Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Como irás por certo reparar terminei hoje a divulgação dos beijos do meu “ensaio sobre o beijo” segundo o que tinha inscrito no meu livro: “O Colecionador de Beijos”, que tenho vindo a divulgar regularmente, há mais de um ano, em https://plectro.blogs.sapo.pt, com imenso gosto por poder efetuar esta partilha com quem me lê.
A partir de amanhã este blog irá mudar de temáticas, contudo, não será a mesma coisa. Acredita que terminei hoje e já sinto saudades dos beijos. Não sei se tem a ver com esta pandemia tão contrária aos afetos e ao carinho, porém, esta era a minha forma de perpetuar algo que se tornou perigoso e quase hostil nos tempos que correm.
Posso colocar imagens, divulgar alguns dos meus quadros e loucuras plásticas, mas nada substitui o ato de beijar. Mesmo as fotografias que podem trazer-nos imagens de nostalgia e de saudade como igualmente nos conseguem transportar para momentos idílicos e belos ou para situações de catástrofe e terror, não me catapultam como o beijo para esse campo único em que a alma se revela num ato físico de partilha solidária, amiga, franca e fraterna.
Todavia tudo tem um fim, até a nossa vida, quer o queiramos quer não e eu lá terei de me adaptar a isso uma vez mais. Desculpa a nostalgia e a falta de notícias da atualidade, as apeteceu-me desabafar. Despeço-me com um BEIJO,
Raramente te envio poesia nas cartas que te escrevo, mas já aconteceu e voltará, por certo a acontecer. Espero que te agrade. Não julgues que me esqueci que também tu gostas da noite.
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“O SER DA NOITE”
Para um vagabundo dos limbos,
Um haragano, o etéreo,
Um Senhor da Bruma,
A menina, enquanto mulher,
É a fragrância que lhes tolda a mente,
Fundindo-os a todos
Num ser ímpar que vive da sombra,
Buscando o odor feminino que,
Com a noite,
Lhe invade a razão,
Fazendo-o sonhar que o impossível
Apenas demora mais tempo.
Uma amálgama de sensações odoríferas
Onde a higiene, o perfume e sexo
Se transmutam num só cheiro,
Que embriaga o cérebro
E lhe desperta o corpo,
Tornando o mais pacato dos homens
Em predador feroz,
Sedento de uma presa que se anuncia
Na diáspora das sombras
E da bruma.
Tudo se desfoca na neblina da Lua,
Até a razão, a inteligência e o ego,
O instinto consegue fundir-se,
Em harmonia com o sentimento,
O amor com o sexo,
O animal com o racional,
Gerando aquela coisa estranha
A que se chama homem,
Esse urbano selvagem
Que busca insano
Pela alma gémea que o entenda,
Nessa demanda,
Consagrada pelos poetas,
A que muitos chamam de amor.
Enquanto mulher,
A presa torna-se armadilha,
Flor singular num jardim de espinhos,
Capaz de fazer sangrar a alma
Do mais empedernido predador.
Tornando-o escravo da demanda,
Doce vassalo e jardineiro
Que não teme os espinhos,
Os venenos, os caminhos sinuosos,
Da noite onde a bruma
Faz o papel de manto da Lua,
No jardim da essência emocional,
Rendida à paixão
A que simplesmente chama de sentimento.
A prosa de uma resposta
Transfigura-se em poema,
O sonho ganha moldes de imperfeita realidade,
O pensamento identifica-se como emoção,
O paradoxo vira quotidiano
E a mulher significa felicidade…
Para o ser da noite
A luz chega com o crepúsculo,
Na janela perdida,
Na bruma efémera de um luar.
Gil Saraiva
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Hoje, foi dia de poesia neste espaço de cartas e narrativas que normalmente te escrevo, querida Berta. Haverá, por certo, outros dias assim, nunca sei quando chegam, nem quando se vão. Por agora, vou-me eu. Recebe deste teu amigo o habitual beijo terno,
Hoje faço mais um intervalo e não vou falar sobre “Os Segredos de Baco”. Esses são para ir descrevendo na calma dos dias, quando apetece falar de coisas que antes desta pandemia eram bem mais diversas e ricas de conteúdo, um tempo que voltará, certamente, mas cujo quando ainda desconhecemos por completo.
Não sei em que canal foi, mas acho que foi numa estação italiana, já não posso jurar, que vi uma história sobre um casal, ambos na casa dos 50 anos, encontrados mortos na cama, abraçados e de lábios unidos. Mais do que a notícia em si, da qual já nem me lembro de nada, o que se me agarrou à pele foi aquela cena que vi, por segundos apenas, filmada através de uma câmara de telemóvel.
