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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta n.º 590: Algoritmos e as Notícias do Verão

Berta 590.jpg Olá Berta,

Hoje, por estes dias que vimos atravessando, existem quatro tipos de notícias. As primeiras, que nos chateiam porque somos impotentes para lhes pôr um fim, são as que se referem à invasão da Rússia à Ucrânia.

O país não deixou de ser solidário, amiga Berta, nem de estar do lado dos mais fracos, de apoiar os oprimidos e detestar os opressores, nada disso, o país está é farto de notícias miseráveis que exploram a guerra até ao tutano, uma guerra a que apenas podemos assistir de sofá.

Ouvimos dizer que a Europa está unida. O que une estes povos, contudo, minha querida, pouco tem a ver com solidariedade e muito deve à necessidade de manutenção dos níveis de vida de cada um dos países em si mesmos. É cínico? Muito. Mas é verdade. Tudo o resto é espetáculo mediático. No entanto, para as pessoas, a coisa tem elevados padrões solidários e é disso que todos os governos se aproveitam, embora ninguém o assuma publicamente, porque, no mínimo, seria egoísmo.

O segundo tema destes tempos quentes são as alterações climáticas, a seca, os fogos, o calor extremo. A comunicação social pela-se por colocar um bom bosque a arder na sua magnificência. Se aparecerem umas casas a arder e umas velhotas a chorar então, Berta, a cereja é colocada no topo do bolo. Até parece que lhes agrada a desgraça dos outros.

E nós, o povo, genuinamente solidário, engolimos todas as notícias sem sequer nos apercebermos que são exploradas até ao tutano, em prole de audiências ou de maiores tiragens de jornais nos pasquins deste nosso mundo.

O terceiro assunto envolve política. Este é, aliás, um tema, minha querida Berta, que dura todo o ano e que é algo de que todos estamos fartos, mas que afeta o nosso dia-a-dia. Sejam as tomadas de posição dos diferentes partidos políticos, sejam os atos dos dirigentes de outros países ou dos nossos, a comunicação social raramente informa sobre o que de bom acontece no mundo, mas vende facilmente a informação do que correu errado ou foi corrompido ou que possa vir a acabar de forma menos boa.

O quarto grande assunto estival é o desporto, nesta altura com imenso destaque para o futebol, com o mercado das transferências aberto e os clubes a formarem as equipas que apresentarão já em agosto próximo, minha amiga. Mas tudo sempre muito manipulado, cheirando a desgraça alheia, como se o povo a quem a comunicação social se dirige não estivesse já farto de desgraça em todo o lado.

Pois é Berta, a matemática de hoje é usada para estudar o que nos move e comove e nos faz consumir qualquer porcaria que nos queiram impingir. Claro que tem de vir devidamente embrulhada. Nós, infelizmente, aderimos ao processo calculado em computadores caros que acedem ao nosso modo de vida sem pedirem licença.

Um conjunto de coisas, mais ou menos abstratas para o cidadão comum, como matemática, estatísticas, rankings, algoritmos, padrões, comportamentos, psicologia emocional, probabilidades, perfis, e mais uma parafernália de ferramentas são interligadas e trabalhadas por forma a conseguirem, em última análise, influenciar o nosso comportamento, sem que nós mesmos demos conta de que estamos a ser manipulados por um produto ou algoritmo, traduzido em uma qualquer aplicação, publicidade, produto ou apresentação.

Ás vezes penso no que diriam as grandes mentes da história da humanidade, que viveram antes da revolução industrial se pudessem comentar o nosso quotidiano e atualidade. Tenho a certeza que de Platão a Camões e até a outros pensadores bem mais recentes, seriamos apelidados de idiotas ou de algo muito parecido com isso. Por isso, minha querida Berta, o meu conselho, antes de me despedir, é: antes de fazermos algo ou comprarmos algo, pensarmos se realmente isso ou aquilo nos interessam realmente ou se nos estamos apenas a deixar levar… fica com um beijo,

Gil Saraiva

 

 

 

 

Carta à Berta n.º 579: Apelo aos Habitantes de Campo de Ourique!

Berta 579.jpg Olá Berta,

Faz algum tempo que não conversava contigo. A vida não tem sido fácil, nos últimos tempos isso calhou-me a mim. É desesperante estar há meio ano na expetativa da chegada de uma reforma, que tarda mês após mês, já sem meios de subsistência. A luta por uma sobrevivência tem o poder de retirar a quem luta a capacidade da partilha. Desculpa o meu feitio minha querida Berta.

Como sabes odeio os coitadinhos e as coitadinhas deste mundo que se queixam de barriga cheia, porque não ganharam no Euromilhões ou porque partiram uma unha. Tudo serve para uma pieguice pegada, que nos faz esquecer quem verdadeiramente precisa de ajuda.

Hoje, depois do Festival da Canção da Eurovisão 2022, em que venceu, ontem à noite, a canção da Ucrânia, venho fazer um apelo de Campo de Ourique para o mundo, mas principalmente para ti, minha querida amiga, e para o meu Bairro, o Bairro de Campo de Ourique. Neste domingo, 15 de maio, pelas 19 horas e amanhã, segunda, 16, à mesma hora, toca, toquem, nos vossos telemóveis, aparelhagens e computadores a música da Ucrânia.

