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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta: Campo de Ourique - 2019 em Revista - fevereiro

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Olá Berta,

Fico feliz por te ter agradado o primeiro mês do ano de 2019, em revista, no que concerne ao Bairro de Campo de Ourique. Hoje é dia de avançar com o senhor que se segue, ou seja, o curto mês de fevereiro, passado no meu bairro, com os destaques que, pelo menos para mim, são de realçar neste recanto de Portugal, onde batem corações unidos por um amor comum, que mais não é do que a paixão pelo bairro de Pessoa. Regressar a fevereiro de 2019 nesta freguesia, afinal, nada mais é do que continuar a fazer prova da vivacidade e vitalidade da mesma. Espero que esta revista do ano passado te continue a agradar.

Campo de Ourique em revista, fevereiro de 2019:

O dia 1 de fevereiro deu o alerta e o 2 de fevereiro levou o Bairro de Campo de Ourique até aos noticiários televisivos. O mau tempo, trazido pela tempestade Helena, fez abater uma parte da Rua 4 de Infantaria mesmo em frente do Jardim da Parada, tendo obrigado ao desvio das carreiras de autocarros e obrigado ao condicionamento da circulação automóvel. Elementos da Proteção Civil, da Polícia Municipal e a Junta de Freguesia estiveram no local a avaliar os estragos causados.

No dia 3 de fevereiro, minha querida amiga, o jazz regressou a Campo de Ourique, o Mercado manteve a sua promessa de, com entrada livre, nos proporcionar as sonoridades do “jam” e do “jazz” com o trio “Out of the Blue” a atuar entre as 18 e as 22 horas. Imperdíveis as “jam sessions” da banda.

Dia 4 foi a vez da Revista Evasões divulgar uma reportagem sobre a Pikikos – cut, care and coffee, uma loja, uma cafeteria e um cabeleireiro para crianças e adultos, acabadinha de inaugurar no Bairro de Campo de Ourique, um verdadeiro 3 em um, na Rua 4 de Infantaria no nº. 53, de que tu irias gostar bastante querida Berta.

“O Corvo” – sítio de Lisboa, uma publicação online sobre o que se vai passando pela urbe alfacinha, publicava, também a 4 de fevereiro, uma notícia denominada: “Há sinais contraditórios sobre o suposto regresso do tráfico de droga e da insegurança ao antigo Casal Ventoso”. No corpo da notícia eram sublinhadas as áreas em causa, que atualmente fazem parte integrante de Campo de Ourique, embora se encontrem na margem mais afastada do Bairro. São elas: a Quinta da Cabrinha, a Quinta do Loureiro e a Avenida de Ceuta Sul, que ainda abrangem, também, as Freguesias da Estrela e de Alcântara. Para uma leitura mais atenta recomendo, amiga Berta, que consultes a página: https://ocorvo.pt/ha-sinais-contraditorios-sobre-o-suposto-regresso-do-trafico-de-droga-e-da-inseguranca-ao-antigo-casal-ventoso/.

Também a 4 de fevereiro a Casa Fernando Pessoa deu lugar ao debate e leituras do Clube dos Poetas Vivos com a participação de Ana Paula Inácio entre as 19 e as 20 e 10.

Foi a 10 de fevereiro que as “jam sessions” da banda “Out of the Blue” nos voltaram a proporcionar mais 6 horas de música, no fim de tarde e noite, no Mercado de Campo de Ourique. O domingo ficou a ganhar com mais esta prestação das sonoridades do jazz, interpretadas pela cada vez mais experiente tríade de músicos.

A 15, 16 e 17 de fevereiro, no Mercado de Campo de Ourique, teve lugar a quarta edição do Mercado do Vinho, com música ao vivo, workshops e muitos tintos, brancos, rosés e espumantes para provar. Teria sido uma ótima altura para teres dado um salto até ao meu bairro, minha querida Berta. Na sexta-feira a banda “Groovelanders” fez as honras musicais a partir das 21 horas.

A 16, sábado, o almoço foi acompanhado pelas sonoridades de Joel Pinto, entre as 13 e 30 e as 15 e 30 e mais tarde, pelas 20 e 30, foi a vez de se fazer silêncio porque se cantou o fado, pela voz de Cristina Madeira.

