Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Este ano fez 77 anos que os tratados pós 2ª. Grande Guerra Mundial permitiram a Israel fundar um Estado Independente em território que pertencia à Palestina. Os palestinianos não foram perdidos nem achados nesta decisão. Foi algo que lhes foi imposto por aqueles que acabavam de vencer os nazis. Nem sequer, alguma vez, em 77 anos, minha querida, tiveram direito a uma sondagem séria à sua vontade, a um referendo sobre o assunto ou ao que quer que fosse, como se apenas lhes restasse aceitar e calar.
Desde então, unilateralmente, minha amiga, Israel tem vindo a alargar as suas fronteiras, conforme poderás constatar na primeira imagem que te enviei junto com esta carta. Este facto constante obrigou muitos palestinianos a imigrar à medida que o seu território ia encolhendo assustadoramente. Hoje, dos 12, 370 milhões da população palestiniana, apenas 3,370 milhões ainda vivem nos territórios da antiga Palestina de 1945. Uns absurdos 9 milhões tiveram de emigrar para onde foram aceites ou tornarem-se refugiados nos países vizinhos da Palestina.
Por estranho que possa parecer, Bertinha, nem sequer há grandes diferenças étnicas entre os dois povos. Uma esmagadora maioria de mais de 90% tem a mesma raiz étnica (isto segundo alguns estudos já realizados este século), as diferenças são efetivamente religiosas e culturais.
Acontece agora que, minha cara, um dos povos mais perseguidos e massacrados da História da Humanidade passou de vítima a opressor, esquecendo a sua própria História, onde o direito à tolerância e ao diálogo devia, em absoluto, ser a palavra de ordem.
Se há local no mundo onde seria muito provável prever o aparecimento e crescimento de terroristas, ele é, precisamente, a Palestina. Foi, Bertinha, exatamente o que aconteceu e já nem é um fenómeno novo, tem barbas bem maiores que as dos judeus ou que as dos palestinianos.
Quando me perguntam se eu condeno o ataque bárbaro dos terroristas do Hamas a Israel, é claro que repudio em absoluto a barbárie que aconteceu. Não há em mim, minha amiga, sequer uma réstia de dúvida. O Hamas é um movimento terrorista e islamista palestino, de orientação sunita, e não tem mesmo qualquer desculpa.
Porém, Israel, Berta, enquanto Estado democrático, se bem que atualmente gerido sob a influência de uma extrema direita radical, não tem, nem nunca poderá ter, legitimidade para atuar barbaramente, ainda mais, precisamente, não sobre os terroristas do Hamas, mas sobre a população civil palestiniana. O que Israel está a fazer nesta guerra em que para combater os terroristas priva o povo palestiniano de quaisquer meios de sobrevivência é criminoso, bárbaro e deve ser criticado e combatido de forma bem vincada.
Não me quero alongar muito mais sobre o assunto, porque ver Israel a agir como um Estado terrorista exige que o mundo o trate como tal. Não tem qualquer direito a agir dessa forma. Mesmo a morte atroz de 1,200 israelitas não legitima a exterminação do povo palestino, um verdadeiro genocídio, que até ao momento já fez mais de 4,300 vítimas entre os palestinianos, por isso, Berta, fico-me por aqui no meu comentário. Despeço-me com um beijo,
Escrevo-te hoje para concluir a minha crónica de um apelidado terrorista falhado, segunda parte. Não sei se o desenrolar dos acontecimentos ainda dará origem a um epílogo, mas, para já, a crónica fica por aqui.
Conforme eu te dizia ontem, e com os novos dados que já se sabem hoje, continuo a pensar que não é transparente que o ataque à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, por parte do aluno da Batalha, de nome João, alguma vez fosse acontecer.
Afinal, já se sabe que o rapaz sofre do Síndroma de Asperger (ou para simplificar SA), o que é, como patologia, uma forma de autismo. Há comportamentos variados em quem padece deste síndroma, mas também existem muitas caraterísticas comuns. Não sei quando lhe foi diagnosticada a doença, mas, o diagnóstico em adultos, requer uma cuidadosa avaliação clínica e um minucioso historial clínico do indivíduo.
