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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta n.º 614: O Dia Em Que As Mulheres Dão O Pito Aos Homens

Berta 614.jpgOlá Berta,

Podes não saber, mas está quase a chegar “O Dia Em Que As Mulheres Dão O Pito Aos Homens”. Não fiques espantada, minha amiga, porque é a mais pura das verdades. Até há quem queira fazer disso uma proposta séria para que a UNESCO classifique o ato, este ato, como uma verdadeira tradição, ou seja, um facto que, por direito, deve ser considerado “Património Imaterial da Humanidade”.

É claro que, nem sempre a coisa foi assim. Ao que parece, da pré-história até aos nossos dias, em inúmeras situações, a coisa costumava ser diferente, sendo verdade que o homem não esperava que a mulher lhe desse o pito para que ele, enquanto sujeito mandante, dele pudesse fazer um uso indiscriminado. A vontade das mulheres, minha querida, era então pouco relevante.

Contudo, alastraram-se por todo o mundo, principalmente nos últimos séculos, os casos em que para chegar ao pito o macho precisa do consentimento da fêmea que o possui. Posso afirmar, amiguinha, que, à medida que as civilizações se tornaram mais elaboradas, principalmente na região do mundo a que hoje chamamos de Ocidente, e há medida que a igualdade de género foi sendo reconhecida, este velho hábito foi perdendo grande parte da sua tradicional imposição. As mulheres, conseguiram conquistar o seu espaço, os seus direitos e impor a sua vontade, tornando-se donas do próprio pito.

Com efeito, Bertinha, vir um homem de gancha em riste, com preparos de guloso, firme e hirto, dar, só porque lhe apetece, uso à sua brilhante e orgulhosa dádiva, já não passa por um direito adquirido e, graças aos direitos humanos e à igualdade de género, minha querida, isto passou a ser considerado como abuso sexual, um crime contra a mulher que, finalmente, ganhou o nome de violação, com penas severas para quem o pratica.

Hoje em dia, gentil companheira, apenas nalgumas ditaduras, muitas delas de cariz religioso quase cego ou nos meandros obscuros da exploração sexual e do tráfico internacional é que as mulheres ainda não decidem o que desejam fazer ou não com o seu pito. É justo que assim seja. Uma outra qualquer visão cheira a escravidão, a subserviência, a machismo ou a prepotência.

Contudo, Berta, em Portugal, na capital de Trás-os-Montes, a Câmara Municipal, agarrada às suas tradições, quer fazer do dia 13 de dezembro, “O Dia Em Que As Mulheres Dão O Pito Aos Homens” uma celebração digna de ser considerada Património Imaterial da Humanidade. A reboque vem mais um largo conjunto de tradições e costumes de modo a compor a candidatura da edilidade, mas o foco é mesmo o pito. Há que dizer que, a ser verdade que nesse dia as mulheres transmontanas dão o pito aos homens, por sua própria vontade, a parte criminal e o abuso deixam de fazer sentido.

O dia de Santa Luzia, também conhecido por dia do Pito de Santa Luzia, a 13 de dezembro, é por isso um dia muito especial e ansiosamente aguardado pelos transmontanos. Não é todos os dias, afinal, que se pode ouvir em público, nos tempos que correm, uma mulher a dizer a um sujeito que, por ventura, nem conhece, “- Hoje vou-te dar o pito”. Porém, minha querida, toda esta tradição não passa de uma brejeirice malandra das gentes transmontanas.

O pito é, afinal, um pequeno bolinho regional, de origem conventual, que as damas oferecem aos cavalheiros pelas festas de Santa Luzia, em Trás-os-Montes, a 13 de dezembro, principalmente na região de Vila Real. Já a gancha, é uma espécie de bengala, também conventual, mas feita de caramelo, bem rija, que por sua vez, a 3 de fevereiro serve oferenda, no dia de S. Brás, por parte dos homens às mulheres, como retribuição pelo pito por estas entregue 63 dias antes. Brejeirices, minha cara, com que o povo apimentava e apimenta os seus dias religiosos com a sua irreverência costumeira e que presentemente a autarquia de Vila Real quer ver transformada em Património Imaterial da Humanidade.

