Carta à Berta n.º 611: O Nascimento do Terrorismo Evangélico no Brasil
Olá Berta,
Sempre que a religião aparece com um papel relevante na esfera política eu, minha querida, fico deveras preocupado. Sou daqueles que pensam que, tal como o futebol e a política nunca se devem misturar, o mesmo acontece em relação à religião e à política. Os políticos que utilizam a religião como arma política têm tendência a radicalizar o discurso tentando cavalgar por cima dos dogmas religiosos, com o fito de, por essa via, capitalizarem na aquisição de novos e mais fervorosos militantes e simpatizantes.
Esse tem sido, aliás, querida amiga, um dos problemas dos crescentes governos da direita, da extrema direita e da direita radical. Com efeito, ao juntarem aos conceitos nacionalistas de Pátria e Família o conceito de Deus fica criado o caldo perfeito para a tendência de se evoluir (eu diria até, regredir) de um Estado Democrático para um Estado Autocrático e daí para um qualquer tipo de Ditadura. Isto tem vindo a acontecer cada vez com maior frequência e pode ser comprovado internacionalmente.
Ora, se nos lembrarmos que o Islamismo, nos tempos modernos, tem sido conduzido para a esfera política, gerando o extremismo islâmico, o fundamentalismo islâmico e os radicalismos, terminando o seu curso num terrorismo de matriz religiosa, fica claro, Bertinha, que ver outras religiões a percorrer o mesmo caminho é muito preocupante.
Assim, amiguinha, uma das novidades em termos de religião, é o novo fenómeno do “Fundamentalismo Evangélico” que deflagrou no Brasil. A direita, que Jair Bolsonaro representa, tem vindo a capitalizar apoiantes, militantes e ativistas, no seio da Igreja Evangélica. Já são evidentes, por todo o lado, os sinais de radicalismo evangélico no seio da política levada a cabo pelo atual Presidente do Brasil. Prova disso é a cada vez mais importância dos Evangélicos no Governo de Bolsonaro.
Deste ponto até à possível chegada de um terrorismo evangélico só já falta um último passo. É este o maior perigo da direita no Brasil, caso o atual presidente perca as eleições de 30 de outubro. Mas não foi Bolsonaro, doce amiga, o inventor deste fenómeno. Com efeito, Donald Trump fez o primeiro ensaio deste fundamentalismo religioso nos Estados Unidos da América, tentando utilizar os evangélicos, já radicalizados, em seu benefício próprio. Não foi completamente bem-sucedido dessa vez e perdeu as eleições, mas a semente do aproveitamento religioso, por parte do ex-presidente, criou raízes internacionais e já está a dar frutos noutras latitudes e longitudes.
Aliás, Trump, limitou-se a refinar o que o Governo Israelita vem fazendo há anos, com passinhos pequenos, com evidente aproveitamento da religião Judaica. É por isso, Berta, que eu penso podermos ver nascer muito proximamente, por todo o lado e em diferentes partes do globo, o terrorismo religioso, impulsionado pelos dogmas incontestáveis das diferentes religiões quando misturados com a tendência autocrática e ditatorial que a direita sempre demonstrou saber usar em seu proveito próprio. É com esta reflexão que me despeço, por hoje. Recebe um beijo franco e saudoso deste teu amigo,
Gil Saraiva