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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Livro de Poesia - Melopeias Róridas Entre Armila e Umbra: O Vislumbre do Amor - XII

O Vislumbre do Amor.jpg              XII

 

 "O VISLUMBRE DO AMOR”

 

É pelos olhos dela

Que eu vislumbro o nosso amor…

É como um abrir de uma janela

Por onde chega um ar sem dor…

(Reflito eu, na noite abafada

Pelas brumas do meu existir).

 

É como se num singelo olhar

O peso do mundo, do universo,

Saísse, finalmente, dos meus ombros

De onde nunca o consegui tirar.

Ela transforma a fria chuva de inverno

Em arco-íris, com ouro em cada ponta.

Faz-me querer abandonar o inferno

Da minha vida de vagabundo, solitária.

 

Porque não abraço eu, então,

Tamanha beleza, tão única perfeição?

Será por me mover por entre a bruma,

Sozinho, na minha solidão?

Poderia eu sobreviver nesse seu existir

Sem o estragar ou destruir?

 

Reflito eu, na cama lavada

Ausente do seu cheiro, do seu sorrir…

Mesmo quando não penso nisso,

Na mente vazia, de uma penumbra sem fim,

Desponta, de um canto até ali oculto,

Novamente o sorrir do seu olhar

E eu volto a ficar exposto

Ao vislumbre do nosso amor

E torno a sonhar com primavera,

Com corpos rolando por entre a era…

 

E se eu a encontro e a tento tocar,

Lá vem de novo aquele pensamento,

Que se o fizer tudo pode acabar…

E triste eu me afasto, num triste rasto,

Por entre virtualidades de nós num abraço,

Qual suave seda, mais forte que o aço…

Porque é pelo seu olhar

Que sinto um vislumbre do nosso amor…

 

Eu desejo encontrar uma forma de agir,

Um meio qualquer de a sentir sorrir,

De eu fazer parte da sua história,

De nela eu viver feliz e em glória,

Como nunca até hoje eu vivi ou senti,

Mas como posso vivê-lo sem ti?

 

Como viver o que nunca existiu?

Despontas, de um canto do meu pensamento…

Estarás a sonhar? E o sonho sou eu?

Irás tu encontrar-me, num abraço a Morfeu?

No teu sonho eu vivo o momento perfeito,

Vislumbro o amor, deitado em teu peito!

 

Gil Saraiva

 

 

 

ALEGADAMENTE: Carta à Berta / Desabafos de um Vagabundo / Miga, a Formiga / Estro

Berta.jpgA partir de julho de 2022 os blogs do Senhor da Bruma, assinados por Gil Saraiva, são reunidos neste blog. Os blogs: Estro (poesia), gilcartoon (cartoons) e Desabafos de um Vagabundo (plectro) passam a integrar este blog que muda de nome para: ALEGADAMENTE: Carta à Berta / Desabafos de um Vagabundo / Miga, a Formiga / Estro, substituindo a antiga designação de: alegadamente.

Provisoriamente, até final do presente livro de poesia, "Melopeias Róridas Entre Armila e Umbra" e sempre que se justifique, as poesias e os textos poéticos serão publicados nos dois blogs (https://alegadamente.blogs.sapo.pt e https://estro.blogs.sapo.pt).

Evidentemente, a Carta à Berta, manterá o seu espaço neste blog, aparecendo sempre que o autor sinta a necessidade de desabafar com a sua querida e velha amiga Berta. As temáticas serão as de sempre, ou seja, o que eu queira destacar num dado momento ou que ache por relevante criticar num outro. Tudo pode ser tema, desde o que se na minha rua, no meu bairro, na região, num qualquer local no país e, porque não, no resto do mundo.

Quanto aos blogs Desabafos de um Vagabundo, cuja página fica em: (https://plectro.blogs.sapo.pt) e gilcartoon, devidamente localizado em: (https://gilcartoon.blogs.sapo.pt) os novos posts apenas passarão a constar no presente blog, ficando o arquivo dos posts anteriores mantido nos blogs anteriormente usados para os divulgar, ou seja, os três outros blogs (gilcartoon, plectro e estro) passam a ter a função de arquivos do passado e nada mais.

Dentro deste blog, denominado alegadamente, passarão a ficar registadas as minhas impressões do mundo, as quais eu considero alegadamente verdadeiras, mas que ficam protegidas pelo guarda-chuva do "alegadamente" enquanto opiniões que me pertencem e não como verdades irrefutáveis. A forma como eu vejo o mundo é só minha e pode coincidir ou não com a de todos os outros ou, pelo menos, com a de algumas outras pessoas. O modo como eu registo algo é apenas a minha maneira de o sentir e não uma norma que se sobreponha à opinião de terceiros.