As minhas dificuldades são uma pieguice pegada se comparadas com o que tem passado o povo da Ucrânia. Invadidos, mortos, torturados, arrasados por um invasor vizinho, prepotente, que se instalou em Guerra apenas por cobiça do país de quem dizia ser irmão.

Sejamos solidários para com a Ucrânia. Já estou cansado e desgastado de ver esta guerra em direto na televisão, quase já não consigo ouvir as suplicas do seu Presidente, que o nosso governo promove até à exaustão para esconder que é o único país da Europa que passou a esconder: os dados diários da Covid-19, os problemas com a subida do custo de vida, os serviços que não funcionam, um governo em quem votei mas que se esquece facilmente dos seus eleitores, por muito que isto me custe dizer.

Estou farto da guerra pela televisão, mas continuo firmemente solidário com a Ucrânia e com a sua luta. Aceita o meu apelo, querida Berta e hoje e amanhã, pelas sete da tarde, toca a música da Ucrânia, que venceu o Festival da Eurovisão. Deixo o link do YouTube: https://youtu.be/Z8Z51no1TD0. Recebe um beijo de despedida deste teu amigo de sempre,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta n.º 576: As Desculpas de João Ferreira

Berta 576.jpg Olá Berta,

Estive a ouvir as declarações de João Ferreira à SIC Notícias, a propósito da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Sinceramente, não entendo como é que uma pessoa inteligente e evoluída, por quem eu tenho elevada consideração, consegue fazer uma análise tão absurda da guerra. Porque raio é que João Ferreira prefere usar argumentos para desculpabilizar a invasão russa?

Francamente, muito sinceramente, não consigo entender. Se João Ferreira estivesse a defender a antiga Rússia Comunista ou a antiga URSS eu até entendia. Embora sendo uma ditadura, nesses tempos, a União Soviética dizia-se comunista, estando de acordo com a génese da fundação do PCP. Todavia, atualmente a coisa não faz o menor sentido, pensemos de que forma pensarmos.

A Federação Russa de hoje, financia partidos de extrema direita em todo o mundo, da França a Portugal, passando por Espanha, Hungria e por aí em diante. Quanto à política o comunismo russo foi há muito substituído por uma ditadura czarista autocrática, de direita, focada no culto da personalidade de Putin e apoiada numa tropa fandanga de oligarcas escolhidos a dedo pelo poder, para o representarem no mundo. Nenhum destes senhores defende o proletariado ou os trabalhadores. Então porque raio defende João Ferreira a invasão da Ucrânia e quase a guerra?

Sinceramente não consigo entender. Será o hábito da ligação à antiga ex-URSS? Têm receio de, agora, se sentirem repentinamente órfãos? O Partido Comunista Português já tem 101 anos de história, o que é idade suficiente para cortar o cordão umbilical com a falecida mãe, por muito que as teorias da mesma possam ter sido inspiradoras de um novo mundo que, diga-se, nunca se concretizou.

Se observarmos em detalhe o principal da entrevista de João Ferreira, até podemos concluir que ele condena a guerra da Rússia com a Ucrânia, só que, a forma rebuscada com que tenta atenuar a culpa russa dá vontade de lhe dizer que mais lhe teria valido ter ficado calado.

Vamos aos factos:

  1. João Ferreira diz que a existência de forças "com cariz paramilitar assumidamente fascista e nazi" no exército ucraniano está "devidamente demonstrada".
  2. João Ferreira defende que a posição do PCP em relação à guerra na Ucrânia tem sofrido de uma enorme "manipulação" por parte da comunicação social.
  3. João Ferreira informa que o partido acredita que esta guerra que nunca devia ter acontecido e que deve acabar "o mais rápido possível".
  4. João Ferreira diz que para "perceber a guerra é preciso saber como cá chegámos" e afirma que a invasão: "insere-se num conjunto de outros atos representativos de uma escalada".
  5. João Ferreira informa que "houve um conjunto de forças: o Batalhão Azov, o Setor Direito (Pravyy sektor), o Svoboda - qualquer uma delas de cariz paramilitar, assumidamente fascista e nazi, defendendo a reabilitação de colaboracionistas nazis como Bandera”, a terem sido integrados nas tropas ucranianas.
  6. João Ferreira explica que: “Isto não é propaganda russa, encontram todas estas referências ao longo destes últimos anos, em órgãos de comunicação social ocidentais. Tem sido dito que os neonazis foram a eleições e que têm expressão mínima, mas a expressão e o peso que têm ao longo dos últimos anos não pode ser medido por aí”.
  7. João Ferreira reitera que os nazis: “Foram inseridos no exército ucraniano e estiveram ao longo destes últimos anos a bombardear as populações do Donbass. Todo um contexto que não deve ser desvalorizado. Tivemos uma situação de ilegalização de forças políticas”.
  8. João Ferreira refere-se ainda ao conflito no Donbass, que "acontece há 8 anos", diz que os acordos de Minsk não foram respeitados e que esta é também uma situação que ajudou à escalada.
  9. João Ferreira avança que para pôr fim à guerra é preciso o: "regresso aos acordos de Minsk, a desmobilização dos meios da NATO que foram colocados na fronteira da Rússia, o cessar-fogo imediato com o fim de todas as hostilidades", tendo este comportamento de levar à saída das forças russas da Ucrânia.
  10. João Ferreira afirma que este é o caminho concreto para quem quer a paz, porém sublinha que: "a União Europeia não parece querer nada disto", aproveitando para esclarecer o seu desacordo com o envio de armas para a Ucrânia.
  11. João Ferreira acredita haver margem para negociar, e não vê incompatibilidade em condenar a invasão da Ucrânia por Putin e, simultaneamente, apontar o dedo a todas as situações que descreveu.
  12. João Ferreira termina dizendo que: “É possível constatar isto tudo como factos demonstrados, não os apagar, inseri-los no contexto que nos ajuda a explicar esta situação e ao mesmo tempo reconhecer na ação da Rússia uma violação do direito internacional que é condenável e não devia ter acontecido, como é condenável todo o processo.“.

