Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Basta ter poder, na maior parte das vezes, para se ter razão e se estar do lado certo da lei. O nosso presidente, por exemplo, minha amiga, é católico e, por isso, a Lei da Eutanásia passeia-se eternamente pelos corredores do poder, dias após dias, semanas atrás de semanas, meses a fio, esperando calmamente, como se não houvesse pressa, que esse poder chegue ao fim para conseguir, por fim, triunfar.
Vladimir Putin, amiguinha, acusa Portugal de roubar crianças ucranianas como se nós fossemos realmente um dos países do Eixo do Mal, e ninguém o avisa que está a confundir o país com um programa da SIC. O homem que desvia crianças às dezenas de milhares tem o desplante e a desfaçatez de fazer uma acusação destas, porquê? Porque no País dos Sovietes, sua excelência é imperador e dono da lei.
De comunista a fascista, invade um país vizinho, porque, alega o dono da lei do seu país, a Ucrânia é parte da Rússia. E, sem se olhar ao espelho, minha cara, chama fascista ao Vladimir do país vizinho e quer que acreditemos que ele vai “desnazificar” o seu povo e libertá-lo do jugo do outro Vladimir, um tal de palhaço de nome Vladimir, mas neste caso Zelensky. O palhaço Putin, que combate contra o palhaço Zelensky, nem sabe que é palhaço porque nem se olha ao espelho, nem encontra ninguém com eles no sítio para lhe dizer que mente (incrivelmente, com todos os implantes que tem na boca).
Na guerra dos “Vladimires”, Bertinha, morrem centenas de milhares de pessoas, o mundo entra em crise alimentar por falta de cereais, que abundavam por aquelas bandas, porque as rotas dos alimentos ficaram perigosas, porque os capitalistas ainda capitalizam mais, porque a inflação alastra pelo mundo movida por interesses económicos e porque a lei, está do lado desta gentinha que ao crescer se tornou gentalha.
Abomino Vladimir Putin e custa-me a aceitar que, por força da “puta da lei internacional” o homem ocupe o lugar de presidente das “Nações Unidas”. Das Nações Unidas? E querem que acreditemos e confiemos nas instituições, Berta? Mas alguém já olhou bem para o contrassenso? O absurdo é tentarem-nos convencer a respeitar a lei. Como se nos dias de hoje a dita cuja, coitada, ainda tivesse alguma coisa a ver com a justiça. Esclareço: já que não tem.
Também é preciso ter cuidado quando se fala de justiça, minha querida. Hoje em dia temos várias justiças, a dos ricos, a dos pobres, a que vem no papel, e a antiga justiça que, desgraçadamente, anda aos papeis. Ainda nos querem fazer acreditar que tudo isto faz sentido, talvez faça, e para muita gente, mas não para o povo do mundo. Abaixo, Vladimir Putin (que o pariu). Homem pequenino... Tenho dito! Deixo um beijo,
Hoje, por estes dias que vimos atravessando, existem quatro tipos de notícias. As primeiras, que nos chateiam porque somos impotentes para lhes pôr um fim, são as que se referem à invasão da Rússia à Ucrânia.
O país não deixou de ser solidário, amiga Berta, nem de estar do lado dos mais fracos, de apoiar os oprimidos e detestar os opressores, nada disso, o país está é farto de notícias miseráveis que exploram a guerra até ao tutano, uma guerra a que apenas podemos assistir de sofá.
Ouvimos dizer que a Europa está unida. O que une estes povos, contudo, minha querida, pouco tem a ver com solidariedade e muito deve à necessidade de manutenção dos níveis de vida de cada um dos países em si mesmos. É cínico? Muito. Mas é verdade. Tudo o resto é espetáculo mediático. No entanto, para as pessoas, a coisa tem elevados padrões solidários e é disso que todos os governos se aproveitam, embora ninguém o assuma publicamente, porque, no mínimo, seria egoísmo.
O segundo tema destes tempos quentes são as alterações climáticas, a seca, os fogos, o calor extremo. A comunicação social pela-se por colocar um bom bosque a arder na sua magnificência. Se aparecerem umas casas a arder e umas velhotas a chorar então, Berta, a cereja é colocada no topo do bolo. Até parece que lhes agrada a desgraça dos outros.
E nós, o povo, genuinamente solidário, engolimos todas as notícias sem sequer nos apercebermos que são exploradas até ao tutano, em prole de audiências ou de maiores tiragens de jornais nos pasquins deste nosso mundo.
O terceiro assunto envolve política. Este é, aliás, um tema, minha querida Berta, que dura todo o ano e que é algo de que todos estamos fartos, mas que afeta o nosso dia-a-dia. Sejam as tomadas de posição dos diferentes partidos políticos, sejam os atos dos dirigentes de outros países ou dos nossos, a comunicação social raramente informa sobre o que de bom acontece no mundo, mas vende facilmente a informação do que correu errado ou foi corrompido ou que possa vir a acabar de forma menos boa.
O quarto grande assunto estival é o desporto, nesta altura com imenso destaque para o futebol, com o mercado das transferências aberto e os clubes a formarem as equipas que apresentarão já em agosto próximo, minha amiga. Mas tudo sempre muito manipulado, cheirando a desgraça alheia, como se o povo a quem a comunicação social se dirige não estivesse já farto de desgraça em todo o lado.
Pois é Berta, a matemática de hoje é usada para estudar o que nos move e comove e nos faz consumir qualquer porcaria que nos queiram impingir. Claro que tem de vir devidamente embrulhada. Nós, infelizmente, aderimos ao processo calculado em computadores caros que acedem ao nosso modo de vida sem pedirem licença.
