei se o deveria ser ou não, mas de facto não parece haver qualquer tentativa de guardar segredo sobre o assunto.

Contudo, Bertinha, possivelmente devido aos cargos ocupados pelos protagonistas, a situação levou algum tempo a ser assumida por ambos os envolvidos. Os dois defendem que a sua intimidade nada tem a ver com as suas funções de Estado e que, devido ao facto de serem figuras institucionais, toda a relação é contida no foro estritamente privado, não influenciando sequer a distância institucional e constitucional que é devida ao poder executivo do Governo e ao poder de supervisão presidencial.

Pois é, Berta, os dois primeiros parágrafos desta carta, são totalmente falsos e não passam de mentiras. Então, porque é que, por um instante que seja, toda a gente hesita quando os lê? Porque, como diz o velho ditado: “Para a mentira parecer verdade, tem que trazer no seu fundo qualquer coisa de verdade.” É precisamente aqui que hoje em dia se agarram as “Fake News”, a desinformação, a fraude na internet, as falsas campanhas, as notícias manipuladas.

Todas elas partem de um condimento verdadeiro onde depois se mistura o enredo, seja ele qual for, em que se tenta convencer alguém, quantas mais pessoas melhor, cara amiga, de que os factos são conhecidos, até banais, que são realidade, que são baseados na ciência, na excelente qualidade dos estudos, dos cientistas, dos peritos ou dos especialistas, seja de que área for.

Por exemplo, Bertinha, se eu cito que um estudo,  publicado por uma revista credível, de uma farmacêutica famosa, diz que usar um smartphone mais de uma hora seguida pode causar cancro no cérebro em 80% dos casos, ao fim de mais de 50 repetições desse exercício, quem me lê, mesmo sem ter como saber sequer se a farmacêutica alguma vez se debruçou sobre o tema em causa, é levado a pensar que o que essa revista descreve, é realmente um facto.

Analisemos o exemplo de cima:

  1. É um facto de que: existem estudos sobre muita coisa.
  2. É um facto de que: a revista existe e é credível
  3. É um facto de que: a Farmacêutica é verdadeira, credível e real.
  4. É um facto de que: há muitos smartphones no mercado.
  5. É mentira que a revista tenha publicado o estudo e que a farmacêutica tenha feito este estudo.

Porém, minha amiga, a montagem que eu possa ter feito, mostrando um artigo qualquer que não se consegue ler, na revista em causa, pode levar o leitor a acreditar que o estudo existe e que até o viu, ele próprio publicado na citada revista, quando, na realidade, foi apenas induzido a pensar que viu algo que realmente não existe.

Assim, Berta, quando esta pessoa na sua boa fé, conta o que viu a um amigo, este, que já nem viu a falsa publicação, apenas transmite a outros amigos o que o seu amigo, uma pessoa credível e de boa fé, lhe transmitiu. E assim se propaga um disparate. Baseado em quê? No facto de já todos termos escutado rumores de que falar ao telemóvel faz mal e não nos parecer a notícia assim tão absurda. Todavia, agora circula por aí, que um estudo de uma grande farmacêutica provou x e y, o que é absolutamente mentira.

Ora, dirão os que já acreditam nesta “Fake News”:

     - A que propósito é que alguém inventaria um estudo destes? Claro que é verdade. (No entanto, amiguinha, só o dizem porque desconhecem que há um grande movimento anti tecnológico no mundo suportado por gente com muito poder e dinheiro).

E é assim que puras mentiras passam a verdades, caríssima. Até existem notícias falsas que nem se preocupam em apresentar uma verdade, algumas apenas estão interessadas em semear a dúvida na cabeça dos outros.

Todavia, minha querida, estas coisas sempre foram usadas no mundo, pelo menos desde que o homem fala. O perigo hoje em dia é a velocidade com que as notícias se espalham, se sucedem e sem verificação de factos ou fontes (porque ninguém tem tempo), se tornam realidades alternativas inteiramente falsas. Para piorar as coisas a internet é um excelente meio de ajudar a aumentar, ampliar e alastrar a chama, o fogo, o incêndio, tornando-o num verdadeiro inferno.