Cá para nós, que ninguém nos escuta, minha querida, muito pito e muita gancha devem ser efetivamente trocados em ambas as festivas ocasiões a propósito das graçolas. Muitas destas trocas terão certamente um fito bem menos conventual, mas igualmente malandreco. Despeço-me com um beijo,

Gil Saraiva 

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Carta à Berta nº. 126: Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 16) A Terceira Idade

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Olá Berta,

Eu sei que sou muito crítico relativamente a algumas coisas. É verdade, tenho de reconhecer que assim é. Aliás, há assuntos e alguns costumes que me põem facilmente os nervos em franja. Um dos casos é o uso do inglês, ou outras línguas, para denominar coisas, eventos, ou até empresas, que poderiam muito perfeitamente ser descritos na língua de Camões. Se o uso do inglês, ou de outra língua, já foi considerado um elemento de relevância e prestígio, hoje em dia essas aberrações fazem-me lembrar a introdução do que é pimba e vulgar no vocabulário português, que é bem nosso e característico.

Estava a ver as novidades do dia 8 de fevereiro de 2020, quando deparei com uma larga ação de formação de uma escola nacional sob o tema “Pedicure sem Corte”, a decorrer em Beja, com repetição amanhã em Évora. A escola de beleza, apresenta um programa de formação no tratamento dos pés, se usarmos o estrangeirismo do cartaz, estou-me a referir a um programa de pedicure.

A expressão afrancesada pode ser mais curta, mas é menos esclarecedora do que a simples designação de “tratamento de pés”, tratamento este que pode não se preocupar apenas com atos curativos, como remoção de calos ou de peles secas, como também cuida do respetivo embelezamento, se possível, dos nossos terminais anteriores. A moda está tão arreigada já que dizemos mais facilmente que fomos à pedicura do que fomos à tratadora dos pés. Como se usar os termos lusos fosse desprestigiante para os profissionais do setor. Enfim, sinais dos tempos.

Mas não foi a expressão pedicure que me enervou. O que me irritou mesmo foi o nome da escola que promoveu o evento. Aí sim, senti-me profundamente irritado. A dita cuja dá pelo nome de Portuguese Beauty School, ora, fosse eu o Fernando Rocha do afamado “Levanta-te e Ri” e diria, sem pejo, “puta que pariu”.

Pergunto-me, abismado, quem terá sido o transgénico e malfadado energúmeno que se lembrou de um nome destes? Então? Era assim tão desprestigiante e foleiro criar a Escola Portuguesa de Beleza, carvalho? Poderiam por acaso os alentejanos aderir menos ao programa de formação anunciado? Ou será que o problema se põe é em Trás-os-Montes? Se ainda consigo, na minha tacanhez, entender que é mais fácil aderir a um curso de pedicure do que a uma formação de tratamento de pés ou de cascos, já me ultrapassa totalmente em que é que a Portuguese Beauty School se superioriza à Escola Portuguesa de Beleza. Raios me partam se entendo tal disparate.

Enfim, mais não digo sobre este tema, porque em tempos de Brexit, ele não merece sequer esta exposição. Regresso às minhas quadras sujeitas a mote, cujos motivos foram da tua escolha, amiga Berta. Desta vez, a terceira idade. Cá vai…

Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 16) A Terceira Idade.

 

A Terceira Idade

 

Os velhos de antigamente

Eram reserva dos Povos,

Agora, já nem são gente,

Por desrespeito dos novos…

 

Gil Saraiva

 

Com mais esta quadra termino a minha carta de hoje, recebe um beijo deste teu amigo,

Gil Saraiva

 

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