Carta à Berta: 169 infetados com o Covid-19.em Portugal. Tolerância, Paciência e Calma.
Olá Berta,
Não sei se te lembras, mas ainda na quinta-feira eram 78 os infetados confirmados com o Covid-19. Hoje, sábado são já 169 os casos de infeção no país, mais do dobro. Face a terça-feira, quando os doentes chegaram aos 39, passa o quadruplo e em apenas 4 dias. Eu sei que números são isso mesmo, apenas números, mas, por detrás destes algarismos, está gente como nós.
Haverá certamente uma explicação para este aumento galopante de infetados. Claro que há. Quem não conhece uma, duas ou três pessoas que não fez caso dos alertas? É evidente que todos conhecemos. Todavia, ainda estamos a tempo de acordar. Se nos unirmos nesta luta contra este inimigo fantasma, que não se vê, nem se sente, até já nos ter atacado, pode ser que ainda se vá a tempo.
Unir, estranhamente, significa mantermo-nos afastados, evitarmos o contacto com terceiros, convivermos menos e mantermos um confinamento social, que nada tem a ver connosco, enquanto povo lusitano. Somos mais alegres e mais sociáveis do que alguma vez imaginámos. Temos um presidente de afetos porque somos um povo de afetos. Ainda bem que assim é. Serão precisos muitos afetos quando tudo isto terminar. Até lá, teremos que os manter guardados se queremos vingar enquanto nação. Para além disso, precisamos de começar a pensar positivo.
É urgente guardarmos junto aos afetos a nossa tendência para dizer mal de qualquer coisa e para criticarmos tudo e todos por tudo e por nada. Se pensar positivo faz falta, que venha ele, o pensar com otimismo. Afinal, dos 169 casos já existem 2 que não estão ativos. É de realçar também que: ainda não se registou nenhuma morte em Portugal. Excelente!
Na verdade, se olharmos para, por exemplo, Hong-Kong já tem 4 mortes com apenas 138 casos e a Argélia com 37 doentes infetados vai no terceiro óbito. Alguma coisa devemos estar a fazer bem. Eu sei que temos 10 pacientes em situações mais graves ou críticas, porém, ainda não perdemos ninguém.
Para além disso somos um povo extremamente solidário e resiliente. Vamos ter todas as oportunidades para provarmos que assim é. A crise, a que acresceu a chegada da Troika, foi forte, abalou o país, contudo, a atual é múltiplas vezes mais grave e profunda. Resistir, acatar, evitar o conflito e o desgaste da má língua, são imposições imperativas para os próximos tempos.
Estamos em Estado de Alerta Nacional, e isso pede de nós que estejamos verdadeiramente alerta. Atentos aos procedimentos de contacto, atentos a quaisquer sintomas, retirados nos nossos lares (aqueles a quem isso for possível), porém, acompanhando ao máximo a informação, que for sendo prestada pelos meios de comunicação social, e prontos a agir, se para tal formos solicitados.
Uma palavra é extremamente importante: Tolerância. Principalmente associada a outra, a Paciência, e auxiliada por mais uma, a Calma. Com estas 3 juntas vamos ser muito difíceis de mandar abaixo. Com elas, iremos evitar o pânico, resistir à adversidade e estarmos atentos, pois nunca se sabe quando até poderemos vir a ajudar, seja lá no que for, se por acaso acontecer.
Não me vou alongar muito mais, amiga Berta, precisamos de amor, entendimento e compreensão. Precisamos de todos nós. Afinal, podemos estar isolados, mas nunca estaremos sós. Despeço-me com uma quadra que fiz tem algum tempo, aliás já te a mandei, mas que, à moda de o António Aleixo, vem, agora, na altura certa:
Sorria, nunca ande triste
Pelos caminhos da vida,
Que a vida, que em nós existe,
Não tem volta, só tem ida!
Gil Saraiva