Analisemos agora, à luz desta explicação, Berta, os dois primeiros parágrafos desta carta:

  1. É verdade que António Costa é Primeiro-Ministro.
  2. É verdade que Marcelo Rebelo de Sousa é o nosso Presidente da República,
  3. É verdade que existem gays em Portugal e que por lei não é permitido serem-lhes negados quaisquer direitos, como a outro qualquer cidadão, porque eles são cidadãos de plenos direitos e que a homofobia é condenada em Portugal.
  4. É verdade que Costa e Marcelo são amigos há cerca de meio século.
  5. É verdade que o Correio da Manhã lança muitas manchetes bombásticas e/ou escandalosas.
  6. É verdade que Costa e Marcelo são ambos figuras institucionais.
  7. É verdade que Costa representa neste momento o poder executivo.
  8. É verdade que Marcelo é o garante da supervisão nacional e o zelador do cumprimento constitucional.
  9. É também verdade que ambos defendem o seu direito à sua própria vida privada.
  10. Só é mentira que sejam gays ou que estejam envolvidos em qualquer relação desse tipo, não porque isso é errado ou certo, apenas porque nenhum deles é gay, quanto mais ou dois.

Contudo, minha amiga de tantos anos, não fosse a mentira introduzida tão disparatada e sem qualquer ponta de fundamento, se fosse, por exemplo, que Costa e Marcelo se tinham pegado a sério um com o outro e que Marcelo ia destituir a Assembleia da República, se calhar, algumas pessoas acreditariam que se podia tratar de um facto ou, no mínimo, ficarem na dúvida.

Depois, bastaria essa gente falar na sua dúvida ou certeza a terceiros para o rumor se instalar e começar a ganhar foros de verdade. É tão simples quanto isso. É simples, é medonho e já é usado em todo o mundo com uma leviandade assustadora. Basta lembrar que Putin usou a existência de grupos neonazis na Ucrânia para falar em criar "uma operação militar especial para «desnazificar» o país vizinho”. Podia ter dito a verdade, podia falar que ia invadir a Ucrânia e entrar em guerra aberta com os ucranianos, mas a mentira favorece-o mais do que a verdade e o facto é que há imensa gente boa, mal informada, a acreditar na mentira. E isso é tudo o que importa. Deixo um Beijo de despedida,

Gil Saraiva

 

 

 

Desabafos de um Vagabundo: Série Romance - A Felina - Noites de Lua Cheia - 64

A Felina - 64.jpgA última noite de Lua Cheia de novembro foi inesquecível. Íris, achou surreal dar consigo, meio sem saber como, depois do jantar na Portugália, a fazer amor dentro de uma 4L, estacionada no passeio, mesmo em cima e em frente à porta da Casa-Museu Amália Rodrigues. A festa foi interrompida, felizmente, entre quecas, por dois polícias de giro, que não acharam nada giro presenciar o balançar da viatura, qual traineira fadada a outros fados, em frente da casa da lenda do fado.

A multa escapou apenas porque um dos polícias reconheceu Íris. Mas ela não deixou de ter de ouvir o velho polícia a recomendar mais decoro a uma doutora tão conhecida em Lisboa. Com um pedido de desculpas e depois de inverterem a marcha e voltarem ao parque de estacionamento, ela foi tomada novamente pelos braços de Dia e colhida com as costas apoiadas na 4L. Ora, quem conhece a viatura sabe perfeitamente quão desconfortável é a frente de uma 4L, todavia, o frenesim era tal que Íris nem deu pelo incómodo.

A jovem acordou em cima da mesa da sala de jantar, seminua, com o cheiro de ovos mexidos, bacon, sumo de laranja natural e torradas. Dia estava a terminar de preparar o pequeno-almoço e de o colocar na mesa na parte que ela não ocupava. Poisou as torradas, contornou-a, deu-lhe uma lambidela entre pernas e perante o ar admirado dela indagou:

     ― O que foi? Não posso lamber? É só para me abrir o apetite para o pequeno-almoço.

     ― Nesse caso também quero experimentar. Anda cá, vá… passa-me aí o salame… ― ordenou a jovem esticando e encolhendo o dedo indicador da mão esquerda. ― Hum… tens razão, abre o apetite.

     ― Sim, sim. É uma invenção muito antiga, já os romanos falavam do uso comum do pau multiusos. A menina deve saber disso nos seus estudos da arte e literatura romana, não? ― indagou Diamantino.

     ― Não me recordo de alguma vez ter lido a coisa descrita dessa forma “pau multiusos”, mas quem sou eu para duvidar de um brilhante arqueólogo na plenitude do seu conhecimento do terreno. ― Íris ironizava agora. ― Todavia, as práticas romanas são inspiradoras.

     ― Verdade! Com os romanos era pau para toda a obra. ― Dia, ria.

Depois de Diamantino ter saído para as escavações, já com um revigorante banho tomado e pronto para o regresso ao trabalho, Íris, ficou a imaginar que desta vez, a entrada nos Ciclos da Sombra, não iam impedir que a sua líbido continuasse a funcionar. Ela adorava aquele sujeito. Estaria a apaixonar-se? Pensou um pouco no assunto. Por fim, sem chegar bem a uma conclusão, achou que logo se veria. De momento estava feliz, consolada e desejosa que ele voltasse no fim da tarde.

