Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Continuando a minha carta de ontem faço notar que segundo os registos consultados pelo Expresso, a manteve o pagamento de serviços à Solverde enquanto Montenegro ainda a geria.
Enfim, aparentemente as respostas de Montenegro confirmam que: “não esteve em exclusividade no Governo”.
Segundo o próprio Luís Montenegro confidenciou ao Observador, a 10 de março de 2025, a metodologia da contratação passava pela apresentação de uma proposta inicial que depois era adaptada nas reuniões mais ou menos informais com os clientes para definir formas de trabalho e valores de pagamento, sem que contudo nada ficasse registado por escrito.
“Confesso que na prática as coisas aconteceram com a naturalidade de um trabalho em equipa, e que correu sempre bem, como pode ser confirmado pelas entidades em causa”, acrescenta. Mas quando o Observador lhe pediu o acesso a essas propostas, que tinham ficado fora dos documentos que obtivera, apenas recebeu em troca uma minuta de proposta-tipo sem valores nem datas.
A explicação para a ausência de formalidades (e de documentos) pode estar no facto de que Luís Montenegro já era o prestador do serviço através da sua sociedade de advogados, a SP&M. O Expresso e o Observador confirmaram junto da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) que aquelas empresas já eram assessoradas no âmbito da proteção de dados pela SP&M, tendo apenas migrado esse serviço para a Spinumviva após Montenegro abrir a empresa.
A data concreta dessa migração continua sem se saber, à exceção do caso da Solverde, que confirmou ao Observador ter ocorrido em julho de 2021 para garantir “o exercício da função de encarregado de proteção de dados”. Nos documentos da Spinumviva consultados pelo Observador relativos à Sofarma, também há referências à prestação anterior do mesmo serviço pela sociedade de advogados de que Montenegro se desvinculou quando se tornou líder do PSD em junho de 2022, dez anos após a ter criado.
A Solverde pagou duas avenças ao mesmo tempo, Spinumviva faturou sem se registar na Comissão Nacional de Proteção de Dados.
Ao que parece, querida Berta, a informalidade de Montenegro nos negócios não deixa realmente rasto de papeis ou emails, tudo se passa entre cumprimentos cordiais inacreditáveis, porque segundo afirma tudo decorreu com “naturalidade”, ao contrário do que eu poderia imaginar o que é natural em Montenegro é não haver registos alguns daquilo que faz com as empresas com quem trabalhava.
Segundo avança o Expresso esta sexta-feira, a Solverde terá ficado durante quase um ano a pagar duas avenças às sociedades de Montenegro - à SP&M e à Spinumviva -, pois antes tinha dito ao semanário que a SP&M prestou serviços jurídicos “em várias áreas do direito” entre abril de 2018 e maio de 2022, sem referir na altura que esses serviços incluíam a proteção de dados.
Por outro lado, se a avença mensal de 2.500 euros paga à SP&M pela Solverde incluía a proteção de dados e outros serviços jurídicos, fica também por explicar por que aceitou pagar 4.500 euros por mês à empresa de Montenegro, e isso apenas pelo trabalho de proteção de dados, dado que a Spinumviva está legalmente impedida de prestar serviços jurídicos. O que me leva a perguntar porque é que um dos contratados de Montenegro é um jurista se a Spinumviva não pode prestar serviços jurídicos) e apenas a outra contratada é uma advogada?
É de referir que muitos dos documentos agora entregues dizem respeito aos cinco clientes permanentes da empresa familiar de Luís Montenegro para a área de proteção de dados e que correspondem a um período posterior à saída do primeiro-ministro da Spinumviva já depois de ser eleito líder do PSD, documentos esses que não apresentam contratos, mas faturas e transações relativas aos acordos informais de Montenegro com essas empresas.
O que me espanta é a santidade quase beatificada de Luís Montenegro que faz negócios de serviços melindrosos e difíceis sem precisar de um único documento comprovativo daquilo que acordou com os seus clientes. Por hoje é tudo minha querida, amanhã concluo com a terceira e espero que última carta sobre este brilhante e puro negociador da nossa praça, praticamente o último santo conhecido da complicada era comercial e empresarial em que vivemos no presente. Recebe um beijo saudoso deste teu amigo,
Sempre se ouviu dizer que o mundo dos negócios é um universo muito especial, escutámos até que é necessário ter muito cuidado com as letras pequeninas que veem inscritas nos contratos bancários e das companhias de seguros, entre outros, que é necessário ter-se um entendido (dito especialista) para redigir um contrato deste tipo e até um outro especialista para decifrar os truques e maroscas escondidos por entre as teias de cláusulas que neles constam sem que tal nos pareça claro.
Ora, tudo isso pode ser verdade para nós, os leigos e impreparados alvos destes arquitetos especializados. Mas é esta a realidade da selva empresarial e do cosmos em redor dos negócios, dos prestadores de serviços, do comércio e das garantias que cada contrato nos garante. Tudo isto levanta-se uma questão fundamental: Em que bases assenta confiança empresarial?
Normalmente o prestígio das firmas baseia-se em três vetores fundamentais: A idade da empresa, o seu sucesso no mercado onde se insere, e a reputação dos seus membros ou sócios ou da fama que granjeia no meio onde atua. Fugir a este tipo de dogmas é algo quase impossível porque, afinal, já lá diz o ditado: “amigos, amigos, negócios à parte!”
Ora, a empresa da família do primeiro-ministro não fez contratos escritos de prestação de serviços com os seus clientes. A revelação desta inexistência de contratos formais da Spinumviva foi feita pelo próprio Luís Montenegro. Para o presidente do Conselho Regional do Porto da Ordem dos Advogados (CRPOA), Jorge Barros Mendes, “o desejável, em bom rigor, é haver um contrato escrito, mas não é obrigatório”.
Faço notar que isto (o não haver contratos) é afirmado pelo representante máximo de um prestigiado presidente de um Conselho de Advogados.
Documentos revelados pelo Expresso e o Observador confirmam que os maiores clientes da Spinumviva pagavam antes pelos mesmos serviços à SP&M. No caso da Solverde, as avenças foram pagas a ambas as entidades durante onze meses. A Empresa do primeiro-ministro esteve um ano e meio a faturar sem registo na CNPD (a Comissão Nacional de Proteção de Dados).
Nos últimos dias foram conhecidos mais alguns elementos sobre a atividade da Spinumviva, a empresa que o primeiro-ministro criou em 2021, antes de dar o salto para o regresso à primeira linha da atividade política, e que continuou a receber avenças dos clientes já com Montenegro à frente do Governo.
Na quarta-feira, o Observador relatou ter tido acesso a alguns documentos da Spinumviva sobre os serviços prestados pela empresa no âmbito da proteção de dados dos maiores clientes, acompanhados de declarações de Luís Montenegro.
Nestas declarações, o primeiro-ministro diz não existir qualquer contrato escrito com os seus maiores clientes para a prestação destes serviços.
Apesar de no Parlamento ter sublinhado a complexidade e responsabilidade de lidar com os dados pessoais de milhões de clientes daquelas empresas, incluindo dados sobre saúde, Montenegro refere que a prestação do serviço pela Spinumviva tem como origem um acordo simplesmente verbal entre o então advogado e os responsáveis pelas administrações da Solverde, Ferpinta, Rádio Popular, CLIP e Sofarma.
Um ato de absoluta confiança (cega, diria) por parte dos clientes na empresa em causa. Algo inédito nos anais de quem gere os dados de milhões de contactos destes clientes em matérias tão sensíveis como a proteção de dados.