No entanto, toda a planificação e transcrição do seu plano de ataque fica absolutamente justificada pelo SA. Também se enquadra na doença a sua obsessão e fixação num tema, a repetição de procedimentos, uma atenta organização de todos os detalhes e do modo compulsivo com que trata da arrumação pormenorizada do seu espaço envolvente. O paciente com SA é reservado, muito pouco sociável e não tem noção de que uma sua fixação possa ser errada.
Para além disso, nem se quer se consegue aperceber que o seu interesse por algo possa ser desconfortável para os demais. Há muito mais sintomas e consequências do Síndroma de Asperger, mas é bem possível que o foco deste estudante, embora este o descreva como finalidade, não seja realizar o atentado, mas provar a si mesmo que o conseguiria levar a cabo.
Vai uma grande diferença para quem sofre de SA entre a planificação e a realização de algo. É por isso absolutamente compreensível que tenha abortado o atentado de segunda e remarcado o mesmo para sexta-feira. Aliás, o mais normal, seria isto voltar a acontecer e a repetir todo o ciclo mais uma vez, e outra e ainda outra. Porém, uma qualquer alteração à sua rotina, como descobrir que estava a ser vigiado, poderia levá-lo a levar até ao fim os seus intentos.
Uma coisa é, no meu entender, absolutamente certa. O João, esse estudante de engenharia informática que veio de um pequeno meio do interior, mais propriamente de uma aldeia perto da Batalha, é tão culpado como eu pelos seus atos. Trata-se de um doente e não de um terrorista e devia estar a ser tratado como tal.
Uma coisa é um ato terrorista, planeado a sangue frio, de uma pessoa que até dá a vida para infringir baixas pesadas e morte aos alvos escolhidos, por uma qualquer convicção fria e calculista. Outra bem diferente é não ser capaz de sequer se aperceber que se está a praticar um crime e tratar a morte, a sua e a dos outros, como se de mais um jogo se tratasse. Se o autismo do João foi descoberto ainda na infância, então foi tratado de forma muito negligente, e isso continua a não fazer dele culpado pelos seus atos, isto pondo a hipótese que alguma vez ele concretizaria o ataque.
Para o João, um jogo de guerra ou de combate em que os personagens vão morrendo, está ao mesmo nível do seu plano de consciência com o atentado e possível, ou não, eventual concretização. Trata-se de ganhar o jogo e não de algo criminoso. No meu entender, por isso mesmo, o João é inimputável e não um terrorista, por muito que isto nos possa custar a aceitar. O ato do João, em si mesmo, é sem margem para dúvidas um ato terrorista, porém, se praticado por si, não passa da concretização de uma obsessão gerada por uma doença, que neste caso se chama Síndroma de Asperger.
Por isso, e para terminar, acho que o João devia era ser internado, tratado e, se alguma vez atingisse um nível suficiente de controlo sobre o seu autismo, posto em liberdade ou mantido internado se isso nunca se concretizar. Por hoje, terminei, querida Berta, despeço-me com mais um beijo saudoso, este teu amigo do coração,
Pablo Rivadulla Duró, no mundo da música conhecido pelo nome de Pablo Hasél é um rapper originário do país vizinho. Poderíamos dizer que é um espanhol, mas o seu nascimento em Lérida em 9 de agosto de 1988, coloca-o como natural da Catalunha e ele considera-se um catalão e não um espanhol.
Aos 32 anos caiu sobre ele aquela que é, para já, a sua segunda sentença da balança da justiça espanhola, e que se traduz em nove meses de prisão efetiva. Mas andava armado este rapper? Gerou desacatos e provocou tumultos tais que interferiram na ordem pública? Não! Pablo Hasél apenas escreveu. Concretamente escreveu contra a monarquia, a dependência de Espanha e o direito da libertação da Catalunha daquilo que ele considera ser o jugo espanhol. Na escrita usou palavras fortes, ofensivas dirão muitos e instou ao terrorismo acusarão outros.