Foi ver o correio. Tinha uma carta da CUF com o relatório escrito que tinha solicitado relativo a uma bateria de exames e análises que fizera no final da semana anterior. Achara estranho, talvez pela primeira vez, o facto de não ter tido medo algum, quando soubera que Vítor, o seu ex-Superintendente, escapara às malhas da justiça.

Precisava de saber se ela, tal como Vítor sofria da doença de “Urbach-Wieth”. Era uma doença raríssima, apenas eram conhecidos umas centenas de pacientes no mundo com essa maleita. Seria estranho que ela sofresse do mesmo mal que o seu, agora, arqui-inimigo. Aliás, ela só ouvira falar nisso, precisamente na noite em que ambos se tinham envolvido um com o outro.

Na altura julgara que o homem estava a inventar para parecer um individuo raro e diferente. Porém, descobrira que a doença existia mesmo e comprovara que ele a tinha registada no seu ficheiro pessoal, que ela invadira na base de dados da PJ. Ora, a doença afetava a estrutura do cérebro e, mais concretamente atacava a amígdala, destruindo-a. Com a ruína desta zona do cérebro responsável pela sensação de medo, a pessoa não tem medo de coisa nenhuma. Tem, logicamente, conhecimento do conceito de medo, sabe, porque aprendeu o que é o medo e quais os sintomas, mas, efetivamente, nunca o sentiu.

“Era um pouco como se alguém fosse a esta nossa região do cérebro e literalmente a escavasse”, explicava o Professor Doutor António Damásio, num artigo já com algum tempo, que ela entretanto descobrira. Ora, António Damásio era um famoso médico neurologista, um neurocientista português, que trabalhava no estudo do cérebro e das emoções humanas, sendo também Professor de neurociência na Universidade do Sul da Califórnia.

O cientista, com mais de uma dúzia de prémios e honrarias atribuídas pelo mundo fora, era também autor de vários livros sobre o cérebro, que, porém, tinham o condão de cativar o mais profundo leigo na matéria. Fora precisamente por ter descoberto que parte do estudo sobre a doença de “Urbach-Wieth”, lhe era devida, que ela se interessara mais ainda sobre o assunto, sobre o qual, efetivamente, desconhecia quase tudo.

A jovem abriu o envelope A5. Era algo volumoso. Dentro vinham os resultados dos exames e das análises. Ela nem lhes ligou. Foi direita ao relatório e procurou pelo resultado. Perto do fim ali estava, preto no branco, o resultado final. Tinha-lhe sido diagnosticada a doença de “Urbach-Wieth”. Por isso ela nunca temia fosse que situação fosse. O seu problema não era de feitio, era físico.

Aquilo era algo preocupante e muito perigoso. Ia ter que ter muito mais atenção à sua vida do que lhe dispensara até ali. Uma pessoa que, por exemplo, não tem medo do fogo, pode mais facilmente deixar-se queimar inadvertidamente. Mas quem diz fogo, diz alturas, venenos, cobras, aranhas, desafios arriscados e por aí em diante, até aos confins das infinitas situações em que se possa colocar com perigo. Íris, iria ter de tomar muita atenção, cem vezes mais do que tivera até ali, sempre que estivesse numa situação de risco. Até agora tivera sorte, muita sorte. Porém, sendo aquela a sua realidade, não iria poder apenas contar com isso. Tinha que estar alerta, sempre alerta e agir com consciência e não precipitadamente.

Fora isso que ela sentira no Vítor. De alguma maneira o seu olfato apurado descobrira, sem no entanto a conseguir identificar, a falta de medo do Vítor e identificara-a consigo própria. Ela sabia que a maioria das reações humanas produziam odores diferentes. Fossem elas medo, ansiedade, volúpia, prazer, depressão, paixão e por aí fora. No entanto, o seu desconhecimento da doença não lhe permitira detetar o que ao certo a atraíra no Vítor. Era isso mesmo, a ausência de medo, emitia um odor diferente nele que ela identificara consigo mesma. Fora isso que a atraíra.

Satisfeita com a descoberta, a jovem guardou a carta nos seus documentos na sala secreta. Já sabia o que a atraíra em Vítor, já o podia combater.