Pois é Berta, a vida é assim (mas só para alguns) e amanhã tentarei explicar melhor como os negócios do nosso ex-primeiro-ministro funcionavam e prosperavam de forma tão original. Por hoje é tudo, deixo um beijo de despedida, o teu amigo de sempre,
Eu sei que o blog onde atualmente escrevo as tuas cartas, minha querida, se intitula propositadamente “alegadamente”. Esse nome deve-se ao facto de eu ser jornalista com carteira profissional e não querer estar a ser levado à justiça, com processos que poderia perder, não pelo facto de não ter razão, mas sim pelo facto de poder não possuir os recursos económicos necessários, para provar a minha razão, mesmo que esta seja a verdadeira. É por isso que tudo o que escrevo no blog está mesmo sob a alçada de um vasto, mas claro, “alegadamente”.
Dito isto, amiga, já posso afirmar que me irrita o facto da a comunicação social tender toda, no seu conjunto, monocordicamente para a direita. Toda a gente sabe quem tem na mão a divulgação das notícias neste país. Quem são os donos das grandes empresas de imprensa e televisão em Portugal?
Um deles, caríssima, até é fundador do PSD e controla, coisa pouca, o Expresso e a SIC. Mas todos os jornais do JN e DN, ao Económico ou ao Negócios, passando pelo Público, pelo Observador, pelas revistas Visão e Sábado, já para não falar do Correio da Manhã, da CmTV, da TVI e das principais rádios nacionais, da Renascença, à TSF, pertencem aos grupos ligados ao capital e isso não precisa de Polígrafo para ser facilmente provado que se trata de uma constatação real.
Há quem argumente, cara confidente, que, mesmo assim, ainda temos a RTP e a Antena 1, 2 e 3, para proteger a verdade da democracia em Portugal. Com efeito, nota-se uma ligeira melhoria na condução da informação noticiosa nos meios de comunicação do Estado, embora possuam Estatutos de Autonomia Programática. Mas isso é pouco, porque o Estado exige que estas empresas não apresentem prejuízos, o que as faz, na maioria das vezes, seguir a mesma linha dos outros órgãos de comunicação social, tentando rivalizar com as demais na pesca de publicidade e de mais audiências.
Há cerca de 20 anos atrás, Bertinha, o dono de vários órgãos de comunicação social deste país, disse, num evento público, mas apenas no seio do pequeno circulo de pessoas que o rodeavam, quase todas da sua confiança pessoal, que (já naquela altura), tinha o poder de conseguir provocar a queda de um Governo, se assim o entendesse.
No meio do grupo, naquela mesa, estava eu, um estranho (convidado por um dos acólitos, que era meu amigo dos tempos do liceu). Para o magnata, era evidente que eu estar ali, significava, mesmo sem me conhecer, que eu era pessoa da confiança de um dos seus seguidores e portanto merecia a mesma confiança destes.
Não sei, amiga, nem nunca investiguei a fundo, se o magnata ajudou efetivamente a fazer cair um Governo, mas fica a dúvida, uma enorme e imensa dúvida.
Ora, Berta, embora o povo português se incline maioritariamente para governos de centro ou de centro esquerda, nestes quarenta e nove anos de democracia, já vimos de tudo um pouco. Nos primeiros anos tivemos o poder nas mãos revolucionárias da extrema esquerda, o que se entende pelo contexto histórico, mas também já, por diferentes ocasiões, fomos confrontados com a direita no poder.
Basta lembrar os velhos tempos da AD, os quase vinte anos de Cavaco Silva à frente do Governo ou da Presidência República, e os anos vergonhosos da aliança CDS, PSD, com Passos Coelho, muito à frente da Troika, com a “guerra naval” de Paulo Portas a meter água nos “submarinos” que comprámos e Assunção Cristas a lançar uma “Lei das Rendas” que transformou uma imensa quantidade de idosos em Portugal em gente “Sem Abrigo”, cara amiga.
As pessoas, minha querida, têm memória curta, e já se esqueceram, por exemplo, que nos tempos dos Governos de Cavaco Silva passámos anos com uma inflação de dois dígitos e não como os 5 ou 8% como temos tido ultimamente e nem é bom lembrar como estavam as taxas de juros.
Toda a gente sabe, principalmente tu, minha amiga, que sou militante do PS, mas, para os que leem as minhas crónicas, sejam as “Crónicas da Rua do Crime”, as “Páginas Rasgadas”, os Desabafos de um Vagabundo” ou a “Carta à Berta” que eu e o PS tivemos muitas vezes em desacordo.
O que é normal. Porquê? Porque não vale tudo, só porque são os nossos preferidos que estão no poder. Quando se acha que o Governo está a errar numa política deve-se apontar o erro, sem receio de represálias. A alternativa, cara confidente, é triste, porque calar, nos obriga, mais cedo ou mais tarde, a termos que lidar com a nossa própria consciência e a mudar de profissão, o que é penosamente trágico e muito dramático.
Ora, querida amiga, se me pedirem para analisar os Governos de António Costa nestes últimos 7 anos e meio sou obrigado a afirmar que o saldo é extremamente positivo.
Se me perguntarem se aprovo tudo o que Costa tem feito. Bem… nesse caso, Berta, já terei de dizer que nem sempre. Por exemplo, não aprovo nem o bocadinho algo a que eu chamo de “Monarquia Maçónica Socialista”, onde certos Barões, muitos deles vindo de um passado mais antigo, se fazem suceder no poder pelos seus filhos ou filhas como se existisse algum direito dinástico no seio do Partido Socialista. A Monarquia em Portugal já acabou.
Foi mesmo já há muito tempo e tem de chegar a altura de a pôr para trás das costas. É incompreensível ver Jamila Madeira, que cresceu politicamente no colo do pai, Filipe Madeira, o velho Barão do PS no Algarve, a aparecer no Governo de Costa como se, alguma vez, tivesse feito algo para o merecer. O mesmo, Berta, se passa com o próprio filho de Costa e a maneira como o pai o meteu na política.
Começa por infiltrar o rapaz como número dois de um presidente de Junta de Freguesia, depois, ganhas as eleições, promove o presidente vencedor, a meio do mantado, a deputado da Assembleia da República, e o filho sobe a Presidente de Junta. Teve sorte, António Costa, minha querida, porque nas eleições autárquicas posteriores, o filho ganha novamente a Junta de Campo de Ourique, à pele, com 15 votos de vantagem.
Podia apostar já hoje que, nas próximas eleições autárquicas, o filho de Costa já não será candidato a Campo de Ourique. Porquê? Porque será candidato às legislativas e irá engrossar o lugar de Baronete na Assembleia da República. Todavia, Berta, se eu me enganar, cá estarei para dar a mão à palmatória.
Conforme acabas de confirmar, Bertinha, pelo que disse nos parágrafos anteriores, nem tudo o que acontece no seio do PS me agrada, porém, não tenhas dúvidas, quanto digo, e insisto, que os 7,5 anos de governação de António Costa são mesmo muito positivos. Tenho, contudo, pena que a comunicação social esteja integralmente nas mãos da direita. Na próxima carta falarei de Galamba, mas por hoje é tudo. Deixo um beijo,
Termina aqui, hoje, a trilogia de: de “Pedro Costa e o “Eu É Que Sou o Presidente da Junta”. Se dividi este assunto em três partes foi porque, minha querida, não gosto de falar das coisas pela rama, mesmo quando o assunto, é, apenas e só, a minha visão dos factos. Mas voltando à vaca fria e servida com o devido requinte gourmet:
Pedro Costa filia-se no PS em 2016 após, segundo afirmou à Sábado, pouco depois: "ver a luz". É ainda através da mesma revista semanal, querida Berta, que fiquei a saber que três anos depois de se filiar no partido do pai, Pedro Costa tem duas experiências autárquicas: Primeiro, na Junta de Freguesia do seu primo, António Cardoso, em São Domingos de Benfica, enquanto elemento independente. E, finalmente, em 2017, em Campo de Ourique, onde reside com a mulher e “se apaixonou”, pelo que diz, definitivamente, pela vida autárquica.