Grato pela atenção que me dispensaram na leitura deste texto, Continuo por aqui.

Obrigado.

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Saudades de um Beijo

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Olá Berta,

Como irás por certo reparar terminei hoje a divulgação dos beijos do meu “ensaio sobre o beijo” segundo o que tinha inscrito no meu livro: “O Colecionador de Beijos”, que tenho vindo a divulgar regularmente, há mais de um ano, em https://plectro.blogs.sapo.pt, com imenso gosto por poder efetuar esta partilha com quem me lê.

A partir de amanhã este blog irá mudar de temáticas, contudo, não será a mesma coisa. Acredita que terminei hoje e já sinto saudades dos beijos. Não sei se tem a ver com esta pandemia tão contrária aos afetos e ao carinho, porém, esta era a minha forma de perpetuar algo que se tornou perigoso e quase hostil nos tempos que correm.

Posso colocar imagens, divulgar alguns dos meus quadros e loucuras plásticas, mas nada substitui o ato de beijar. Mesmo as fotografias que podem trazer-nos imagens de nostalgia e de saudade como igualmente nos conseguem transportar para momentos idílicos e belos ou para situações de catástrofe e terror, não me catapultam como o beijo para esse campo único em que a alma se revela num ato físico de partilha solidária, amiga, franca e fraterna.

Todavia tudo tem um fim, até a nossa vida, quer o queiramos quer não e eu lá terei de me adaptar a isso uma vez mais. Desculpa a nostalgia e a falta de notícias da atualidade, as apeteceu-me desabafar. Despeço-me com um BEIJO,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: "Os Azares de um Homem de Sorte" - Parte II

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(Legenda: A cara de totó de quem acabou de vir de férias e tem um monte de surpresas à sua espera. Diria Fernando Pessa: "E esta, hein?!")

Olá Berta,

Aqui estou eu de novo para te descrever a segunda parte das desventuras e d’“Os Azares de um Homem de Sorte”. Depois de todas aquelas horas gastas com a limpeza, higienização, desinfeção e aromatização da casa, fruto dos dezanove dias que a minha arca congeladora passou sem eletricidade, resolvi ir relaxar um pouco e sentar-me ao computador para saber das novidades do país e do estrangeiro.

Estava à demasiado tempo sem ler nada de notícias, com exceção das desportivas. Achei que um regresso à normalidade do meu usual quotidiano me faria bem e me aliviaria do stress que encontrara ao entrar no apartamento. Bem… enganei-me novamente. Ao ligar a máquina esta fez um pequeno barulho a indicar que iria arrancar e voltou a desligar-se, remetendo-se a um silêncio tumular.

Tentei mais duas vezes e o resultado continuou a ser exatamente o mesmo. Chateado, e a chamar nomes ao equipamento, que fariam corar uma varina, desliguei os cabos da torre e abri a máquina. O pó de vários anos, normalmente quente porque nunca costumo desligar o aparelho, tinha condensado definitivamente. Em vez de pó tinha agora umas placas de alcatrão (resultado da mistura do pó com o fumo dos milhares de cigarros que aqui fumei) a forrar tudo o que era ventoinhas do interior da torre.

Fui buscar o aspirador e tentei aspirar o máximo possível. Porém o pó e o fumo associados à humidade gerada por uma máquina fria tinham feito blocos em volta de tudo o que era ventilação. Os «cloolers» da placa gráfica e do processador estavam integralmente tapados por uma placa densa e negra de uma pasta estranha e malcheirosa.

Desisti finalmente de tentar resolver o assunto sem a ajuda de um técnico. Liguei o meu velho equipamento de reserva que funcionou à primeira e fui procurar um técnico que viesse a casa. Por fim, depois de várias tentativas e de muitos preços absurdos por uma assistência, consegui um informático particular fabuloso no OLX. O senhor Filipe Costa que se prontificou a dar-me auxílio, sem cobrar deslocação, logo na manhã do dia seguinte.

Ainda desanimado decidi ir ver televisão. Má escolha, o écran da dita cuja não dava sinal. Liguei para o serviço técnico da MEO e passei a hora e meia seguinte com o assistente a mandar-me ligar e desligar cabos, box, router e por aí em diante. Finalmente consegui ver televisão, descansado, no sofá. Tinham passado 8 horas e 15 minutos desde que abrira a porta de casa. No dia seguinte o Sr. Filipe (deixo o contacto para quem se sinta aflito como eu: 968 458 731), um técnico da velha guarda, passou mais de uma hora a limpar-me o computador. Finalmente fiquei com a torre a funcionar. No entanto descobrimos que a placa gráfica estava com problemas e que precisaria de ser substituída brevemente.

