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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta n.º 605: Portugal - Brasil - A Viagem de um Coração

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 Olá Berta,

Numa altura em que o Brasil festeja os seus dois séculos de independência, esta carta, minha querida, chega a ti a propósito do circo montado em torno da viagem do horrível coração de D. Pedro IV de Portugal e, simultaneamente, D. Pedro I do Brasil, enfiado num frasco de formol, que atravessa o Oceano Atlântico, que separa Portugal do Brasil, para ser exposto, bizarramente, durante uns dias no nosso país irmão.

Só o facto de terem enfiado o coração do ex-monarca em formol, transformando-o numa relíquia, já é, por si só, um facto arrepiante e de um mau gosto atroz (embora fosse uma vontade expressa do monarca). Depois, minha amiga, o facto de duas repúblicas se prestarem a este ritual ainda torna tudo mais gótico, desconcertante e macabro.

Conforme tu sabes, Bertinha, eu nunca fui um fervoroso adepto de Lula da Silva, mas, e isso importa, perante a presidência de Jair Bolsonaro, faria a minha escolha eleitoral facilmente à esquerda, se fosse brasileiro.

Podes pensar, minha querida, que eu não gosto de Bolsonaro por ele ser um tipo de direita, na linha de Trump, Ventura, Orbán, Putin, entre outros, mas é mais do que isso, muito mais. Bolsonaro tem tiques de ditador e mistura religião e política de um modo que considero abjeto e intolerável. A somar a isso as suas atitudes no poder demonstram uma cultura racista e xenófoba inaceitáveis neste século XXI.

Como já te contei, por variadíssimas vezes, eu tive casa no Brasil durante vários anos. Aliás, foram duas, primeiro, uma fazenda em Eusébio, perto de Fortaleza e, depois, um apartamento em Natal. Não fosse a degradação do nível de vida em Portugal e, minha doce amiga, eu ainda teria ambas. Porquê? Porque adoro o Brasil enquanto país e os brasileiros e brasileiras enquanto pessoas e enquanto povo. Só não consigo gostar de fanáticos religiosos e de radicais de direita ou de esquerda, sejam eles de que país forem.

Tenho amigos no Brasil há mais de 37 anos, minha querida. Gosto da alegria de um povo, que consegue rir sempre, mesmo quando sofre na pele a violação constante da amazónia, a falta de cuidados de saúde para uma grande fatia da sua população e o abuso dos poderosos. Contudo, tenho orgulho de termos dado a independência ao território numa época em que ainda nem se falava de independência de colónias em lugar algum do mundo.

Porém, Berta, não alinho em espetáculos deploráveis, como o envio do coração de um monarca, enfiado em formol, como se fosse algum relicário religioso e sagrado. Só o facto, por si mesmo, é capaz de gerar, observações deploráveis de governantes, como as de Bolsonaro que, ao receber a relíquia no Palácio do Planalto, em Brasília, proferiu, logo após o hino, a frase fascista gasta por Salazar: “Dois países, unidos pela história, ligados pelo coração. Duzentos anos de Independência. Pela frente, uma eternidade em liberdade. Deus, pátria, família! Viva Portugal, viva o Brasil!”, uma formulação a lembrar o antigo regime português.

Este salazarento “Deus, pátria, família…” é que envenena todo o discurso de Bolsonaro e revela intensões históricas de tirania, intolerância, racismo e xenofobia. Ora isso, Bertinha, é mesmo inaceitável. A celebração da Independência do Brasil, devia ser uma festa de inclusão, liberdade, tolerância, direitos humanos e de esperança dos dois povos no futuro e jamais servir como um difusor distorcido de más práticas do passado e de ideias bolorentas que se desejam arquivadas nos anais da história. Aqui fica o meu protesto, contra esta trasladação gótica, assustadora e macabra de gosto muito duvidoso, recebe um beijo deste teu amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: 169 infetados com o Covid-19.em Portugal. Tolerância, Paciência e Calma.

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Olá Berta,

Não sei se te lembras, mas ainda na quinta-feira eram 78 os infetados confirmados com o Covid-19. Hoje, sábado são já 169 os casos de infeção no país, mais do dobro. Face a terça-feira, quando os doentes chegaram aos 39, passa o quadruplo e em apenas 4 dias. Eu sei que números são isso mesmo, apenas números, mas, por detrás destes algarismos, está gente como nós.

Haverá certamente uma explicação para este aumento galopante de infetados. Claro que há. Quem não conhece uma, duas ou três pessoas que não fez caso dos alertas? É evidente que todos conhecemos. Todavia, ainda estamos a tempo de acordar. Se nos unirmos nesta luta contra este inimigo fantasma, que não se vê, nem se sente, até já nos ter atacado, pode ser que ainda se vá a tempo.

Unir, estranhamente, significa mantermo-nos afastados, evitarmos o contacto com terceiros, convivermos menos e mantermos um confinamento social, que nada tem a ver connosco, enquanto povo lusitano. Somos mais alegres e mais sociáveis do que alguma vez imaginámos. Temos um presidente de afetos porque somos um povo de afetos. Ainda bem que assim é. Serão precisos muitos afetos quando tudo isto terminar. Até lá, teremos que os manter guardados se queremos vingar enquanto nação. Para além disso, precisamos de começar a pensar positivo.

É urgente guardarmos junto aos afetos a nossa tendência para dizer mal de qualquer coisa e para criticarmos tudo e todos por tudo e por nada. Se pensar positivo faz falta, que venha ele, o pensar com otimismo. Afinal, dos 169 casos já existem 2 que não estão ativos. É de realçar também que: ainda não se registou nenhuma morte em Portugal. Excelente!

Na verdade, se olharmos para, por exemplo, Hong-Kong já tem 4 mortes com apenas 138 casos e a Argélia com 37 doentes infetados vai no terceiro óbito. Alguma coisa devemos estar a fazer bem. Eu sei que temos 10 pacientes em situações mais graves ou críticas, porém, ainda não perdemos ninguém.

Para além disso somos um povo extremamente solidário e resiliente. Vamos ter todas as oportunidades para provarmos que assim é. A crise, a que acresceu a chegada da Troika, foi forte, abalou o país, contudo, a atual é múltiplas vezes mais grave e profunda. Resistir, acatar, evitar o conflito e o desgaste da má língua, são imposições imperativas para os próximos tempos.

Estamos em Estado de Alerta Nacional, e isso pede de nós que estejamos verdadeiramente alerta. Atentos aos procedimentos de contacto, atentos a quaisquer sintomas, retirados nos nossos lares (aqueles a quem isso for possível), porém, acompanhando ao máximo a informação, que for sendo prestada pelos meios de comunicação social, e prontos a agir, se para tal formos solicitados.

Uma palavra é extremamente importante: Tolerância. Principalmente associada a outra, a Paciência, e auxiliada por mais uma, a Calma. Com estas 3 juntas vamos ser muito difíceis de mandar abaixo. Com elas, iremos evitar o pânico, resistir à adversidade e estarmos atentos, pois nunca se sabe quando até poderemos vir a ajudar, seja lá no que for, se por acaso acontecer.

Não me vou alongar muito mais, amiga Berta, precisamos de amor, entendimento e compreensão. Precisamos de todos nós. Afinal, podemos estar isolados, mas nunca estaremos sós. Despeço-me com uma quadra que fiz tem algum tempo, aliás já te a mandei, mas que, à moda de o António Aleixo, vem, agora, na altura certa:

Sorria, nunca ande triste

Pelos caminhos da vida,

Que a vida, que em nós existe,

Não tem volta, só tem ida!

Gil Saraiva

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