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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta nº. 637: “Atualmente, no 26 de ABRIL, Eu Celebro Todos os Dias Depois do 25 de Abril de 1974.”

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Olá Berta,

“Atualmente, minha querida, no 26 de ABRIL, Eu Celebro Todos os Dias Depois do 25 de Abril de 1974.” Sim, sim, é isso mesmo. Celebro os dias de festa e liberdade, celebro os dias em que ainda foi preciso lutar, celebro a liberdade de pensamento e de existir tal como sou e de os outros portugueses poderem fazer o mesmo se o quiserem.

Celebro coisas sem fim, cara amiga, por exemplo, a igualdade de género, uma realidade atual que ainda só existe perfeita no papel, mas para onde caminhamos a cada dia que passa. Desde aquele ABRIL que o ensino passou a ter turmas mistas, de jovens em formação conjunta, em vez de rapazes para um lado e meninas para o outro, todos com farda.

Foi desde ABRIL de 74, amiguinha, que, uma menina ou uma mulher, pôde passar a vestir, a seu gosto, uma minissaia ou usar biquíni; ou ainda que uma mulher pode sair do país sem a autorização escrita do marido, e não, o povo não era Taliban, era católico, mas enfermeiras, telefonistas, hospedeiras da TAP e funcionárias do Ministério dos Negócios Estrangeiros não se podiam casar, para o fazerem tinham de abandonar a profissão e as professoras precisavam de obter uma autorização especial do Estado para poderem sair do país. Quanto ao voto, porque havia eleições, só que controladas pelo Estado, as mulheres podiam votar, mas só se tivessem o ensino secundário completo.

Desde esse ABRIL, Bertinha, passou a ser permitido usar isqueiros sem licença, um objeto banido por Salazar, ou beber Coca-Cola, minha cara confidente, uma marca que deve a Fernando Pessoa o slogan “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”, mas cujo consumo em Portugal era proibido, por mais bizarro que isso possa parecer.

Foi depois daquele ABRIL, minha amiga, que se puderam criar associações, fazer reuniões, juntar grupos de pessoas para conjuntamente darem as suas opiniões ou até discutirem ideias, porque tudo isso estava banido da sociedade portuguesa. O primeiro um de maio, em 1974 teve mais de um milhão de pessoas a celebrá-lo nas ruas e isso só contando Lisboa, porque antes não era permitido falar nele, quanto mais festejar o Dia do Trabalhador.

Antes do ABRIL de todos nós, Berta, não se podia dizer mal do Governo, nem dar a entender alguma opinião contrária. Tudo passava pelo filtro do “lápis azul” da censura e era comum livros, músicas, desenhos e notícias serem apreendidos por porem em causa a ordem pública. Existiam milhares de livros proibidos em Portugal, mas também bandas musicais ou certas músicas em especial. Aliás, existiam proibições absolutamente bizarras e, por exemplo, dava direito a prisão jogar às cartas no comboio ou estar bêbado em público, para além do valor das multas.

Antes do nosso ABRIL, minha querida, só era permitido ser-se heterossexual em Portugal, porque, por cá, todas as pessoas que se enquadravam dentro do atual movimento LGBTQQICAPF2K+, ou seja, de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis, Queer, Questionando, Intersexo, Curioso, Assexuais, Pan e Polissexuais, Amigos e Familiares, Two-spirit e Kink, que no mundo ocidental já conquistaram o seu direito à manifestação, estavam proibidos de demonstrarem as suas tendências no nosso país, sob pena de prisão.

Aliás, Berta, não era só isso que era absurdo, um homem bater na sua mulher, não se tratava de violência doméstica, não era crime, o individuo estava apenas a pôr a mulher na ordem, como lhe competia, nada mais. E, ah, se esta quisesse o divórcio, temos pena, era proibido haver divórcios em Portugal, exatamente do mesmo modo que dar um beijo em público fugia às regras da moral e dava direito a multa e prisão.

À mulher, cara confidente, também não lhe era permitido andar sozinha na rua à noite ou entrar numa igreja de cabeça destapada. Como também era proibido a casais, marido e mulher ou namorados, beijarem-se em público. Ela podia ser presa por afrontar a moral e os “bons costumes” e o homem, que era responsável pela manutenção desses valores, era preso, pagava multa e só saía da esquadra depois do cabelo lhe ser devidamente rapado à máquina zero.

As mulheres, doce amiga, eram mesmo as maiores vítimas do regime. Antes do 25 de ABRIL, foram muitas as desigualdades entre homens e mulheres, com elas a serem empurradas para as tarefas domésticas, sem direito sequer poderem decidir sobre a educação dos filhos. A discriminação chegou ao ponto de os maridos terem o direito de abrir a correspondência das suas mulheres.