Decidi avançar para a reparação e aproveitar para colocar um disco de arranque mais rápido e fazer ainda alguns melhoramentos na minha peça de museu. Resultado: trezentos e vinte euros de upgrade e mais cinquenta de mão de obra. A somar ao prejuízo dos quatrocentos euros da arca no dia anterior, regressei de férias e iniciei um novo ciclo com um rombo no orçamento de setecentos e setenta euros no total. Uma maravilha.

Afinal minha querida amiga Berta, são «Os Azares de um Homem de Sorte”. O técnico foi-se embora e eu sentei-me ao computador para enviar um email para a Segurança Social que não podia esperar. Porém, o correio eletrónico teve de aguardar. Descobri que não tinha internet. Depois de mais quarenta e cinco minutos com a assistência da MEO fiquei a saber que a reconfiguração do dia anterior me desconfigurara a minha rede de internet. Por fim, quase já em desespero, consegui enviar o email desejado.

Como vês minha querida amiga, a Lei de Murphy continua atual e funcional: “quando alguma coisa corre mal, tudo corre mal”. Por hoje é tudo, despeço-me com um beijo saudoso, este teu amigo,

Gil Saraiva

Carta à Berta: Os Azares de um Homem de Sorte - Parte I

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Olá Berta,

Hoje é o dia de te contar as desventuras do meu regresso a casa. Uma saga inacreditável que demonstra bem os azares de um homem de sorte. A viagem em si decorreu muito bem e estava em casa três horas e meia depois de ter apanhado o comboio na Fuzeta. Contudo, ao subir os últimos dois lances de escada que me conduziam ao meu terceiro andar, fui sendo invadido por um cheiro desagradável que aumentava a cada degrau subido.

Abri a porta do apartamento e fui envolvido por um terrível odor a mortos que me deixou confuso porque a casa deveria estar vazia. Carreguei no interruptor para abrir a luz do corredor e nada aconteceu. Por instinto, abri a portinhola do quadro da luz e o disjuntor geral estava desligado. Foi nesse momento que me lembrei de imediato da arca congeladora. Corri até à cozinha e horror dos horrores o cheiro a carne e peixe podre que vinha da arca era tal que a vontade de vomitar se tornou instintiva.

Abri a janela da marquise, que dá para a cozinha, para deixar entrar o ar fresco. Atravessei de novo o corredor, que liga a frente e as traseiras do piso, e abri todas as janelas da casa. Precisava dos aromas da rua com urgência. Finalmente, ganhei coragem e abri a arca de quatro gavetas, que deveria estar carregada de peixe e carne. O fedor inacreditável fez-me vomitar pela segunda vez.

Enchi 5 sacos com quatrocentos euros de carne e peixe podre e fui colocar tudo no caixote do lixo do edifício, que tive de meter na rua para não empestar o prédio. De regresso ao último andar, perfumei a minha máscara de Covid e fui fazer as limpezas da arca, frigorifico e chão, cheio de um líquido bordeaux com fragrâncias vindas diretamente de um qualquer cemitério milenar.

Levei três horas e meia a higienizar tudo, incluindo o balde e a esfregona no final da festa. Os panos que usei, mais os rolos de papel de cozinha com os vestígios da podridão, encheram 3 sacos, que seguiram caminho imediato para o caixote fora do prédio.

Por sorte tinha bicarbonato de sódio e vinagre em casa que coloquei a absorver o fedor que, no termo das limpezas, ainda se fazia sentir. Acendi vários incensos enquanto tratava da higienização e finalmente senti-me num ambiente mais respirável.

Por hoje fico-me por aqui. Não faria muito sentido dizer-te que, depois desta primeira parte da saga, os «Azares de um Homem de Sorte» não tinham acabado, mas é a verdade. Amanhã conto-te a segunda metade destas desventuras amargas. Recebe um beijo de despedida deste teu amigo de sempre,

Gil Saraiva

Carta à Berta: O Regresso do Senhor da Bruma

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Olá Berta,

«O Regresso do Senhor da Bruma» quase parece nome de sequela de filme de suspense aos écrans de cinema, contudo, minha querida amiga, é apenas a volta ao contacto entre nós com as habituais crónicas, depois de 19 dias de férias.