O que João Ferreira não diz é que, mesmo que todo o seu contexto seja absolutamente verdadeiro e real, nada disso justifica a invasão da Ucrânia por parte da Rússia. Basta pensarmos que no seio da polícia portuguesa também parece existir um movimento neonazi fortemente enraizado e isso não desculparia uma invasão espanhola de Portugal. Quanto às atitudes da NATO e da União Europeia, são atitudes externas, no momento da invasão, à própria Ucrânia. Não justificam, portanto a guerra da Rússia com o seu vizinho.

O que João Ferreira não diz é que os acordos de Minsk, nem sequer deveriam existir, bastava para isso que a Rússia não tivesse há oito anos invadido a Crimeia, território ucraniano, e criado no Donbass em Donetsk e de Lugansk o fermento necessário para a anexação de mais duas províncias ucranianas.

O que João Ferreira não diz é que se não fosse o auxílio do Ocidente em armamento à Ucrânia estaríamos agora a assistir ao genocídio do povo ucraniano. Porque a Rússia invadiu antes de qualquer auxílio ter acontecido.

O que João Ferreira não diz é que condena o que os russos têm feito nestes oito anos no Donbass apoiando os separatistas, nem sequer condena, pelo menos eu não o ouvi a falar nisso, a anexação da Crimeia por parte da Rússia. Será que João Ferreira condenaria a anexação do Algarve por parte de Espanha, nomeadamente pela Andaluzia?

O que João Ferreira devia ter dito era simples e unicamente que condenava a invasão e a guerra iniciada unilateralmente pela Rússia contra a Ucrânia. Depois podia falar de todos os erros ucranianos, desde a corrupção, às tropas com infiltrados de movimentos nazis, mas também dos erros e do narcisismo de Putin, da sua ditadura e ânsia de mais poder, esta sim, a verdadeira causa do conflito.

A Ucrânia pode ter ainda uma democracia em crescimento e ainda carregada de problemas, mas isso também teve Portugal nos primeiros anos da nossa democracia. Bem, querida Berta, fico-me por aqui, tristemente desiludido com João Ferreira por quem tinha imensa consideração. Nunca se deve tentar tapar o Sol com a peneira. Por hoje é tudo, despede-se este teu grande amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta n.º 575: Vlad Putin - O Vampiro (Um horror maior que Drácula)

Berta 575.jpg Olá Berta,

Oleksandr (Alexandre), cidadão ucraniano, e já com nacionalidade portuguesa, é casado com Inês, portuguesa, atualmente também com nacionalidade ucraniana, conheceram-se ambos em Sintra no ano 2000, casaram, fruto de um amor mútuo e profundo ainda no mesmo ano. Em 2011, devido à crise em Portugal, partiram para a Ucrânia.

Em 2017 ambos já tinham dupla nacionalidade. Atualmente Oleksandr tem 48 anos e Inês 42. Da eterna paixão que os une nasceram 5 filhos, o mais novo tem 2 anos e a mais velha tem 13. Em 2017 regressaram a Portugal devido ao falecimento, num acidente de viação, dos pais de Inês, provocado por um condutor embriagado. Sendo filha única Inês herdou os bens dos pais, passando a ter casa própria e a possuir uma pequena cadeia comercial de sete lojas no Concelho de Sintra.

Entre 2017 e 2018 Inês esteve seis longos meses com vários problemas depressivos devido à morte dos pais, a quem era muito ligada. A somar a esse problema, o filho mais novo do casal foi diagnosticado como autista em 2021. No final janeiro de 2022, a família partiu para cerca de um mês de férias na Ucrânia para dar a conhecer aos pais de Oleksandr os 2 filhos mais novos do casal. A ideia era ir e voltar antes que a possibilidade de uma guerra se tornasse uma realidade e, por isso, ficassem impedidos de o fazer. Infelizmente 6 dos 7 elementos da família contraíram Covid-19 2 dias antes da viagem de regresso para Portugal e tiveram de adiar a viagem, sendo que apenas Olexandr não estava infetado.