Elas tinham também de pedir o consentimento dos maridos, Bertinha, se quisessem exercer atividades ligadas ao comércio, assinar contratos ou tomar decisões sobre bens (casas ou propriedades) que lhes pertenciam. Estavam igualmente impedidas trabalhar na administração local, na carreira diplomática, na magistratura e no Ministério das Obras Públicas.

Eu falei, amiguinha, que as turmas eram separadas por género, mas esqueci-me de referir que os recreios também o eram. Também ainda não tinha dito que todas as salas de aula tinham o retrato do Presidente da República, do Primeiro Ministro e um crucifixo, e que era obrigatório começar o dia escolar entoando o hino nacional. Importante e muito usada era a palmatória na mesa do professor ou professora, que servia para castigar os malcomportados.

Sim, sim, os docentes não precisavam dos pais para baterem nos alunos ou para colocar a criança num canto da sala com orelhas de burro enfiadas na cabeça, minha cara, já para não falar em outros tipos de repressões autorizadas pelo Estado.

O bizarrismo do dia-a-dia antes de ABRIL de 1974 tinha, minha amiga, coisas que nem lembram ao diabo. Vou dar um exemplo: se uma pessoa viajasse num comboio, e alguém se descuidasse e desse um daqueles traques fedorentos de fazer levantar os mortos em protesto, ela só podia abrir uma janela se todos os outros passageiros estivessem de acordo, ou seja, se o dono do traque discordasse, a solução era o incomodado sair da carruagem.

Antes de ABRIL até histórias aos quadradinhos ou qualquer banda desenhada, vinda do estrangeiro estava proibida. Mesmo as que eram adaptadas para português, com visto da censura, não podiam mostrar armas, falta de decoro, como decotes, e os nomes dos heróis eram passados para português. Por exemplo, minha querida, o Flash Gordon, era o Capitão Relâmpago.

Estavam proibidos em Portugal, antes do ABRIL das nossas vidas, mendigos, vadios e as pessoas atualmente designadas por “sem abrigo”. A pena de prisão de seis meses era a penalização mínima que esta gente arriscava se fosse apanhada pela polícia. Aliás, minha querida, os bufos, aqueles que denunciavam outros cidadãos por atos ou porte de objetos proibidos à PIDE ou à Polícia tinham direito a recompensa monetária regulada por uma tabela criada para o efeito.

Em resumo Berta, não te vou descrever mais sobre a miséria que era a vida antes do 25 de ABRIL de 1974 durante o antigo regime, se quiseres saber mais aconselho-te um livro lançado em 2019, “Era Proibido” de António Costa Santos que se dedicou ao assunto. Isto já para não falar da repressão política e social, da PIDE, das prisões sem mandato e de muito, muito mais. Mas é por isso que eu “Atualmente, no 26 de ABRIL, Celebro Todos os Dias Depois do 25 de ABRIL de 1974.” Deixo um beijo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Livro - O diário Secreto do Senhor da Bruma - II - Abordagens Sobre a Burrice (continuação - II - 5)

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Olá Berta,

São muitos os ditos sobre a burrice e os burros nas expressões utilizadas na língua de Camões. Cada um deles, contudo, parece querer ajudar os asnos humanoides a seguirem novos caminhos e a abandonarem a carneirada acéfala que segue modas e campanhas publicitárias, líderes populistas e outros chupistas.

Não se trata de defender nenhuma moral oculta, mas sim, de combater a burrice generalizada que se espalha mais rapidamente que vírus em dia de festa clandestina. Um alastramento ventoso por entre as multidões de seres que julgam que o pensamento e o livre arbítrio, são termos bonitos para constarem na Wikipédia ou em livros, nunca lidos, que lhes enfeitam as prateleiras das salas em suas casas bonitas e ocas, porém na moda. Mas é tempo de dar continuidade ao Diário Secreto do Senhor da Bruma, ainda sob a alçada do segundo capítulo:

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II

Abordagens sobre a Burrice (continuação - II - 5)

Março, dia 4:

Analisemos agora o provérbio “a ferramenta é que ajuda, não é o pisco em cima da burra”. Com efeito, sejam os alforges colocados no animal, para que ele transporte o que necessitamos, os arreios e demais preparos, para que puxe uma carroça ou, talvez, um arado para que lavre a terra, sejam outros exemplos do mesmo género, são tudo coisas, instrumentos ou ferramentas que possibilitam que o burro cumpra o seu propósito. Já o pássaro em cima do lombo ou perto das orelhas do animal, que dedicadamente vai devorando carraças e carrapatos, apenas o alivia a ele e pouco proveito direto representa para o dono do bicho.