Conforme prometido enviarei, nos próximos dias e pela ordem correta, devidamente colocados nos respetivos dias correspondentes, as cartas que ficaram em falta, pelo que, dentro de dias, estará preenchida a lacuna entre o dia 13 de setembro e o dia 2 de outubro. Conforme combinado todas serão colocadas no blog https://alegadamente.blogs.sapo.pt cujo título é Carta à Berta.

Também as colocarei no meu Facebook, pelo que as poderás ler pelo correio eletrónico, pelo Facebook ou pelo blog do sapo em causa, conforme te for mais conveniente. Estranhei, no entanto, que no dia em que chego à Fuzeta tu tenhas resolvido ir de férias cá dentro rumo ao conhecimento do nosso Portugal. Gostava te ter encontrado no Algarve. Ficará para uma próxima vez.

Depois de ter passado dezanove dias numa terra sem qualquer caso ativo de Covid, sem ouvir ou ler notícias, com exceção das desportivas, fez-me confusão ver o salto enorme que ocorreu em termos de infeções no país e no mundo. Mais admirado fiquei por termos sido ultrapassados no ranking por uma série de países que estavam bem longe.

Pela primeira vez abandonámos o top cinquenta dos mais infetados em termos de análise mundial. Ora tendo Portugal apenas 87 países com mais população que nós é de louvar a posição que ocupamos atualmente em termos de Estados afetados pela pandemia. Mais espantoso é se observarmos que em redor do território nacional temos algumas das situações mais graves, nomeadamente a Espanha, o Reino Unido, a França, a Itália e Marrocos.

Quanto às férias foram maravilhosas. Já o regresso foi mais complicado, porém, deixo isso para te contar amanhã. Por hoje despeço-me com um beijo de amizade deste teu amigo de sempre, que nunca te esquece,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Livro - O diário Secreto do Senhor da Bruma - III - Conversas com a Consciência - Os Pensadores - 5) Nicholas Negroponte

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Olá Berta,

Já te deves ter esquecido do meu Diário Secreto, onde no passado dia 27 de julho falei, pela última vez, dos meus pensadores de eleição. É a eles que retomo hoje. O meu próximo pensador é um americano, filho de pais gregos, Nicholas Negroponte.  Trata-se de alguém que eu defendo mais no campo das ideias, do que na realidade prática das suas ações. O que pesou para o incluir nos meus pensadores eleitos e, em última análise, aquilo que mais me interessou foi o seu pensamento avançado e abrangente relativamente à educação e à inovação da mesma.

Nas minhas conversas com a consciência no Diário Secreto do Senhor da Bruma ele ocupa o quinto posto. Embora sendo considerado um cientista e um arquiteto, o que importa, minha querida amiga Berta, no personagem e aquilo que nele mais considero relevante foi a revolução que, quanto a mim provocou no ato de pensar. Em última análise Negroponte é um pensador. Passo, pois, à devida apresentação:

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Conversas com a Consciência

5) Nicholas Negroponte (III – 10)

Maio, dia 15:

"5) Nicholas Negroponte (1/12/1943) - Formação superior em Arquitetura, com seguimento de estudos no MIT, o famoso Massachusetts Institute of Technology onde acabaria por fundar o Media Lab, o Laboratório de Novas Tecnologias de Informação e Media onde também foi professor e se tornou um pensador:

Nicholas nasceu em Nova Iorque e, embora americano, a sua ascendência grega haveria de o ajudar a olhar o mundo de forma diferenciada. Nos anos 90, do século passado, lança um livro considerado brilhante: «A Vida Digital», enquanto, a par com este lançamento, mantém, igualmente, uma coluna regular na revista Wired, passando a ser levado muito a sério no seio do mundo informático.

Maio, dia 16:

Enquanto fundador do Media Lab, Negroponte, consegue o apoio para este laboratório de mais de 105 empresas sendo que, entre elas, estão algumas das maiores corporações americanas e boa parte dos pesos pesados da indústria do entretenimento. Foi neste centro onde ele se especializou em Computer Aided Design (desenho assistido por computador), ou seja, o CAD, sendo o Autocad o programa mais conhecido entre os desenhadores e arquitetos. Por força dos progressos informáticos em que participa torna-se um defensor das novas tecnologias, advogando que estas trarão sempre mais coisas positivas do que negativas às comunidades.