Um conjunto de coisas, mais ou menos abstratas para o cidadão comum, como matemática, estatísticas, rankings, algoritmos, padrões, comportamentos, psicologia emocional, probabilidades, perfis, e mais uma parafernália de ferramentas são interligadas e trabalhadas por forma a conseguirem, em última análise, influenciar o nosso comportamento, sem que nós mesmos demos conta de que estamos a ser manipulados por um produto ou algoritmo, traduzido em uma qualquer aplicação, publicidade, produto ou apresentação.
Ás vezes penso no que diriam as grandes mentes da história da humanidade, que viveram antes da revolução industrial se pudessem comentar o nosso quotidiano e atualidade. Tenho a certeza que de Platão a Camões e até a outros pensadores bem mais recentes, seriamos apelidados de idiotas ou de algo muito parecido com isso. Por isso, minha querida Berta, o meu conselho, antes de me despedir, é: antes de fazermos algo ou comprarmos algo, pensarmos se realmente isso ou aquilo nos interessam realmente ou se nos estamos apenas a deixar levar… fica com um beijo,
Faz algum tempo que não conversava contigo. A vida não tem sido fácil, nos últimos tempos isso calhou-me a mim. É desesperante estar há meio ano na expetativa da chegada de uma reforma, que tarda mês após mês, já sem meios de subsistência. A luta por uma sobrevivência tem o poder de retirar a quem luta a capacidade da partilha. Desculpa o meu feitio minha querida Berta.
Como sabes odeio os coitadinhos e as coitadinhas deste mundo que se queixam de barriga cheia, porque não ganharam no Euromilhões ou porque partiram uma unha. Tudo serve para uma pieguice pegada, que nos faz esquecer quem verdadeiramente precisa de ajuda.
Hoje, depois do Festival da Canção da Eurovisão 2022, em que venceu, ontem à noite, a canção da Ucrânia, venho fazer um apelo de Campo de Ourique para o mundo, mas principalmente para ti, minha querida amiga, e para o meu Bairro, o Bairro de Campo de Ourique. Neste domingo, 15 de maio, pelas 19 horas e amanhã, segunda, 16, à mesma hora, toca, toquem, nos vossos telemóveis, aparelhagens e computadores a música da Ucrânia.
As minhas dificuldades são uma pieguice pegada se comparadas com o que tem passado o povo da Ucrânia. Invadidos, mortos, torturados, arrasados por um invasor vizinho, prepotente, que se instalou em Guerra apenas por cobiça do país de quem dizia ser irmão.
Sejamos solidários para com a Ucrânia. Já estou cansado e desgastado de ver esta guerra em direto na televisão, quase já não consigo ouvir as suplicas do seu Presidente, que o nosso governo promove até à exaustão para esconder que é o único país da Europa que passou a esconder: os dados diários da Covid-19, os problemas com a subida do custo de vida, os serviços que não funcionam, um governo em quem votei mas que se esquece facilmente dos seus eleitores, por muito que isto me custe dizer.
Estou farto da guerra pela televisão, mas continuo firmemente solidário com a Ucrânia e com a sua luta. Aceita o meu apelo, querida Berta e hoje e amanhã, pelas sete da tarde, toca a música da Ucrânia, que venceu o Festival da Eurovisão. Deixo o link do YouTube: https://youtu.be/Z8Z51no1TD0. Recebe um beijo de despedida deste teu amigo de sempre,
Estive a ouvir as declarações de João Ferreira à SIC Notícias, a propósito da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Sinceramente, não entendo como é que uma pessoa inteligente e evoluída, por quem eu tenho elevada consideração, consegue fazer uma análise tão absurda da guerra. Porque raio é que João Ferreira prefere usar argumentos para desculpabilizar a invasão russa?
Francamente, muito sinceramente, não consigo entender. Se João Ferreira estivesse a defender a antiga Rússia Comunista ou a antiga URSS eu até entendia. Embora sendo uma ditadura, nesses tempos, a União Soviética dizia-se comunista, estando de acordo com a génese da fundação do PCP. Todavia, atualmente a coisa não faz o menor sentido, pensemos de que forma pensarmos.
A Federação Russa de hoje, financia partidos de extrema direita em todo o mundo, da França a Portugal, passando por Espanha, Hungria e por aí em diante. Quanto à política o comunismo russo foi há muito substituído por uma ditadura czarista autocrática, de direita, focada no culto da personalidade de Putin e apoiada numa tropa fandanga de oligarcas escolhidos a dedo pelo poder, para o representarem no mundo. Nenhum destes senhores defende o proletariado ou os trabalhadores. Então porque raio defende João Ferreira a invasão da Ucrânia e quase a guerra?
Sinceramente não consigo entender. Será o hábito da ligação à antiga ex-URSS? Têm receio de, agora, se sentirem repentinamente órfãos? O Partido Comunista Português já tem 101 anos de história, o que é idade suficiente para cortar o cordão umbilical com a falecida mãe, por muito que as teorias da mesma possam ter sido inspiradoras de um novo mundo que, diga-se, nunca se concretizou.
Se observarmos em detalhe o principal da entrevista de João Ferreira, até podemos concluir que ele condena a guerra da Rússia com a Ucrânia, só que, a forma rebuscada com que tenta atenuar a culpa russa dá vontade de lhe dizer que mais lhe teria valido ter ficado calado.
Vamos aos factos:
João Ferreira diz que a existência de forças "com cariz paramilitar assumidamente fascista e nazi" no exército ucraniano está "devidamente demonstrada".
João Ferreira defende que a posição do PCP em relação à guerra na Ucrânia tem sofrido de uma enorme "manipulação" por parte da comunicação social.
João Ferreira informa que o partido acredita que esta guerra que nunca devia ter acontecido e que deve acabar "o mais rápido possível".