Março, dia 5:

Aliás, na perspetiva do burro, o pisco, embora sendo um pássaro de tamanho diminuto, é muito mais importante do que todas as ferramentas que o seu proprietário possa arranjar para que ele cumpra uma tarefa. Mais uma vez o burro, ao representar a classe trabalhadora, serve para ilustrar a consideração que proprietários, chefes e empresários costumavam ter sobre quem para eles trabalhava, ou seja, nenhuma ou, praticamente, nenhuma. Se o pisco representa o cuidador personalizado importa mantê-lo e premiá-lo.

Ao fim e ao cabo, a ferramenta não ajuda o burro, inversamente prejudica-o, obriga-o mesmo a trabalhar sem o querer fazer e ao melhorar-lhe a produtividade também aumenta a sua exploração por parte do proprietário, patrão ou superior hierárquico. Eu cá sou pela liberdade dos burros e por um sistema de saúde digno. Vivam os piscos.

Março, dia 6:

Há que dar, contudo, valor ao povo que num simples provérbio punha a nu a injustiça do tratamento que recebia, ficando sempre remetido à categoria de burro, mesmo nunca o tendo sido. É por estas e por outras que depois, a dada altura, o copo deixa de encher, para, na mais pequena gota extravasar. É assim que surgem os dias das revoluções. Muitas vezes, o burro não é tão burro como a conta que dele faz o seu dono. Coisas da vida. Viva o 25 de abril. Viva a revolução. Vivam os asnos.

Março, dia 7:

Já o ditado “há falta de um grito, morre um burro no atoleiro” tem outro intuito. Com efeito, o zurrar destes animais não atinge os decibéis necessários para servir de alarme. O provérbio assiste na explicação que grandes tragédias acontecem pela falta de precaução ou medidas simples de segurança. Ora, fala-se na morte do jerico, e não de outro animal, para dizer que apenas um idiota não se previne e protege devidamente. Se a pessoa é burra e não são os seus pedidos de socorro que a podem ajudar numa situação de perigo, então, o local, o transporte, a casa ou o posto de trabalho têm de estar apetrechados com os meios preventivos necessários para que uma situação de perigo seja evitada.

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Conforme podes observar, pela foto que hoje ilustra a tua carta, o asno encontra-se pequenino, em segundo plano numa prateleira, quase abandonado à sua sorte, enquanto eu apareço armado em Moisés, saído de um banho de vitamina D da varanda das traseiras, onde o Sol se mantém firme e quente entre as 2 e as 7 da tarde, porque isto de viver confinado não me pode impedir de tratar devidamente da saúde.

Como sabes, depois dos meus AVC de 2019, regressou o ataque da vesícula em 2020, após 3 anos de pausa, penalizada por não me ser possível uma operação, relegada para uma suspensão quase permanente, enquanto o coronavírus se passeia alegremente pelo nosso Portugal e brinca às escondidas com a ilustre Direção Geral de Saúde e o respetivo Ministério da Saúde.

Um Ministério cheio de estrelas e de gente que gosta de se ver na televisão, seja Marta Temido, Graça Freitas ou aquela alegada baronesa das olheiras permanentes, vinda de Alte, do Algarve, uma tal de Secretária de Estado Adjunta e da Saúde, Jamila Madeira, filha do grande barão algarvio do PS, Dom Luís Filipe Madeira, que, embora tenha formação em gestão e mestrado em finanças, fala de saúde com a pompa e circunstância com que os burros olham para os palácios, ao fim do dia, quando a noite chega, para que a ignorância não salte à vista.

Mas chega de choramingar o meu estado de saúde. É o que é e, se tudo correr sem muitos mais incidentes, no final, espero que essa saga termine positivamente. Por hoje, este teu grande amigo, despede-se de ti, querida Berta, enviando um fino e requintado beijo postal, pois que através destas cartas nos comunicamos. Conforme sabes, estou sempre ao dispor para o que necessário for,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta: Memórias de Haragano - A Revolução Começa na Cama - Parte XVI - Última

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Olá Berta,

Termina hoje o longo capítulo das Memórias de Haragano, mais propriamente aquele que afirma que <<A Revolução Começa na Cama>>. Na próxima carta as memórias continuam, contudo, sem mais demora, daremos entrada no segundo segmento. <<Confissões em Português>>.