Maio, dia 17:

Esta forma de pensar torna-se numa corrente de abordagem da realidade, a «Tecnofília», à qual se juntam nomes como o de Henry jenkins, Dan Gillmor, Howard Rheingold e George Gilder. Todo este grupo encara o avanço tecnológico e informático como algo de muito positivo e acredita que ele traz mais benefícios do que prejuízos à sociedade. Aliás, para Negroponte haverá um saber estar interativo entre diversas pessoas do mundo, com um grande fluxo de troca de ideias e isso de uma forma cada vez mais participada. Dessa forma o mundo digital irá se adaptar aos usuários, sendo cada vez mais específico e proporcionando abordagens ou trabalhos conjuntos entre pessoas que não se conhecem.

Maio, dia 18:

Nicholas apresenta a diferença entre bits e átomos. Para ele a natureza física, constituída de átomos, passa a ser transmitida e «transformada» em outra realidade, que insiste ser a digital (bits): «É o menor elemento atômico no DNA da informação». Sem matéria física, a informação em bits pode ser transmitida em maiores quantidades num tempo e espaço menores, ultrapassando os limites da informática e entrando cada vez mais na vida humana.

Maio, dia 19:

O conceito de multimédia, como uma interação entre bits informáticos, bits de vídeo e bits de áudio moldada para cada utilizador facilitará, em crescendo, o seu uso, sendo que são estes ditos «sistemas inteligentes» que se terão de adaptar a nós e não o inverso. Enfim, Negroponte mostra como os meios digitais se vão apropriar da nossa próxima era. Disso é já clássico o exemplo do e-mail, que é deveras económico e que tem inúmeras vantagens em relação ao velhinho fax. A globalização e esta nova abordagem obrigará a grandes mudanças no modo de vida nas sociedades modernas.

Maio, dia 20:

Para o pensador, toda a indústria tenderá a beber desta nova abordagem criando novos produtos e diversificando a sua oferta num menor espaço de tempo, o que pode inclusivamente levar ao desenvolvimento de novas e inesperadas descobertas, oportunidades e produtos. Ele acredita que a energia em si mesma e os usos que dela fazemos tendem vertiginosamente para a propagação e desenvolvimento da informática e de toda a tecnologia para a liberdade absoluta do sistema «sem fios».

Maio, dia 21:

José Sócrates bebeu toda a inspiração para a criação lançamento e promoção do computador de 100 euros «Magalhães» no pensamento do Dr. Nicholas Negroponte que lançou no Peru (a 100 dólares por computador) um projeto então apelidado de «Um Computador por Criança» ao abrigo de um programa desenvolvido no MIT, Estados Unidos, pelo respetivo departamento do cientista, apelidado, inúmeras vezes, como o paladino do digital.

Maio, dia 22:

Nicholas esteve em 2006 no Brasil a tentar repetir o projeto lançado anteriormente no Peru, porque o país possuía uma população imensa entre as idades dos 15 e 25 anos. Uma população identificada como justificante da criação de um grande polo de produção de software, até maior do que a Índia. Ele previu inteligentemente um indescritível avanço da internet móvel, em que viria a acertar de forma absoluta, chegando a referir que isso seria o início da «Vida sem Fios», ou seja, a «vida totalmente wireless», com uma fusão entre interatividade, entretenimento, formação e informação. Daqui o salto para uma robótica multidisciplinar e plurifuncional será apenas uma questão de valores e alocações de investimento.

Maio, dia 23:

Os 3 passos da digitalização civilizacional são facilmente identificáveis. Tudo se inicia com a industrialização a que se seguiu a profunda vaga da informação, que irá culminar rapidamente na maré da inteligência artificial já iniciada e em progressão geométrica.

É a Nicholas Negroponte que se deve a correta previsão de que o cd de música seria um dos primeiros a ser ultrapassado por sistemas de serviços digitais, o que aconteceu mesmo.

Maio, dia 24:

Em resumo, Nicholas Negroponte vê a digitalização associada à robótica, ao wireless e à inteligência artificial como uma nova forma de existir em sociedade e, até ao momento, mesmo em tempos de pandemia, nenhum dos seus prossupostos está posto em causa.”

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Espero que te tenha agradado este meu regresso às «Conversas com a Consciência» e aos meus pensadores de eleição do Diário Secreto do Senhor da Bruma. Despeço-me, querida Berta, com as saudades concentradas num beijo, este teu amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Campo de Ourique: Um Incêndio à Porta de Casa...

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Olá Berta,

Ontem, à hora de almoço, quase às 13 e 30, tive o fogo a aquecer um início de tarde, já por si quente, embora arejado por uma brisa que se sentia na pele. Por outras palavras, um incêndio no terceiro andar, umas águas-furtadas, da minha rua, a Francisco Metrass. Por baixo, no rés-do-chão, ficam a Cervejaria Europa e, ao lado no mesmo prédio, a Farmácia Porfírio.