João Ferreira diz que para "perceber a guerra é preciso saber como cá chegámos" e afirma que a invasão: "insere-se num conjunto de outros atos representativos de uma escalada".
João Ferreira informa que "houve um conjunto de forças: o Batalhão Azov, o Setor Direito (Pravyy sektor), o Svoboda - qualquer uma delas de cariz paramilitar, assumidamente fascista e nazi, defendendo a reabilitação de colaboracionistas nazis como Bandera”, a terem sido integrados nas tropas ucranianas.
João Ferreira explica que: “Isto não é propaganda russa, encontram todas estas referências ao longo destes últimos anos, em órgãos de comunicação social ocidentais. Tem sido dito que os neonazis foram a eleições e que têm expressão mínima, mas a expressão e o peso que têm ao longo dos últimos anos não pode ser medido por aí”.
João Ferreira reitera que os nazis: “Foram inseridos no exército ucraniano e estiveram ao longo destes últimos anos a bombardear as populações do Donbass. Todo um contexto que não deve ser desvalorizado. Tivemos uma situação de ilegalização de forças políticas”.
João Ferreira refere-se ainda ao conflito no Donbass, que "acontece há 8 anos", diz que os acordos de Minsk não foram respeitados e que esta é também uma situação que ajudou à escalada.
João Ferreira avança que para pôr fim à guerra é preciso o: "regresso aos acordos de Minsk, a desmobilização dos meios da NATO que foram colocados na fronteira da Rússia, o cessar-fogo imediato com o fim de todas as hostilidades", tendo este comportamento de levar à saída das forças russas da Ucrânia.
João Ferreira afirma que este é o caminho concreto para quem quer a paz, porém sublinha que: "a União Europeia não parece querer nada disto", aproveitando para esclarecer o seu desacordo com o envio de armas para a Ucrânia.
João Ferreira acredita haver margem para negociar, e não vê incompatibilidade em condenar a invasão da Ucrânia por Putin e, simultaneamente, apontar o dedo a todas as situações que descreveu.
João Ferreira termina dizendo que: “É possível constatar isto tudo como factos demonstrados, não os apagar, inseri-los no contexto que nos ajuda a explicar esta situação e ao mesmo tempo reconhecer na ação da Rússia uma violação do direito internacional que é condenável e não devia ter acontecido, como é condenável todo o processo.“.
O que João Ferreira não diz é que, mesmo que todo o seu contexto seja absolutamente verdadeiro e real, nada disso justifica a invasão da Ucrânia por parte da Rússia. Basta pensarmos que no seio da polícia portuguesa também parece existir um movimento neonazi fortemente enraizado e isso não desculparia uma invasão espanhola de Portugal. Quanto às atitudes da NATO e da União Europeia, são atitudes externas, no momento da invasão, à própria Ucrânia. Não justificam, portanto a guerra da Rússia com o seu vizinho.
O que João Ferreira não diz é que os acordos de Minsk, nem sequer deveriam existir, bastava para isso que a Rússia não tivesse há oito anos invadido a Crimeia, território ucraniano, e criado no Donbass em Donetsk e de Lugansk o fermento necessário para a anexação de mais duas províncias ucranianas.
O que João Ferreira não diz é que se não fosse o auxílio do Ocidente em armamento à Ucrânia estaríamos agora a assistir ao genocídio do povo ucraniano. Porque a Rússia invadiu antes de qualquer auxílio ter acontecido.
O que João Ferreira não diz é que condena o que os russos têm feito nestes oito anos no Donbass apoiando os separatistas, nem sequer condena, pelo menos eu não o ouvi a falar nisso, a anexação da Crimeia por parte da Rússia. Será que João Ferreira condenaria a anexação do Algarve por parte de Espanha, nomeadamente pela Andaluzia?
O que João Ferreira devia ter dito era simples e unicamente que condenava a invasão e a guerra iniciada unilateralmente pela Rússia contra a Ucrânia. Depois podia falar de todos os erros ucranianos, desde a corrupção, às tropas com infiltrados de movimentos nazis, mas também dos erros e do narcisismo de Putin, da sua ditadura e ânsia de mais poder, esta sim, a verdadeira causa do conflito.
A Ucrânia pode ter ainda uma democracia em crescimento e ainda carregada de problemas, mas isso também teve Portugal nos primeiros anos da nossa democracia. Bem, querida Berta, fico-me por aqui, tristemente desiludido com João Ferreira por quem tinha imensa consideração. Nunca se deve tentar tapar o Sol com a peneira. Por hoje é tudo, despede-se este teu grande amigo,
Oleksandr (Alexandre), cidadão ucraniano, e já com nacionalidade portuguesa, é casado com Inês, portuguesa, atualmente também com nacionalidade ucraniana, conheceram-se ambos em Sintra no ano 2000, casaram, fruto de um amor mútuo e profundo ainda no mesmo ano. Em 2011, devido à crise em Portugal, partiram para a Ucrânia.
Em 2017 ambos já tinham dupla nacionalidade. Atualmente Oleksandr tem 48 anos e Inês 42. Da eterna paixão que os une nasceram 5 filhos, o mais novo tem 2 anos e a mais velha tem 13. Em 2017 regressaram a Portugal devido ao falecimento, num acidente de viação, dos pais de Inês, provocado por um condutor embriagado. Sendo filha única Inês herdou os bens dos pais, passando a ter casa própria e a possuir uma pequena cadeia comercial de sete lojas no Concelho de Sintra.