Ainda no domingo, dia 17, a banda que tem por nome a música de Miles Davis “Out of the Blue”, e por filosofia a inspiração de uma fonte longínqua, mais propriamente o pensamento budista do filosofo e poeta japonês Daisaku Ikeda, trouxe o jazz e a música encheu o espaço entre as 18 e as 22 horas no muito ativo Mercado de Campo de Ourique.

No dia 18 de fevereiro, entre as 16 e 30, onde foi servido um chá, e as 19 horas, a exemplo do que já tinha acontecido no mês anterior e que escapou ao meu radar, foi dada continuidade na Fundação Maria Ultrich, no nº. 240 da Rua Silva Carvalho, à temática d’ “as idades da vida e o processo de desenvolvimento da Santidade”, com entrada livre. Este foi mais um encontro dos amigos e colaboradores da Fundação, com o tema a cargo da Drª. Deolinda Botelho.

Aconteceu no dia 19 na Mercearia do Campo, cuja morada na Rua Saraiva de Carvalho, já pertence à Freguesia da Estrela, mas que teima em afirmar-se um espaço do Bairro de Campo de Ourique e para isso criou o conceito “Mercearia -1” ( leia-se: menos um), criando um clube quase secreto no Bairro de Campo de Ourique, onde nos pudemos deliciar escutando, ao vivo, desde jazz a blues, passando pela Bossa Nova. A -1 encontra-se na cave da Mercearia do Campo, o concerto de dia 19 arrancou às 21 horas. Foi um tempo de Bossa Nova com Micheline Cardozo a dar a voz, o Maestro Luiz Antônio Gomes e o violinista do Seu Jorge, Júnior Mouriz. Lembrei-me de ti querida amiga, acho que terias apreciado muito toda a envolvência. Quanto ao dia 20 a sonoridade foi outra bem diferente, a cargo do BR DUO JAZZ.

A 20 de fevereiro o bairro foi bafejado pela sorte, com a presença do CNAP, Círculo Nacional de Arte e Poesia, na Biblioteca e Espaço Cultural Cinema Europa, com uma exposição coletiva de pintura de 12 artistas associados do círculo, denominada pelo patrocinador, a Junta de Freguesia de Campo de Ourique, de “Exposição de Artes Plásticas”. Quanto aos artistas representados pudemos ver obras de Adelaide Freitas, Catarina Semedo, Elmanu, Fernanda de Carvalho, Josefina Almeida, Luís Ferreira, Margarida Dias, Maria Rita Parada, Marisa Castro, Olímpia Campos, Teresa Filipe e Vitor Hugo.

A Sociedade Filarmónica Alunos de Apolo, fez no dia 23 e 24, uma incursão ao Pavilhão Desportivo do Complexo Desportivo Municipal Casal Vistoso, em Lisboa, a Sociedade tinha sob sua responsabilidade a organização da POC 2019 – WDSF World Open Latin, com as respetivas provas internacionais de Dança Desportiva, as quais foram integradas conjuntamente com a realização da vigésima edição do Portugal Open em Dança Desportiva. Foi um fim-de-semana recheado de boa-disposição e muito bom profissionalismo num evento apoiado pela Câmara Municipal de Lisboa, Instituto Português do Desporto e Juventude e pela Junta de Freguesia de Campo de Ourique. Na divulgação ainda esteve garantido o apoio total da Associação de Turismo de Lisboa.

Por sua vez o dia 24 de fevereiro, trouxe ao Mercado de Campo de Ourique, para a sua última atuação de fevereiro, a banda “Out of the Blue”, onde as sonoridades do jazz fizeram a transição perfeita entre o chegar do crepúsculo e a noite que se foi instalando, entre as 6 da tarde e as 10 da noite, como sempre, graças ao jazz e às as suas imperdíveis “jam sessions”.

O regresso das atuações da Mercearia -1 aconteceram a 26 e 27 de fevereiro, ambos os dias pelas 21 horas, no primeiro dia a atuação esteve sob a responsabilidade de Maestro Duo e no dia seguinte foi a vez da voz de Ana Moreira se fazer ouvir. A Mercearia -1 sugere ainda, para ambos os dias uma passagem pelo piso superior, onde é possível experimentar a nova carta assinada pelos chefs Maria José e Alberto Pranches. Seguindo para a cave, encontramos aquele que a Mercearia do Campo diz ser o único bar em Portugal a oferecer o conceito Johnnie Walkers Club, onde o cliente pode comprar uma garrafa de Johnnie Walker e guardá-la num armário no bar até acabar, sendo que apenas o próprio utilizador fica com a chave.