Esta madrugada o prédio onde os sogros de Inês vivem sofreu um ataque com míssil, em Kiev. Irina, a segunda filha mais nova do casal, de 4 anos ficou ferida, Pedro, o mais novo dos descendentes não foi atingido, mas a mãe diz que o perdeu para os confins da sua mente, agora completamente fechada sobre si mesma.

Os sogros de Inês foram ambos atingidos e encontram-se gravemente feridos. Sendo 2 entre os 35 feridos no ataque. Inês nada sabe de Oleksandr, desde que este foi reintegrado no exército ucraniano há 2 dias. Segundo diz, não vai sair da Ucrânia sem o marido, nem que morra à sua espera.

Estas almas, das quais restam 9 das 11 iniciais, que aqui descrevi, tiveram vidas atribuladas e difíceis, como muitas famílias em toda a Europa, em todo o mundo, enfim. Será que mereciam um desfecho destes? Sobreviveram os pais de Olexandr? Como estarão psicologicamente as 5 crianças do casal? Estará Olexandr vivo, ainda? O que será desta família apanhada nos meandros de uma guerra e de uma pandemia? A realidade, por mais fértil que seja o imaginário de cada um de nós, é sempre mais cruel do que a imaginação.

Casos como este já devem existir centenas, quiçá se chegarão aos milhares, e tudo porquê? Porque um déspota russo se pôs de bicos de pés a dizer que ele é que é o senhor do mundo? A injustiça é uma espada pesada e fatal que infelizmente cai sempre para o lado dos mais fracos, dos que não têm voz, num mundo de narcisistas presunçosos e movidos pela sede do poder.

Putin é um vampiro que se alimenta do sangue derramado no campo de batalha. O Ocidente diz que não pode intervir porque a Ucrânia não pertence à NATO. Tretas, e o Vietname? E a Coreia? E Sarajevo na Bósnia-Herzegovina? E a Sérvia? E o Kuwait? E o Iraque? O Ocidente não contra-ataca porque tem medo de Vlad Putin, o vampiro, o sanguinário, o déspota neonazi que acusa o presidente ucraniano, um judeu, de ser toxicodependente e nazi. Tóxico e maníaco é Vlad Putin. Nazi, narcisista e senhor das trevas é Vlad Putin.

Mas será que ninguém consegue acabar com esta praga? Vlad Putin é uma barata e devia ser tratado como tal. Ninguém tem Raid ou um pé pesado? Não me vou alargar mais, querida Berta, que a revolta é imensa, espero que no final, a família da qual sou amigo, consiga regressar a Portugal e viver, por fim, uma vida em paz. A esperança é sempre a última a morrer. Despeço-me com um beijo amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta n.º 573: Ucrânia / Rússia - O Império Russo ao Ataque!

Berta 573.jpg Olá Berta,

Falava-te ontem que a Rússia podia invadir a Ucrânia, com efeito a guerra teve o seu início esta noite pelas três da manhã em Portugal, cinco da manhã na Ucrânia, com a Rússia a atacar com misseis e artilharia cidades como Kiev, Kharkiv, Mariupol e Odessa, para além do sueste do território ucraniano nas províncias cuja independência foi validada pela Rússia.

O ataque a um estado soberano por parte da Federação Russa evocando o artigo 57º da Carta das Nações Unidas é do maior ridículo possível, um país não pode atacar outro declarando que se está apenas a defender.

De uma forma ou de outra a guerra começou. A frota naval ucraniana no mar negro já foi neutralizada pelos russos. O aeroporto de Kiev foi evacuado depois de ser atacado com misseis russos e na Ucrânia decretou-se a Lei Marcial.

Uma vaga de ciberataques faz-se neste momento sentir por todo o território ucraniano. Para além de um conflito aceso na fronteira da Ucrânia com a Bielorrússia, são sete horas e sete minutos em Kiev e já tocam na cidade as sirenes que ordenam a ida da população para os abrigos, com o fim de se protegerem de possíveis ataques russos.

António Guterres, enquanto secretário geral da ONU, já condenou o ataque russo, considerando-o de inaceitável.

Mariupol é neste momento zona de guerra e Odessa sofre o mesmo destino. Para além destas cidades e de Kharkiv e Kiev, outras localidades onde as forças militares ucranianas estão concentradas, estão igualmente sobre ataque.

A guerra anunciada começou. E não são os comunistas que atacam, a Rússia de hoje já não é comunista, são os autocratas de uma ditadura totalitária com visão imperial. Resta saber se os ataques visam a ocupação total da Ucrânia ou a colocação de um governo fantoche em Kiev ou, ainda apenas, só mais um passo na demarcação da posição russa face à Ucrânia e ao Ocidente.

O certo, minha querida amiga, neste século XXI, é que a Europa está de novo em guerra. Os Estados Unidos desta vez tinham razão em fazerem deste conflito uma guerra anunciada. No momento em que te escrevo a população de Kiev procura refúgio nos dois mil e quinhentos búnqueres instalados na cidade, muitos deles sem condições para funcionarem como abrigos atualmente.