Entre 2017 e 2018 Inês esteve seis longos meses com vários problemas depressivos devido à morte dos pais, a quem era muito ligada. A somar a esse problema, o filho mais novo do casal foi diagnosticado como autista em 2021. No final janeiro de 2022, a família partiu para cerca de um mês de férias na Ucrânia para dar a conhecer aos pais de Oleksandr os 2 filhos mais novos do casal. A ideia era ir e voltar antes que a possibilidade de uma guerra se tornasse uma realidade e, por isso, ficassem impedidos de o fazer. Infelizmente 6 dos 7 elementos da família contraíram Covid-19 2 dias antes da viagem de regresso para Portugal e tiveram de adiar a viagem, sendo que apenas Olexandr não estava infetado.
Esta madrugada o prédio onde os sogros de Inês vivem sofreu um ataque com míssil, em Kiev. Irina, a segunda filha mais nova do casal, de 4 anos ficou ferida, Pedro, o mais novo dos descendentes não foi atingido, mas a mãe diz que o perdeu para os confins da sua mente, agora completamente fechada sobre si mesma.
Os sogros de Inês foram ambos atingidos e encontram-se gravemente feridos. Sendo 2 entre os 35 feridos no ataque. Inês nada sabe de Oleksandr, desde que este foi reintegrado no exército ucraniano há 2 dias. Segundo diz, não vai sair da Ucrânia sem o marido, nem que morra à sua espera.
Estas almas, das quais restam 9 das 11 iniciais, que aqui descrevi, tiveram vidas atribuladas e difíceis, como muitas famílias em toda a Europa, em todo o mundo, enfim. Será que mereciam um desfecho destes? Sobreviveram os pais de Olexandr? Como estarão psicologicamente as 5 crianças do casal? Estará Olexandr vivo, ainda? O que será desta família apanhada nos meandros de uma guerra e de uma pandemia? A realidade, por mais fértil que seja o imaginário de cada um de nós, é sempre mais cruel do que a imaginação.
Casos como este já devem existir centenas, quiçá se chegarão aos milhares, e tudo porquê? Porque um déspota russo se pôs de bicos de pés a dizer que ele é que é o senhor do mundo? A injustiça é uma espada pesada e fatal que infelizmente cai sempre para o lado dos mais fracos, dos que não têm voz, num mundo de narcisistas presunçosos e movidos pela sede do poder.
Putin é um vampiro que se alimenta do sangue derramado no campo de batalha. O Ocidente diz que não pode intervir porque a Ucrânia não pertence à NATO. Tretas, e o Vietname? E a Coreia? E Sarajevo na Bósnia-Herzegovina? E a Sérvia? E o Kuwait? E o Iraque? O Ocidente não contra-ataca porque tem medo de Vlad Putin, o vampiro, o sanguinário, o déspota neonazi que acusa o presidente ucraniano, um judeu, de ser toxicodependente e nazi. Tóxico e maníaco é Vlad Putin. Nazi, narcisista e senhor das trevas é Vlad Putin.
Mas será que ninguém consegue acabar com esta praga? Vlad Putin é uma barata e devia ser tratado como tal. Ninguém tem Raid ou um pé pesado? Não me vou alargar mais, querida Berta, que a revolta é imensa, espero que no final, a família da qual sou amigo, consiga regressar a Portugal e viver, por fim, uma vida em paz. A esperança é sempre a última a morrer. Despeço-me com um beijo amigo,
Ontem, uma nova palavra entrou, com a ocupação russa da Ucrânia, no léxico português. Não é que ela não existisse já, com efeito a palavra em causa não é um neologismo, mas, pelo que me consigo aperceber é a primeira vez que a vejo usada num contexto internacional.
Estou a falar de DESNAZIFICAR, ou seja, por ordem de significados, “suprimir o carácter nazi da Ucrânia”, “erradicar doutrinas e/ou práticas políticas nazis na Ucrânia”, “livrar a Ucrânia do nazismo ou da sua influência”. Ora, uma coisa que o Ocidente sabia, no que à Ucrânia dizia respeito é que uma vasta corrupção e algum autoritarismo proliferavam por aquele país com alguma impunidade, porém, dai a chamar o Governo da Ucrânia de nazi vai um imenso salto no abismo, dificilmente justificável a nível internacional.
Mas vamos às afirmações que foram proferidas pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, quando afirmou ontem que a Rússia não reconhece o governo da Ucrânia como democrático e que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, “mente” quando diz querer discutir a neutralidade do país. Segundo o que o mesmo orador afirmou em conferência de imprensa, “ninguém está a planear ocupar a Ucrânia” sendo, isso sim, o objetivo da Rússia "libertar os ucranianos da opressão". Estas afirmações, destaco, foram feitas pelo Governo da Rússia.
Mas o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo disse mais: "Putin tomou a decisão de realizar uma operação militar especial para desmilitarizar e DESNAZIFICAR a Ucrânia para que, livres da opressão, os próprios ucranianos pudessem determinar livremente o seu futuro".
Na mesma conferência de imprensa, o ministro acrescentou ainda que “ninguém está a planear ocupar a Ucrânia” e que o objetivo da Rússia é "libertar os ucranianos da opressão".
Como podes ver, minha querida amiga Berta, afinal Putin é um coração puro, alguém que acha que o seu povo irmão, tem armas a mais e está a aproximar-se em demasia das ideias arianas, absolutistas e radicais, que Hitler implantou na Alemanha num tempo que já lá vai.
O ridículo da situação é vermos alguém como Putin, que governa a Rússia num regime absolutista de direita autocrática, oligarca e czarista, com laivos de um imperialismo narcisista crescente, vir falar agora, como pretexto de uma invasão em DESNAZIFICAR um país vizinho.
Todos sabemos que Putin vem dos antigos quadros comunistas da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o que por si só já era suficientemente arrepiante, mas o regime que impõe hoje na Federação Russa, é um regime absoluto, autocrata, de uma direita imperial que nada tem a ver com o velho comunismo, a não ser na falta de liberdade sentida pelo povo russo, que se mantém igual.
