Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Fiquei muito contente em saber que apoias a minha forma de ver a educação dos mais novos. Tristemente para mim, quando escrevi estas confissões, nem todos os leitores concordaram com o que eu afirmei. Para muitos a lamparina aplicada a uma criança, já é, por si só, um ato de covarde violência. Não conseguem distinguir, nem encontrar a noção de meio termo, que te expliquei na carta anterior. São opiniões que temos de respeitar numa sociedade civilizada, embora discordemos tanto delas, como essas pessoas discordam das nossas. Adiante…
Conforme é natural as nossas confissões, se as formos fazer todas, não cabem, mesmo que queiramos, num mero capítulo de um livro qualquer. Todavia, existem factos que nos chamam mais a atenção do que outros. Depois existem as relutâncias que nutrimos quanto a esta ou aquela situação ou organização. É assim contigo, comigo e com todas as pessoas. Nisto somos todos iguais. O que parece variar são os objetos da nossa atenção.
Eu, por exemplo, tenho um problema com fardas. Não sei se foi por causa do meu coma de 6 meses em 1982, causado por culpa do serviço militar, então obrigatório, se não me falha a memória, se por uma outra razão qualquer, que possa estar escondida ou mesmo profundamente enterrada no meu subconsciente. Mas passemos às Confissões. Assim:
Memórias de Haragano: Confissões em Português – Parte XIV
“Uma outra confissão é a minha séria aversão à autoridade. Seja ela criada para manter a ordem pública, seja a mais elementar segurança privada de uma qualquer instituição ou empresa. Consigo juntar até os militares ao mesmo role. A tendência natural da humanidade para abusar dos pequenos poderes é de tal forma gritante que, em vez de me sentir seguro e protegido, perante a presença de uma qualquer autoridade, me sinto, na maioria das vezes, intimidado, receoso, ameaçado, inseguro e de uma forma geral incomodado na sua presença.
Reconheço, contudo, que o defeito possa ser meu. Compreendo inclusivamente a necessidade da existência das forças de manutenção da ordem pública. Mas, a impunidade dos verdadeiros bandidos, deixa-me sempre naquele circuito fechado de não saber se essas autoridades existem para intimidar os pacíficos ou para agir sobre os violentos. Parece sempre que não é apenas a paz, a segurança e a manutenção da ordem pública que os faz agir. Provavelmente este raciocínio não passa de uma paranoia minha.
Já nem falo da justiça dos tribunais que, no caso nacional, parece atuar, de forma gritante, ao serviço de poderes e forças ocultas, de interesses que ninguém conhece muito bem e que quem conhece é somente porque faz parte da mesma teia. Dessa invisível malha que aperta uns para poder garantir que não se fala dos outros, daqueles a quem eu chamo de: os protegidos.”
Minha querida Berta, como me espalhei nos considerandos iniciais fui obrigado a ser mais curto nas confissões. Contudo, não te preocupes, pois amanhã continuo o raciocínio de hoje com toda a certeza. Despeço-me com um beijo amigo,
Como diz a canção, estou a pensar em ti. Mais precisamente no facto de a nossa correspondência ter sido diária. Não te habitues mal. Haverá, certamente, dias em que nada terei para te dizer. Contudo, enquanto assim não for, continuarei esta minha missão de regular ligação postal informática. Deixa-me feliz saber que me lês e me entendes, minha amiga do coração.
Não sei se viste na televisão as imagens da manifestação das forças de segurança. Eu vi… e o que vi fez-me sentir o toque de vários e preocupantes alarmes. Estou de acordo e afirmo-o, para que não se pense o contrário, que as forças de segurança, sejam elas a PSP, a GNR ou os Guardiões dos Sanitários Públicos de Lisboa, precisam de mais atenção e que muitas das suas reivindicações são totalmente justas e urgentes.
Todavia, também são justas algumas das exigências dos professores, dos auxiliares de ação educativa, dos enfermeiros, dos médicos, do pessoal dos tribunais, dos condutores de pesados, começando pelos condutores de matérias perigosas, dos trabalhadores a recibo verde, dos pensionistas e reformados, dos lesados do BES e de todos os outros bancos, dos guardas prisionais, dos funcionários autárquicos, dos pescadores, dos mariscadores, dos jornalistas, dos vendedores de castanhas, das minorias, etc..