Certo é que os ataques russos nestas três primeiras horas têm sido cirúrgicos, visando apenas alvos militares. Toda a aviação no país está desativada e as viagens na Ucrânia estão interditas. As aulas das escolas foram suspensas, passando o país, no seu todo, a ter apenas ensino online. É terrível ter de reconhecer, minha amiga, que a guerra voltou à Europa.

Poderás acompanhar nas televisões o evoluir de toda esta situação. Resta-me desejar que tudo não passe de mais uma afronta russa e não o princípio do fim da independência da Ucrânia. Despeço-me com um beijo, este teu amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta n.º 572: Portugal em Risco - Crónica de um Conflito Anunciado - Ucrânia / Rússia

Berata 572.jpg Olá Berta,

Tal como eu, certamente, já ouviste falar do conflito entre a Ucrânia e a Rússia. Todos esperam o início eminente de uma guerra anunciada, ao mesmo tempo que desejam que esta possa ser ultrapassada, mesmo que no limite, pelo uso coerente da diplomacia.

É evidente que as rádios e as televisões têm dado um substancial relevo ao assunto, sendo nisso acompanhadas quer pela imprensa escrita, quer pela que se encontra disseminada em inúmeros sites online. Tal situação não se deve, ao facto de termos uma forte comunidade ucraniana em Portugal, mas sim ao papel da Europa no conflito, principalmente a União Europeia.

A NATO, uma instituição, até há pouco tempo, esquecida dos cabeçalhos da imprensa e das aberturas dos noticiários, aparece agora com um papel relevante, principalmente pelo destaque que os Estados Unidos da América têm dado ao assunto. Basta reparar na quantidade de vezes que o presidente americano já anunciou o início da guerra.

O problema do Ocidente tem estado na conservação do verniz, no tratamento a dar a Putin, que indiferente às advertências ocidentais, começou (a situação já dura desde 2014) por ocupar a Crimeia e agora reconhece o direito das províncias do sudeste ucraniano a integrarem a Federação Russa (reconhecendo-lhes a independência para já).

O apoio, já oficial, dado pelo Kremlin à independência destas províncias e a entrada de tropas russas nessa parte do país vizinho, por forma a apoiarem as pretensões dos separatistas, é já uma evidência clara.

Por outro lado, a desculpa esfarrapada da presença de quase duzentos mil militares russos, na fronteira com a Ucrânia e a ocupar posições ameaçadoras no território bielorrusso, divulgando para o Ocidente de que tudo não passa de simples exercícios militares é algo que já não cola, nem nunca colou, nas análises dos observadores internacionais.

É óbvio que a Rússia não quer que a Ucrânia passe a pertencer à NATO, por questões geoestratégicas. Contudo, a própria NATO e todo o Ocidente também não estão interessados nessa adesão, embora defendam que a Ucrânia, enquanto país soberano, deve ter direito a fazer as suas próprias escolhas e opções.

O Ocidente pensa, não sem razão, que pode não ser uma boa ideia integrar um país que não é propriamente uma grande democracia nem sequer um verdadeiro estado de direito. Com efeito, a Ucrânia tem tiques de autocracia e move-se muito bem nos meandros da corrupção.

Todavia, quer a França quer a Alemanha, mas não só, talvez quase toda a UE, são bastante dependentes do gás russo. Tem sido por isso que se têm desdobrado afincadamente em ações diplomáticas, na grande mesa de jantar de Putin.

Mas, e há sempre um imenso mas, em cenários deste calibre, o tal verniz, de que falei há pouco, pode mesmo vir a estalar, não tarda. O que ninguém parece ainda ter a certeza é qual é a estratégia de Putin. É claro que os americanos dizem que é evidente que a Rússia se prepara para anexar a Ucrânia, mas isso não quer dizer que tenham mais razão agora, do que quando eles provocaram a invasão do Iraque, com a desculpa das armas de destruição massiva.

Há ainda, escondido por detrás do cenário militar, um imenso palco económico e macroeconómico. Do lado russo o interesse em ter a Europa dependente do seu gás e consequentemente da energia que exporta, o qual tem um peso imenso, e deixa a Europa um pouco entre a espada e a parede. Do lado americano a possibilidade de poder tornar-se no principal fornecedor do mesmo gás do velho continente é não só economicamente excelente, como aumenta o seu poder de influência no círculo europeu.

Deves estar a pensar, mas porque raio é que isto é assim tão importante para nós, aqui, em Portugal. Bem, minha querida Berta, tal como na altura das armas de destruição massiva do Iraque, nós aceitámos sem provas, deixar os americanos servirem-se da base das Lages, nos Açores, como ponte aérea para a invasão do Iraque, desta vez, estamos prontos para permitir a entrada de capitais públicos ou privados americanos no porto de águas profundas, em Sines, para receber o gás americano no nosso país.

Depois disso, o PRR, ou seja, o nosso Plano de Recuperação e Resiliência, já prevê o investimento em estruturas ferroviárias rápidas entre Sines e Espanha, de forma a servimos de porta de entrada do gás (e do petróleo) americano na Europa, substituindo o fornecimento russo.

