Carta à Berta nº. 509: Como Foi a Pandemia, Memórias Coletivas...
Olá Berta,
Há quase 4 anos, a 27 de fevereiro de 2021 a Covid fazia das suas e entre janeiro e abril teve o seu maior pico registado em Portugal. Hoje, na memória dos portugueses, só se lembram desses dias aqueles que perderam familiares para a praga. Para os outros, coisas como confinamento e proibições de viajar entre concelhos, são conceitos perdidos na memória dos tempos.
António Costa prometera um Natal com poucas restrições e os portugueses agradeceram, durante 15 dias, na época, a pandemia foi posta para trás das costas e, tal como hoje, foi tempo de festejar. O preço, bem pesado, viria depois, e vivemos um terrível inferno até à páscoa. Durante meses batemos recordes de mortos, de infetados, de internados. Parecia mesmo que não haveria amanhã. Mas houve e, como na vida, “tudo passa, tudo passará” já lá dizia a velha canção.
Marta Temido aguentou estoicamente o ministério, o serviço nacional de saúde, e os trabalhadores da saúde foram aclamados como se fossem heróis nacionais, trabalhando até à exaustão, até as forças lhes faltarem nas pernas e nos braços, até a vacina começar a diminuir a mortalidade da pandemia. Aliás, não fossem as vacinas e a mortandade teria sido épica. Apareceu na hora certa, quase um milagre de última hora, de que ninguém estava à espera.
Eis que o na altura Vice-Almirante Henrique Eduardo Passaláqua Gouveia e Melo, aparece como Coordenador da Task Force para o Plano de Vacinação contra a COVID-19 em Portugal, em 3 de fevereiro de 2021. O moçambicano, nascido a 21 de novembro de 1960, em Quelimane, no último dia do signo do Escorpião, veio por ordem na casa.
Henrique Passaláqua, nomeado por António Costa, mostra-se determinado em combater ferozmente a Covid-19 e os abstencionistas e negacionistas que se tentavam erguer contra a vacinação. O certo é que cumpriu fielmente a missão que lhe foi entregue, tão bem, diga-se, que sonha agora com o lugar de Presidente da República.
Mas voltando à pandemia, ao longo de janeiro de 2021, só nos primeiros 26 dias, foram confirmadas quase 975 mil infeções pelo novo coronavírus. O ritmo de casos disparou neste mês janeiro, com a chegada em força da variante Ómicron a Portugal. Entre 1 e 26 de janeiro foram registados nos boletins da DGS um total 988.172 casos de Covid-19, mais 13 mil do que no total dos 12 meses de 2020. Em relação ao número de mortes por Covid-19, em 2021 faleceram 10.108 pessoas em Portugal, de acordo com a soma dos dados oficiais da DGS.
Entre 1 e 26 de janeiro de 2021, morreram 748 pessoas, o equivalente a uma média de 29 óbitos por dia. Desde a chegada da pandemia a Portugal, em março de 2020, estão confirmadas 19.703 mortes, dois milhões 377 casos de infetados e um milhão 842 recuperados. Portugal registou só num dia um novo máximo diário de 65.578 novos casos de Covid-19 desde o início da pandemia, indicava então o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde. Na soma de casos ativos e contactos de vigilância, Portugal tinha a 26 de janeiro um novo máximo histórico a rondar um milhão e 62 mil pessoas em isolamento.
Foram outros tempos, já ninguém se lembra e pouco ficará na memória coletiva do povo. Porque, a esperança e a expectativa de melhores dias fazem-nos andar para a frente. Por outro lado, dá-nos determinação e imprime coragem nos corações dos mais fracos.
Esta era a última das 40 cartas que tinham ficado por te enviar, cara Berta, durante os meses em que te perdi o contacto, fico satisfeito por termos posto a escrita em dia. Despede-se com um beijo, este teu velho amigo,
Gil Saraiva