Espero que estejas de acordo comigo quando digo onde começam todas as revoluções, sejam as minhas ou aquelas que fomos acompanhando ao longo da história. No meu entender a razão é simples: antes de levarmos a cabo uma revolução temos sempre, em primeiro lugar, que sonhar com ela. Ora, como é absolutamente evidente, o melhor lugar para se sonhar, foi, é e será sempre, a cama. Berço de todas as verdadeiras revoluções.

Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte XVI

“Se a sensação que me levou a <<poetar>> é algo de negativo ela é, ao ser escrita, arquivada num arquivo morto. Consigo por de lado o desgosto, a dor mais profunda depois de a transcrever completa e devidamente. Mesmo quando releio um desses excertos é como se já não fosse bem coisa minha, é, enfim, quase como se se tivesse transformado em algo que apenas se gerasse enquanto fruto da minha imaginação. Se pelo contrário foi uma coisa boa que me levou ao arquivo ela é, depois de passada a palavras e a texto poético, um motivo de consulta, um arquivo vivo, dinâmico, catalisador de energias positivas, um animador do desânimo e da nostalgia, ou seja, o melhor antidepressivo natural que conheço.

Agora que terminei a minha já longa palestra sobre o ato de escrever (mas dentro dos parâmetros do acordo ortográfico) sou levado a concluir que Clarice Lispector era capaz de ter alguma razão <<…se não fosse sempre a novidade que é escrever, eu morreria simbolicamente todos os dias>>.

Abri o computador, digitei o email da revista Ler anexei o artigo e escrevi: Caríssimos, envio o artigo solicitado. Sai do programa e desliguei o computador. Decidi regressar à cama para terminar os meus profundos pensamentos, aqueles que me levam sempre a chegar à conclusão de que <<A Revolução começa na Cama>>. Sorri satisfeito.”

Desde que começámos esta aventura de te enviar diariamente uma carta, ainda não te ouvi queixar daquilo que lês. Já discordaste, já me contrariaste, já riste e já choraste, mas, ao que parece, até ao presente momento ainda não te fartaste de ler este teu bom amigo, querida Berta.

Pode não te parecer muito importante, porém a mim, provoca-me algum orgulho saber que, do outro lado de cada carta, estás tu, sempre disposta a mais 5 ou 10 minutos de leitura diária. É realmente maravilhoso e por isso, na despedida de hoje, te agradeço do coração. Um beijo sincero deste teu amigo,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta: Memórias de Haragano - A Revolução Começa na Cama - Parte XV

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Olá Berta,

Lembras-te daquela quadra minha que te enviei faz algum tempo. Foi no meio de uma série de cartas com quadras populares que criei quando me quiseste pôr à prova, a que me estou a referir rezava assim:

Sorria, nunca ande triste

Pelos caminhos da vida,

Que a vida, que em nós existe,

Não tem volta, só tem ida.

Fui repescá-la para esta carta precisamente para te dizer que é isso que eu faço com o que escrevo, é a minha forma de sorrir, mesmo perante acontecimentos que possam ser trágicos, Ao escrever, nesse caso, arquivo a mágoa e tiro-a da minha vista. Fica ali, parada, imóvel e segura. Contudo, atuo do mesmo modo com aquilo que me é prazenteiro. Nesse caso o arquivo serve de armazém, para que mais tarde possa, novamente, saborear um pouco do anterior momento de felicidade.

São truques simples os meus. Não têm a complexidade dos intelectuais ou dos sábios, contudo, funcionam na perfeição. Mas, vamos regressar às memórias, que já tardam em sair. Assim:

Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte XV

“Voltando atrás, dizia eu que escrever, para mim, é uma de duas coisas, ou um processo de arquivo ou uma aspirina para a imaginação. Começando pela aspirina devo confessar que funciona maravilhosamente. Sempre que me dedico ao conto, à ficção ou ao romance, enfim à prosa, é a híper imaginação que muitas vezes me enche a cabeça, que eu aproveito para esvaziar, isso permite-me que, na minha cabeça, recomece o processo de criar novas situações, enredos, tramas e mistérios, seja o que for até que, a dada altura, lá tenho que tomar de novo a aspirina, ou seja, escrever novamente, para reequilibrar os níveis de ocupação cerebral, não ter insónias, conseguir dormir e descansar em paz e muito sossego.

<<Last but not least>> o meu escrever, enquanto inigualável processo de arquivo. É verdade, sempre que me viro para a poesia, e passo para o papel os versos que me vão na alma, consigo arquivar sentimentos, emoções, vivências, paixões, amores, desgostos, tragédias, mortes. Enfim, tudo o que respeita o nosso mundo sensitivo, emotivo e quase que arrisco dizer sensorial. Mas trata-se de um arquivo em duas partes. Bem delimitado, com todos os parâmetros realmente nos devidos lugares.”