Eu, pessoalmente não gosto, de Rap. Aqui ou ali, aparece uma composição dentro do estilo que vem mais ao encontro do meu gosto, mas essa é uma situação muito rara. Mas não é o meu gosto que está em causa. O Rap funciona exatamente como um estilo provocador, ofensivo e corrosivo contra os padrões sociais instituídos. É parte do ADN deste espectro musical a agressão verbal, sendo que o Rap deve ser, tanto quanto possível for, chocante e incomodo.
Não é à toa que nas américas já foram assassinados quase uma dúzia deles nos últimos anos. Dizem as más línguas que foram liquidados pelo sistema, o qual, não querendo fazer dos músicos vítimas da liberdade de expressão, os silenciou prematuramente de forma definitiva, imputando culpas a terceiros ou a guerrilhas e rivalidades entre gangues e outros grupos. Todavia, nada disso se encontra provado e, até prova em contrário, deve ser considerado como «fake news».
Eu, amiga Berta, que abomino fascistas, leninistas, maoístas, terroristas, nazis e outros desgovernados mentais de direita ou de esquerda ou de fanatismo religioso, continuo a pensar que não se podem proibir textos, livros ou músicas ou panfletos que, em caso de incumprimento de qualquer regra, possam levar os seus autores à prisão. Não é preciso nada disso, basta esperar pelos atos em si para, aí sim, punir quem atentar contra a liberdade.
A única exceção que considero possível de legislar e que acho que devia ser punível com cadeia são as «fake-news». Porque a distorção da realidade não tem nada a ver com a liberdade de expressão, mas sim com a criação de falsas verdades que podem atentar contra a dignidade dos próprios factos.
Mas uma coisa é uma notícia manifestamente falsa, outra bem diferente, é alguém ter uma interpretação desses factos, fora do senso comum e, mesmo assim, defendê-la como sua verdade. Isso pode ser idiotice, mas nunca poderá ser crime, por mais inverosímil que seja a interpretação.
Regressando a Hasél, que se afirma como um rapper político, de consciências, poético e alternativo, um artista da palavra oral, condená-lo e mantê-lo preso só lhe traz mais força e lhe amplia uma razão que pode nem ter. Nem é preciso ir muito longe para entender que o Estado tomou a opção errada, basta ver o caos que se tem gerado em Madrid, na Catalunha e atualmente já em outras zonas de Espanha, como Sevilha, por exemplo, devido à sua condenação e prisão efetiva.
Como pode a Europa defender a libertação do líder da oposição russa, Alexei Navalny, se permite que um país da União tenha presos políticos, como é o caso de Espanha, só para falar apenas do caso em análise? Existem ou não uma série de ex-líderes catalães presos por defenderem a independência da Catalunha? Pode ser difícil de aceitar a desagregação de um país, mas não se pode obrigar, pela força das armas, escondida numa justiça que apenas pende para o lado do opressor, a manutenção dessa união.
Eu, se os espanhóis viessem agora defender a integração do antigo condado portugalense, e consequentemente, por tabela, de Portugal, na sua área territorial, seria por certo mais um terrorista da palavra contra o domínio espanhol das terras lusas. Se nós, há quase nove séculos, impusemos a nossa independência, é natural que a Catalunha tente fazer o mesmo, ainda que com 878 anos de atraso relativamente a nós. Ou só é justo o que nós fizemos?
Eu posso ser um romântico, mas o Sol, quando nasce, é para todos. Para finalizar, sobre Hasél ou outros artistas que usam o palavrão como linguagem, é mais simples proibir genericamente o uso indevido de linguagem obscena, pornográfica ou violenta em determinados suportes, como os musicais ou outros, o que, apesar de tudo e quanto a mim, não adiantaria muito porque a palavra sempre encontra um jeito de se manifestar. Agora, prender alguém, por contestação política ou social, praticada apenas por palavras, é algo profundamente errado.
Chegado que sou ao fim desta temática, e já indo eu adiantado no texto, resta-me, minha muito querida Berta, deixar aqui expressa a minha saudade e despedir-me até à próxima carta que será, por certo amanhã, recebe um beijo deste amigo de todos os dias,