Foi eleito para a Junta de Campo de Ourique em terceiro na lista, de onde derivou como candidato “naturalmente” vindo de São Domingos de Benfica, por cá habitar e ter tido os seus negócios, mas ascenderia ao segundo posto depois de a número dois, Susana Ramos, mulher de Duarte Cordeiro (o socialista, amigo e atual vizinho, que assinou a sua ficha de entrada no PS), passar para a presidência da mesa da assembleia de freguesia. Pedro Costa fica, então, com o pelouro da Higiene Urbana e na rampa de lançamento para o primeiro lugar caso a “fortuna”, querida Berta, lhe viesse a bater de novo à porta.
Porém, a sua “estrela” continuava a brilhar e quando Pedro Cegonho, o então presidente da junta, escolhido previamente, nas eleições legislativas anteriores, como candidato a deputado, resolve ingressar no Parlamento, ocupando o seu lugar de eleição, deixa o seu número dois, com o lugar que antes ocupava, ou seja, Pedro Costa ascende assim, a meio do mandato autárquico, a presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique. Uma verdadeira viagem de foguetão, minha saudosa amiga, não achas? Daí até à sua recandidatura nas eleições de ontem, ao cargo de Presidente da Junta já tudo é o que parece, ou seja, um processo perfeitamente natural.
Aquilo a que eu acho graça, amiga Berta, é ao facto de Pedro Costa, ainda em declarações à Sábado, se achar um político "discreto" e "reservado", que diz não querer viver na sombra do pai, António Costa. Afirmou até, na altura: "Não é justo nem para ele nem para mim que eu me exponha excessivamente a essas colagens".
Mas Pedro Costa acha que está a ser sincero, como se fosse normal, um militante que ingressa no PS aos 26 anos, acabado de ser associado aos mais bem colocados futuros líderes do CDS-PP, chegar, digamos que naturalmente, apenas cinco anos depois, aos 31 anos de idade, à Presidência de uma Junta de Freguesia do Concelho de Lisboa, depois de ter sido proposto como o cabeça de lista e candidato do Partido Socialista à mesma.
A linhagem hereditária da monarquia, querida Berta, que já terminou em Portugal há um século e uma década, continua a impelir muitos dirigentes políticos nesta senda familiar derivada do direito consuetudinário. Pode Pedro Costa achar que foram tudo “afortunadas” coincidências, pode o seu pai negar a pés juntos nunca ter interferido na tentativa de dar um futuro promissor ao seu filho na política, pode até cair o “Carmo e a Trindade” novamente que eu não acredito no Pai Natal, mesmo que ele chegue à minha varanda do terceiro andar montado num trenó, puxado a renas, com o Rodolfo na dianteira.
E mais não digo, porque, depois deste desabafo à minha maneira, desejo que o rapaz até tenha mesmo muita sorte, e isto porque, nesta batalha final, em que o castelo feudal de Medina desabou, ele teve que batalhar seriamente, nem que tenha sido pela primeira vez, para sobreviver politicamente. Ora, isso sim, já é, definitivamente, mérito do próprio. Assim sendo, despede-se com um beijo, sem mais comentários, este teu amigo de sempre,
Voltando ao assunto de ontem, para continuar esta segunda parte sobre: Pedro Costa e o “Eu é Que Sou o Presidente da Junta”, não quero que penses que estou apenas a falar, à laia do tempo de Gil Vicente, como se estivesse a cantar apenas mais uma “Cantiga de Escárnio e Mal Dizer”. Nada disso. Gosto é que se saibam as coisas ou, pelo menos, de explicar como elas são vistas por mim. Volto, portanto, ao tema em causa:
Há que referir que o jovem, o Pedro Costa, depois de ter passado pela JS (um ingresso feito aos 14 anos), tendo sido aluno do Colégio Moderno, acabou por, ainda no entusiasmo da adolescência, se encostar aos seus amigos centristas, dos tempos da sua entrada na Faculdade de Direito na Universidade de Lisboa, com quem fez parte da associação académica e com quem acabaria por fazer a sociedade para o negócio do bar Winston (eram três no total), um dos quais o centrista Francisco Laplaine Guimarães, atual vice-presidente do CDS-PP, altura em que privava a miude com o atual presidente do CDS-PP, à data, o afamado Chicão. Aliás, Francisco Rodrigues dos Santos, recorda Pedro Costa, numa entrevista, há já uns anos, à revista Sábado, minha querida Berta, da seguinte forma:
"O Pedro não é socialista, é um liberal utópico em toda a aceção do termo. É um tipo empreendedor que não gosta de ser escravizado e um criativo com um rasgo de inteligência. Nos costumes é muito mais progressista do que conservador". Acrescenta ainda: "Já lhe disse isso várias vezes e ele responde-me sempre com um riso bonacheirão, concordando sem o dizer.” Finalmente conclui: “Pedro Costa é um tipo para todas as ocasiões. Além de bom conversador e um grande companheiro de copos, é leal. A nossa amizade extravasa as ideologias… O Pedro teria sempre uma carreira promissora na política independentemente do pai. Ele tem mérito próprio."
Ora, Pedro Costa, ainda com o bar, em 2013, criou uma marca de roupa com os amigos, a Pyramid Collective, e em 2016 investiu num projeto, de outro amigo, de molas para meias, tendo tido ainda uma participação minoritária de 7,50% na marca de roupa Nuno Correia, que acabou por falir, isto é, minha cara amiga, não teve grande sorte nos negócios.
Porém, também em 2016, Pedro Costa abandona o seu falhado mundo de empreendedor, já com o curso de direito no bolso, e, diria que como por “milagre”, vira-se para a política e novamente para o PS. Por “sorte” do destino, sim, porque na vida é realmente preciso ter sorte nos momentos certos e, inteligentemente, fazer o melhor uso dela, a vida voltou a sorrir para o primogénito varão do nosso Primeiro-Ministro, António Costa.
Não me vou adiantar mais por agora. Este é o momento de começar a chegar ao final desta saga de três cartas, já contando com aquela que te enviarei depois desta. Por isso, recebe a minha despedida saudosa num beijo sincero, deste que está sempre ao teu dispor,
Começo esta carta de hoje por te recordar duas cartas que te escrevi. Uma a 1 de novembro de 2019 e outra a 24 de novembro de 2019. Chamei-lhe à primeira, na altura: “José Sócrates: O Caso”. Conforme vais poder reler eu tinha toda a razão no que dizia então, mas vamos à primeira carta sobre o assunto que te escrevi nesse longínquo dia “pré-covidiano”:
“Carta à Berta: José Sócrates – O Caso em 01/11/2019
Minha querida amiga, é com alguma tristeza na alma que te escrevo hoje. Descobri, confesso que por acaso, que o caso do julgamento do ex-primeiro-ministro, José Sócrates, está outra vez na atualidade política. Por fim, começou a fase de instrução do processo, e, finalmente, a defesa tem voz ativa no decorrer dos trabalhos. Como tenho visto pouco as notícias, a situação estava a passar-me ao lado. Contudo, pelo que apurei, o juiz Ivo Rosa tem vindo a ouvir as alegações de Sócrates contra tudo aquilo de que o acusam, desde a corrupção, aos seus sinais exteriores de riqueza, passando pelo branqueamento de capitais e sei lá que mais. Não me interessa.