Outro mal seu era a hipertimesia associada à sua imensa memória. Durante o resto do mês de novembro e até ao fim do ano, a rapariga terminou os seus estudos universitários. Antes das férias escolares de Natal apresentara para o seu novo doutoramento o projeto que criara para o Museu Nacional de Arte Antiga e que acabara, uns dias antes de vir aprovado de Bruxelas. Graças a isso poupara um ano de trabalho. Podia iniciar em janeiro de 2023 os seus ansiados doutoramentos em arqueologia e arte. Iria frequentar o PhD da Universidade de Edinburgh em Arqueologia e o Doutoramento em História da Arte, com especializações em História da Arte da Antiguidade e Museologia e Património Artístico da Universidade Nova de Lisboa.

Íris, como sempre, queria encurtar o tempo de estudo necessário, isso de passar quatro anos a preparar uma tese não era para ela. Por isso mesmo, pagou previamente todas as propinas inerentes à frequência de ambos os doutoramentos e depois conjuntamente com o seu currículo enviou uma proposta de apresentação das teses para o final de 2023. A base de trabalho estava relacionada com as escavações de Lisboa e devido ao interesse nacional e internacional da descoberta, bem como graças ao seu vasto portefólio, a sua proposta fora aceite em ambas as universidades.

Agora restava-lhe juntar os manuais e os livros, falar com os orientadores, arranjar uma estratégia de trabalhar as teses em campo e, na posse de tudo isso, preparar a apresentação das duas teses para o princípio de dezembro de 2023. Já sabia, de antemão, que teria de ir algumas vezes a Edinburgh, mas isso não tinha qualquer importância.

Na noite da passagem de ano, estando Íris e Dia ou Diamantino ainda juntos e a celebrar a entrada em 2023 com o grupo que liderava as escavações, o telemóvel da jovem tocou. O número era anónimo e ela esteve para nem sequer o atender, contudo, fruto de um pressentimento, resolveu permitir a ligação da chamada. Do outro lado alguém dizia:

      ― Feliz Ano Novo minha querida Íris. Sinceramente e do coração. Faço votos para que tenhas um ano muito feliz. Ainda sinto que fui incorreto no modo como te tratei. Sabes quem fala?

      ― Claro que sei, Vítor. Um bom ano para ti também. ― respondeu ela.

      ― Olha, não sei se tens visto a Felina, devido à tua atividade com a Polícia Judiciária, contudo, se estiveres em contacto com a gata gostaria que lhe desses um recado da minha parte, pode ser? ― indagava o homem com alguma sobranceria.

      ― Pode sim, Vítor. Todavia, se for para falares de vingança ou algo do género, não achas melhor ires tentando sobreviver longe da cadeia. A vida na penitenciária não me parece adequada ao teu estilo. Devias tentar esquecê-la. Afinal, se vires bem as coisas, ela deixou-te fugir. Não foi atrás de ti e podia ter ido… ― contrapôs Íris, tentando aplacar a raiva que sentia existir do outro lado.

      ― Ela não me deixou fugir, eu fugi sem que ninguém desse conta disso. Quanto a não vir atrás de mim… ― referiu, Vítor. ― Não veio porque sabia que jamais me conseguiria encontrar. Eu sou bem melhor que essa gata vadia. Mas isso agora nem interessa. O recado que eu te agradeço que lhe dês, se alguma vez entrares em contacto com ela é para que ela aproveite bem todos os dias de 2023 que conseguir, porque a Felina jamais verá o fim do ano. Vai ser este ano que ela morre sob o meu jugo.

      ― E tu queres que eu a previna de que a vens matar? Não achas melhor eu ficar calada e tu apareceres de surpresa? Parece-me mais inteligente… ― questionou Íris.

     ― És mesmo uma querida. Preocupada comigo. Logo tu que representas a única pessoa com quem não fui correto… ―avançava Vítor, aparentando algum remorso. ― Porém, não te preocupes eu quero mesmo que ela não durma descansada. Vai tremer todos os dias a olhar para todo o lado a pensar quando e de onde eu posso aparecer para o seu julgamento final.

     ― Fica tranquilo que se eu tiver oportunidade passarei a mensagem. Não concordo, mas respeito a tua vontade. Ao fim ao cabo, tu é que sabes de ti… ― como que advertiu a rapariga, preocupada com a sede de vingança de Vítor. ― Preferia que fosses fazendo a tua vida ou, melhor dizendo, refazendo a tua vida em paz.

      ― Eu terei paz com a morte dela, minha querida. Adeus! ― Vítor desligou a chamada.

 

FIM

 

Final do romance policial "A Felina - Noites de Lua Cheia" de Gil Saraiva

 

 

 

Desabafos de um Vagabundo: Série Romance - A Felina - Noites de Lua Cheia - 63

A Felina - 63.jpgAs restantes Noites de Lua Cheia daquele mês de novembro tornaram-se por isso mesmo eternas, sensuais, carnais, viciantes e viciadas, quase como se não houvesse amanhã. Se Diamantino tivesse uns bigodes retorcidos nas pontas e virados para cima, que efetivamente não tinha, estaria encontrado o domador de leões, tigres e panteras típico de um circo máximo.