Relativamente à proximidade do edifício onde vivo distam uns 30 metros, mais coisa menos coisa, mas existe uma rua (a Almeida e Sousa) a separar-me do ocorrido. Foi perto, mas não demasiado próximo de mim. Não tendo o meu terceiro andar sido sequer penalizado pelo fumo intenso provocado pelo incêndio e, muito menos ainda, pelo trabalho dos Bombeiros Sapadores de Lisboa, coadjuvados pelos Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique.

A fotografia que te envio ilustra a minha perspetiva do local do incêndio e foi tirada já quase no final dos trabalhos a meio da tarde. Não me perguntes porquê, mas optei por não colocar imagens do incêndio propriamente dito. Não sei se é devido à proximidade e vizinhança, se por outro motivo que agora não discorro, mas poderás ver online, se tal te interessar, bastantes fotografias ilustrativas do fogo e até vários clips, com pequenos filmes, descrevendo o que se passou. Eu preferi só incluir a imagem que te envio.

Reconheço que, mesmo sendo jornalista, a cobertura de um evento que me é próximo me tira algum discernimento e lucidez, mas vou tentar dar-te uma ideia aproximada dos acontecimentos.

Pese embora o facto de saber o nome da pessoa residente no sótão onde o incêndio teve início, não pretendo aqui crucificá-lo, nem nada que se pareça, pelo que vou utilizar o nome fictício de Manuel.

O senhor Manuel é um ancião do bairro. Vive sozinho, nas águas-furtadas de um prédio sem elevador, que corresponde a um terceiro andar. A sua idade, que já ultrapassou as 80 primaveras dá-lhe o direito de se achar sabedor das coisas da vida e de rejeitar conselhos de vizinhos atrevidos e metediços na vida privada e alheia, com que nada tem a ver, muito menos a comentar.

Na realidade o senhor Manuel já fora advertido, vezes sem conta, pelos vizinhos do seu prédio e pelos outros do prédio das traseiras do edifício, que assar sardinhas ou fazer grelhados, na varanda oposta à fachada da casa, era perigoso e que um dia ainda causaria um problema qualquer. Contudo, pensava o nosso ancião, ele não estava xexé nem sequer para lá caminhava, sabia perfeitamente aquilo que fazia. O problema deste raciocínio é que os imponderáveis acontecem, independentemente da idade dos protagonistas, e muitas vezes sem nada ter a ver com a sua atenção ou falta dela relativamente ao que estão a fazer.

Foi o caso de ontem. O ancião desta narrativa, afastou-se por uns minutos do almoço que estava a grelhar na varanda, quiçá para ir ver se os acompanhamentos já estavam confecionados e o desastre aconteceu. Poderia ter acontecido a qualquer um, porém, para azar do senhor Manuel foi a ele que lhe calhou a fava.

O incêndio espalhou-se rapidamente e o discernimento do protagonista, aflito com a situação, não foi suficiente para que reagisse em tempo útil. Tanto que, quando foi retirado das águas-furtadas, quase meia hora mais tarde, ainda andava, no meio de um fumo imenso, à procura do telemóvel e da chave da entrada para fechar a porta antes de abandonar a habitação. Com algum esforço acabou por entender que a porta teria de se manter aberta para que os bombeiros pudessem atuar e foi conduzido, atordoado e confuso, à saída do prédio.

Foram quatro as vítimas de inalação de fumo e as duas águas-furtadas do edifício ficaram sem cobertura e com estragos avultados. Até o prédio vizinho, mais recente, foi afetado pela água utilizada para apagar o fogo. Também os andares imediatamente anteriores às habitações do topo se viram afetados pela água, como não poderia deixar de ser. Quando às 18 horas vim para casa para escrever esta carta, amiga Berta, ainda os homens da Companhia do Gás, tentavam aferir se as condutas do prédio teriam ou não sido afetadas pela tragédia. Não cheguei a saber o resultado.

Conforme já dei a entender a pronta atuação dos bombeiros do bairro e dos sapadores da capital impediu uma tragédia de maiores dimensões. Contudo, embora seja fácil colocar a culpa no senhor Manuel, eu acho que se trata apenas de um retrato menos bonito da situação social em que vivemos desde finais do século passado. Todos sabemos que por toda a cidade e pelo país fora temos anciãos a viver sozinhos em suas casas sem a mobilidade necessária e muitas vezes o discernimento requerido, para que situações trágicas possam ser evitadas.

