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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta: Um Incêndio à Minha Porta - O Rescaldo

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Olá Berta,

Conforme te informei ontem houve um incêndio aqui perto de casa, a menos de 50 metros, num terceiro andar, como o meu, mas esse de águas-furtadas. Estive lá a falar com os comerciantes e alguns moradores, mas não existiam ainda algumas certezas no que se referia à segurança e estabilidade do prédio. Quando abandonei o lugar ainda se estavam a avaliar condições técnicas e de habitabilidade para o edifício e também para o funcionamento dos 2 espaços comerciais do rés-do-chão. Estou a falar do fogo que deflagrou na Rua Francisco Metrass no número 59, onde por baixo fica a Cervejaria Europa e a Farmácia Porfírio, aqui bem no centro da minha aldeia de Campo de Ourique.

Soube já, durante este último sábado, que a estrutura do prédio não foi afetada e que está tudo dentro das normas nas condutas de gás que abastecem os moradores, que era a situação mais preocupante. Devido a isso quer o Restaurante Cervejaria Europa quer a Farmácia Porfírio poderam laborar, todo o dia, dentro da normalidade e sem problemas de maior. O senhor Paulo, gerente do restaurante, foi quem teve mais trabalho, ainda na sexta-feira, pois passou o resto da tarde em limpezas devido a alguma fuligem que lhe entrou porta adentro e também à água suja que lhe deixou a esplanada num estado caótico. Contudo, tudo ficou resolvido e ao final do dia já sabia que poderia voltar a abrir portas este sábado.

No rescaldo do incêndio também consegui saber que os 4 feridos ligeiros já se encontram bem e que nunca estiveram em perigo, na generalidade, a inalação de fumo foi a causa das assistências hospitalares. Também soube que todos os que não puderam regressar a suas casas foram realojados ou pela autarquia ou junto de familiares. Ficará a faltar tratar da cobertura de todo o edifício antes da chegada do próximo inverno.

Infelizmente não consegui descobrir para onde foi o senhor Manuel (nome fictício que usei para falar do ancião na habitação de quem, por descuido, se iniciou o fogo). Esse senhor é a pessoa que mais me preocupa, não apenas devido à idade, que já ultrapassou as oito décadas, mas principalmente porque deve estar bastante afetado com a tragédia que agora vive. Por ser fim de semana não consegui saber nada na Junta de Freguesia, contudo, penso que não terá sido descurada a sua situação.

Espero que continues a passar um bom fim de semana e até amanhã cara Berta. Recebe um beijo de despedida deste saudoso amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Campo de Ourique: Um Incêndio à Porta de Casa...

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Olá Berta,

Ontem, à hora de almoço, quase às 13 e 30, tive o fogo a aquecer um início de tarde, já por si quente, embora arejado por uma brisa que se sentia na pele. Por outras palavras, um incêndio no terceiro andar, umas águas-furtadas, da minha rua, a Francisco Metrass. Por baixo, no rés-do-chão, ficam a Cervejaria Europa e, ao lado no mesmo prédio, a Farmácia Porfírio.

Relativamente à proximidade do edifício onde vivo distam uns 30 metros, mais coisa menos coisa, mas existe uma rua (a Almeida e Sousa) a separar-me do ocorrido. Foi perto, mas não demasiado próximo de mim. Não tendo o meu terceiro andar sido sequer penalizado pelo fumo intenso provocado pelo incêndio e, muito menos ainda, pelo trabalho dos Bombeiros Sapadores de Lisboa, coadjuvados pelos Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique.

A fotografia que te envio ilustra a minha perspetiva do local do incêndio e foi tirada já quase no final dos trabalhos a meio da tarde. Não me perguntes porquê, mas optei por não colocar imagens do incêndio propriamente dito. Não sei se é devido à proximidade e vizinhança, se por outro motivo que agora não discorro, mas poderás ver online, se tal te interessar, bastantes fotografias ilustrativas do fogo e até vários clips, com pequenos filmes, descrevendo o que se passou. Eu preferi só incluir a imagem que te envio.