Com efeito, não lhe faltava o chicote enrolado à cintura, nem o sorriso esmaltado a branco no rosto moreno. Era ele quem passara a dar a cara nas entrevistas com a comunicação social. As câmaras adoravam-no chegando a fazer inveja à Felina que, embora confiante, parecia não estar nada interessada em repartir o jovem com ninguém.

Os Ciclos da Luz, nomeadamente a Lua Cheia, só terminaram a quinze de novembro e aquelas noites e dias foram praticamente uma Lua de Mel entre aquele incansável casal. Num final de tarde, chegaram inclusivamente a fazerem amor sobre uma velha mesa de madeira empoeirada, algures nas instalações da biblioteca romana, perante a assistência incrédula de livros, papiros e estátuas estupefactas com quase dezoito séculos de história. Um busto sereno de Júlio César, parecia até concordar com aquela efervescência amorosa através de um sorriso esculpido delicadamente no mármore alvo e imaculado, quem sabe se de Carrara.

 O número de Alfredo Neto, o dono da oficina onde a Felina confiava as suas viaturas, piscava no telemóvel de Íris. Ao atender a jovem ficou a saber que aquilo que pedira ao seu mecânico chefe estava pronto. Íris, relatou, detalhadamente onde queria a encomenda, não apenas o dia e a hora, mas também local e a ordenação em que a mesma deveria estar disposta. Até lhe enviou um esboço para não haver enganos.

No início da noite de terça-feira, dia quinze de novembro, a carrinha da polícia saiu da esquadra de Sintra. No seu interior iam quarenta milhões de euros aprendidos à Kalinka, mais uns bons milhões em ouro e joias. Uma outra carrinha levaria no dia seguinte, à mesma hora, a droga apreendida para os cofres da Polícia Judiciária. A carrinha escolhida para os valores era uma das viaturas blindadas do corpo de intervenção e levava três homens bem armados no seu interior. O condutor, um comissário e um chefe principal.

Íris, não tivera dificuldade em descobrir qual o itinerário da carrinha da polícia. Para evitarem o tráfego da IC19 eles vinham para Lisboa pela A16 e depois entravam na capital pelo IC37. Eram mais nove quilómetros, mas, àquela hora, vinham sempre a andar. Foi perto do nó de Agualva que tudo aconteceu. Na beira da estrada uma 4L estava deitada de lado, com fumo a sair da zona do motor.

A noite caíra já há um bom bocado e não era fácil entender o que acontecera, via-se o chão molhado em volta da viatura, o que levava a pensar que o depósito estava a verter gasolina para o pavimento. O banco do condutor parecia vazio, porém, um braço aparecia e desaparecia, a espaços, visível pelo vidro frontal. Alguém parecia estar muito mal dentro da 4L. O tempo para agir parecia escasso.

A carrinha da polícia parou. Rapidamente, os polícias correram para o acidente tentando chegar à 4L antes que o fumo do motor se transformasse em fogo, engolindo para sempre aquele braço que parecia perder força. A viatura aparentava ter sofrido um acidente aparatoso pois não havia chapa que não estivesse amolgada ou arrancada e perdida por ali, pelo asfalto. Não parecia haver um vidro intacto.

Subitamente os três polícias ouviram o som da sua carrinha a arrancar, deixaram de estar iluminados pela luz que dela vinha e que permitia ver o acidente. A viatura do corpo de intervenção desaparecia a toda a velocidade em direção a Agualva. A chave ficara na ignição e as portas tinham ficado abertas. Um erro tremendo. O agente que tinha vindo a conduzir deitava as mãos aos bolsos e confirmava que não guardara a chave.

O comissário resolvera tratar primeiro do ferido da 4L, mas foi surpreendido pelos acontecimentos. Dentro da viatura um braço de um manequim, preso a uma engenhoca, subia e descia lentamente. Não havia vivalma no carro acidentado. O chefe principal acabava de perceber, ao levar a mão ao solo molhado, que se tratava de água e não de gasolina. Daí a descobrirem que o fumo do motor provinha de uma lata larga com borracha queimada a derreter foi um saltinho. Os polícias tinham sido enganados e infantilmente roubados. Quando chegou o auxílio já a carrinha desaparecera há vinte minutos.

A carrinha do corpo de intervenção foi encontrada quase à entrada de Agualva. Os sacos do dinheiro estavam vazios e as três malas enormes de alumínio tinham os cadeados arrombados e estavam vazias. Bem, quase vazias. Dentro da última descansava uma moeda da Felina, assinando o roubo. Em meia hora tinham desaparecido as joias, o ouro e vários milhões de euros, como que por magia.