Foi a 27 de fevereiro que teve lugar na Casa Fernando Pessoa a Aula de Poesia Mundial onde Rosalía de Castro nos foi dada a conhecer por Ângela Fernandes. Se a minha amiga tivesse estado em Lisboa poderíamos ter ido os 2, pois sei bem quanto gostas de poesia. O evento teve início pelas 18 e 30 e terminou pelas 20 horas.

Este pequeno relambório constituiu, a meu ver, a principal atividade do Bairro de Campo de Ourique em fevereiro do ano passado. Amanhã será o dia de falarmos de março de 2019. Despeço-me com um beijo amigo,

Gil Saraiva

 

Os Reis da Rua

Os Reis da Rua

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Olá Berta,

 

Cá estou eu de novo a escrever. Deves estar curiosa com o que tenho para te dizer. O título desta carta, embora sugestivo, não dá muitas pistas. Os Reis da Rua, são, neste caso específico, os 3 supermercados que tenho por vizinhos. Com o decorrer do que tenho para contar vais entender porquê.

Moro, conforme sabes, já lá vão onze anos, na Rua Francisco Metrass, em Campo de Ourique. Embora tenha instalado vidros duplos em casa, para minimizar os sons vindos do exterior e controlar melhor a temperatura ambiente, o último andar de um prédio quase a celebrar o centenário, feito em taipa e sei lá mais o quê, não abafa por completo os aviões, cuja rota de chegadas e partidas do aeroporto de Lisboa, fica mesmo por cima do edifício. Durante o dia, uma pessoa já quase não dá por eles, embora passem mais de 250 por cima da minha futura careca. O restante burburinho da cidade ajuda a dispersar a atenção.

Todavia, durante a noite, entre a meia-noite e as 6 da manhã, há sempre mais de uma dúzia que fura a hora de silêncio, e, pelo enorme tamanho dos passarocos, são todos aviões intercontinentais, a coisa faz-se ouvir e bem. Por isso, convém conhecer esses horários e tentar adormecer entre dois voos. Contudo, nunca me posso deitar entre as duas e meia e as três e meia da manhã. A essa hora passa o camião do lixo, que produz um chiqueiro tal, durante os 20 minutos em que se faz ouvir, que chega a parecer que sou eu quem está a ser despejado num dos caixotes.

Efetivamente, moro numa das ruas mais frenéticas do bairro. Se reparares nas fotografias que te envio vais, certamente, entender porquê. Não é normal num pequeno troço de 25 metros, para cada lado do prédio onde vivo, ter oito estabelecimentos de restauração, 6 esplanadas, 500 vizinhos, 400 estudantes, e mais um infinito número de viaturas a tentar estacionar num local onde só há lugar para 50 carros, que teimam em ficar mais agarrados ao lugar que político ao poleiro.

Podes imaginar facilmente pelo relato que, sempre que alguém arruma um carro em frente a uma garagem ou na zona de cargas e descargas, ou que para em segunda fila, se gera o caos em termos de ruído. São as buzinadelas nervosas dos transportadores ou dos automóveis que querem seguir o seu caminho ou entrar na sua garagem, os gritos de quem já perdeu a paciência e um vizinho ou outro que, em desespero, atira um cinzeiro de mármore da sua janela para o meio da confusão. Não te rias, é um facto, tenho testemunhas, e já aconteceu em diversas e complicadas ocasiões. Até um morador já foi preso, por chamar palhaço a um polícia fardado, por nada fazer perante um camião a descarregar parado no meio da via. Ao que parece a autoridade acha ofensiva a profissão dos que nos tentam fazer rir com o seu comportamento.

Apesar de toda esta narrativa nada se compara à atitude dos Reis da Rua. Os três supermercados, Pingo Doce, Mini Preço e Go Natural do Continente que, com o consentimento disfarçado da Câmara Municipal de Lisboa, da Junta de Freguesia, da Polícia Municipal e da PSP, cuja esquadra se situa a menos de 500 metros deste local, fazem o que querem e bem entendem, às horas que bem lhes apetece.