A viragem foi de cento e oitenta graus. Sendo que quem está perto de filosofias nazis, bem analisadas as coisas, é o próprio Kremlin, ou seja Putin. A vida é o que é e não vale arranjar desculpas para o desejo narcisista deste governante em voltar a ter um império.
Experimenta, minha amiga, pôr lado a lado, Napoleão, Hitler e Putin. A altura e a fisionomia dos três são semelhantes. E se colocares nos outros dois um bigode e um capachinho à Hitler vais entender o que eu estou a insinuar, ou seja, são todos farinha do mesmo saco. O que ainda torna as afirmações do Kremlin mais ridículas.
Em resumo, qualquer regime que não tenha um verdadeiro sistema democrático, cujos mandatos dos líderes tenham uma dimensão temporal bem definida, que os impeça de se prolongarem no poder indefinidamente, e em que os cidadãos não possam escolher livremente os seus representantes para os diferentes órgãos de poder, seja à esquerda, seja à direita, ou ao centro, não é uma democracia nem tem autoridade moral para criticar governos de outros países. Putin, quer ele ache quer não, não passa de um ditador fascista déspota e autocrático.
A Ucrânia, que se aproximava de poder vir a ter um verdadeiro regime democrático, sofre do mal de ter Putin por vizinho, mais um imperador narcisista, petulante e ditatorial, enfim um czar de fato e gravata. Por hoje fico-me por aqui, querida Berta, recebe um beijo saudoso deste teu amigo de sempre,
Tal como eu, certamente, já ouviste falar do conflito entre a Ucrânia e a Rússia. Todos esperam o início eminente de uma guerra anunciada, ao mesmo tempo que desejam que esta possa ser ultrapassada, mesmo que no limite, pelo uso coerente da diplomacia.
É evidente que as rádios e as televisões têm dado um substancial relevo ao assunto, sendo nisso acompanhadas quer pela imprensa escrita, quer pela que se encontra disseminada em inúmeros sites online. Tal situação não se deve, ao facto de termos uma forte comunidade ucraniana em Portugal, mas sim ao papel da Europa no conflito, principalmente a União Europeia.
A NATO, uma instituição, até há pouco tempo, esquecida dos cabeçalhos da imprensa e das aberturas dos noticiários, aparece agora com um papel relevante, principalmente pelo destaque que os Estados Unidos da América têm dado ao assunto. Basta reparar na quantidade de vezes que o presidente americano já anunciou o início da guerra.
O problema do Ocidente tem estado na conservação do verniz, no tratamento a dar a Putin, que indiferente às advertências ocidentais, começou (a situação já dura desde 2014) por ocupar a Crimeia e agora reconhece o direito das províncias do sudeste ucraniano a integrarem a Federação Russa (reconhecendo-lhes a independência para já).
O apoio, já oficial, dado pelo Kremlin à independência destas províncias e a entrada de tropas russas nessa parte do país vizinho, por forma a apoiarem as pretensões dos separatistas, é já uma evidência clara.
Por outro lado, a desculpa esfarrapada da presença de quase duzentos mil militares russos, na fronteira com a Ucrânia e a ocupar posições ameaçadoras no território bielorrusso, divulgando para o Ocidente de que tudo não passa de simples exercícios militares é algo que já não cola, nem nunca colou, nas análises dos observadores internacionais.
É óbvio que a Rússia não quer que a Ucrânia passe a pertencer à NATO, por questões geoestratégicas. Contudo, a própria NATO e todo o Ocidente também não estão interessados nessa adesão, embora defendam que a Ucrânia, enquanto país soberano, deve ter direito a fazer as suas próprias escolhas e opções.
O Ocidente pensa, não sem razão, que pode não ser uma boa ideia integrar um país que não é propriamente uma grande democracia nem sequer um verdadeiro estado de direito. Com efeito, a Ucrânia tem tiques de autocracia e move-se muito bem nos meandros da corrupção.
Todavia, quer a França quer a Alemanha, mas não só, talvez quase toda a UE, são bastante dependentes do gás russo. Tem sido por isso que se têm desdobrado afincadamente em ações diplomáticas, na grande mesa de jantar de Putin.
Mas, e há sempre um imenso mas, em cenários deste calibre, o tal verniz, de que falei há pouco, pode mesmo vir a estalar, não tarda. O que ninguém parece ainda ter a certeza é qual é a estratégia de Putin. É claro que os americanos dizem que é evidente que a Rússia se prepara para anexar a Ucrânia, mas isso não quer dizer que tenham mais razão agora, do que quando eles provocaram a invasão do Iraque, com a desculpa das armas de destruição massiva.
Há ainda, escondido por detrás do cenário militar, um imenso palco económico e macroeconómico. Do lado russo o interesse em ter a Europa dependente do seu gás e consequentemente da energia que exporta, o qual tem um peso imenso, e deixa a Europa um pouco entre a espada e a parede. Do lado americano a possibilidade de poder tornar-se no principal fornecedor do mesmo gás do velho continente é não só economicamente excelente, como aumenta o seu poder de influência no círculo europeu.
Deves estar a pensar, mas porque raio é que isto é assim tão importante para nós, aqui, em Portugal. Bem, minha querida Berta, tal como na altura das armas de destruição massiva do Iraque, nós aceitámos sem provas, deixar os americanos servirem-se da base das Lages, nos Açores, como ponte aérea para a invasão do Iraque, desta vez, estamos prontos para permitir a entrada de capitais públicos ou privados americanos no porto de águas profundas, em Sines, para receber o gás americano no nosso país.