Na Rua da Fábrica, em Campo de Ourique, a Felina acabara de chegar à sua sala secreta, guardando no cofre o resto das joias que trouxera escada acima até ao seu apartamento. Tinha subido e descido aquelas escadas treze vezes, mas finalmente tinha o ouro todo e as peças de ourivesaria guardadas no cofre. No seu Dácia ficara o dinheiro. Esse seria guardado no primeiro andar, na sua sala especial, no número quatrocentos e quarenta e quatro da Rua de São Bento. Depois de tudo tratado ali, foi para lá que seguiu.

Íris ligou ao seu mecânico chefe. Agradeceu a 4L e a montagem da armadilha. Este, vaidosamente esclareceu que usara uma viatura acidentada retirada de um ferro velho em Pero Pinheiro, juntamente com uns salvados de que precisava para a sua oficina e que na compra não fora registada a 4L individualmente, apenas o peso de um lote de salvados diversos. A matrícula que colocara na viatura tinha outra origem e também não seria possível descobrirem de onde viera. O mais difícil fora arranjar o braço mecânico do manequim e montar o engenho no banco do condutor.

Alfredo Neto, estava muito feliz por ter sido útil. Para a próxima vez que a Felina precisasse dele não tinha que lhe pagar o trabalho tão generosamente, nem de forma antecipada, teimava novamente. Ela só tinha que pedir. Depois, insistentemente, voltava a repetia que nem precisava de ser pago. Sem ela ele jamais se teria conseguido voltar a erguer, a ter um negócio e a viver com alguma prosperidade como agora vivia. Ela sabia disso.

Sim, ela sabia. Todavia, quem trabalha tem de ser pago e, ainda por cima, aquele fora um trabalho de risco. Ele refilava mesmo assim. O que ela lhe pagara dava para comprar um carro novo de gama média e ele só usara uma viatura a desfazer-se. Além disso, dava-lhe imenso gozo realizar estes trabalhos para ela. Sempre que os fazia sentia-se trinta anos mais novo.

O assalto tinha sido muito bom. Quase cem milhões, sacados de forma simples, sem muito risco e com imenso gozo. A cereja no topo do bolo era a fortuna vir da Kalinka. As joias, ela ainda ia ter que as desmontar e vender, o ouro teria se ser entregue aos seus fornecedores para transformar em barras de cem gramas, mas o dinheiro continuaria a ajudar o seu serviço de acudir os mais necessitados. Tinha sido um trabalho limpinho.

Tocaram à sua porta, estava ela a fechar a sua sala secreta. Foi ver quem era. O sorriso desalinhado de Diamantino apareceu na pequena câmara da campainha. Ela sorriu e indagou pelo intercomunicador:

      ― Sim… o que deseja? ― Íris, parecia formal. ― Se me vem vender bíblias ou passar a Palavra do Senhor, informo que já tenho o livro e quanto à palavra de uma Testemunha de Jeová, ainda há três dias tive cá duas outras testemunhas que nunca mais se calavam. Estou cheia de palavras. Entendeu?

      ― Não, não! Eu venho é mesmo jantar e depois passar-lhe a pila deste senhor. ― Diamantino, rindo, respondia com a boa disposição de sempre. ― Ou a senhorita já teve pila que chegue?

      ― Jamais me verá queixar de pila a mais. Por quem o senhor me toma? Mas não suba, eu desço. Hoje apetece-me jantar fora. ― Íris, divertida, respondia, por entre um riso contagioso.

O arqueólogo esperava por ela no passeio junto à porta do prédio. Hoje iam no carro dele, podia ser? Indagou contente, ainda com a cabeça cheia de pó, com ar de quem acabara de chegar das ruínas romanas onde ambos trabalhavam. Atravessaram a rua e chegaram ao parque de estacionamento. Ele aproximou-se de uma Renault 4L vermelha, que quase parecia a do acidente forjado do início da noite. Íris desatou a rir. Aquilo era um déjà vu, ela nem queria acreditar.

O poiso preferido de Dia, como ela chamava a Diamantino, era a Cervejaria Portugália na Avenida Almirante Reis. O ar clássico do restaurante abria-lhe o apetite, explicava ele, mais uma vez, ao entrarem. O homem era desconcertante. Nunca conhecera ninguém que estivesse sempre feliz até o conhecer. Contudo, era verdade, nada desanimava aquele Indiana Jones.