Não sei se sabes, mas cargas e descargas de camiões de médio e pequeno porte, na cidade, só podem começar a ser efetuadas das 8 horas da manhã em diante. As diretivas são emanadas quer da própria regulamentação camarária para esse tipo de serviços, quer ainda das leis gerais e municipais no que ao ruído diz respeito. Afinal, os moradores urbanos também têm direito ao seu período de repouso, descanso ou sono. Parece-te certamente lógico e natural que assim seja. Pois é… isso acontece em muito lugar, mas não neste troço de rua. Aqui mandam os 3 Reis.

Entre as 5 e 20 e as 5 e 40 da madrugada, mais coisa menos coisa, chega o camião do pão biológico do supermercado Go Natural do Continente. Para no meio da rua, deixa o motor a trabalhar e durante 15 a 25 minutos descarrega carradas de pão biológico para dentro do supermercado. Finalmente parte. Se por acaso alguma viatura quiser passar, o sujeito rabuja para o outro condutor que tente passar por cima. Ora uma discussão a essa hora da manhã ecoa pela rua como se de uma manifestação de zangados arautos se tratasse.

Finalmente o Rei parte, não deixou mirra, mas pão, e eu sei bem onde é que sua majestade o devia meter, mas adiante. Logo de seguida chega o camião do Mini Preço, como um relógio suíço, sempre entre as 5 e meia e um quarto para as 6. O segundo Rei traz consigo as iguarias destinadas às prateleiras do estabelecimento. A era do incenso parece ter ficado esquecida nos tempos. Durante as descargas e as cargas dos produtos para o supermercado e das embalagens vazias de regresso ao camião, fazem-se ouvir os alarmes do supermercado que disparam, não sei muito bem porquê, talvez porque quem saiu no turno que fica a fazer reposições até depois da uma da manhã, não o deixou devidamente ligado.  Adiante… durante 30 a 45 minutos a música que nos chega a casa é a produzida pelos carrinhos metálicos de dois metros a percorrer a calçada dos passeios ou o velho asfalto da rua, acompanhada no baixo pela báscula do camião e na bateria pelas chapas a bater no asfalto. Se juntares isso aos efeitos sonoros do motor do veículo a trabalhar, tens uma boa ideia do som da orquestra.

Às 6 da manhã toca o alarme do Pingo Doce por mais de 5 minutos (às vezes mais do que uma vez) porque chegam os primeiros funcionários. Podes perguntar porque raio isso acontece todos os dias. Não sei minha querida, mas acho que algum supervisor deve morar perto e quer saber se o pessoal chega a horas sem ter de sair da cama. Parte o camião do Mini Preço e chega com o terceiro Rei, o transporte, o primeiro, do Pingo Doce, não traz ouro, que o vil metal está pela hora da morte, mas os produtos frescos para o consumo do dia por parte dos clientes e toda a história se repete. A narrativa é muito semelhante até às 8 da manhã. Depois continua pelo dia fora, mas já dentro do permitido pela lei. Contudo, se ligas para a PSP ou para a Polícia Municipal, ou levas com um intelectual que te diz que as cargas e descargas podem começar às 6 da manhã (o que é verdade para as grandes superfícies fora dos centros urbanos, mas não para a cidade), ou dizem que vão mandar um carro que só chega (e acontece sempre) depois do camião acabar o serviço. O conluio é tal que a placa das cargas e descargas não diz 8 da manhã, como devia dizer, mas 7 horas.

É evidente, como sempre, que todas estas minhas confissões continuam no campo do alegadamente. Longe de mim jurar a pés juntos que a Câmara Municipal, a Junta de Freguesia, a PSP e a Polícia Municipal, recebem qualquer suborno dos supermercados para se fazerem de cegos, surdos e mudos. Nada disso, são tudo meras coincidências, podes acreditar que sou eu quem o afirma. Até o facto de esta malta nunca ter sido multada e de não haver fiscalizações sabendo que isto se repete diariamente é mero produto do congestionamento de serviços destas entidades, até a ASAE tem o mesmo comportamento.

Para terminar ainda te conto que uma destas madrugadas, enchi-me de paciência e falei diretamente com a gerente do Mini Preço que estava na rua, mesmo ao lado do camião. Ela olhou para mim, depois para o condutor do transporte e fez-lhe um sinal apontando diversas vezes com o dedo para a sua cabeça, como que a dizer que eu não batia bem da bola. Não bato mesmo. Sabes Berta, um dia destes, quem ainda atira um cinzeiro sou eu, espero é estar com a pontaria afinada.

 

Beijo minha querida, este teu amigo sempre saudoso,

 

Gil Saraiva

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