Depois disso, o PRR, ou seja, o nosso Plano de Recuperação e Resiliência, já prevê o investimento em estruturas ferroviárias rápidas entre Sines e Espanha, de forma a servimos de porta de entrada do gás (e do petróleo) americano na Europa, substituindo o fornecimento russo.
Para além disso, as obras de extensão e alargamento previstas para o porto de Sines, mais o melhoramento das estruturas ferroviárias, permitiram que Portugal possa competir diretamente com os portos de Roterdão e Antuérpia, com uma muito melhor localização estratégica, e também maior proximidade, das rotas comerciais da América do Sul, Central e do Norte, bem como das rotas de África.
Com efeito, uma vez terminadas as obras, melhoramento ferroviário entre Sines e Espanha e extensão e alargamento estrutural do Porto de Sines, deixaríamos de ser um ponto periférico no contexto europeu para passarmos a estrar no centro da distribuição de serviços, produtos e energia de toda a Europa.
Se a isso juntarmos a capacidade de minerar, transformar e gerar as baterias de lítio, para as fornecermos prontas às empresas tecnológicas e à industria automóvel, o papel de Portugal, no seio do contexto europeu seria absolutamente essencial, passando o país a ser um exportador de energia de elevado potencial, e interesse para todo o velho continente, mas principalmente para a Comunidade Europeia.
Em resumo, minha querida Berta, tudo aponta para que Portugal se esteja a perfilar para se tornar fundamental para a estabilidade do espaço europeu quer no que se refere às energias convencionais, quer na necessidade do lítio, quer mesmo no abastecimento e comércio de mercadorias e bens com a Europa.
Só que, em caso de guerra, como pode acontecer se a Rússia entrar em guerra com a Ucrânia, também deixamos de ser um alvo terciário, para passarmos a ser um alvo prioritário. A prova disso, que já tem contexto real e evidente, são os ciberataques de que temos sido alvos nos últimos tempos por parte dos hackers de leste. Aliás, não é à toa que até já o nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros sofre ciberataques como o de hoje.
É por tudo isto que Portugal importa agora quer aos russos, quer aos americanos, quer aos chineses, que já meteram a mão na nossa rede de distribuição elétrica (a REN com 25%), no capital da EDP (com 21,35%), na Fidelidade (com 85%), na Luz Saúde, e no BCP (com 16,7%), já sem contar com a imensidão que tem sido o investimento em imobiliário por parte dos chineses em Portugal, sendo já donos de vários tesouros nacionais, como é o caso do edifício da Rádio Renascença no Chiado entre muitos outros.
Pelo que disse ao longo desta carta, é bom que nos preocupemos com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, pois estamos a menos de dois ou três anos de sermos um alvo prioritário em qualquer guerra entre as grandes potências mundiais, situação inédita em Portugal desde a era dos descobrimentos.
Despeço-me com um beijinho, minha querida Berta, cheio de saudades, até uma próxima cartinha, este teu amigo de há muitos anos, sempre ao dispor, eternamente grato pela nossa velha amizade,
Tenho visto e ouvido imensa gente a criticar o Governo por andar a fazer poucos testes. Seja na Assembleia da República, por parte dos partidos da oposição, seja na imprensa escrita e, mais assertivamente nas redes sociais, que quase que espumam de raiva reivindicativa pela testagem em falta. Eu que aponto o dedo à atuação dos nossos líderes, sempre que me parecem que eles escorregam nos seus deveres, também gosto de ter a noção de que as críticas que faço são minimamente justas.
Nestas coisas sobre o que o SNS anda a fazer a mando da DGS eu acho importante que se tenha em atenção dois pontos fundamentais: o rácio de testagem realmente efetuada, desde que a pandemia começou, por milhão de habitantes e a comparação com os países que têm a mesma ou maior população que Portugal.
O primeiro critério é evidente porque não faz sentido fazer comparações sem ser pela percentagem de testes realizados desde o início por cada milhão de habitantes, o segundo ponto é ainda mais importante porque não acho justa a comparação nacional com países ou territórios de menor dimensão populacional, como por exemplo o Mónaco, o Luxemburgo ou Andorra, que, dada a sua pouca população, atingem grandes percentagens por milhão de habitantes com meia dúzia de testes, porque a comparação se torna ridícula.
Ora, analisemos, portanto, quais e quantos são os países e os territórios que, com igual ou superior dimensão populacional e desde que as testagens começaram, têm mais testes por milhão de habitantes que Portugal. Serão muitos? Estaremos assim tão na cauda da testagem como se afirma? Devo confessar que eu não sabia, mas resolvi consultar as testagens em todo o globo e compará-las connosco, fazendo uso dos critérios já referidos. Para tal usei os dados da OMS e do site do “Worldometer”, que é muito usado para avaliação dos dados da pandemia.
República Checa, Bélgica, França, Reino Unido e Estados Unidos da América, são os cinco, e únicos, países do mundo que, tendo uma população igual ou superior à nossa, já fizeram mais testes por milhão de habitantes que Portugal, desde que a pandemia começou. Ora, vistas as coisas por este prisma objetivo, não se pode dizer que estamos na cauda seja lá do que for no que à testagem diz respeito.
Pelo contrário, fica demonstrado que testamos mais do que Espanha, Itália, Holanda, Alemanha, China, Rússia, Índia, Brasil, México, Canadá, Austrália, só para enunciar alguns dos países que esperaríamos encontrar mais avançados do que nós. Para cúmulo desta análise, devido ao elevado aumento da testagem nacional, e a manter-se este ritmo, dentro de menos de 30 dias, estaremos no top 3, o que não me parece um lugar de envergonhar quem quer que seja, por mais voltas que se tentem dar aos números.
