Carta à Berta: Série: a Arte de Bem Comer em Campo de Ourique. 2) Verde Gaio
Olá Berta,
Sabes, coloquei ontem online, no Facebook, o primeiro restaurante dos que classifiquei, aqui do meu bairro. Ainda estou abismado com o número de pessoas que foram ler a minha opinião. Ao que parece não sou o único a gostar de comer e de ver o que os outros acham dos locais escolhidos. Fiquei bastante satisfeito. Aqui vai mais um do meu registo pessoal. Irei pôr até os que gostei menos, mas isso não quer dizer que sejam maus, apenas direi que, por um ou outro motivo, não se coadunam tanto comigo.
Série: a Arte de Bem Comer em Campo de Ourique.
2) Verde Gaio:
A melhor grelha a carvão de Campo de Ourique.
Quando falo em restaurantes familiares, minha amiga, estou logo a querer dizer que o local me faz sentir em casa ou que este é um ambiente acolhedor. Ora, no Verde Gaio, para além disso, a família faz realmente a diferença. O senhor Jorge é um especialista nos grelhados, a acompanhá-lo, na cozinha, a esposa dirige a equipa dos tachos e na sala o filho, Rafael, e a nora, Verónica, fazem as delícias de todos no simpatiquíssimo atendimento aos clientes. O restante pessoal varia mais, embora tenham tendência a ficar bastante tempo na casa. Chego a pensar que a comida é confecionada como se fosse para eles.
Sou um fanático, embora a preferência não seja muito ecológica, pela grelha a carvão. Normalmente, amiga Berta, corro o risco de comer as coisas secas e queimadas ou malpassadas e sem sabor. Porém, tal nunca me aconteceu no Verde Gaio. A mestria do senhor Jorge, nesse departamento, faz do restaurante um ponto de paragem obrigatório para quem vive ou passa por Lisboa.
Conforme já descrevi, aqui trabalham, lado a lado, marido e mulher, filho e nora, gente próxima da família e, mais raramente, um ou outro elemento mais afastado deste padrão. Mesmos os poucos desacatos familiares a que por vezes assistimos no espaço dão ao estabelecimento o seu ar mais genuíno e verdadeiro, marcadamente “made in Portugal”. Aliás, querida amiga, os pequenos conflitos são gerados pela razão última de fazer com que o cliente desfrute de uma refeição de topo, a preços que sempre nos parecem de promoção ou de saldos.
Um achado, dirão, por certo, os que o experimentarem pela primeira vez. Pena o orçamento não dar para cá vir todos os dias, pensarão outros. Mas passando à comida, ou seja, àquilo que realmente importa quando se pensa em comer fora. Imagina, minha saudosa amiga, uma paleta de tintas, com as mais variadas cores e tonalidades, com que um artista pinta um quadro. Agora, transpõe a paleta para a grelha e esta vira protagonista de relevo, de uma panóplia de sabores, para as tuas papilas gustativas.
Será escusado dizer que o peixe e a carne são sempre frescos e que se encontram bem expostos nas duas vitrines, logo na entrada do restaurante, quase parecendo sorrir para quem entra, acho que ias adorar o aspeto, Berta. Contudo, grelhar é uma arte e o maior segredo do Verde Gaio é a mestria do verdadeiro artista, o Grão-Mestre Grelhador, da Ordem Culinária da Antracite, o Mestre Jorge. Pode até parecer que me estou a repetir, mas há coisas cuja importância não pode ser descorada. Pois a verdade é que, para mim, esta é a melhor grelha de Lisboa, bem na frente do Mercado de Campo de Ourique, na rua Francisco Metrass, no número 18.
Como a casa também trabalha com a Uber, e os demais distribuidores, e com Take-Away, convém dizer que poderias, cara amiga, se não estivesses a morar no Algarve, fazer diretamente as encomendas pelo número de telefone 213 96 95 79 ou, em alternativa, para os diferentes canais de recolha. Como conselho, recomendaria que ligasses a saber quais são os pratos recomendados para o dia, pois poderias ter a sorte de apanhares umas deliciosas ovas cozidas ou uma garoupa, linguado, e muito mais, como bónus extra à ementa do dia-a-dia.
Embora já tenha referido alguns pratos, destaco, ainda, o melhor piano grelhado de Lisboa, quiçá do país, os legumes grelhados com broa de chorar por mais, peixe ao sal (desde que encomendado previamente), joaquinzinhos fritos, rins fritos ou grelhados, iscas de porco à portuguesa, franguinho frito à ribatejana, costeletas de porco preto grelhadas, robalos ou douradas ou salmonetes grelhados, salmão na grelha à posta, garoupa grelhada, bacalhau assado à lagareiro, lulas grelhadas, camarão na brasa, enfim, podia estar a escrever mais 2 páginas, Berta, que não terminava. Todavia, alguns dos pratos só existem quando o Mestre Jorge os arranja frescos, pelo que convém ligar a combinar previamente, certas iguarias mais especiais.
Destaco ainda as entradas e as sobremesas, com ameijoas à bulhão pato, cogumelos recheados, empadas de frango, de legumes ou de atum, entremeadinha frita, gambas fritas “al ajillo”, linguiça assada, mini alheira grelhada, rissol de camarão, morcela assada com laranja, ovos mexidos com farinheira, “pimentos padron”, paio do lombo fatiado, pica-pau, favas salteadas e até salada de polvo. Continuando para as sobremesas, para além da fruta da época, recomenda-se a sericaia com ameixa, bolo de bolacha ou de mousse, mousse de manga ou de chocolate, tarte de limão “merengada”, pudim de ovos e torta de laranja.
Tipo: Grelhados / Cozinha Portuguesa / Take-Away
Fecha: Domingo ao Jantar e Segunda
Preço: Acessível
Classificação no Género: 5 Estrelas
Sugiro ainda que se experimentem os vinhos tintos do Douro, Alentejo, Lisboa ou Dão, mas aconselho e destaco especialmente o Dão “Quinta de Cabriz” 2015, cuja garrafa sai a 9 euros. Tu ias adorar, Berta.
Bem, minha amiga, por hoje é tudo, despeço-me de água na boca, sempre saudoso, com um beijo, este teu eterno amigo de longa data,
Gil Saraiva