Para além disso, as obras de extensão e alargamento previstas para o porto de Sines, mais o melhoramento das estruturas ferroviárias, permitiram que Portugal possa competir diretamente com os portos de Roterdão e Antuérpia, com uma muito melhor localização estratégica, e também maior proximidade, das rotas comerciais da América do Sul, Central e do Norte, bem como das rotas de África.

Com efeito, uma vez terminadas as obras, melhoramento ferroviário entre Sines e Espanha e extensão e alargamento estrutural do Porto de Sines, deixaríamos de ser um ponto periférico no contexto europeu para passarmos a estrar no centro da distribuição de serviços, produtos e energia de toda a Europa.

Se a isso juntarmos a capacidade de minerar, transformar e gerar as baterias de lítio, para as fornecermos prontas às empresas tecnológicas e à industria automóvel, o papel de Portugal, no seio do contexto europeu seria absolutamente essencial, passando o país a ser um exportador de energia de elevado potencial, e interesse para todo o velho continente, mas principalmente para a Comunidade Europeia.

Em resumo, minha querida Berta, tudo aponta para que Portugal se esteja a perfilar para se tornar fundamental para a estabilidade do espaço europeu quer no que se refere às energias convencionais, quer na necessidade do lítio, quer mesmo no abastecimento e comércio de mercadorias e bens com a Europa.

Só que, em caso de guerra, como pode acontecer se a Rússia entrar em guerra com a Ucrânia, também deixamos de ser um alvo terciário, para passarmos a ser um alvo prioritário. A prova disso, que já tem contexto real e evidente, são os ciberataques de que temos sido alvos nos últimos tempos por parte dos hackers de leste. Aliás, não é à toa que até já o nosso Ministério dos Negócios Estrangeiros sofre ciberataques como o de hoje.

É por tudo isto que Portugal importa agora quer aos russos, quer aos americanos, quer aos chineses, que já meteram a mão na nossa rede de distribuição elétrica (a REN com 25%), no capital da EDP (com 21,35%), na Fidelidade (com 85%), na Luz Saúde, e no BCP (com 16,7%), já sem contar com a imensidão que tem sido o investimento em imobiliário por parte dos chineses em Portugal, sendo já donos de vários tesouros nacionais, como é o caso do edifício da Rádio Renascença no Chiado entre muitos outros.

Pelo que disse ao longo desta carta, é bom que nos preocupemos com o conflito entre a Rússia e a Ucrânia, pois estamos a menos de dois ou três anos de sermos um alvo prioritário em qualquer guerra entre as grandes potências mundiais, situação inédita em Portugal desde a era dos descobrimentos.

Despeço-me com um beijinho, minha querida Berta, cheio de saudades, até uma próxima cartinha, este teu amigo de há muitos anos, sempre ao dispor, eternamente grato pela nossa velha amizade,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Alexei Navalny Versus Pudim, digo, Putin

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Olá Berta,

Alexei Navalny, o líder da oposição russa a Putin, acabou de ser julgado e condenado na Rússia, após o seu regresso da Alemanha. Foi na capital, Moscovo, que um tribunal russo condenou o líder do movimento alternativo a Putin a dois anos e oito meses de cadeia.

No julgamento ninguém quis saber da razão pela qual Alexei Navalny tinha violado a liberdade condicional, nem mesmo se foi salvo pelos médicos alemães de morte certa, devido ao envenenamento de que tinha sido alvo. Nada disso importou ou foi levado em linha de conta pela justiça moscovita. Alexei foi condenado a dois anos e oito meses de prisão, a ter como verdadeira algumas das agências de notícias internacionais.

No meio de um julgamento a lembrar os tempos da guerra fria e do poder comunista no Leste, o opositor russo foi condenado, porque, alega a acusação, violou os termos da liberdade condicional, a que estava sujeito, pois já tinha sido julgado e condenado anteriormente a cumprir uma sentença de três anos e meio de prisão, à época transformada em pena suspensa, emitida no ano de 2014.

A farsa, digo, a audiência, querida amiga, que decorreu em Moscovo, foi presidida pela juíza Natalia Répnikova, a qual decidiu, imbuída de justiça vermelha, transformar a referida pena suspensa em tempo real de prisão.

Ora, Navalny, e os seus apoiantes, consideram ser esta uma ação apenas motivada pela interferência política na justiça, replicando que todo o processo não passa de uma tentativa vã, e quanto a mim estúpida, mais do que vã, de um Kremlin agarrado a um poder cada vez mais rubro, no pior sentido da palavra. Tudo isto com a finalidade única e última de amedrontar mais de cem milhões de russos à submissão do poder do Pudim, digo de Putin.

O ainda jovem político, um ativista anticorrupção de 44 anos, reconhecido como tal pela comunidade internacional, é ainda acusado, por uma justiça recheada de lapalissadas, de ter violado a "ordem pública em mais de 50 ocasiões", o que "constitui uma violação das condições da sua liberdade condicional", ou seja, Navalny é incriminado por continuar a ser político durante quase todo o tempo da sua liberdade condicional, excetuando o tempo em que esteve hospitalizado devido ao envenenamento provocado por ordem do seu arqui-inimigo Vladimir, o pudim, digo,  o Putin que controla o poder na Rússia.