É com esta minha forma de entender e digerir o que escrevo que, por hoje, parto e te dou descanso das minhas letras. Recebe um beijo deste velho amigo,

Gil Saraiva

 

Carta à Berta: Memórias de Haragano - A Revolução Começa na Cama - Parte XIV

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Olá Berta,

Se na última carta que te enviei terminei com os temores de um dia ser apagado, início a carta de hoje reforçando que quem escreve, seja lá quem for, tem sempre, o desejo íntimo de poder vir a ser lido. Caso contrário, não escrevia, fazia, por exemplo, crochê.

Para que possas entender ao que me refiro passo de imediato para as memórias. Assim:

Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte XIV

Por outras palavras, além de qualquer outro aspeto, motivo, bandeira, escola, anseio, crença ou método, quem escreve tem sempre como um dos seus objetivos ou desejos a possibilidade de poder vir a ser lido (sendo que o que às vezes muda é apenas o patamar de significado e prioridade que o referido objetivo ou desejo ocupa na escala daquilo a que cada um considera importante e valorativo). Faço notar que os mais fervorosos, além de lidos, anseiam também pelo sonho último de poderem ser lembrados, citados, estudados e, delícia das delícias, imortalizados. Eu já me daria por satisfeito por não ser apagado.

Poderiam dizer-me que isso de querer ser lido nem sempre acontece, que nem sempre é verdade, como já disse entendo essa linha perfeitamente, podemos ter como prioridade o nosso próprio registo memorial. Mas, e lá estou eu com os mas, quem não quer mesmo ser lido limita-se a pensar, analisar, sintetizar, deduzir e, às vezes até concluir seja que ideia ou processo imaginativo for, sem com isso sentir a necessidade de o escrever. Reafirmo que escrever é normalmente um ato privado que provavelmente vai requerer público ou a partir do momento em que possa ser lido ou a partir do instante em que possa ser esquecido.

Sobre os outros, antes de regressar a mim, resta-me falar dos que escrevem como modo de subsistência, coisa que também passou pela vida de Clarice, dos que fazem de um conhecimento, uma arte ou um dom (conforme os dotes e os casos) um modo de vida e ganha-pão. Para eles, ser lido, não chega… eles anseiam avidamente ser requisitados e muito publicados (e lá me lembrei eu de Camilo Castelo Branco que escrevia a metro brilhantemente, embora por pura necessidade).

Já lá vão três mil setecentos e muitos caracteres. Ups! Já passei a metade do estipulado e ainda tenho umas coisas a dizer.”

O facto de, muitas vezes, um jornalista estar limitado naquilo que escreve a um determinado número de carateres obriga-nos a desenvolver duas técnicas completamente distintas, a análise e até se necessário, alguma divagação ou reflexão sobre aquilo que se escreve, ou, pelo contrário, a um enorme poder de síntese, cortando tudo o que não é essencial.

Com estas observações termino a carta de hoje. Despede-se, com a amizade habitual e um cafuné, este teu costumeiro amigo diário e permanente,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta: Memórias de Haragano - A Revolução Começa na Cama - Parte XIII

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Olá Berta,

Um bom-dia para ti, sejam lá as horas que forem, no momento em que estiveres a ler esta carta. Hoje vais encontrar nas memórias a referência a uma escritora que já nos deixou faz tempo. Contudo, trata-se de alguém que tem a minha admiração e, por isso mesmo, falo dela. Seguindo para o texto, deixo-te com a sua leitura.

Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte XIII

“A propósito de escrever…

<<Escrevo porque sou uma desesperada e estou cansada, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse sempre a novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias>>

                                                                                               Clarice Lispector

Ao ler esta frase de Clarice fico quase tentado a concordar. Mas, e não sei porquê tem sempre de haver um mas, julgo que chegarei ao fim sem realmente a aprovar na totalidade. Porém, se me colocar no lugar de quem escreve, sou capaz de entender. No caso escrever para a autora era tão vital como para qualquer humano beber água. Morreríamos todos sem o precioso líquido. A carência do ato de escrever seria igualmente fatal para Clarice Lispector.