Quando dei por mim, sem sequer pensar muito no assunto, já tinha um novo poema escrito no processador de texto. Foi um momento mágico, minha amiga, quase inconsciente, mas no qual me revi em absoluto. Olhei então para o poema, com olhos de ver. Tinha acabado de escrever um soneto clássico sem o cuidado de quem o estava a fazer. Fui, de imediato, procurar por erros, faltas de métrica, erros nas silabas tónicas e esse tipo de coisas que os clássicos exigem. Contudo, para minha admiração, não tinha sequer uma virgula para corrigir. Deixo-te daquela que foi a minha transposição para uma realidade que não era a minha:
“ÚLTIMO BEIJO”
Semanas há que guardo afoito o leito
Onde caíste assustadoramente
Enfraquecida, pálida, doente,
Quase uma réstia, assim, de um ser perfeito,
Com quem, há muitos anos eu me deito
Numa fusão de corpos tão ardente,
Que, meu amor, não tem equivalente…
Teu coração, p’ra lá do doce peito,
Envia-me sorrisos abafados…
Por entre a tosse, a febre e muita dor,
Nesses teus olhos, eu só vejo amor…
Quero poisar nos lábios teus, cansados,
Esses anos de amor e de desejo,
Morrer contigo, nesse último beijo!
Gil Saraiva
03/2020
Eu sei que tenho um coração pouco em linha com a atitude tradicional de macho latino, mas é assim que eu sou.
Atualmente, seria quase impossível mudar de feitio. Aliás, agrada-me muito o facto de ter o tipo de sensibilidade que tenho, bem como a facilidade como me consigo transpor, com algum realismo, para situações com que me deparo e que não são, efetivamente, as minhas. Por hoje, termino com um beijo, minha querida amiga. Este teu eterno ombro,
Espero que esta véspera natalícia em que te escrevo esteja a passar, por esses lados, de acordo com os teus desejos e votos. Eu por cá mantenho a tradição. Uma ceia à maneira, muita televisão esta noite e é provável que vá à Missa do Galo.
Como sabes não sou praticante de religião alguma, mas, contudo, fui criado no seio de uma família católica bem tradicional e, este ato religioso noturno, traz-me sempre à memória a minha mãe. O fervor com que ela, nessa missa, pedia proteção para os seus durante todo o ano que se adivinhava, é algo que jamais vou esquecer. Ora, não me perguntes porquê, mas quando repito a minha presença nessa cerimónia, sinto-a perto, muito perto, com aquela convicção inabalável de que Deus velaria pelos seus, conforme pedido expresso.
Acontece-me o mesmo quando assisto, pela RTP ao Natal dos Hospitais. A primeira transmissão do programa mais antigo da RTP começou em 1958, ainda eu não era sonhado pelos meus progenitores, porém, segundo o que a minha mãe me contava uma dezena de anos mais tarde (no ano em que entrei para a escola primária 2 meses antes), desde que nasci assisti a todos os programas do Natal dos Hospitais, tivesse eu consciência disso ou não. Ou seja, já vejo esta transmissão há 58 anos. Uma barbaridade de tempo.
Nunca falhei um, embora, nos últimos anos, tenha optado por ver através das gravações automáticas da box da Meo, porque isso me permite só assistir ao que me interessa e nada mais.
Mas assisto com o mesmo sentido místico com que vou à Missa do Galo: o sentimento de proximidade que tenho com os meus pais, que já partiram faz longos anos. Durante a transmissão é como se ambos estivessem ali, o meu pai deitado no sofá maior da casa, com um cálice de vinho do Porto por perto, e a minha mãe, logo ao seu lado, sentada, de lágrima no canto do olho, sempre que alguma ternura lhe chegava do televisor.
São os meus pequenos momentos de romântico e saudosista. Eu, que nem me entendia muito bem com ambos os meus progenitores, recordo-os, nestes dias, com um carinho e um amor que não me lembro de sentir enquanto viveram. Achas isto normal? Ou será coisa de poeta de cabeça enfiada no baú dos sentimentos e das essências? Enfim, nem me importa o que seja, apenas que valorizo, com um imenso prazer, o profundo significado que estas recordações têm para mim.
Lembrei-me do Natal dos Hospitais, que foi transmitido há dias atrás, precisamente por me fazer o mesmo efeito que a Missa do Galo. São os 2 grandes acontecimentos que me trazem uma estranha nostalgia da família reunida e feliz.
Em resumo, hoje, à meia-noite, lá vou eu mais uma vez à Missa. Estou a sorrir, minha querida amiga, porque afinal vou rever mais uma vez toda a família. Não sei o que o Natal faz com as outras pessoas, mas, para mim, tem estes 2 pequenos momentos de conforto, de bem-estar e de felicidade genuína. É isso que importa. Por momentos revejo pais, irmãos, primos, tios, gente que já não está presente nas margens do meu quotidiano e, por breves instantes, convivemos todos, harmoniosamente, em família, a alegria de uns sorrisos ou de uma troca de olhares.
Viva o Natal dos Hospitais. Viva a Missa do Galo. Desta vez, tu, que só por uma vez me acompanhaste numa destas missas, também lá estarás a rir-te da minha cara embevecida com as memórias de uma coisa a que não posso chamar outro nome que não amor.
Despeço-me saudoso com um beijo, este teu amigo de sempre, com votos de festas felizes,