Toda a narrativa do tribunal, recheada de um “nonsense”, que parece retirado de uma série de humor britânica, serve para afirmar que a Alexei tinha sido aplicada uma pena de mais de três anos, mas que a juíza, douta magistrada de uma justiça manchada de vermelho, levou em consideração os dez meses que ele já passara em prisão domiciliária, por causa da anterior acusação, e que, por isso, os mesmos deveriam ser subtraídos da atual pena.

Incrivelmente, o tempo que Navalny passou a lutar pela vida na Alemanha e depois em recobro, a recuperar da tentativa de assassinato por envenenamento, não pode ser considerado no tempo de prisão que falta cumprir, antes de regressar à Rússia no mês passado, porque o acusado se encontrava, na realidade, em incumprimento da sua pena suspensa, fora do país, para onde não lhe era permitido ir por força da referida pena. Se foi para salvar a vida ou não, acha a juíza que isso é matéria irrelevante nos termos do julgamento do processo.

Navalny, num ato de coragem, falou a partir de uma cela em vidro durante o julgamento, qual cobaia de laboratório, e atribuiu a sentença que ontem foi proferida e anunciada, pelo tribunal, ao "medo e ódio" de Putin. Num claro e ostensivo desafio ao poder alegou que o Presidente russo ficará na história como um "envenenador". Um envenenador envergonhado, direi eu, minha querida Berta, que não se assume e não sai do armário à prova de bala.

Navalny chegou ao ponto de acusar publicamente o líder russo e afirmar no julgamento: "Eu ofendi-o profundamente, apenas por sobreviver à tentativa de assassínio que ele ordenou" e ainda acrescentou: "O objetivo desta audiência é assustar um grande número de pessoas. Mas ele não pode prender um país inteiro".

Estranhamente, estas acusações, proferidas por este líder da oposição, não tiveram quaisquer consequências e não se refletiram, por isso, na sentença de que foi alvo, por ter transgredido a liberdade condicional a que se encontrava submetido.

O veredito final, proferido pela juíza Natalia Répnikova, transforma Alexei no prisioneiro político mais proeminente de toda Rússia e passa a representar o facto mais importante até à atualidade, através desta condenação contra um opositor de Vladimir Putin, desde a prisão de Mikhail Khodorkovsky, em 2005, de que o Ocidente parece já não ter qualquer memória.

Aliás, é com isso que o pudim flan, “o cara-de-bom-rapazinho”, o falso czar Putin, conta. Os seus opositores no Ocidente, sedentos de notícias todos os dias, em breve deverão esquecer o calabouço do seu último opositor, entretanto até pode acontecer que Navalny faleça por acidente na prisão.

O partido da oposição, de Alexei Navalny, já convocou, através de mensagens na rede social Twitter, uma nova demonstração de força e oposição, marcando uma manifestação contra a prisão, o julgamento de fantochada e a sentença de prisão absurda do seu líder, numa tentativa, mais uma, de mobilizar os milhares de manifestantes que, nas últimas semanas, protestaram contra o atual regime russo.

Relembro-te, querida Berta que foi apenas há dias que cerca de 4.700 pessoas foram detidas, numa das muitas, mas talvez a maior das manifestações que se têm repetido na busca quase insana de demonstrar solidariedade a Navalny, apresentando-o como uma verdadeira vítima de repressão violenta por parte das forças de segurança russas.

Se a memória internacional não esmorecer e enfraquecer, pode ser que a recente sentença não se fique por aqui e que algo consiga ser feito em prole da liberdade e da justiça na Rússia. Quiçá dar a Alexei Navalny o Prémio Nobel da Paz, embora em tempos de pandemia eu esteja mais a ver a “muito politizada Academia Sueca” a atribuir o galardão a um “mata-moscas”, digo, a um combatente “Covid.

Quando se tratam de casos com a gravidade deste, querida Berta, nem sempre me é fácil ser mais sintético, pelo que peço desculpas, amanhã é capaz de acontecer algo idêntico, pois irei falar-te de Suu Kyi, a Prémio Nobel da Paz e, até este fim-de-semana, líder de Myanmar. Despede-se, com o tradicional beijo, este teu amigo solidário,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Alexander Lukashenko ou "Lukinhas Vasourinha"

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Olá Berta,

De vez em quando, embora prefira outros assuntos, lá apareço eu a escrever para ti, minha querida amiga, sobre temas internacionais, muitos deles de cariz político. Tento evitar, podes acreditar nisso, mas nem sempre consigo deixar em branco, certos acontecimentos ou situações. Desta vez trata-se de Alexander Lukashenko, o Presidente reeleito da Bielorrússia, o homem que afirma curar Covid com vodka.

Com a recente eleição o nosso amigo “Lukas” conseguiria, pela sexta vez consecutiva, chegar ao poder. Eu sei que disse conseguiria, errando na aplicação do verbo, porque efetivamente ele já o conseguiu. Acontece que o “Lukinhas” é um menino maroto e malcomportado. Dizem as más línguas, do país onde governa, que o malandreco só ganhou, sem marosca, as primeiras eleições a que concorreu. Todas as outras foi-as manipulando de forma a apresentar-se como o vencedor.

