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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta: O Morto Que Não Era Óbito

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Olá Berta,

Uma família, como muitas outras, que têm os seus idosos nos hospitais do país, recebeu, no passado dia 10 de janeiro, a notícia que ninguém deseja, ou seja, o falecimento, vítima de Covid, do seu nonagenário familiar. A comunicação do óbito foi efetuada pelo Hospital de Oliveira de Azeméis, uma das três unidades do Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga (CHEDV), com problemas respiratórios.

O idoso estava internado no referido hospital e provinha de Milheirós de Poiares em Santa Maria da Feira. Segundo a Agência Lusa, o filho do homem, o senhor Aureliano Vieira, recebeu a triste e fatídica informação da morte do pai ao décimo dia de janeiro, por motivos associados à pandemia de Covid-19.

Deixo-te aqui, minha amiga Berta, as declarações do próprio: "Como era por causa do covid-19, não permitiram que se fizesse o reconhecimento do corpo. Limitamo-nos a fazer o funeral, já no dia 12. Mais tarde, mandamos mesmo celebrar a missa do sétimo dia. Já hoje de manhã, vieram dizer-nos do hospital que o nosso pai estava vivo e pediram desculpas pelo erro".

Seguidamente o senhor Vieira ainda acrescentou: "E, felizmente, está vivo. Já confirmei”. Contudo, diz desconhecer ainda de quem é o corpo que o hospital presumia ser do seu pai. Aliviado, o filho do nonagenário, ainda não sabe o que vai fazer relativamente ao acontecido, diz-se aliviado, mas confirma que: "Ainda estou atónito. Tenho de falar com outros familiares".

Foi através do contacto da agência Lusa que, por fonte autorizada do CHEDV, ficou confirmada a troca de identidades efetuada numa das enfermarias do hospital de Oliveira de Azeméis. A mesma unidade hospitalar lamentou "profundamente" o sucedido.

O senhor anunciado como falecido pode não ser de facto uma reencarnação, todavia, será dos poucos portugueses a ter direito a um segundo funeral, quando a vida, algures no futuro, o resolver por fim deixar descansar. Espero, minha querida Berta, que esse dia ainda demore, até porque, para quem acabou de falecer não me parece bem que morra de novo em breve. Paz, regresso a casa, em segurança e com saúde é o que eu lhe desejo.

Com mais esta pequena história, que só tem alguma graça por ter acabado em bem, embora a Lusa não refira quem foi afinal a pessoa que faleceu, me despeço, por hoje com um curto, mas sentido, beijinho saudoso. Sempre ao dispor,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Eutanásia

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Olá Berta,

O Parlamento nacional aprovou ontem a eutanásia. Mais uma vez Portugal entra no grupo da frente dos países que defendem os direitos fundamentais dos seus cidadãos. É claro que a lei ainda tem de passar pelo crivo do Presidente da República, porém, mesmo com o seu veto, depois de reconfigurada novamente pela Assembleia da República, o Presidente será obrigado a promulgar a lei.

É claro que se trata de uma lei polémica. Também é certo que há quem ache que a eutanásia é efetivamente contrária aos verdadeiros direitos dos cidadãos. Todos têm direito à sua opinião. Eu, minha querida amiga Berta, penso que se trata de um avanço civilizacional. O facto de alguém ter o direito de poder pôr fim à sua vida, sendo para isso assistido por um especialista, por ter perdido completamente a integral qualidade da mesma, parece-me um claro progresso da civilização ocidental e neste caso concreto do país.

A título pessoal relembro-me da minha mãe que faleceu devido ao Alzheimer há uns anos atrás. Ela era profundamente católica e crente, isto enquanto foi senhora da sua própria vontade, é claro. Todavia, assim que tomou conhecimento da sua doença, ainda num estado precoce, pediu aos filhos que não prolongassem artificialmente a sua vida e que a deixassem partir em paz. Não me lembro, pois já passou muito tempo, se alguma vez usou a palavra eutanásia, mas, mesmo que não o tenha feito, o pedido expresso que fez, significa precisamente o mesmo.

Não sei o que pensas pelo assunto minha querida, contudo, pelo que conheço de ti, acho que pensas como eu. Espero que esta lei se torne quanto antes uma realidade em Portugal. Despede-se este teu amigo de sempre, com um beijo de saudades,

Gil Saraiva

 

 

 

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