Deveria existir algum mecanismo social que ajudasse a prevenir estas situações. Mas entre dever e haver vai muito mais do que a diferença dos verbos. Aliás, recordo-me que no prédio onde habito, já lá vão umas dezenas de anos, vivia um casal de reformados no rés-do-chão (e ainda hoje vivem). O homem estava ausente e a senhora resolveu ir ao mercado municipal, situado no início da rua, fazer uma pequena compra. Porém, esqueceu-se da comida do cão ao lume.

O incêndio que se gerou foi igualmente debelado, atempadamente, pelos mesmos corpos de bombeiros que atuaram hoje e também não houve consequências de maior a relatar, exceto na referida cozinha. Hoje o casal vive com uma neta, o que me deixa muito mais descansado, ainda mais porque a memória e o discernimento da senhora se têm vindo sempre a degradar.

O que eu quero dizer, amiga Berta, é que o caso de hoje não é, nem será proximamente único e excecional. Na mesma situação aflitiva estão centenas de anciãos no nosso querido Bairro de Campo de Ourique (já para não falar do país). Muitos deles sem a totalidade e plenitude das suas capacidades. Algum tipo de acompanhamento e aconselhamento deverá ser alargado, pois já existem algumas iniciativas neste sentido, por forma a se poder ajudar a prevenir futuras situações trágicas desnecessárias e que nalguns casos podem até mostrar-se fatais.

Quanto ao incêndio de hoje não me posso esquecer de deixar demonstrada a minha solidariedade para com a Cervejaria Europa e para com o seu gerente, o senhor Paulo, que não só perdeu hoje a receita dos 19 clientes, que a quando do incêndio se encontravam a almoçar, mas que, quando me vim embora, ainda não sabia se poderia voltar a usar o gás proximamente.

Hoje foram 400 euros perdidos num almoço que até estava a correr melhor do que o costume, para os tempos de pandemia que vivemos. Porém, no momento a situação para ele e funcionários ficou mais incerta e insegura. Os mesmos votos deixo à farmacêutica, a Doutora Graça, e a todos os funcionários da Farmácia Porfírio que hoje se viu obrigada a fechar portas. Que as coisas corram pelo melhor a ambos é o que desejo. Despeço-me com um beijo amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Fumar ao Ar Livre (Excerto - V do Diário Secreto do Senhor Da Bruma - Capítulo IV)

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Olá Berta,

Ontem, em Espanha, o Governo Espanhol lançou mais uma medida de combate ao Covid-19, com o apoio das regiões autónomas e do poder local do país. Voltam a fechar os bares e as discotecas e, à boleia da desculpa de melhorar a saúde, decidiram proibir a população de fumar ao ar livre.

Estamos a chegar à ditadura das democracias, apoiada em desculpas como a da segurança nacional e da saúde pública dos cidadãos. Pela primeira vez, abre-se um precedente na Europa, ou seja, à boleia da pandemia, implementam-se proibições, que já nada têm a ver com a sua propagação pela população.

Poderemos dizer que nada disso se passa em Portugal, mas a Ministra da Saúde, Marta Temido, não deixou os portugueses descansados com as suas declarações sobre o assunto. Pelo contrário, afirmando que o Governo não pondera ainda proibir de fumar ao ar livre, deixa descaradamente em aberto a possibilidade de tal poder vir a acontecer.

O paternalismo nacional dos países ditos civilizados avança para níveis impensáveis desde há 50 anos para cá. As primeiras manifestações deste tipo começaram nos Estados Unidos da América, onde o poder sempre tratou o povo como gente que precisa de regras e proibições para aprender a conviver em público.

A perseguição, imposta pelos lóbis, ao tabaco e ao álcool, no caso da Europa, não visam, nem nunca visaram, proteger a saúde pública. Basta ver a percentagem de verbas que os Estados ganham com os impostos sobre este tipo de consumos, se lhe somarmos ainda as receitas cobradas em taxas e derivados, sobre os combustíveis fósseis, estamos a falar da maior fatia de receitas de um setor do dito mundo civilizado, relativamente a todas as outras.

A hipocrisia é descarada, frontal e agora começa a entrar no foro da arrogância pura. Os mais de 10 mil milhões de euros de receitas em impostos, taxas e impostos especiais sobre estes produtos demonstra bem a importância dos mesmos no orçamento do Estado. Só os impostos sobre o tabaco e o álcool representam, juntos, quase 50% desse valor. Mas o que mais impressiona é que este conjunto restrito de produtos é responsável por mais de 13% das receitas anuais do Estado.

