Carta à Berta Nº. 343: Livro - O diário Secreto do Senhor da Bruma - III - Conversas com a Consciência - Os Pensadores - 5) Nicholas Negroponte
Olá Berta,
Já te deves ter esquecido do meu Diário Secreto, onde no passado dia 27 de julho falei, pela última vez, dos meus pensadores de eleição. É a eles que retomo hoje. O meu próximo pensador é um americano, filho de pais gregos, Nicholas Negroponte. Trata-se de alguém que eu defendo mais no campo das ideias, do que na realidade prática das suas ações. O que pesou para o incluir nos meus pensadores eleitos e, em última análise, aquilo que mais me interessou foi o seu pensamento avançado e abrangente relativamente à educação e à inovação da mesma.
Nas minhas conversas com a consciência no Diário Secreto do Senhor da Bruma ele ocupa o quinto posto. Embora sendo considerado um cientista e um arquiteto, o que importa, minha querida amiga Berta, no personagem e aquilo que nele mais considero relevante foi a revolução que, quanto a mim provocou no ato de pensar. Em última análise Negroponte é um pensador. Passo, pois, à devida apresentação:
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Conversas com a Consciência
5) Nicholas Negroponte (III – 10)
Maio, dia 15:
"5) Nicholas Negroponte (1/12/1943) - Formação superior em Arquitetura, com seguimento de estudos no MIT, o famoso Massachusetts Institute of Technology onde acabaria por fundar o Media Lab, o Laboratório de Novas Tecnologias de Informação e Media onde também foi professor e se tornou um pensador:
Nicholas nasceu em Nova Iorque e, embora americano, a sua ascendência grega haveria de o ajudar a olhar o mundo de forma diferenciada. Nos anos 90, do século passado, lança um livro considerado brilhante: «A Vida Digital», enquanto, a par com este lançamento, mantém, igualmente, uma coluna regular na revista Wired, passando a ser levado muito a sério no seio do mundo informático.
Maio, dia 16:
Enquanto fundador do Media Lab, Negroponte, consegue o apoio para este laboratório de mais de 105 empresas sendo que, entre elas, estão algumas das maiores corporações americanas e boa parte dos pesos pesados da indústria do entretenimento. Foi neste centro onde ele se especializou em Computer Aided Design (desenho assistido por computador), ou seja, o CAD, sendo o Autocad o programa mais conhecido entre os desenhadores e arquitetos. Por força dos progressos informáticos em que participa torna-se um defensor das novas tecnologias, advogando que estas trarão sempre mais coisas positivas do que negativas às comunidades.
Maio, dia 17:
Esta forma de pensar torna-se numa corrente de abordagem da realidade, a «Tecnofília», à qual se juntam nomes como o de Henry jenkins, Dan Gillmor, Howard Rheingold e George Gilder. Todo este grupo encara o avanço tecnológico e informático como algo de muito positivo e acredita que ele traz mais benefícios do que prejuízos à sociedade. Aliás, para Negroponte haverá um saber estar interativo entre diversas pessoas do mundo, com um grande fluxo de troca de ideias e isso de uma forma cada vez mais participada. Dessa forma o mundo digital irá se adaptar aos usuários, sendo cada vez mais específico e proporcionando abordagens ou trabalhos conjuntos entre pessoas que não se conhecem.
Maio, dia 18:
Nicholas apresenta a diferença entre bits e átomos. Para ele a natureza física, constituída de átomos, passa a ser transmitida e «transformada» em outra realidade, que insiste ser a digital (bits): «É o menor elemento atômico no DNA da informação». Sem matéria física, a informação em bits pode ser transmitida em maiores quantidades num tempo e espaço menores, ultrapassando os limites da informática e entrando cada vez mais na vida humana.
Maio, dia 19:
O conceito de multimédia, como uma interação entre bits informáticos, bits de vídeo e bits de áudio moldada para cada utilizador facilitará, em crescendo, o seu uso, sendo que são estes ditos «sistemas inteligentes» que se terão de adaptar a nós e não o inverso. Enfim, Negroponte mostra como os meios digitais se vão apropriar da nossa próxima era. Disso é já clássico o exemplo do e-mail, que é deveras económico e que tem inúmeras vantagens em relação ao velhinho fax. A globalização e esta nova abordagem obrigará a grandes mudanças no modo de vida nas sociedades modernas.
Maio, dia 20:
Para o pensador, toda a indústria tenderá a beber desta nova abordagem criando novos produtos e diversificando a sua oferta num menor espaço de tempo, o que pode inclusivamente levar ao desenvolvimento de novas e inesperadas descobertas, oportunidades e produtos. Ele acredita que a energia em si mesma e os usos que dela fazemos tendem vertiginosamente para a propagação e desenvolvimento da informática e de toda a tecnologia para a liberdade absoluta do sistema «sem fios».
Maio, dia 21:
José Sócrates bebeu toda a inspiração para a criação lançamento e promoção do computador de 100 euros «Magalhães» no pensamento do Dr. Nicholas Negroponte que lançou no Peru (a 100 dólares por computador) um projeto então apelidado de «Um Computador por Criança» ao abrigo de um programa desenvolvido no MIT, Estados Unidos, pelo respetivo departamento do cientista, apelidado, inúmeras vezes, como o paladino do digital.
Maio, dia 22:
Nicholas esteve em 2006 no Brasil a tentar repetir o projeto lançado anteriormente no Peru, porque o país possuía uma população imensa entre as idades dos 15 e 25 anos. Uma população identificada como justificante da criação de um grande polo de produção de software, até maior do que a Índia. Ele previu inteligentemente um indescritível avanço da internet móvel, em que viria a acertar de forma absoluta, chegando a referir que isso seria o início da «Vida sem Fios», ou seja, a «vida totalmente wireless», com uma fusão entre interatividade, entretenimento, formação e informação. Daqui o salto para uma robótica multidisciplinar e plurifuncional será apenas uma questão de valores e alocações de investimento.
Maio, dia 23:
Os 3 passos da digitalização civilizacional são facilmente identificáveis. Tudo se inicia com a industrialização a que se seguiu a profunda vaga da informação, que irá culminar rapidamente na maré da inteligência artificial já iniciada e em progressão geométrica.
É a Nicholas Negroponte que se deve a correta previsão de que o cd de música seria um dos primeiros a ser ultrapassado por sistemas de serviços digitais, o que aconteceu mesmo.
Maio, dia 24:
Em resumo, Nicholas Negroponte vê a digitalização associada à robótica, ao wireless e à inteligência artificial como uma nova forma de existir em sociedade e, até ao momento, mesmo em tempos de pandemia, nenhum dos seus prossupostos está posto em causa.”
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Espero que te tenha agradado este meu regresso às «Conversas com a Consciência» e aos meus pensadores de eleição do Diário Secreto do Senhor da Bruma. Despeço-me, querida Berta, com as saudades concentradas num beijo, este teu amigo,
Gil Saraiva