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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta n.º 584: Aquasutra - A Última Moda Sexual Deste Verão

Berta 584.jpg Olá Berta,

Provavelmente ainda não ouviste falar em “aquasutra” (há quem escreva “aqua sutra”), mas desde que, este verão, a empresa de brinquedos sexuais Lelo lançou a sua versão do kamasutra, com a designação de “aquasutra”, que a coisa se propagou que nem rastilho aceso em paiol de pólvora e explodiu com estrondo, alastrando avassaladoramente e maioritariamente através da internet e das revistas femininas, mas não só.

Já há, inclusivamente, casos de praticantes apanhados em flagrante, normalmente fora de horas, nas piscinas de hotéis ou praias de resorts familiares. Porém, minha querida, a euforia parece não parar e a palavra tornou-se moda.

A prática, assumida pelo uso do termo, instalou-se no seio das classes média e alta, mas promete atingir o seu esplendor assim que chegar às camadas mais populares, o que não deve tardar muito, cara Berta.

Para se ser praticante de “aquasutra” basta assumir-se aderente, a que acresce a simples utilização da água no contexto da relação sexual. Para que isto aconteça basta o uso da mangueira de jardim, de uma fonte citadina noite dentro ou do duche, da banheira, do jacúzi ou da piscina. Depois, querida Berta, a sofisticação evolui num curso de água doce, num lago, num tanque de rega, numas termas, numa cascata, numa praia ou no mar.

Graças à imaginação humana, minha amiga, as variantes são muitas, havendo algumas, mais sofisticadas, que implicam o uso de equipamento de mergulho, tudo para que esses atos possam ser submersos, demorados e excêntricos.

Como em tudo, numa nova moda ou tendência, a fortuna pessoal dos envolvidos ajuda bastante nalgumas práticas mais radicais, como alugar um aquaparque para praticar a modalidade durante o uso de um escorrega, por exemplo. Conforme eu costumo dizer, querida Berta, o impossível apenas demora mais tempo.

Todavia, a propagação da modalidade é tal que, hoje, a conceituada magazine feminina “Women's Health” dedica uma página inteira ao assunto, sob o título: “Aquasutra: as melhores posições aquáticas que tem de experimentar.” O subtítulo também é sugestivo e diz: “É uma das fantasias sexuais mais comuns: sexo na água. Este verão experimente uma destas posições”.

Em seguida, minha amiga, o corpo do texto começa por explicar: “O verão é sinónimo de praia e / ou piscina. E a diversão ‘aquática’ não se resume a férias relaxantes ou desportos aquáticos. Também se estende à arena sexual. Ter relações íntimas na água é, sem dúvida, uma das fantasias sexuais mais difundidas devido ao elevado nível de excitação gerada, bem como à carga erótica associada a estes momentos. A Lelo (marca de brinquedos sexuais) criou a sua própria versão do Kamasutra – o mítico manual de sexo – numa versão aquática: o Aquasutra – ou o ranking das melhores posições sexuais para fazer debaixo de água.

Quer seja a sua primeira vez debaixo de água, ou se já atingiu o clímax entre as ondas, tem de tomar nota destas posições: o cavalo-marinho, a escada do prazer, o abraço ou o tapete do prazer.”

Depois a revista explica parágrafo a parágrafo cada uma das posições, tentando manter o decoro suficiente para não ver o artigo rejeitado pelas suas leitoras de elite. Aliás, Berta, se fizeres uma pesquisa no Google, encontras facilmente o artigo difundido online pelo magazine, basta seguir o link apresentado em: https://www.womenshealth.pt/aquasutra-as-melhores-posicoes-aquaticas-que-tem-de-experimentar/sexo/409380/.

Nada tenho contra estas novas tendências ou modas, minha querida amiga, ainda por cima sabendo eu que a prática sexual dentro de água é anterior aos tempos da antiguidade clássica e, quiçá, remonta aos primeiros seres humanos. Aqui, de novo, efetivamente, apenas existe o nome, a sua transformação em conceito e a sua consequente transformação em manual ilustrado, o: “Aquasutra”.

Por hoje fico-me por aqui, despeço-me na esperança de que esta carta te tenha dado algumas ideias para este verão, porque afinal, morando tu, amiga Berta, à beira da Ria Formosa, a existência de cavalos marinhos é uma realidade próxima. Beijo,

Gil Saraiva

Carta à Berta. Os Filhos da Solidão...