 

(continua no último fascículo do livro) Gil Saraiva

 

 

 

Desabafos de um Vagabundo: Série Romance - A Felina - Noites de Lua Cheia - 62

A Felina - 62.jpgTambém devia à mãe ter-se formado em direito, ter entrado para a Polícia Judiciária, e até ter aprendido a usar os seus conhecimentos legais para extorquir dinheiro aos agiotas e aldrabões deste mundo, sem nunca ter sido acusado uma única vez. A senhora sua mãe era uma artista perfeita sabendo sempre que papel representar para tirar vantagem de uma qualquer situação. Só a matara porque o raio da velha, a dada altura, entendeu que ele não podia ter outras mulheres e tinha que ser só dela.

Mas fora mais uma morte santa. Ele sabia que o pai, quando era vivo, tinha feito um seguro chorudo da casa deles, uma casa que já estava na família há mais de duzentos anos. Era um velho palacete da baixa de Lisboa, que ele sempre conhecera a precisar de obras. Um dia, há quinze anos atrás, a mãe acordara, fora fazer o pequeno almoço para ela e para ele (sem saber que ele já saíra de casa há mais de uma hora) e catrapus, uma fuga de gás levara-a para os anjinhos.

As verbas do seguro, somado ao dinheiro da venda do terreno do palacete destruído, para um hotel, tinham feito dele, um jovem com uma elevada conta bancária, lindo, atlético e bem de vida. Mesmo que para isso tivesse que ter chorado imensas lágrimas de crocodilo para afastar de si quaisquer suspeitas. Exatamente como fizera quando se vira livre do pai. Ele tinha um jeito tremendo para se livrar de trabalhos e a Polícia Judiciária ensinara-o a tirar partido do sistema.

Ele já possuía uma identidade falsa há mais de cinco anos, sempre pintara o cabelo de louro, desde muito novo, porque a sua mãe o achava parecido com um ator qualquer, lá do tempo dela, que também era louro. Já se lembrava, Robert Redford. Agora bastava-lhe pintar uma vez o cabelo de castanho escuro, cortá-lo muito curto, entregar a sua casa ao senhorio, e retirar o dinheiro da sua conta e colocá-lo na conta da nova identidade. Um advogado, com uma barba de três dias e ar de playboy.

Com o desastre da quinta de Sintra ele passara a ser Daniel Trindade Villa-Lobos, a nova identidade que aprendera a forjar na PJ, advogado, com ascendência espanhola, nascido em Lisboa há quarenta anos atrás. Recentemente regressado de uma estadia de seis anos no Brasil.

Mesmo tendo perdido a oportunidade de crescer na Kalinka, Vítor, achava que tivera sorte. Escondera-se durante o ataque à quinta e só saíra do seu esconderijo, com a sua farda da PSP, quando esta força policial começara a revistar o solar. Com cuidado, para evitar conhecidos, saíra pelo seu próprio pé do casarão. Ajudara a carregar a carrinha que levara o dinheiro, as joias e o ouro para Sintra e seguira com a carrinha até lá.

Uma vez em Sintra tirara a farda, deitara-a num contentor do lixo, satisfeito por já não ter que andar de chapéu e cabeça para baixa para não ser identificado em qualquer câmara, e seguira de táxi para Lisboa, à civil, como um passageiro qualquer. Fora uma fuga limpinha e sem espinhas. Agora restava-lhe passar uns meses a cultivar a sua identidade de advogado playboy, sem levantar muitas ondas, para depois reaparecer em algum lado, novamente brilhante e triunfante.

A Felina ligou para o seu mecânico de eleição, na manhã de dia doze já perto do meio-dia. Precisava de um favorzinho. Não era uma tarefa fácil, mas também não era impossível. Descreveu o que planeara com todo o detalhe e depois enviou-lhe um esquema do que queria, desenhado ao pormenor. Seria possível fazer aquilo? Ele, respondera que sim, desde que não apanhasse polícia à hora em que teria de agir. Não apanharia, isso ela podia garantir. Combinou tudo, ficou de lhe deixar um envelope com o pagamento na caixa do correio deste e despediu-se do amigo.

Na comunicação social o fim-de-semana e os três primeiros dias da semana seguinte foram dedicados a dois temas, o primeiro fora anunciado pela primeira vez na quinta-feira, dia dez, um dia antes do assalto à quinta de Sintra, que foi o segundo tema desses dias. As obras, do metro na linha vermelha e na verde, do metropolitano de Lisboa tinham encontrado algo.

Com efeito, a descoberta gerara já um pedido a Bruxelas para suspender, por uns meses, a continuação destas linhas até o achado arqueológico ser devidamente explorado. Tratava-se de uma grande extensão de ruínas romanas, que gerara um enorme alvoroço entre arqueólogos, historiadores e especialistas em antiguidade clássica. Uma das grandes descobertas era uma enorme biblioteca romana, praticamente intacta.