A minha vida faz-me ver outra realidade que, por força do que tenho vivido, me leva a ideias um pouco diferentes. Tenho que concordar que viajar sem um bloco e uma esferográfica é inimaginável para mim e que, na maioria das vezes, não me lembro do champô ou da máquina de barbear. Já me aconteceu inclusivamente sair de casa sem o bilhete de avião e o passaporte, mas muito ciente de trazer comigo tudo o que era preciso, apenas por sentir na bolsa ou no bolso o volume da caneta e do bloco.

Escrever, para mim, é uma de duas coisas: um processo de arquivo ou uma aspirina para a imaginação. Antes de descrever estas situações tenho que discordar da ideia generalizada de que <<quem escreve, escreve para si próprio>>. Ou seja, mesmo os intimistas, os cultivadores de diários muito privados, ou outros <<secretistas>> da palavra passada à escrita, sentem, nem que seja lá no fundo mais refundido do seu fundo, o desejo de ser lidos (para já não dizer apreciados pelo que escrevem), pode até ser, e é o mais normal, mas depois, por outro lado, vendo o meu caso, eu escrevo para arquivar ideias antes que delas me esqueça. Gosto de ser lido? Gosto, principalmente se for apreciado, mas não é o que mais me move. Porém detestaria que após a minha partida deste mundo alguém chegasse ao computador e apagasse pura e simplesmente todos os livros, poemas, pensamentos, crónicas e textos que já escrevi. Odiaria isso realmente. “

É com esta tenebrosa ideia de um dia ser apagado que me despeço por hoje minha amiga. Recebe o virtual beijo deste teu menos novo amigo,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta: Memórias de Haragano - A Revolução Começa na Cama - Parte XII

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Olá Berta,

Hoje, envio-te a prova provada de que, quando pensamos que nada mais pode acontecer, surge aquela coisinha inesperada que, por si só, é capaz de mudar tudo. Por isso é que eu nunca perco a esperança no dia de amanhã. O que é realmente necessário é a coragem de, a cada despertar, nos prepararmos para enfrentar o dia que por aí vem. Passo, sem delongas, às memórias de hoje. Assim:

Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte XII

“Com o dia de trabalho terminado preparava-me para desligar o computador depois de fechar o mail. Estava contente com a minha nova teoria de que "a Revolução começa na Cama". Levei a mão ao rato, mas não tive tempo de fechar sequer o mail. O som de nova mensagem a entrar fez-me interromper os planos.

Abri para ler. Eu bem me parecia que teria um melhor dia de trabalho depois da próxima noite de sono. Era mais um serviço. A revista Ler pedia-me um artigo de fundo, com algumas páginas, entre três a cinco mil e quinhentos caracteres sobre o ato de escrever. Mas só me davam dois dias para o entregar, embora o pagamento fosse razoável. Disse um palavrão. Aquele que termina em alho. Era evidente que alguém tinha falhado um compromisso com eles e lá ia eu de novo servir de verbo de encher. Mas pronto, antes isso que não haver o que fazer.

Desde que enviara para toda a imprensa a minha disponibilidade para tapar buracos que o meu trabalho, e a respetiva recompensa, estava a conseguir equilibrar a minha balança de pagamentos. Não era a situação ideal, mas ajudava muito. Voltei a olhar para a encomenda. O ato de escrever… o que dizer, ai, ai…

Depois de alguns momentos a pensar, resolvi ir buscar uma frase de Clarice Lispector. Feito isto, uma vez que já tinha mote, achei que mais valia adiantar já o serviço. Decidi-me a iniciar a escrita.”

No início da carta esqueci-me ainda de te referir que um otimista vive muito mais feliz do que um pessimista mesmo que ambos tenham exatamente o mesmo tipo de vida e de problemas. O otimista passa os dias muito mais sereno pois está convencido de que algo vai acontecer que o vai acabar por ajudar. Por isso mesmo está muito mais atento e pronto a aproveitar o que se lhe depara a cada dia. É dessa forma que se desembaraça dos problemas muito mais rapidamente do que o pessimista. A forma como nos deparamos com a realidade é, por si só, um fator que condiciona e ajuda a moldar a própria existência. Eu, pelo menos, acredito que assim é.

Fico-me por estas palavras e despeço-me até amanhã com o terno e velhinho beijo do costume, enviado, como sempre, por este teu amigo,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta: Memórias de Haragano - A Revolução Começa na Cama - Parte XI

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Olá Berta,

Fiquei feliz em saber que tu também acordas e consegues mudar um sonho. Já somos dois. Sem mais demoras, passo de imediato para as seguintes memórias:

Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte XI

“O meu telemóvel acusou nova mensagem. Era uma sms do Body Club. Um convite para uma festa especial. Simpático, sem dúvida, mas como é a pagar prefiro passar a vista por meia dúzia de meninas desnudas na internet. É mais barato. Quanto ao Body é um clube de strip recente, perto das antigas caves do Cinema Mundial em Lisboa, que faz comunicação com outro ícone noturno, o Black Tie. Em dois mil e onze fiz a reportagem de lançamento, não fui o único, mas pronto, fiz parte do grupo de arranque da casa. Depois ainda escrevi mais umas notas de imprensa engraçadas para os cartazes de algumas publicações dedicadas à noite lisboeta.