Reconheço que, mesmo sendo jornalista, a cobertura de um evento que me é próximo me tira algum discernimento e lucidez, mas vou tentar dar-te uma ideia aproximada dos acontecimentos.

Pese embora o facto de saber o nome da pessoa residente no sótão onde o incêndio teve início, não pretendo aqui crucificá-lo, nem nada que se pareça, pelo que vou utilizar o nome fictício de Manuel.

O senhor Manuel é um ancião do bairro. Vive sozinho, nas águas-furtadas de um prédio sem elevador, que corresponde a um terceiro andar. A sua idade, que já ultrapassou as 80 primaveras dá-lhe o direito de se achar sabedor das coisas da vida e de rejeitar conselhos de vizinhos atrevidos e metediços na vida privada e alheia, com que nada tem a ver, muito menos a comentar.

Na realidade o senhor Manuel já fora advertido, vezes sem conta, pelos vizinhos do seu prédio e pelos outros do prédio das traseiras do edifício, que assar sardinhas ou fazer grelhados, na varanda oposta à fachada da casa, era perigoso e que um dia ainda causaria um problema qualquer. Contudo, pensava o nosso ancião, ele não estava xexé nem sequer para lá caminhava, sabia perfeitamente aquilo que fazia. O problema deste raciocínio é que os imponderáveis acontecem, independentemente da idade dos protagonistas, e muitas vezes sem nada ter a ver com a sua atenção ou falta dela relativamente ao que estão a fazer.

Foi o caso de ontem. O ancião desta narrativa, afastou-se por uns minutos do almoço que estava a grelhar na varanda, quiçá para ir ver se os acompanhamentos já estavam confecionados e o desastre aconteceu. Poderia ter acontecido a qualquer um, porém, para azar do senhor Manuel foi a ele que lhe calhou a fava.

O incêndio espalhou-se rapidamente e o discernimento do protagonista, aflito com a situação, não foi suficiente para que reagisse em tempo útil. Tanto que, quando foi retirado das águas-furtadas, quase meia hora mais tarde, ainda andava, no meio de um fumo imenso, à procura do telemóvel e da chave da entrada para fechar a porta antes de abandonar a habitação. Com algum esforço acabou por entender que a porta teria de se manter aberta para que os bombeiros pudessem atuar e foi conduzido, atordoado e confuso, à saída do prédio.

Foram quatro as vítimas de inalação de fumo e as duas águas-furtadas do edifício ficaram sem cobertura e com estragos avultados. Até o prédio vizinho, mais recente, foi afetado pela água utilizada para apagar o fogo. Também os andares imediatamente anteriores às habitações do topo se viram afetados pela água, como não poderia deixar de ser. Quando às 18 horas vim para casa para escrever esta carta, amiga Berta, ainda os homens da Companhia do Gás, tentavam aferir se as condutas do prédio teriam ou não sido afetadas pela tragédia. Não cheguei a saber o resultado.

Conforme já dei a entender a pronta atuação dos bombeiros do bairro e dos sapadores da capital impediu uma tragédia de maiores dimensões. Contudo, embora seja fácil colocar a culpa no senhor Manuel, eu acho que se trata apenas de um retrato menos bonito da situação social em que vivemos desde finais do século passado. Todos sabemos que por toda a cidade e pelo país fora temos anciãos a viver sozinhos em suas casas sem a mobilidade necessária e muitas vezes o discernimento requerido, para que situações trágicas possam ser evitadas.

Deveria existir algum mecanismo social que ajudasse a prevenir estas situações. Mas entre dever e haver vai muito mais do que a diferença dos verbos. Aliás, recordo-me que no prédio onde habito, já lá vão umas dezenas de anos, vivia um casal de reformados no rés-do-chão (e ainda hoje vivem). O homem estava ausente e a senhora resolveu ir ao mercado municipal, situado no início da rua, fazer uma pequena compra. Porém, esqueceu-se da comida do cão ao lume.