Aliás, nem me interessa, neste momento, saber se o homem é ou não culpado. O que eu sei é que, graças à nossa comunicação social e à forma como se criam e produzem as notícias neste país, Sócrates já foi há muito considerado culpado e condenado pelo povo que governou. Deve haver pouca gente que não tenha uma opinião formada, e normalmente negativa, sobre o ex-governante, em Portugal.
A coisa é de tal forma que, os seus irmãos de partido, fogem dele como o diabo da cruz. Todos evitam ao máximo estar associados a acusado e às coisas lhe são apontadas. Repara, estes são os amigos mais próximos porque, os antigos adversários políticos, fazem bem pior. Parecem cães raivosos a espumar pela boca, exigindo a pena máxima para aquele que não conseguiram derrotar em democracia. Por fim, não menos importantes, são os invejosos e os que gostam de dizer mal de tudo, os que não podem ver alguém melhor do que eles na vida, e que afirmam, do alto da sua douta inteligência e sabedoria, que sempre disseram que o homem é corrupto.
Enfim, podem ter todos razão, Sócrates até pode ir a julgamento, ser condenado, preso e o caso terminar dessa forma triste para a imagem nacional, para gáudio das hostes enfurecidas, que isso não melhora a situação. Assim sendo, internacionalmente, ficaremos vistos como um país de poucachinhos, de terceiro mundo, onde todos roubam, da peixeira na banca do mercado, que inchou os camarões com água, aos mais altos representantes nacionais.
Pergunto-me se isso é bom? A única coisa que se poderá dizer ser positiva sobre a situação, caso aconteça, é que prevaleceu a justiça e que ninguém está acima da lei. Mas isso não iliba a nossa imagem, como país, e iremos certamente ficar na lama, enquanto as pessoas realmente de bem terão de esconder o rosto de terceiros, pela vergonha a que seremos todos votados com esse resultado.
Por outro lado, o que acontecerá se Sócrates for considerado inocente, ou, pior ainda, nem sequer for a julgamento, por falta de provas factuais convincentes? Os inimigos dirão certamente que a justiça foi comprada. Porque eles, imaculados portadores da verdade, têm a certeza sobre o que realmente aconteceu. Alguns apresentarão como prova o que senhor Manuel, do quiosque de "troca-o-passo" lhes contou, ou seja, que, um dia, presenciou uma situação de tal forma clara que torna irrefutáveis as provas da acusação. Os amigos não se verão assim, tão linearmente, em festa a celebrar a ocasião. Tudo dependerá de como o ciclo se fechar. Se for deixada no ar a suspeição sobre o político, continuarão a sentir a mesma alergia que os fez afastarem-se do antigo amigo, simpatizante ou camarada. Se a coisa se resolver, de forma inequívoca, aparecerão então a gritar aos quatro ventos que sempre souberam que o sujeito era inocente.
Ainda a Páscoa vem longe, mas, para mim, o único crucificado aqui será sempre, seja qual for o resultado, José Sócrates. Esse ficará o resto dos seus dias com a honra e a dignidade manchada, porque o escândalo vendia notícias e dava trabalho e audiências a muita gente. Aliás, haverá quem, se o caso nem seguir para julgamento, afirme ter encontrado evidências cabais de que a cor grisalha dos pintelhos de Sócrates é prova de stress e não da idade, o que é demonstrativo que deve ser aberto um novo processo, porque um estado emocional destes implica que há fogo por detrás do fumo.
Pois é Berta, a minha tristeza provém do facto de toda a história não ter como chegar a um final feliz. Fazer o quê? Eu ainda sou do tempo em que as histórias tinham um final feliz. Contudo, olhando mais profundamente para toda esta trama, existe um padrão que vem à tona mais uma vez. A dada altura, são lançadas às feras algumas figuras públicas, com requintes de uma perícia especializada, com o intuito de que não se olhe para mais nada. Pode ser coincidência, todavia, eu não acredito em coincidências. Foi assim no caso José Sócrates, no Caso de Ferro Rodrigues, no caso de Carlos Cruz e até no caso de Tomás Taveira.
Quem tem poder e astúcia para conseguir atirar para a ribalta situações tão cirúrgicas como estas? O que estão a esconder ou a querer que passe impune por entre as gotas da chuva? Será a maçonaria, a Opus Dei, a organização Rosa-Cruz ou uma qualquer outra força oculta no seio da sociedade portuguesa, bem distribuída nos lugares de influência e decisão? Não sei, minha amiga, mas adoraria saber. Quando determinados padrões se repetem em demasia algo os faz emergir e te garanto que não é magia.
Fica bem minha querida, beijo do teu saudoso amigo,
Gil Saraiva”
Passado menos de um mês dessa carta escrevi-te outra ainda sobre o nosso ex-Primeiro-Ministro, chamava-se: “O Peso do Dinheiro de Sócrates”, vou, mais uma vez reproduzi-la aqui para te relembrar o assunto:
“Carta à Berta: O Peso do Dinheiro de Sócrates – 24/11/2019
Olá Berta,
Nem te pergunto como estás porque isso, aliás, é o tenho feito todos os dias e a coisa ainda vira exagero. Eu por aqui continuo satisfeito a gozar esta época saudável, que parece ter regressado para ficar, depois das chatices que tive até junho passado.
Não sei se tens acompanhado toda a saga do ex-primeiro-ministro José Sócrates que, desde que voltou a ser chamado a testemunhar pelo juiz Ivo Rosa, regressou às primeiras páginas dos jornais, aos noticiários das rádios e às reportagens televisivas.
Provavelmente fizeste como eu, não leste, ouviste ou viste nem um quinto do alarido à volta da Operação Marquês. Fizeste bem. Diga-se, de passagem, que a continua exposição mediática do caso começa a jogar a favor do principal arguido em vez de o prejudicar.
A malta começa a ficar farta. Ainda por cima à medida que vamos tomando conhecimento da inexistência de provas cabais e demonstrativas da acusação proferida pelo Ministério Público. Caramba! Mas não haverá um raio de um papel que prove, de uma vez por todas, que o político meteu a mão na massa e que, por isso mesmo, é culpado dos 31 crimes de que é acusado? Como é que se acusa alguém, num país onde o enriquecimento elícito não é crime, sem ter na mão os papeis, fotografias ou gravações com provas?
Não consigo entender que tudo, pelo menos até ao momento, não passem de deduções, explicações elaboradas do que possivelmente aconteceu, acusação do homem ter andado com muito dinheiro, que não poderia de forma alguma ser seu, e, por isso mesmo, só poder ser fruto de corrupção, mas, e lá vem sempre a porcaria do mas, sem o conseguirem demonstrar com provas irrefutáveis e absolutas, para que não fique nenhuma dúvida.
Tu entendes uma coisa assim? Eu não e juro-te que também, como tu, não sou parvo nenhum. É que, quando o acusado diz que tem um amigo que lhe dá milhões, por mais que isso nos custe a engolir, não há lei que o impeça de o fazer.