Vou ver. Devo ter qualquer coisa ainda no computador. Ah! Cá está: [[Foi no passado dia 11 de agosto que o empresário M. T. deu luz, som, cor e alegria a um novo espaço na noite de Lisboa.

A inauguração teve lugar numa quinta-feira entre as vinte e duas horas e a uma hora da manhã. O cocktail de apresentação contou com a presença de muitas caras conhecidas da nossa capital e algumas outras de outros pontos do país.

O BODY funciona diariamente entre as vinte e duas horas e as quatro horas da manhã com o requinte que só o mestre do Black Tie Club sabe imprimir aos seus espaços. Ele é a prova que afinal existe vida para além da Troika na nossa capital.

Quando lhe perguntamos se era apenas mais uma casa para enfeitar a noite alfacinha o experiente mestre explicou logo que se tratava do primeiro espaço nacional com pista central de strip dupla, ou seja, com dois varões para as bailarinas, balcão em volta da pista, três faixas pardas a vermelho luminoso no chão, efeitos de fumo e laser de fazer inveja a qualquer strip californiano daqueles que vemos nos filmes produzidos pelas terras do tio Sam.

Quando finalmente vimos o espaço constatámos que efetivamente e por fim Lisboa tinha um Strip Clube, com um arranjo inicial de doze bailarinas, de nível internacional. Achei deliciosa a escolha das palavras um arranjo de doze bailarinas. Parecia a descrição de harém árabe importado para um hotel de cinco estrelas de luxo.

O vermelho escuro e o preto dos estofos fizeram-nos lembrar espaços onde não se olhou ao custo para fazer imperar o bom gosto. Fino, clássico, quase sensual. Uma delícia.

Com algum receio pedi a tabela de preços e fiquei de queixo caído, eu não poderia pagar a não ser com sorrisos, mas era barato, para quem ganha pelo menos uns cinco ordenados mínimos. A degustação tinha uma média de preço por copo que rondava os quinze euros e, espante-se, um <<table dance>> privado fica-se pelas trinta e cinco unidades da escassa moeda.

Em conclusão tive a certeza que em Lisboa, dali para a frente, não poderia mais haver STRIP sem BODY. Recomendo vivamente o espaço àqueles pobres e coitadinhos que se conseguem sustentar na capital com os parcos vinte e cinco salários mínimos.]]”.

Por hoje chega de ideias. Recebe um beijo amigo de despedida, deste sempre presente, nem que seja através desta nossa troca de informação,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta: Memórias de Haragano - A Revolução Começa na Cama - Parte X

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Olá Berta,

Tem sido divertido acompanhar as tuas reações às minhas memórias. Com que então eu não tenho os 5 bem medidos. Sou tolo e por vezes muito mauzinho com certas situações ou pessoas. Nada disso. Eu, como tu ou qualquer cidadão deste país, tenho direito a formular opiniões e a pensar livremente. Nunca me viste afirmar que branco é preto. Na pior das hipóteses poderei dizer que, em meu entender, não sei muito bem se isto ou aquilo, não será mais para o cinza ou se, outra coisa qualquer que parece negra, não se aproximará talvez do castanho muito escuro.

Agora, regressando às memórias, julgo estar na altura de me focar na educação. Assim:

Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte X

“Por hoje terminei as obrigações imediatas. Ao todo foram três pequenos artigos para outras tantas publicações pouco motivadoras, mas pagantes. Porém, como sou um otimista por natureza, tenho a certeza que amanhã será bem melhor. Peguei em mais um cigarro, como quem faz pausa para almoço. Devia começar a escrever um livro, pois acho que dificilmente vou conseguir viver do ar se o trabalho se mantiver neste ritmo e posso ser lírico e otimista, mas não me considero burro. Aliás é isso mesmo que vou fazer. Começo amanhã. Ri-me.