Ora, o problema, continua a ser o mesmo, ou seja, Portugal não tem dinheiro que chegue para tudo, nem mesmo para 10 porcento do que é justamente reclamado pelos diferentes ramos de atividades e pelas situações que constituem o país que somos e do qual, mesmo assim, nos continuamos a orgulhar muito. Eu, pelo menos, continuo.
Também sei que nós, os Lusitanos, que sempre acolhemos e nos misturamos com todos os povos que passaram pelo espaço geográfico que hoje ocupamos, somos um povo de brandos costumes e com uma enorme dificuldade de aprender com os erros da nossa história. Não penses que se trata de burrice, é mais uma questão de barriga. Sim, de barriga, algo genético que nos faz passar a vida a usá-la para empurrar para a frente todo e qualquer problema.
É por essa razão que não existe realmente um verdadeiro programa de reformas estruturais, seja qual for o governo que, num dado momento, esteja no poder. Pelo contrário, temos a mania e o vício (porque só pode ser vício) da política do desenrasca. Constituímos o povo mais desenrascado da Terra, quiçá do Universo. Porém, falta-nos visão estratégica e capacidade de perspetivar o futuro. Em termos de planearmos com a devida antecedência os próximos 10, 20 ou 50 anos, fazemo-lo na escala dos meses, mas sem atingir essa miragem absurda do número 50. Planeamos mais à dúzia, não sei se por pensarmos que é mais barato, se por não nos apetecer pensar demais.
Desculpa, minha querida, deixei-me levar pelos meus pensamentos e afinidades… já me estava a esquecer do que me levou a escrever esta carta: A manifestação frente à Assembleia da República das Forças de Segurança, com vista a alertar o Governo e toda a população para o seu justo caderno reivindicativo (quando digo justo apenas me refiro ao que se passa no umbigo das forças da ordem e no seio claro da sua perspetiva sobre o assunto).
Ora bem, quem viu as imagens televisivas (e estas são as que realmente importam, no que ao passar da mensagem diz respeito) já nem se lembra do que ali estavam a fazer as ditas forças de segurança. A ideia reivindicativa perdeu-se por completo. O que as pessoas não esqueceram foi a imagem dos manifestantes a ovacionar o deputado do Chega, André Ventura. O que todos se recordam é do discurso empolgado do mesmo, no palanque e ao microfone, levando ao êxtase apoteótico, e quase histérico, as forças de segurança. Só faltou mesmo ver os polícias (aqueles que faziam guarda às escadarias da Assembleia), a dançarem o vira ou o importado samba, ao som melodioso, carismático e oportunista da voz de André Ventura.
Claro que os organizadores da manifestação vieram logo dizer que Ventura foi o único deputado que "botou faladura", por ter sido o único que pediu para o fazer. Não explicaram foi o porquê de quase ter sido conduzido à tribuna ao colo de todos os presentes. Nem mesmo reconheceram o erro.
Quando falo de erro, sei bem ao que me refiro. A manifestação do André apagou por completo toda e qualquer reivindicação. O ajuntamento virou palanque do discurso distorcido do Chega e deu voz a um alegadamente perigoso megalómano.
Quando nessa noite fui jantar, a um restaurante do meu bairro lisboeta, logo na entrada, deparei-me com o diálogo entre 2 empregados de mesa. Eles não discutiam os problemas das forças da ordem, aquilo de que falavam era que Ventura, pode parecer radical, o que punham em dúvida, mas que até tinha muita razão em muitas das coisas que dissera. Berta, eu conheço os 2 jovens e sei que, nas últimas legislativas, ambos votaram PS. É alarmante a facilidade com que um comentador desportivo da CMTV, consegue, usando um discurso fácil e populista angariar simpatizantes em áreas que eu julgaria totalmente impensáveis.
Esta manhã, ouvi exatamente o mesmo discurso, entre dois velhotes, daqueles que dizem que isto precisava era de um novo Salazar, sem terem a noção da barbaridade que pronunciam, a louvar a manifestação de Ventura. Já nem falavam das forças de segurança.
Ora, ainda agora o homem se tornou deputado. Ou reagimos rapidamente ou as próximas eleições podem trazer graves e desagradáveis surpresas. Os alarmes já começaram a tocar. A minha dúvida é se haverá quem os escute.
Deixo-te um beijo de despedida, deste que não te esquece, saudosamente,