Vergonha, é a palavra certa a aplicar a todos estes críticos de barriga cheia e de língua solta e viperina, que nem se dignam a consultar as tabelas oficiais antes de botarem discurso. Vir criticar o Governo, porque num período de sete ou quinze dias se fizeram menos testes que o normal, tendo em conta o universo de quase 16 meses, é como criticar a Telma Monteiro, honra e glória do judo português, por ter faltado a um treino quando, mesmo assim, sempre atingiu o pódio de cada vez que participou em campeonatos internacionais da sua modalidade. Haja bom senso e moderação.
Se querem criticar os nossos governantes atirem-lhes à cara com o abandono discriminatório, e quase xenófobo, a que os circos e as atividades circenses foram votadas desde o início da pandemia, por exemplo, no que se refere ao apoio a um setor da cultura totalmente desprezado pelo Governo, que os proibiu de exercerem a sua atividade, desde que a pandemia teve início há 16 meses. Aqui sim, há razões para indignação e vergonha, mas há mais exemplos como este, muitos mais.
A crítica, a ser feita, deve ser objetiva, assertiva e construtiva. Falar por falar fica ridículo e põe em perigo quem realmente precisa de apoio. Por hoje é tudo minha querida amiga, recebe um beijo de despedida e sempre saudoso,
Espero que esta carta te continue a encontrar bem de saúde e de bem com a vida. Sabes, no meio desta pandemia trágica que assolou o mundo tenho procurado entender um pouco os números oficiais, que vão sendo divulgados pelos mais diversos países e territórios, no que diz respeito aos dados relacionados com o Coronavírus.
A constatação mais incrível que consegui fazer foi que, para meu espanto, ninguém, ou quase ninguém, diz a verdade sobre o que se passa dentro das suas fronteiras no que à pandemia diz respeito.
As mentiras estão relacionadas principalmente com o número de vítimas mortais, porém, continuam pelos valores oficiais da população infetada e propagam-se pelos restantes dados relacionados com a praga. O principal motivo é o político, seguido do geoestratégico, que mais não é do que uma derivação do primeiro.
Se olharmos para um dos dados mais fiáveis entre os publicados, nomeadamente o número de testes efetuados à população por cada milhão de habitantes, é fácil verificar que, dos 212 países e territórios com infeções declaradas, a quase totalidade da humanidade, entre os 90 países que têm uma população igual ou superior à nossa (cerca de 10 milhões e 300 mil habitantes), Portugal lidera, em primeiro lugar, o número de testes realizados aos seus habitantes.
Contudo, este dado cairia por terra se incluíssemos países cuja população estimada para este ano se aproxima muito da nossa, uma vez que Israel e os Emirados Árabes Unidos (ambos com mais de 9 milhões de habitantes), nos relegariam para o terceiro lugar do pódio no que à testagem diz respeito.
Um aparte interessante foi ter ficado a saber que apenas 13% da população, cerca de um milhão e 300 mil habitantes, dos quase 10 milhões de pessoas existentes nos Emirados são autóctones. Foi muito surpreendente descobrir que esta confederação de monarquias árabes, constituída por emirados ou principados quase tribais, criada em meados do século passado, no que concerne à sua formação e dimensão, possuíam, no ano em que eu nasci, ou seja, em 1961, um conjunto de pequenos reinos tribais que, todos juntos e somados, não chegavam aos 100 mil habitantes, isto é, 1% dos números atuais. Outra curiosidade engraçada foi verificar que por cada 100 habitantes apenas 30 são mulheres. É incrível constatar o poder político e estratégico do ouro negro nestes últimos 70 anos da história da humanidade.
Mas, regressando ao tema principal, que por certo não se esgota nesta carta, um bom exemplo da forma como os países manipulam os dados é o soviético. A sua recente mudança de estratégia é disso prova evidente, demonstrando que nada é o que parece.
Até há uns dias atrás a Rússia, com uma população de 144,5 milhões de habitantes (menos de metade da americana), estava interessada em dar ao mundo a ideia de que tinha poucos casos de infetados e menos ainda de mortos causados pela pandemia. Só que, contrariando a vontade das suas políticas, a disseminação da pandemia de forma assustadora no território e a necessidade de tomar medidas públicas, obrigou Putin a mudar de ideias.
Contrariado, resolveu começar a atualizar os números dos infetados, mas ocultando ainda a verdade dos óbitos. No espaço de uma semana e pouco as tabelas deixaram de registar umas poucas centenas diárias de infetados, para saltarem para a dezena de milhar de casos inscritos diariamente. Algo totalmente inexplicável não fosse a evidente demonstração de manipulação política. Nenhuma pandemia cresce mais de 1000% de um dia para o outro, digam lá os russos o que disserem.
Por hoje não me vou alongar mais nesta temática, contudo, voltarei ao tema em próximas cartas pois interessa-me bastante. Este teu amigo despede-se, por agora, com um beijo saudoso,
Em 2004, um ano que já lá vai, perdido na memória da primeira década do século XXI, era eu editor e jornalista do boletim oficial “TerrAzul”, da Associação da Bandeira Azul da Europa, escrevi uma série de eco crónicas para o semanário Expresso. São elas a base de algumas reflexões que, passados estes anos, e já sem o fervor ambientalista de então, acho relevante analisar agora. Não me vou dedicar aos artigos em si, mas ao evoluir das problemáticas então apresentadas. Espero que te agrade.
A vida é uma teia complexa de eventos que interligam de forma, mais ou menos perfeita, factos, atitudes e comportamentos. No final do segundo milénio a preocupação com o ambiente era crescente e ganhava adeptos, mais ou menos ferrenhos, em quase todas as frentes. Nasceram os partidos ditos ecologistas, desenvolveram-se as associações ligadas à defesa do ambiente. As sementes estavam lançadas. Era agora necessário cuidá-las.