Talvez se enriquecer sem explicação fosse crime já o caso estivesse arrumado, porém, minha querida Berta, isso é coisa que não convém ao Estado colocar no papel, passando essa prática a ser crime perante a lei. O resultado seria trágico para muita gente, neste país, que vive milionariamente, sem razão aparente que justifique essa vida e onde, infelizmente, muitos deles circulam nos corredores do poder.
Se os investigadores da Polícia Judiciária, e o Ministério Público, tivessem e pudessem investigar todos os milionários de Portugal, quantos achas tu que conseguiriam justificar cada cêntimo que detêm? Uns 20 porcento? Talvez menos? Eu também não sei. Todavia, espero ansiosamente pelo dia em que um Governo tenha a coragem de mudar a lei.
Até lá, ou arranjam as tais provas cabais ou está tudo muito complicado, quer para os investigadores, quer para o Ministério Público.
Outra coisa que me irrita, é a forma como se criticam as declarações de José Sócrates, nos debates e nos programas de comentário político, na televisão. Vi gente, e por alguns deles eu nutro um enorme respeito (principalmente pela sensatez daquilo que dizem e pela forma clara e ponderada com que o fazem), pôr em causa os 5 milhões que Sócrates teria em casa (os tais que alega terem sido herdados pela mãe), com base no volume do dinheiro e na dimensão que um cofre caseiro teria de ter para guardar tal fortuna. Mas esta gente deu-se ao trabalho de investigar o volume e o peso de 5 milhões de euros em notas de 500 euros?
É por estas e por outras que o ex-primeiro-ministro, mesmo que seja efetivamente culpado, vai passando por entre os pingos da chuva sem se molhar.
Primeiro temos a obrigação de tentar perceber se algo é absurdo antes de fazermos a afirmação de que o é, apenas e só, porque não temos a mínima noção das proporções, medidas e pesos em causa, numa coisa que nem é difícil de investigar. Revolta-me o desleixo com que, quem tem a seu cargo o comentário político e sério, trata matérias importantes e relevantes, para consolidar as coisas que afirma. Na ignorância de algo, só existem 2 maneiras de se resolver o problema: investigar devidamente ou não falar no assunto.
Não é correto cuspir verborreia sem se ter qualquer ideia sobre o que se fala. Essa é a hipótese que nunca deveria chegar ao comentário político. Por isso mesmo, e para não passar por estúpido, como muitos outros, resolvi investigar. Garanto que fiquei admirado com o que descobri.
Afinal, 5 milhões em notas de 500 euros, cabem numa malinha que tenha 58 centímetros de comprimento, por 48 de largura e apenas 20 centímetros de altura, ou seja, qualquer cofrezinho caseiro, mediano, de gente abastada, suporta, com algum conforto, a verba em causa. Quanto ao peso, tudo se torna ainda mais ridículo, 8 quilogramas, sem tirar nem pôr. Apenas 8. O que quer dizer que 5 milhões de euros só pesam pelo trabalho e esforço que custam quando se trata de os ganhar. Nada mais.
Para poderes ter uma ideia, minha amiga, mando-te uma fotografia com esta carta, que ilustra o volume e peso de 500 mil euros. Despeço-me saudosamente com um beijo, deste teu confidente de sempre,
Gil Saraiva”
Estas duas cartas exclusivamente sobre Sócrates, são apenas o exemplo do que era e sempre foi a minha opinião, desde o início do caso até 2019, altura em que te enviei ambas as cartas, a que poderias juntar algumas das que te escrevi em 2020. Conforme se vem hoje a verificar e não é que eu seja bruxo, mas eu tinha razão nas análises que fui fazendo desde que o caso começou. Por hoje, não me vou alongar mais, mas amanhã enviar-te-ei a minha conclusão já atualizada, face às novidades do dia de hoje.
A história não ficará, por certo, por aqui, mas no final, conforme previ em 2014, toda esta grande montanha terá parido um pequenino hámster inofensivo e querido. Despeço-me, com o compromisso de terminar amanhã este assunto, recebe um beijo deste teu grande amigo,
Hoje apetece-me desabafar. Tu sabes que eu sou jornalista há várias dezenas de anos. Isto para te dizer, minha querida amiga, que é difícil convencerem-me a aceitar tapar o Sol com a peneira, como se tudo estivesse bem e fosse normal. Efetivamente assim não é.
Este meu desabafo vai ocupar um pouco mais esta carta e, por isso mesmo, peço desculpa por deixar menos espaço do que o costume ao Diário Secreto do Senhor da Bruma. Com efeito assim será nos próximos dias. Depois de deitar cá para fora o que me vai na alma, fica descansada que retomarei a normal publicação do diário.
Deves estar-te a perguntar sobre que tema é que eu sinto necessidade de dizer algo. Pois bem, Berta, estou a falar da transparência. A famosa regra de verdade do Ministério da Saúde e da Direção Geral de Saúde é uma total fraude, quer o Presidente da República ou o Primeiro-Ministro digam o inverso, quer não.
O que se passa é que a DGS anda, desde o primeiro momento, a esconder os factos à população geral. Tratando-se de uma pandemia, a importância da presença dos médicos e dos organismos de saúde pública deveria ser primordial. Contudo, quando observamos os apoios reforçados pelo orçamento retificativo ao setor da saúde pública a realidade não chega sequer ao milhão de euros.
Contrariamente outros setores foram reforçados na ordem das dezenas de milhões. Mas o que é que isto significa na prática? Significa que continuará a ser deficiente em larga escala o reforço do pessoal encarregado de fazer o mapeamento das cadeias de rastreamento dos contaminados, quanto a novos focos e às suas possíveis ramificações na sociedade.
Mas há mais. Porque é que o povo, toda a população, não tem acesso aos dados por freguesia se os mesmos estão acessíveis na DGS? Eu sou tentado a apostar que a razão tem a ver com a manipulação da informação. Repara que só hoje, depois dos protestos de várias autarquias, foi feito um novo acerto global ao número de mortos e dos contaminados em Portugal. Pedimos prudência aos cidadãos, mas não os informamos com clareza como vão os casos na sua própria freguesia de residência, como defendem os especialistas de saúde pública.
Marta Temido, Graça Morais, Jamila Madeira são apenas 3 dos rostos da dissimulação na DGS e no Ministério da Saúde. Atualmente deixaram de se revelar o número de testes feitos ao dia. Revelam-nos uma ou duas vezes por semana, continuamos sem saber como a pandemia se desenvolve na nossa porta, não nos explicam, nem assumem, o fracasso total das medidas de desconfinamento, nem sequer nos dizem porque falhou o rastreamento dos novos focos. Globalmente a transparência só existe nas palavras.
Esperemos que este setor endireite rapidamente as políticas que tem vindo a seguir e que corrija, a tempo, os erros do passado de uma vez por todas. O que se passou até aqui já não importa mais. Como se diz no diário que tenho vindo a revelar-te, minha amiga, para trás mija a burra. Importa é que realmente se chegue a uma política de verdade. Desabafo feito, regressemos à análise da burrice:
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II
Abordagens sobre a Burrice (continuação - II - 7)
Março, dia 13:
Mas há outras explicações dentro do largo espetro da aprendizagem, inteligência e sabedoria dos asnos. Analisemos mais uns quantos destes provérbios de 4 patas, relativos ao tema. Mais vale burro vivo do que sábio (ou letrado) morto, ou seja, o animal prefere não saber, ou fazer de conta que não sabe, e, com isso, sobreviver, inversamente a correr riscos por mostrar que até sabe umas coisas, o mesmo explica o dito: antes burro vivo que doutor morto. Pondo a conversa no domínio dos humanos é o mesmo que dizer: mulher sem emprego, do marido não conhece amantes, ou seja, bem-aventurados sejam os que passam por pobres de espírito, que é a velha máxima da igreja levada a um outro nível.
