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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Livro de Poesia - Melopeias Róridas Entre Armila e Umbra: O Vislumbre do Amor - XII

O Vislumbre do Amor.jpg              XII

 

 "O VISLUMBRE DO AMOR”

 

É pelos olhos dela

Que eu vislumbro o nosso amor…

É como um abrir de uma janela

Por onde chega um ar sem dor…

(Reflito eu, na noite abafada

Pelas brumas do meu existir).

 

É como se num singelo olhar

O peso do mundo, do universo,

Saísse, finalmente, dos meus ombros

De onde nunca o consegui tirar.

Ela transforma a fria chuva de inverno

Em arco-íris, com ouro em cada ponta.

Faz-me querer abandonar o inferno

Da minha vida de vagabundo, solitária.

 

Porque não abraço eu, então,

Tamanha beleza, tão única perfeição?

Será por me mover por entre a bruma,

Sozinho, na minha solidão?

Poderia eu sobreviver nesse seu existir

Sem o estragar ou destruir?

 

Reflito eu, na cama lavada

Ausente do seu cheiro, do seu sorrir…

Mesmo quando não penso nisso,

Na mente vazia, de uma penumbra sem fim,

Desponta, de um canto até ali oculto,

Novamente o sorrir do seu olhar

E eu volto a ficar exposto

Ao vislumbre do nosso amor

E torno a sonhar com primavera,

Com corpos rolando por entre a era…

 

E se eu a encontro e a tento tocar,

Lá vem de novo aquele pensamento,

Que se o fizer tudo pode acabar…

E triste eu me afasto, num triste rasto,

Por entre virtualidades de nós num abraço,

Qual suave seda, mais forte que o aço…

Porque é pelo seu olhar

Que sinto um vislumbre do nosso amor…

 

Eu desejo encontrar uma forma de agir,

Um meio qualquer de a sentir sorrir,

De eu fazer parte da sua história,

De nela eu viver feliz e em glória,

Como nunca até hoje eu vivi ou senti,

Mas como posso vivê-lo sem ti?

 

Como viver o que nunca existiu?

Despontas, de um canto do meu pensamento…

Estarás a sonhar? E o sonho sou eu?

Irás tu encontrar-me, num abraço a Morfeu?

No teu sonho eu vivo o momento perfeito,

Vislumbro o amor, deitado em teu peito!

 

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Saudades de um Beijo

Berta 439.jpg

Olá Berta,

Como irás por certo reparar terminei hoje a divulgação dos beijos do meu “ensaio sobre o beijo” segundo o que tinha inscrito no meu livro: “O Colecionador de Beijos”, que tenho vindo a divulgar regularmente, há mais de um ano, em https://plectro.blogs.sapo.pt, com imenso gosto por poder efetuar esta partilha com quem me lê.

A partir de amanhã este blog irá mudar de temáticas, contudo, não será a mesma coisa. Acredita que terminei hoje e já sinto saudades dos beijos. Não sei se tem a ver com esta pandemia tão contrária aos afetos e ao carinho, porém, esta era a minha forma de perpetuar algo que se tornou perigoso e quase hostil nos tempos que correm.

Posso colocar imagens, divulgar alguns dos meus quadros e loucuras plásticas, mas nada substitui o ato de beijar. Mesmo as fotografias que podem trazer-nos imagens de nostalgia e de saudade como igualmente nos conseguem transportar para momentos idílicos e belos ou para situações de catástrofe e terror, não me catapultam como o beijo para esse campo único em que a alma se revela num ato físico de partilha solidária, amiga, franca e fraterna.

Todavia tudo tem um fim, até a nossa vida, quer o queiramos quer não e eu lá terei de me adaptar a isso uma vez mais. Desculpa a nostalgia e a falta de notícias da atualidade, as apeteceu-me desabafar. Despeço-me com um BEIJO,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: O Ser da Noite

Berta 290.jpg

Olá Berta,

Raramente te envio poesia nas cartas que te escrevo, mas já aconteceu e voltará, por certo a acontecer. Espero que te agrade. Não julgues que me esqueci que também tu gostas da noite.

----- ” -----

“O SER DA NOITE”

 

Para um vagabundo dos limbos,

Um haragano, o etéreo,

Um Senhor da Bruma,

A menina, enquanto mulher,

É a fragrância que lhes tolda a mente,

Fundindo-os a todos

Num ser ímpar que vive da sombra,

Buscando o odor feminino que,

Com a noite,

Lhe invade a razão,

Fazendo-o sonhar que o impossível

Apenas demora mais tempo.

 

Uma amálgama de sensações odoríferas

Onde a higiene, o perfume e sexo

Se transmutam num só cheiro,

Que embriaga o cérebro

E lhe desperta o corpo,

Tornando o mais pacato dos homens

Em predador feroz,

Sedento de uma presa que se anuncia

Na diáspora das sombras

E da bruma.

 

Tudo se desfoca na neblina da Lua,

Até a razão, a inteligência e o ego,

O instinto consegue fundir-se,

Em harmonia com o sentimento,

O amor com o sexo,

O animal com o racional,

Gerando aquela coisa estranha

A que se chama homem,

Esse urbano selvagem

Que busca insano

Pela alma gémea que o entenda,

Nessa demanda,

Consagrada pelos poetas,

A que muitos chamam de amor.