A sociedade civil e os senhores do poder em todo o mundo foram, aos poucos, cedendo à necessidade: Era imperativo tomar medidas! Finalmente, na Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento, que ficou conhecida como a Cimeira da Terra ou ECO92 ou RIO92, realizada no Rio de Janeiro em 1992, geram-se, entre outros, 2 documentos basilares: A Agenda 21 e a Agenda 21 Local.
O conceito de “Desenvolvimento Sustentável” amplamente difundido na ECO92 possuía, por fim, amiga Berta, instrumentos e conceitos operacionais para uma aplicação eficaz e efetiva de políticas para ele direcionadas. Estavam inventadas as fórmulas de referência para a construção de um plano de ação a ser desenvolvido global, nacional e localmente, quer pelas organizações do sistema das Nações Unidas, quer pelos Governos e Autoridades Locais.
Mas onde? Onde aplicar semelhante plano? A resposta é por demais evidente, minha querida amiga: Em todas as áreas onde a atividade humana provoca impactos ambientais desfavoráveis.
É desde o RIO92 que quase duas centenas de países passam a considerar o “desenvolvimento sustentável” como elemento efetivo da sua estratégica política conjugando ambiente, economia e aspetos sociais.
A primeira Conferência das Partes (COP1 - Conferência das Partes designada também por Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) ocorreu em 1995 na cidade de Berlim e nela foi firmado o Mandato de Berlim, no qual os países do Anexo I assumiram maiores compromissos com a estabilização da concentração de GEE ( a Emissão de Gases com Efeito de Estufa), por meio de políticas e medidas ou de metas quantitativas de redução de emissões.
Um salto significativo foi dado depois pelo Protocolo de Quioto em 1997, onde uma série de metas ficaram definitivamente estabelecidas e acordadas. Já no atual milénio, em setembro de 2002, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo, reafirmou, inequivocamente, o imperativo de plena implementação da Agenda 21, entre outros documentos essenciais.
A Agenda 21, minha amiga, que se traduz na criação de objetivos e indicadores que possam aferir progressos e estabelecer metas a atingir para um desenvolvimento sustentável, tornou-se a ferramenta ideal para a aplicação de medidas e premeditação de objetivos no que ao ambiente dizia respeito.
Portugal (e é o nosso caso que nos importa mais diretamente, embora esteja globalmente inserido na estratégia mundial) tem, em termos de legislação ambiental, uma posição relevante na salvaguarda do Planeta. O nosso único problema é que parece que nos ficamos pelo papel, pela palavra escrita, pela promessa assinada.
As medidas tardam a ser implementadas e algumas das que florescem parecem temer ser coladas a adjetivos como “fundamentalista” ou “pseudo-qualquer-coisa”, mas nem tudo se perde e, aos poucos, lá vamos encontrando o traçado correto, pois temos os instrumentos para ir e chegar bem mais longe...
Começámos tão bem, nestes anos de definição de estratégias que temos de ir em frente, nem que seja… por um “desenvolvimento sustentável”.
Estes 2 últimos parágrafos servem para vermos como a passagem dos textos aos atos é enganadora. Portugal, que implementou entre 1992 e 2004 um excelente conjunto de medidas na legislação, passou os 15 anos seguintes a assobiar para o lado, a ver a banda passar. É certo que houve alguma evolução positiva, mas as centrais a carvão não deixaram de funcionar. As energias alternativas foram subsidiadas quase exclusivamente numa perspetiva muito mais económica do que sustentável e a meada ainda teria muito fio se lhe resolvêssemos pegar seriamente. Tudo correu de tal forma que, a dada altura, nós, que partimos na carruagem da frente da defesa do ambiente, perdemos literalmente o nosso lugar no comboio.
Apenas em 2019 a coisa voltou a ser importante para o país e a tomar uma relevância, muito por força de novos movimentos e partidos, pelas eleições legislativas, pelo Acordo de Paris em 2015, pelas COP seguintes e depois pela Cimeira do Clima em Madrid, convocada pelo Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, para coincidir com a COP25 e dela tirar um proveito sustentável com a aprovação de novas medidas e metas a alcançar para o equilíbrio climático, envolvendo, praticamente, todos os países.
Infelizmente, Berta, graças à Austrália, Estados Unidos e Brasil, seguidos da Índia, China e Rússia, num patamar abaixo, tudo volta a ficar adiado, uma vez mais, para a COP26. O caso australiano, então, é perfeitamente surpreendente e absurdo, se tivermos em linha de conta que o estado de calamidade que o país atravessa é, quase na totalidade, devido aos incêndios, fruto das próprias alterações climáticas, que geram tempestades secas, repletas de raios, que vão gerando o caos, à medida que provocam incêndios, que alteram o comportamento dos ventos, que, que, que… numa reação em cadeia sem fim à vista.
Mais grave ainda é sabermos que estes 6 países são os produtores diretos de mais de 50 por cento das emissões produzidas no planeta, e que, por isso mesmo, são diretamente responsáveis pelo agravamento do problema, que continua sem solução à vista. Durante este ano resta-nos seguir com a União Europeia o caminho da Sustentabilidade. A UE resolveu continuar o seu trajeto, independentemente dos outros parceiros mundiais o fazerem ou não. É por causa disso que Lisboa é, a partir de ontem, a Capital Verde Europeia 2020, com obrigação de plantar, este ano, 20 mil árvores, entre outros objetivos.
Este, minha querida amiga, é o atual ponto de situação, esperemos que os anos 20, agora iniciados, sejam mais auspiciosos para todos nós. Despeço-me com um beijo saudoso, este teu amigo de sempre,