Março, dia 14:
Já o ditado: burro velho, mais vale matá-lo que ensiná-lo, parece significar que não vale a pena ensinar um animal depois de este já ter os hábitos formados. Enquanto, este outro: o burro do meu vizinho só sabe o que lhe ensino, o que diz bem da manha do jumento em seu proveito próprio. Porém, burro carregado de livros é um doutor, explica como se pode tentar viver de aparências para subir de estrato social. Contudo, há quem refira que este provérbio é dedicado a Miguel Relvas e à sua formação académica, certamente um boato infundado que nada tem a ver com o dito cujo ou com qualquer outro lambe-botas da política, tipo aquele fulano que tornou o queijo limiano conhecido de todos os portugueses.
Março, dia 15:
Burro calado, sabido é (ou por sábio é contado), é algo bem mais profundo, trata-se da velha máxima do segredo ser a alma do negócio, umas vezes, ou, em outras, o silêncio ser de ouro, enquanto a palavra é de prata apenas. O caso de Tancos e o que Ministro da Defesa, à época, sabia ou não sabia sobre a manhosa devolução das armas é disso bom exemplo. Todavia a expressão burro velho não aprende (ou não aprende línguas), aponta outros caminhos. Veja-se o caso humano passado com Cavaco Silva, o homem viveu os seus 20 anos de poder rodeado de corruptos, malandros, ladrões e vigaristas, contudo, apesar disso, já não estava em idade de aprender os ofícios, pelo menos a crer na sua própria palavra. Já a citação: burro que a Roma vá, burro volta de lá é o mesmo que dizer que ver o papa não torna ninguém santo, muito menos se estivermos a falar de Pinto da Costa, pois que, apesar de tudo o burro não é tão burro como se pensa.
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Por hoje, minha querida amiga, fico-me por aqui. Espero que estejas bem agora que entraste em férias e estás no local ideal para as aproveitar bem. O Algarve é um excelente local para se estar no verão. Despeço-me com um beijo amigo, este que está aqui para o que der e vier,
Este domingo fica marcado pelo abandono do jogo por parte de Marega, jogador avançado do Futebol Clube do Porto, de raça negra que, segundo alega, foi insultado pelos adeptos do Vitória de Guimarães, no estádio deste clube, com observações racistas nas quais se incluem a utilização de palavras como “preto”, “macaco”, “chimpanzé”, para além dos sons da selva, produzidos em coro, a tentar imitar os símios no seu ambiente natural.
A coisa durou desde a fase de aquecimento para o jogo até ao momento em que Marega abandonou o relvado, não sem antes elevar os dedos do meio de ambas as mãos para a zona da bancada de onde provinham os insultos. Como resultado, voaram cadeiras para dentro de campo, tendo o atleta usado uma delas para se proteger, colocando-a na cabeça, o que lhe valeu um cartão amarelo.
Mais tarde, no Instagram, o jogador publicou a seguinte mensagem: “Gostaria apenas de dizer a esses idiotas que vêm ao estádio fazer gritos racistas: vá-se foder”. Bem esclarecedora do significado dos dedos ao alto anteriormente erguidos ainda em campo. No mesmo comentário ainda agradeceu com ironia a forma como o árbitro do encontro foi solidário com os insultos que lhe foram proferidos “…E também agradeço aos árbitros por não me defenderem e por terem me dado um cartão amarelo porque defendo minha cor da pele. Espero nunca mais encontrá-lo em um campo de futebol! VOCÊ É UMA VERGONHA!!!!”
O apoio a Marega veio rapidamente da Presidência da República, do Governo, através do Primeiro Ministro e da maioria dos partidos com assento parlamentar. Também o universo do futebol nacional se mostrou solidário com o jogador, incluindo o próprio Vitória de Guimarães. Os apoios ao futebolista espalharam-se rapidamente na sociedade civil e ficaram bem espelhados nas redes sociais. Todo o mundo tentando deixar claro que o racismo é algo residual na sociedade portuguesa.
Eu considero que Marega tem toda a razão para se sentir ofendido, não apenas pela claque que o insultou, mas também pela arbitragem, que falhou redondamente no que concerne à atuação e aplicação do que são as normas defendidas e definidas pela FIFA para este tipo de comportamentos.
Só não concordo com a resposta de Marega. As duas mãos ao alto, de dedos em riste e o que escreveu no Instagram, não são, nem podem nunca ser, a resposta adequada à exigência de respeito, por parte do atleta. Há que deixar a justiça desportiva ou mesmo a nacional fazerem o seu trabalho e não responder ao mesmo nível, sob pena de se perder a razão. E se agora a claque colocar uma ação por ter sido mandada para o “pirilau” pelo jogador?
Ora bem, abandonando o desporto e voltando às nossas quadras populares sujeitas a mote, o teu desafio às minhas capacidades poéticas, achei graça ao facto de teres escolhido “Jogar pelo Seguro” logo hoje que falei de futebol. Aqui vai a minha quadra do dia.
Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 20) Jogar pelo Seguro.
Jogar pelo Seguro
Se amor ou paixão houver
Nesse homem que te prendeu,
Vê primeiro o que ele quer,
Vê primeiro se ele é só teu…
Gil Saraiva
Com isto me despeço, esperando que tenhas tido um excelente fim-de-semana, recebe um beijo deste teu amigo do peito,
Fiquei na terceira parte da nossa história na chegada ao poder de José Eduardo dos Santos. No final desse ano este homem era simultaneamente, se fizéssemos um paralelo alegadamente absurdo com os órgãos de poder portugueses, Presidente da República, Primeiro-Ministro, Presidente da Assembleia da República, Chefe Supremo das Forças Armadas, para além, é claro, de ser igualmente presidente do partido no poder, no caso concreto, o MPLA. Só que, não são estes os seus únicos poderes, porque ele controla igualmente, embora de forma menos direta, o Poder Judicial e o Poder do Tribunal Constitucional.
Quer isto dizer, minha amiga, que em 1980, sentou-se na cadeira do poder angolano alguém que, alegadamente, detinha o poder absoluto sobre Angola. Um verdadeiro paradoxo se pensarmos que o país vivia numa suposta democracia e que era simultaneamente governado sob um poder absoluto.
Nesta quarta parte da história não vejo grande sentido em pôr-me a explicar toda a governação dos anos seguintes neste nosso país irmão. A maioria das pessoas tem uma ideia do que foi acontecendo. Porém, é impossível não realçar alguns aspetos para podermos chegar ao momento em que nos encontramos hoje e que abordarei na próxima carta a qual resolvi chamar de epílogo.
Contudo, acho que é importante saberes, querida Berta, que Agostinho Neto, tinha oposição dentro do partido, precisamente na altura em que José Eduardo dos Santos é nomeado Vice-Primeiro-Ministro, quando estala o verniz no MPLA. De um lado da barricada estão os apoiantes de um comunismo de pendor maoísta e do outro, os marxistas-leninistas, com a China e a União Soviética a pressionarem em sentidos contrários.
Em maio de 1977 dá-se uma tentativa de Golpe de Estado, liderada por Nito Alves, um dos ministros de Agostinho Neto, que fracassou, principalmente graças ao forte apoio das FAR (um contingente de forças armadas cubanas estacionadas em Angola, principalmente em Luanda). Estamos no auge do “Fraccionismo”, em que este movimento político sob o comando de Nito, tudo tenta fazer para chegar ao topo da hierarquia do Estado.