Continuo convencido que a revolução começa na cama. Não é preciso ser criativo sequer para imaginar a imensidade de segredos e informações que transitam nos limbos das alcovas desde que o mundo tem civilizações. Devia haver uma universidade que ensinasse as pessoas, com vocação para o vale dos lençóis, a fazer disso uma profissão respeitável. O chamado espião de leito, um 007 ou uma 008 (por causa das curvas) lutando pelo desvendar de enigmas e mistérios entre sonoridades e movimentos que pouco têm a ver com o verdadeiro significado e importância das palavras.

Estou a imaginar cadeiras perfeitamente lecionáveis nesse tipo de Mestrado para Espiões de Elite, como, sei lá, <<Orgasmo, um veículo para uma espionagem feliz - I>> ou a <<Metodologia Informativa de uma Masturbação a Dois>> e mais um vasto número de disciplinas que visassem dotar os referidos profissionais a promover a troca de informações ou a plantar, sem alarido, a semente de uma certa revolução no espírito dos incautos companheiros de cama.”

Ao terminar este excerto das memórias, acabei de constatar que me esqueci, sem o fazer conscientemente, dos sonhos que se têm na cama. E não, não estou a referir-me aos molhados, que toda a gente conhece. Estou a falar das aventuras absolutas do nosso subconsciente, livre de amarras, durante algumas horas por dia.

Nesses momentos somos capazes de tudo e conseguimos inclusivamente ser bem mais heroicos do que muitos dos personagens da Marvel. Por outro lado, para quem tem pesadelos deixo uma pequena dica.,, antes de se prepararem para dormir mentalizem-se durante 5 minutos que, se tiverem um mau sonho, vão conseguir acordar de imediato, mudar o sonho por determinação e pensamento e de seguida continuar a dormir. Não resulta logo, mas ao fim de uns 30 dias vai verificar que se lhe acabam de vez os pesadelos e os receios de um sonhar algo ruim.

Fico-me por aqui, minha muito querida Berta, despeço-me com um beijão de coração, com um verdadeiro sorriso de alma, este teu amigo de sempre,

Gil Saraiva

Carta à Berta: Memórias de Haragano - A Revolução Começa na Cama - Parte IX

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Olá Berta,

Não leves a mal as comparações de ontem. Afinal, não passam de opiniões pessoais, sujeitas aos mais variados critérios de subjetividade, de gosto e de avaliação absolutamente emocional. Embora eu pessoalmente não acredite, ambos os presidentes podem ser excelentes pessoas, dignos dos mais rasgados elogios. Cá por mim dava os rasgados a um e os elogios ao outro. Porém, mais uma vez, isto sou eu.

A curta abordagem de hoje sobre a profissão de jornalista freelancer em Portugal, visa apenas, minha querida amiga, dar-te uma ideia de que, infelizmente, se queremos sobreviver profissionalmente não nos podemos dar ao luxo de escolher sobre aquilo que queremos escrever. Como diz o ditado marítimo <<o que vier à rede, é peixe>>.

Será melhor passarmos às memórias de hoje e deixar os considerandos para o final do texto. É a melhor forma de não me alargar, em demasia, em considerandos que se poderiam alargar. Assim:

Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte IX

“Tudo isto para dizer que um freelancer nem sempre faz o que gosta ou que, por sua iniciativa consegue abordar os melhores temas ou os mais intelectuais. O que interessa, por exemplo, o Goucha a alguém, ou outro dos que aqui poderia deixar referidos, que não seja no contexto do que eles efetivamente fazem na área que os torna públicos? Não interessam nada, nem deveria haver mais nada a dizer sobre eles, fora desse contexto.

Contudo, como colunáveis que são, pode mesmo aparecer-nos um trabalho que nos obrigue a falar deles. Contingências do ofício. A vida é assim e temos é que seguir em frente com a melhor disposição possível. Por exemplo, é melhor ser freelancer do que trabalhar nos serviços de saneamento básico da cidade do México onde os trabalhadores entram de escafandro em esgotos, mais largos do que piscinas, para os desentupir. Isso sim é um repugnante, real e verdadeiro trabalho de merda.”

A minha abordagem sobre qualquer tema menos interessante ou até totalmente fatela ou horroroso, pode parecer que cheira mal, que é uma verdadeira porcaria, contudo, eu não sou obrigado a sentir a consistência física das poias, nem tenho que levar nariz acima com as abjeções de terceiros. Em síntese as minhas queixas são de cadeirão e, em última conclusão, totalmente irrelevantes. Todos os trabalhos têm coisas, aqui ou ali, de que não gostamos particularmente de fazer. É o caso do jornalismo de um freelancer.

Por hoje termino com uma despedida alegre, acompanhada de um beijo, deste teu amigo fiel e sempre ao dispor, seja lá para o que for,

Gil Saraiva

 

 

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