Carta à Berta: O Arrepiante Estado das Notícias Online
Olá Berta,
Esta minha carta hoje é mais um desabafo do que qualquer outra coisa.
Ando farto da publicidade escondida em notícias, sem o aviso, de que efetivamente se trata de propaganda e não de factos, o que antigamente era obrigatório. De estudos e anúncios científicos que fazem exatamente o mesmo, e que não passam de vulgares cartazes de venda de banha da cobra, envoltos em brochuras douradas, mas também estou cansado de notícias, sem verificação de fontes ou apuramento aprofundado do que realmente se passou e, por fim, de falsas notícias, produzidas para causar alarme. Ah, já me esquecia, e de divulgações distorcidas, apenas para defender uma causa qualquer, difundidas numa espécie de populismo bacoco, como se as pessoas fossem carneiros que seguem cegamente o respetivo divulgador, sem pensar duas vezes e sem qualquer seriedade.
Hoje abri o browser da Microsoft, o Microsoft Edge, e entrei diretamente no “msn notícias”. Acabei por sair irritado de lá. A quantidade de informação, teoricamente de notícias, que devia ser excluída, por ser claramente uma outra coisa qualquer é não apenas maioritária, como avassaladora.
Sabes, minha amiga, não sei se são os meus 38 anos de jornalista, 23 dos quais com carteira profissional, ou se é apenas o meu feitio reativo, mas faz-me impressão que isto se faça desrespeitando a lei de imprensa. Não entendo porque não há uma reação séria do Governo ou, no mínimo, da Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas. Acho sinceramente que se deviam tomar medidas radicais neste sentido, sob pena, de um dia destes, já ninguém acreditar em nada do que lê na internet. Sim, porque basicamente me tenho estado a referir às notícias online.
Como não existe melhor maneira de te explicar o que quero dizer, vou usar como exemplo o “msn notícias” de hoje:
Em destaque, nos principais títulos do dia, vem no “meu feed” (a janela das relevâncias diárias), entre outras, uma notícia ligada à saúde. O título é sugestivo: “As iguarias que poderão desaparecer em breve.” O corpo da divulgação é seguido de 30 diapositos legendados que apresentam os principais produtos, entre muitos outros, que vão deixar de existir nos próximos 30 a 50 anos, por força das alterações climáticas (cujo lóbi do clima é o verdadeiro difusor deste alarme idiota, penso eu).
Vou enumerá-los, pela ordem de apresentação, para teres a real noção do ridículo. Produtos que vão desaparecer do mercado em breve: cerveja, peixe, maçãs, frango, vinho, morangos, laranjas, bananas, Tabasco, batatas, milho, cerejas, pêssegos, mel, arandos, grão-de-bico, chocolate, abóbora, feijão, soja, abacate, amendoins, arroz, peru, flocos de cereais, trigo, pão, xarope de ácer e café.
Segundo a “notícia” alguns dos itens enumerados no parágrafo anterior terão acabado algures no período que vai entre 2050 e 2080, pese embora a grande maioria deva desaparecer antes de 2050, ou seja, nos próximos 30 anos.
Esta barbaridade é colocada como resultado de estudos sérios, por um lóbi estúpido que cheira a pseudo-ambientalistas, com interesses ainda desconhecidos do público. Contudo, é difundida numa página de notícias que tinha obrigação de ser séria, uma das mais lidas no mundo por quem usa a internet, traduzida em todas as línguas, e difundida como realista.
Ora, Berta, este é só um exemplo, e embora seja ridículo, é apenas um dos 15 que encontrei, só nas notícias gerais do dia de hoje, nesta página da dita prestigiada Microsoft.
Espero que alguém com poder comece a pôr um travão na situação rapidamente, senão a palavra notícias deixará, a breve trecho, de ter qualquer significado. Despeço-me saudoso, com o beijo do costume, este teu eterno amigo,
Gil Saraiva