Quando o golpe fracassa, as coisas parecem normalizar no seio do MPLA e do Governo, contudo, contrariando esta bonança, pouco tempo depois, dá-se a tentativa, também falhada, de assassinato de Agostinho Neto e as suas repercussões geram uma guerra interna de quase 2 anos. É um período terrível em que são varridos da face da terra muitos milhares de apoiantes de Nito Alves. Convém esclarecer que este homem, que lutara nas fileiras do MPLA desde 1961, quando se dá o 25 de abril em Portugal, já era o líder militar do MPLA e operava, a partir da região de Dembos, a nordeste de Luanda, uma verdadeira saga esta, minha querida amiga.
Em conclusão, este não era, por isso mesmo, um qualquer militar. Tinha apoiantes não apenas nas forças armadas, mas dentro do próprio Governo. A história tem nesta altura variadíssimos contornos, porém, para aquilo que nos interessa, o importante foi mesmo o papel estratégico de José Eduardo dos Santos que, pela primeira vez, tem de lidar com o clã Van-Dunem e dos Santos divididos entre os 2 lados do conflito em posições mais do que relevantes. A limpeza dá-se de forma implacável e dura até quase à morte de Agostinho Neto.
José Eduardo dos Santos, não só nunca abandona o Governo, como consegue, quase sem dar a cara, ser o principal responsável dos sucessos alcançados nesse período. A coisa foi tão bem estruturada que nunca é acusado de ter diretamente sido responsável pela morte de quem quer que fosse. No entanto, José Van Dunem, na altura o comissário político das Forças Armadas, e a esposa Sita Valles, são supostamente assassinados, não se sabendo ao certo, amiga Berta, o que lhes aconteceu realmente, nesse 27 de maio de 1977.
Convém referir que este José Van Dunem (sem hífen no nome), era irmão da nossa atual Ministra da Justiça, Francisca Van Dunem e que a falecida cunhada desta, Sita Valles, provém de uma família tradicional goesa que, tal como a de António Costa, o nosso Primeiro-Ministro, fazia parte da elite de Goa. Ambos pertencentes à casta Brâmane, a mais rica e elitista casta indiana. Em Goa, as famílias eram próximas, porém, enquanto uns acabaram por emigrar para Portugal, caso do pai de António Costa, Orlando Costa, outros optaram por um destino mais próximo, como Moçambique, o que foi o caso da família Valles, que mais tarde se mudaria para Angola.
Contudo, as ligações de amizade e origem mantiveram laços de relacionamento que, alegadamente, ajudam a explicar a chegada de Francisca Van Dunem à chefia do Ministério da Justiça português. Sim, porque eu, querida Berta, sou dos que não acredita em coincidências. Basta lembrar que Orlando Costa e Sita Valles se conheceram muito bem, enquanto militantes e ferrenhos ativistas do Partido Comunista Português, entre 1972 e 1975.
É relevante referir também a influência do ex-Embaixador de Angola em Portugal, Fernando José de França Dias Van-Dúnem, primo de Francisca Van Dunem, e seu padrinho de batismo, no que aos corredores do poder diz respeito. Afinal, este homem ocupou vários cargos em Luanda entre os quais: Primeiro-Ministro, Ministro da Justiça, Ministro das Relações Exteriores, Embaixador na ONU e Presidente da Assembleia Nacional de Angola e aos 86 anos, a acreditar na sua página no Wikipédia, exerce ainda o cargo de primeiro Vice-Presidente do Parlamento Pan-Africano e mantém-se como Professor da Universidade Católica de Angola.
Mais uma vez, Berta, temos de voltar a apanhar o fio à meada. Regressemos por isso a 1980, ano em que José Eduardo dos Santos se torna “Senhor e Dono” de Angola. Não tem relevância para esta história saber como, o então Presidente angolano, manteve o poder durante os 37 anos seguintes, convém, todavia, saber um ou outro detalhe para que se entenda a saga que descrevemos até aqui.
Porém, é importante explicar que José Eduardo dos Santos se viu a braços com imensos movimentos internos (e externos vindos dos mais variados setores e até da Africa do Sul), tendo, com uma precisão quase cirúrgica, distribuído poderes, empresas estatais e outras, originadas pelo próprio Estado, aos principais generais angolanos e aos seus próprios filhos, pelo menos aos 10 originários das suas 6 uniões passageiras, de facto ou matrimoniais conhecidas.
Fala-se de uma tentativa de assassinato em 2011, mas, minha amiga, tenha ela existido ou não, o facto é que foi ultrapassada. Um facto importante é o de que o Presidente sempre salvaguardou o bem-estar das ex-companheiras e da sua descendência, tão bem como o fez com aqueles que o poderiam ameaçar no comando do país. Para além disso, conseguiu voltar a unir, os clãs Van-Dunem e dos Santos em redor da sua figura.
O que é absolutamente certo é que a estratégia resultou e que durante os já referidos 37 anos ele governou como Presidente de Angola. A partir de 2002 a paz regressou finalmente ao país, com a morte de Jonas Savimbi. Também, poucos anos depois, os últimos grandes conflitos foram resolvidos habilmente em Cabinda, tendo a paz total chegado em 2006. Em 2010 fez alterar a Constituição da República de Angola e, a 31 de agosto de 2012, o MPLA ganhou as eleições gerais sendo José Eduardo dos Santos automaticamente eleito, uma vez mais, Presidente, legitimando dessa forma a sua permanência no cargo por mais 5 anos.
Interessante é referir que o Presidente manteve sempre debaixo de controlo a Sonangol. Sendo um homem formado na área dos petróleos, estava perfeitamente habilitado para o fazer. É sabido, querida Berta, que durante este tempo os lucros da Sonangol passaram de 3 biliões de dólares em 2002, para uns muito mais expressivos 60 biliões em finais de 2008. Contudo, a acreditar nas contas do Fundo Monetário Internacional, cerca de 32 biliões destas receitas petrolíferas sumiram dos registos do Governo de Angola.
Isso passou-se 8 anos antes de, em junho de 2016, o Presidente ter nomeado a sua filha primogénita, Isabel dos Santos, para as funções de Presidente do Conselho de Administração da Sonangol. Uns 3 meses antes, em março, tinha anunciado que iria abandonar em 2018 a vida política ativa. Entretanto reeleito, ninguém sabia se o Presidente continuaria o seu mandato até 2021 ou se, conforme anunciara, sempre abandonaria o cargo em 2018.
Com efeito foi a segunda hipótese que prevaleceu. O Congresso Extraordinário de setembro do MPLA, confirma a nomeação de João Lourenço, um dos últimos grandes delfins de José Eduardo dos Santos, como Presidente da República de Angola. O ex-presidente retira-se da política ativa e vai morar para uma “fortaleza” em Barcelona, pelo que se sabe para poder tratar convenientemente uma doença grave (que se mantém oculta, até à data, por constituir segredo de Estado).
Na carta com que termino esta saga, aquela que designei por epílogo, falarei uma vez mais dos clãs Van-Dunem e dos Santos, para a terminar com Isabel dos Santos, a princesa de Angola, agora, alegada e aparentemente, caída em desgraça. Despeço-me, amiguinha com o carinho do costume, deste teu parceiro de muitas aventuras,
Ainda te lembras do tempo em que se falava da chegada de uma tal de recessão? A conversa era, com os devidos acertos (com equivalências comparativas à da chegada da Elsa ou do ano de 2020 ir ser aquele com a maior carga fiscal, a atingir mesmo os 35 porcento de impostos), que tudo acabaria, em breve, no melhor dos modos.