O achado era de tal ordem relevante que estava a ser considerado de importância histórica mundial. A biblioteca continha milhares de documentos e outras obras em perfeito estado de conservação. O Museu Nacional de Arte Antiga, conseguira-se colocar de imediato como um dos organismos principais responsáveis pelas investigações e a Doutora Íris Vasconcelos fora convidada, ainda no sábado, dia doze, a ser a investigadora-chefe nomeada pelo museu, em articulação com a Direção-Geral do Património Cultural, a entidade encarregada de gerir o projeto.

As Universidades de Lisboa, Porto, Coimbra e Algarve, através das suas Faculdades de Letras e dos Cursos de Arqueologia, em colaboração direta com o Museu Nacional de Arqueologia, atualmente encerrado para uma reconversão ao abrigo do PRR, o Plano de Recuperação e Resiliência Europeu, formavam os restantes parceiros principais.

Estes eram, assim, encarregados da investigação arqueológica, tendo sido selecionados dois arqueólogos de cada instituição para integrarem a equipa que fora constituída para liderar o projeto, sob a coordenação e gestão da Direção-Geral do Património Cultural, conforme indicação do Governo.

As excelentes relações, ultimamente reforçadas, entre o Governo e a Doutora Íris Vasconcelos valeram-lhe a escolha como a investigadora líder da equipa escolhida pela DGPC, mesmo não sendo uma arqueóloga e sim uma investigadora de literatura, história e arte antiga, principalmente a cultura greco-romana da antiguidade. A SIC conseguira um exclusivo a DGPC e com o Museu Nacional de Arte Antiga para documentar as investigações e garantira a assessoria da Doutora Íris Vasconcelos.

Paralelamente a TVI, por seu turno, prometia já uma nova série de treze episódios, sobre o assalto, com a assessoria de Íris para a nova série. Sim, porque ter o exclusivo nacional das imagens da Felina era como ter um maná caído do céu que convinha explorar. Desta vez teria alguma concorrência do canal americano de cabo, o “Crime”, mas isso não a importunava em termos de audiências nacionais. Melhor ainda, Cristiana Bandeira, conseguira do “Crime” os direitos televisivos para transmissão dos documentários destes para o canal generalista.

Por um lado, a descoberta arqueológica em Lisboa ia atrasar as linhas verde e vermelha da capital em dois anos, para descontentamento do Metropolitano que agora passava a ter tempo para fazer, por exemplo, o estudo alternativo à estação do metro no Jardim da Parada, uma vez que a falta de tempo para a sua realização já não se punha, cumprindo o determinado pela Assembleia da República, que tinha discutido a petição do movimento “Salvar o Jardim da Parada” e votado favoravelmente a um estudo de pormenor da alternativa na Rua Saraiva de Carvalho, conjuntamente com o Largo da Igreja.

Por outro lado, o Governo aprovara a criação do Museu Romano, sob a alçada do Museu Nacional de Arte Antiga de forma a expor o vasto espólio encontrado nas escavações. Mas a pérola daquele achado era, sem margem para dúvida, a Biblioteca Romana. Todos os documentos encontrados estavam a ser fotografados ou digitalizados, conforme a técnica menos corrosiva em cada caso, passando o museu depois, na secção criada para o efeito, a lançar livros na versão original e em português com uma equipa de vinte e cinco especialistas sob o comando de Íris Vasconcelos.

Diamantino Rodrigues Infante, embora sendo um dos arqueólogos mais novos do grupo selecionado para liderar as escavações, fora eleito, entre os oito especialistas, o líder desse grupo, passando a servir de interlocutor com Íris, com o Museu Nacional de Arte Antiga e com a Direção Geral do Património Cultural. O jovem, na casa dos trinta e cinco anos, viera de Coimbra para a capital com um entusiasmo incomparável. Lembrava muito um Indiana Jones à portuguesa, mas ele fazia por isso, pois era um admirador confesso do personagem de Steven Spielberg.

Na verdade, as calças de ganga gastas, a camisa preta, o colete de cabedal castanho e o chapéu à cowboy, a tapar um cabelo castanho, revolto e com raios se Sol aqui e ali, compunham na perfeição a personagem. Mas o olhar vivo, inteligente e irreverente é que tornavam todo o papel verosímil.

Foi ele que cativou e encantou a Felina e não o inverso, desde a sua chegada logo na primeira noite. Foi quase mágica a forma como ambos se envolveram, ele atraído pelo lado selvagem da gata que achava transparente, ela por adorar o puro charme daquele homem feito à medida para si.

 

(continua) Gil Saraiva

 

 

 

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