 

Enquanto mulher,

A presa torna-se armadilha,

Flor singular num jardim de espinhos,

Capaz de fazer sangrar a alma

Do mais empedernido predador.

Tornando-o escravo da demanda,

Doce vassalo e jardineiro

Que não teme os espinhos,

Os venenos, os caminhos sinuosos,

Da noite onde a bruma

Faz o papel de manto da Lua,

No jardim da essência emocional,

Rendida à paixão

A que simplesmente chama de sentimento.

 

A prosa de uma resposta

Transfigura-se em poema,

O sonho ganha moldes de imperfeita realidade,

O pensamento identifica-se como emoção,

O paradoxo vira quotidiano

E a mulher significa felicidade…

 

Para o ser da noite

A luz chega com o crepúsculo,

Na janela perdida,

Na bruma efémera de um luar.

 

Gil Saraiva

----- “ -----

Hoje, foi dia de poesia neste espaço de cartas e narrativas que normalmente te escrevo, querida Berta. Haverá, por certo, outros dias assim, nunca sei quando chegam, nem quando se vão. Por agora, vou-me eu. Recebe deste teu amigo o habitual beijo terno,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Imagine-se...

https://www.youtube.com/watch?v=NAEppFUWLfc  A Art Garfunkel... a minha modesta homenagem a um homem de 78 anos...

Imagine-se.JPG

Olá Berta,

Fico feliz de saber que tens reparado no facto de as minhas crónicas, nesta época festiva não terem a minha componente satírica e crítica habitual. Com efeito tenho-me esforçado por me manter mais calmo durante as festividades. Perguntaste-me o que é que eu via na Ria Formosa de tão extraordinário para me referir à paisagem como uma das analogias que usei na minha Teoria do Amor – Parte II. Pois bem, como sabes eu vivi 18 anos no Algarve, precisamente na mesma zona onde tu te encontras e tive imenso tempo para lhe absorver a envolvência. Segue o poema que deu origem à comparação que fiz. Espero que seja do teu agrado. O poema chama-se “Imagine-se”, mas tu não precisas, basta-te olhar para entenderes, espero que consigas ver e sentir o que eu captei, não pelos meus olhos mas pelos teus:

 

"IMAGINE-SE..."

 

Imagine-se

Um mar de prata

Bordado ao ouro macio

De um pôr-do-sol.

 

Deixemos agora

A nossa mente

Colocar algumas aves nidificando

Na costa fina de arbustos salgados,

Reserva natural

De um qualquer sonhado paraíso...

 

Em silêncio,

Os bateres de asas,

Se confundem com o restolhar do vento

Que sorri prá primavera

Agora tão tangível...

 

O sentimento é por certo de harmonia!...

 

Pra quem não sente em verso

O deleite que os sentidos propiciam,

Recomendo que respirem fundo,

Deixem entrar languidamente

O cheiro a maresia...

 

Issooo...

Procurem agora sentir

A aragem vos acariciar,

De leve,

Passando-se suave

Pelo brilho dos olhos

E obrigando ao esvoaçar de alguns cabelos...

 

Com o olhar

Sigam as aves

Que gritam cânticos de amor

E de acasalamento...

 

Se entreabrirem os lábios

As papilas vão, por certo,

Detetar o gosto a mar,

O gozo das sensações plenas

E do encontro puro

E idílico com Gaia,

A deusa que voluptuosa

Representa a Terra original...

 

Sentem?

Agora pensem,

Com um sorriso,

Num amor ausente...

 

Procurem influenciar a mente,

Mas sem esforço...

 

Issoooooo...

Estão vendo a sereia…?

Nesta Ria Formosa

Onde imaginar

Se torna milagre,

Esperança, acreditar,

Apenas o belo tem lugar.

Aqui não existe crise, cortes,

Recessão, nem suicídio…

Apenas amor, emoção

E a delicada teia dos sentidos…

 

É no exato instante,

De sensual

E romântica lasciva,

Em que de joelhos

Nos dobramos

Para colher uma flor

De beira de caminho,

Que estamos integrados!

Cheios de amor,

De vida e de natura,

Enfim, de plenitude!

 

O voo simultâneo dos flamingos

Faz-nos crer que o mundo

É cor-de-rosa

E que a vida,

Afinal, tem sentido.

 

Imagine-se

Um mar de prata

Bordado

Ao ouro macio

De um pôr-do-sol

E conclua-se

Que afinal amar

É simples...

 

Senão o mar seria água

E nada mais,

As aves: pássaros

E a reserva: pântano...

 

Imagine-se...

 

Este é, Berta, um dos poemas que escrevi até hoje que mais mexe comigo, é… sei lá, a natureza em todo o seu fulgor, é vida, essência e existir. Tem em si um não sei quê a mais e comporta ainda o como da esperança, da felicidade e, irremediavelmente, do amor, do amor puro, sincero, franco, genuíno e verdadeiro.

Minha querida amiga, recebe um beijo de saudades teu amigo de sempre,

Gil Saraiva

 

 

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