O incêndio que se gerou foi igualmente debelado, atempadamente, pelos mesmos corpos de bombeiros que atuaram hoje e também não houve consequências de maior a relatar, exceto na referida cozinha. Hoje o casal vive com uma neta, o que me deixa muito mais descansado, ainda mais porque a memória e o discernimento da senhora se têm vindo sempre a degradar.

O que eu quero dizer, amiga Berta, é que o caso de hoje não é, nem será proximamente único e excecional. Na mesma situação aflitiva estão centenas de anciãos no nosso querido Bairro de Campo de Ourique (já para não falar do país). Muitos deles sem a totalidade e plenitude das suas capacidades. Algum tipo de acompanhamento e aconselhamento deverá ser alargado, pois já existem algumas iniciativas neste sentido, por forma a se poder ajudar a prevenir futuras situações trágicas desnecessárias e que nalguns casos podem até mostrar-se fatais.

Quanto ao incêndio de hoje não me posso esquecer de deixar demonstrada a minha solidariedade para com a Cervejaria Europa e para com o seu gerente, o senhor Paulo, que não só perdeu hoje a receita dos 19 clientes, que a quando do incêndio se encontravam a almoçar, mas que, quando me vim embora, ainda não sabia se poderia voltar a usar o gás proximamente.

Hoje foram 400 euros perdidos num almoço que até estava a correr melhor do que o costume, para os tempos de pandemia que vivemos. Porém, no momento a situação para ele e funcionários ficou mais incerta e insegura. Os mesmos votos deixo à farmacêutica, a Doutora Graça, e a todos os funcionários da Farmácia Porfírio que hoje se viu obrigada a fechar portas. Que as coisas corram pelo melhor a ambos é o que desejo. Despeço-me com um beijo amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 9) O Seu a Seu Dono

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Olá Berta,

Hoje estou horrorizado com o que ouvi nas notícias, um padre americano de Rhode Island diz que “ao contrário do aborto a pedofilia não mata”. Em primeiro lugar, muitos pedófilos matam efetivamente as suas vítimas, em segundo lugar, a comparação para defender o não ao aborto é tão descabida e despropositada, que apetece perguntar ao reverendo Richard Bucci, o clérigo que a proferiu, o que é que ele acha que a pedofilia faz:

Será que, como dizia Raúl Solnado na sua paródia sobre a guerra, “não mata, mas desmoraliza muito”? Ou, em alternativa, será que o padre responderia que “o que não mata engorda”? Quando te digo, amiga Berta, que anda tudo louco é porque penso realmente que se perdeu o bom senso. Nos Estados Unidos da América, com o Presidente Donald Trump a dar o exemplo sobre onde consegue chegar a cretinice, talvez não seja para nos admirarmos de ouvir um vigário dizer o que disse.

Pior que tudo é o ar natural como o infeliz padre (para não usar uma expressão mais contundente) proferiu para as câmaras de televisão a afirmação. Falava com uma naturalidade como se estivesse a anunciar as recém-lançadas hóstias sem glúten, recentemente adotadas pela igreja católica e à disposição dos fiéis que as requisitam para a sua comunhão.

Às vezes penso que sou eu que já não consigo acompanhar os sinais do tempo. Mas depois recuo nessa ideia. O que se passa mesmo é que gente estúpida e cretina perdeu a vergonha de lançar bojardas para cima da mesa. Bolsonaro e Trump, entre muitos outros, iniciaram o jogo do vale tudo e quem se lixa continua a ser o mexilhão.

Bem, minha querida amiga, passemos às nossas quadras populares, sujeitas a mote, antes que eu fique com alguma alergia estranha e me julgue infetado, por algum vírus ainda desconhecido da humanidade.

 

Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 9) O Seu a Seu Dono (entre invejas e cobiças).

 

O Seu a Seu Dono

 

Porta-chaves, chaves porta,

No seu anel prateado,

A chave da minha porta,

Não serve na porta ao lado…

 

Gil Saraiva

 

E assim termino mais uma carta, não sem antes me despedir com um beijo saudoso, deste que não te esquece e muito estima,

Gil Saraiva

 

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