Ora, o povo deste país tem sido tolerante com o “Lukinhas”, mas tudo tem um limite. Desta vez, o copo já estava cheio e, finalmente, transbordou. São himalaias de pessoas a manifestarem-se na rua pedindo a sua saída imediata. Vagas, de muitos milhares de homens e mulheres de todo o país, aparecem nas reportagens das televisões do mundo ocidental a mostrar o descontento em manifestações a que o “Lukas” responde com balas reais.

Até ao momento apenas o Sr. Pudim, digo Putin, parece vir demonstrar algum apoio. Curto, muito curto, quando apenas um ditador apoia outro ditador. Ah! Antes que me esqueça, e não me importa nada que se trate de uma ditadura de esquerda, disfarçada de democracia. Para mim, ditadura é ditadura, venha lá ela de onde vier. Será que não serve de nada estarmos no século XXI?

O “Lukinhas” é o tal fulano que num discurso de Estado trocou as palavras “melhorar” (razvivatsa) por “despir” (rasdevasta) afirmando: “Vocês sabem o que fazer, como fazer, que objetivos atingir… A nossa vida resume-se a duas coisas despir e trabalhar.” O resultado foi que, em imensas empresas e escritórios do país, principalmente nas agências de publicidade e criatividade, no dia seguinte, todos os funcionários foram trabalhar nus, sendo as fotografias de um sem número de locais de trabalho, despidos de preconceitos, sido publicados na imprensa.

O “Lukinhas” a quem muitos chamam de “vassoura velha” aludindo aos 26 anos de poder e ao bigodinho do ditador, contudo, afirma que nem morto larga o osso. Desde que o povo saiu às ruas o “Lukinhas-Vassourinha” já prendeu mais de 7 milhares de pessoas. As poucas centenas que, entretanto, foram soltas mostram publicamente as marcas da tortura e dos espancamentos sofridos em cativeiro. Isto tem de ter um fim. Já chega, de ver na Europa regimes totalitários a tratar os povos que governam como lixo. Lukashenko precisa de ser reciclado ou, em alternativa, oferecido como bibelot a Putin. Mas é tempo de deixar o poder.

Despede-se de ti este amigo quotidiano que te adora, querida Berta, com um beijo cansado de ver tanta injustiça, num mundo que tarda em ser superior,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: "Os Outros - Tragédia em 4 atos" Parte I - "Ocupação"

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Olá Berta,

Pediste-me para te enviar o poema que escrevi sobre o Menino de Kobane, aquela coisa horrível que nos despertou de vez, abrindo-nos os olhos e a mente, para o problema dos migrantes em setembro de 2015, já lá vão 4 anos e 3 meses. Sei que tiveste conhecimento que fui um dos jornalistas a fazer um levantamento exaustivo de toda a história. Não te a quis contar vista por mim, na altura, mas é tempo de a poderes ler. Contudo, como tem um final pouco feliz, e estamos no último dia do ano, vou-te enviar apenas a primeira parte de uma tragédia em 4 atos. Espero que entendas, afinal não te quero ver deprimida no último dia do ano. Todavia, para mim, promessa é dívida. Aqui vai:

 

"OS OUTROS - TRAGÉDIA EM QUATRO ATOS"

      ATO I

"OCUPAÇÃO"

 

No planeta imaginado

Por trinta milhões de seres humanos,

Algures, numa estreita margem do Mediterrâneo,

Começou, há dois mil e seiscentos anos,

Um país chamado Curdistão

Ou, talvez, quem sabe, deveria ter começado.

 

Madrasta foi a História deste povo,

Ocupado por impérios e tiranos.

Avaros os vizinhos sempre o cobiçaram

E a terra que nunca foi país,

Acabou por ver-se repartida…

 

Nas margens da Europa,

Pelo raiar da Ásia,

Ele se ergueria sob a égide de Alá,

A Norte a Turquia Otomana,

Com desejos de poder,

A Oeste a Arménia e o Azerbaijão,

Famintos de território,

A Sul o Irão,

Fanático no crer e no crescer,

A Este o Iraque e a Síria,

Com sede de recursos…

 

Como pode esta gente ter direito à existência, ao território?

O que pensam os judeus deste direito?

E a América e o imperador careca, esse Putin?

A culpa nunca é de ninguém, são sempre "OS OUTROS"…

 

Depois chegou o ISIS, o DAESH, o Estado Islâmico,

Não interessa o nome,

Apenas importa que rima com terror,

Ocupando o ocupado,

Terras queimadas para um grande Califado,

Vidas ceifadas pelo fanatismo enlouquecido

E, sem qualquer pudor,

Publicitadas na imprensa,

Na net e nas televisões,

Qual algodão que não engana

Porque a saga garante o verdadeiro horror…

 

Hoje, fico-me por aqui. Despeço-me, com um enorme beijo, e com o desejo de que tenhas uma excelente entrada em 2020, espero que este ano, em que vamos entrar, te traga toda a felicidade do mundo. Este teu amigo para todo o sempre,

Gil Saraiva

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