Berta 77.jpg

Olá Berta,

Folgo em saber que gostaste dos 6 episódios da história que te contei nas últimas cartas. Com que então estiveste em Faro, a passear no Jardim Manuel Bivar, junto à doca. Gosto que ele te tenha feito lembrar o Jardim da Parada, de Campo de Ourique. Eu sei que não são parecidos, apenas ambos têm um coreto, as árvores daqui dão lugar às palmeiras dai, ambos têm bancos e ambos têm pombos. Contudo, é ternurento saber que ligaste os 2 por causa dos velhotes que viste espalhados pelos bancos do jardim.

Porém, se olhares pelos jardins de todo o país, vais ver sempre essas imagens. Uns poderão não ter coreto, mas todos, sem exceção, terão velhos sentados pelos bancos, muitos deles olhando a mesma coisa, onde quer que os encontres: a solidão. Vou-te enviar um poema, à laia de balada, que fiz sobre o assunto, já tem algum tempo, pois eu, como sabes, também já vivi em Faro, foi há muitos anos, mas vivi. Espero que gostes:

OS FILHOS DA SOLIDÃO

(balada de um tempo que passa)

 

Em Campo de Ourique, no Jardim da Parada,

Eu desvio o olhar para não ver nada…

Em Faro nos bancos do Jardim Manuel Bivar

Eu fecho os olhos para não olhar...

 

Caras rugosas, com idade de avô,

No Jardim, sentadas, na Doca,

Ou perto do Lago,

Formas sombrias onde o tempo parou…

Bocas que apenas provam o vago,

Rostos que já ninguém foca...

Olhando o vazio...

Silêncios de arrepio...

 

Em Campo de Ourique, no Jardim da Parada,

Eu desvio o olhar para não ver nada…

Em Faro, nos bancos do Jardim Manuel Bivar,

Eu fecho os olhos para não olhar...

 

Caras dos filhos da Solidão,

Avôs, avós,

De tantos como nós,

Rostos reformados,

Sem compreensão...

E vozes, berros e gritos calados

Nos olhos perdidos,

Pelos filhos esquecidos...

 

Em Campo de Ourique, no Jardim da Parada,

Eu desvio o olhar para não ver nada…

Em Faro, nos bancos do Jardim Manuel Bivar,

Eu fecho os olhos para não olhar...

 

Na calçada eu vejo migalhas de pão

Para os pombos, por certo,

Alimentar...

Mas para os filhos da Solidão

Não vejo por perto

Uma esperança a pairar...

Filhos que agora são avôs, avós,

De gente que já os esqueceram,

Perdendo os olhares, os laços, os nós,

Daqueles para quem eles viveram…

 

Em Campo de Ourique, no Jardim da Parada,

Eu desvio o olhar para não ver nada…

Em Faro, nos bancos do Jardim Manuel Bivar,

Eu fecho os olhos para não olhar...

 

E passam os dias,

Os meses, os anos,

E mudam os rostos da solidão...

Novos enganos,

Outra geração,

Mas a forma de olhar não vai mudar,

Não...

As mesmas rugas parecem ficar

Em outros olhos pregados no chão...

 

Em Campo de Ourique, no Jardim da Parada,

Eu desvio o olhar para não ver nada…

Em Faro, nos bancos do Jardim Manuel Bivar,

Eu fecho os olhos para não olhar...

 

E ao olhar os filhos da solidão,

Escuto o cantar da brisa cansada

Cantando a balada do tempo que passa,

Escuto de inverno, primavera, verão,

Escuto o outono no Jardim da Parada,

Escuto a balada perdendo a raça,

E vejo, no Jardim Manuel Bivar,

A doca de lágrimas sempre a brilhar…

 

Em Campo de Ourique, no Jardim da Parada,

Eu desvio o olhar para não ver nada…

Em Faro, nos bancos do Jardim Manuel Bivar,

Eu fecho os olhos para não olhar...

 

Com o refrão me despeço, minha amiga Berta, obrigado por me fazeres recordar. Recebe um beijo saudoso deste teu amigo que não te esquece nunca,

Gil Saraiva

 

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