Em resumo, recriminam-se aqueles que mais contribuem para o PIB nacional. É realmente admirável. Marta Temido que esqueça o ainda, relativamente à possibilidade de vir a privar os portugueses do direito a fumarem ao ar livre. É que se o povo se cansa depois é difícil acalmá-lo. Fica num beijo simples na despedida de hoje deste teu amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: O Novo Banco de Cimento (Excerto - IV do Diário Secreto do Senhor Da Bruma - Capítulo IV)

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Olá Berta,

Não sei se viste as notícias ontem, se, por acaso, as acompanhaste sabes, como eu, que Portugal tem um novo banco. E não, nada tem a ver com o já velho Novo Banco pois que este se trata de um novo banco novo. O Estado volta a meter-se no campo pouco digno (a acreditar no que tem acontecido nos últimos anos no país) do setor bancário, sem pensar nas consequências.

Desta vez (uma vez mais) para agilizar a economia nacional e fazer chegar mais rapidamente às empresas e ao investimento os apoios, os fundos europeus e os incentivos económicos agilizados pela dispensa de um outro banco que, metido no meio da equação, apenas sirva de intermediário, com interesses e decisões próprias, que possam ser tendenciosas, ajudando principalmente a sua respeitada clientela fiel e, em muitos casos, amiga.

Na teoria tudo isto é muito bonito. Mas, depois de em 2019 termos injetado na CGD (do dinheiro dos contribuintes) mais 3,5 mil milhões de euros. Criar mais um banco estatal não me parece ser a mais sensata das soluções. Armando Vara foi condenado por que motivo? Ainda alguém se recorda? E vamos lançar mais um banco? Uma instituição que negoceia diretamente com as grandes empresas, o capital e os investidores, os fundos que devem chegar a Portugal nos próximos anos e mais as verbas geradas no próprio país…

Vamos com isso simplificar a burocracia? Num banco do Estado? Vamos avançar com mais 50 ou mais pessoas, entre direção e cargos de topo, encarregadas de distribuir e negociar biliões de euros com os grandes grupos e outros não menos grandes investidores? O tal novo Banco de Fomento, virá mesmo agilizar o setor? E será dirigido por gente impoluta, disposta a desenvolver ou ajudar a dinamizar a economia nacional sem burocracia, nem corrupção?

Pode ser que sim, vivemos num tempo em que (no “America’s Got Talent”) já vi uma galinha a tocar o hino nacional americano ao piano e em que, para manter os exemplos no mesmo país, um “galaró” é eleito Presidente da República. Vivemos igualmente num país em que BPN, BPP, Banif, Montepio, BCP, CGD, BES, Novo Banco, (e devo estar-me a esquecer de outros) já nos demonstraram quão fiável é o nosso setor bancário e quão sérios e idóneos são os nossos banqueiros.

E este novo Banco de Fomento vai trabalhar com e para os portugueses? Ajudar a erguer projetos fruto da nossa brilhante criatividade? Incentivar a cultura que se arrasta numa mendicidade de fazer corar Pessoa e Camões? Promover a Língua Portuguesa? Não, não, não e não. Isso são meras filosofias dos sonhadores e dos intelectuais de esquerda. A boa cultura é, para estes senhores, genuína apenas se nascida do seio do miserabilismo nacional.

Aliás, quanto muito, apoiarão hipoteticamente possíveis novos eventos e cimeiras às quais vestirão pomposamente o manto dourado da cultura. Uma capa conhecida, essa dos criadores (pelo eufemismo) de uma dita “Pseudocultura”. Um campo vasto criado para desviar fundos dos sempre marginalizados e despojados criadores nacionais de real mérito e valor. É muito mais fácil apoiar uma escola de samba do que uma de música. Disso não restam dúvidas, nem questões.

Eu cá, que não tenho que ser levado em consideração na matéria, uma vez que não passo de mais um simples e ingénuo popular, acho que, em vez de se criar um novo Banco de Fomento, se deveria fazer nascer um novo Banco de Cimento.

As vantagens seriam imensas. Um novo Banco de Cimento seria mais sólido, mais duradouro, mais estável e menos corrompível (é claro que teríamos de ter em atenção a quem encomendávamos a obra, não fosse o construtor aldrabar o banco trocando o cimento necessário por areia baratinha, desregulando as devidas proporções).

Enfim, amiga Berta, tenho dúvidas que tudo isto seja mais do mesmo e que, daqui a algum tempo, alguém venha dizer que era impensável imaginar que o que referi pudesse acontecer. Despede-se com um beijo, este teu grande amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

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