Nesse tempo, corria o ano de 2008 (ainda te lembras?). Sobre ele passaram, quase, quase, 12 anos e, contudo, apenas as tempestades, as depressões e os furações ficaram limitados e confinados num prazo mais ou menos certo. Já as dificuldades dos povos tendem a instalar-se de pedra e cal, como se fossem construções para prevalecer e resistir. Foi assim com a recessão, continuou depois com a crise e está, neste momento, em vias de entrar aquela que é anunciada como a Maior Carga fiscal de sempre. São 3 maneiras diferentes de dizer que o cocó é o mesmo, o cheiro é que muda, talvez consoante a consistência ou o pacote em que vem embrulhado.
Voltemos atrás. Disseram-nos que ela chegara: a recessão. No entanto, se todos e cada um de nós, tivesse voto na matéria (sendo que eu votava sempre contra a chegada da anunciada) ela nunca teria vindo. Porém, segundo o Primeiro-Ministro da época, um tal de José Sócrates, garantia-se, nessa altura, que seriam tomadas todas as medidas para efetivamente acabar com a dita cuja ou, pelo menos, que a recessão, mesmo que viesse, não criaria raízes. Promessas leva-as o vento minha amiga, venham elas com a Elsa, o Fabien, ou outro qualquer.
O Governo, qualquer governo, fará como fez esse aos 4 mil imigrantes a quem vedou a entrada em Portugal e que repatriou nesses idos anos tristes. Apesar de todos os sinais o tal Primeiro-Ministro prometia à boca cheia que não tínhamos com que nos preocupar. Sócrates dizia que estava pronto para tudo.
O Povo também estaria, se ganhasse um décimo do que recebia o nosso Primeiro, quer em ordenado quer em ajudas de custo, carro, deslocações e subsídio de risco contra tomates podres, livros escolares, seringas “hipo-qualquer-coisa”, sapatos ou mesmo Ovos da Páscoa do ano de 2007.
Vejamos, estávamos à beira da deflação, os portugueses morriam menos 17 porcento em 2008 nas estradas portuguesas e a tendência era para continuar a cair (é giro ver esses sonhos agora, minha amiga), os combustíveis baixavam de preço, os juros desciam com a gorda da Eulibor a perder peso, a olhos vistos, para recordes nunca antes sonhados nos últimos dez anos, as prestações das casas decaíam junto da banca. Tudo fazia parecer ser impossível que algo de errado pudesse acontecer. Alugar ou comprar casa ou loja era mesmo bem mais barato nesse ano.
Por outro lado, o ordenado mínimo subiria o máximo, de uma só vez, em 2009 (não ouviste isso ainda este fim de ano?), o julgamento da Casa Pia chegava ao fim, a MediaMarket tinha saldos incríveis para os que não eram parvos, o Continente fazia 50 porcento de desconto em cartão da marca, a Banca recebia injeções do Estado contra a Gripe das Aves Raras, contra a Peste Suína do Capital, contra a doença das vacas loucas com os saldos e as promoções… Tudo isto, minha querida Berta, a fazer lembrar uma semana de “Back Friday” bem recente e atual.
Mas havia mais, o Magalhães, por exemplo, vendia mais do que o dinheiro chegado dos subsídios europeus da agricultura que o nosso governo devolvia a Bruxelas pois já estávamos hiperdesenvolvidos.
A euforia estava em alta, vinham aí as obras das Câmaras Municipais em ano de Eleições, mais as grandes e pequenas obras do Estado. Mais os empregos criados em 2009 só para alimentar a máquina eleitoral de três votações. A crise da Educação corria veloz para um final que não sabíamos vir a ser tão triste, mas que corria, corria…
As belíssimas vozes e interpretações das músicas dos ABBA, no filme “Mamma Mia”, davam esperança a qualquer português de poder iniciar uma carreira vocal a todo o momento e instante. As novelas portuguesas continuariam a narrar mundos impossíveis. A Manuela Moura Guedes já não ia deixar de ser pivot da TVI.
Mais que tudo, não iriamos passar vergonhas em europeus ou mundiais de futebol porque não os havia neste ano, o Ministro das Finanças até lançou um orçamento suplementar, o AKI tinha os preços em queda, de tal forma que um dia a casa poderia vir mesmo a baixo. A Moviflor dizia que vendia tudo e mais um par de botas, em doze meses sem juros, mesmo que os móveis durassem menos tempo do que isso. Eu próprio coloquei uma velinha à Nossa Senhora dos Aflitos para ver se o Rui Santos deixava de ser comentador de futebol de uma vez por todas, na Sic.
Porém, apesar de tanta e maravilhosa coisa a acontecer, a recessão não passou. Depois… não muito tempo depois, veio, passo atrás de passo, um Passos que nos fez passar misérias, acabando drasticamente com os anos das contas incertas. Chamando de malandros, calaceiros, quase bandidos a precisar de castigo, aos portugueses. Cortou-nos os subsídios de férias e de Natal, as horas extraordinárias, os feriados.
Mandou-nos emigrar, veio com ar de pastor anunciar que a austeridade (outra palavra bonita para a recessão), chegara para ficar. Inventou impostos, criou taxas sobre taxas e mais sobretaxas, os Orçamentos do Estado, passaram a ter de passar pelo crivo do Tribunal Constitucional, a crise instalou-se de vez com a ameaça fantasma de uma banca rota cujos buracos, afinal, acabaríamos por descobrir que se deviam muito mais aos banqueiros, que não ao povo.
Agora, neste exato momento em que tudo isto já é História de Portugal, não estaremos nós à beira de mais uma “merdaleja” qualquer. Espero bem que não. Prefiro, minha querida amiga, os 35 porcento de impostos às Troikas sanguessugas e aos políticos moralistas do alto do seu conforto. Aos arautos da chegada do Diabo e de outras demonizações em tudo quer dizer o mesmo. Podem chamar-lhe recessão, crise, austeridade, banca rota, Diabo, Troika ou Maior Carga Fiscal de sempre.
Eu prefiro a última, pelo menos de momento consigo respirar, ainda não tenho direito a spa, sauna ou banhos turcos, mas giro os meus gastos sem me sacarem o dinheiro à cabeça. É evidente que preferia viver melhor ainda, não existe sobre isso a menor dúvida, mas entre o panorama atual e o que passei entre 2011 e 2015, não há que ter dúvidas ou hesitações.
Não penses, amiga, que estou a defender o PS, a Geringonça ou a Morte da Bezerra, em detrimento dos outros partidos democráticos. Nada seria mais errado e menos preciso. Estou a defender é a forma como agora nos continuam a esmifrar. Pelo menos, deste modo, eu tenho opção. Se não usar o carro, pago menos imposto, se não fumar também, se evitar as bebidas com açúcar igualmente, e podia continuar com os exemplos, contudo, o que importa é eu ter a ilusão de que posso realmente escolher se vou pagar ou não mais imposto. Este aparente alívio deixa-me feliz.
Viva a maior taxa fiscal de sempre. Sabes, infelizmente a História não dá entrevistas políticas no fim dos telejornais dos diferentes canais, senão todos nos lembraríamos de certas coincidências. Deixo-te um beijo de despedida, deste teu amigo que te adora, querida Berta,