Carta à Berta: Bolsonaro e o Combate à Droga
Olá Berta,
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro veio a publico dar os parabéns às suas autoridades pela apreensão de 2,2 toneladas de cocaína, numa ação que ocorreu a 270 quilómetros da costa, durante a inspeção a um veleiro em transito. A rota da embarcação comprovou que o destino da cocaína era a Europa.
Em declaração considerada entusiástica Bolsonaro declarou nas suas redes sociais: "Ou mudam de rota ou abandonam o crime". Segundo a imprensa brasileira a referência aos traficantes que enviam cocaína dos países sul americanos e que usam o Brasil como ponto de distribuição generalizado da droga serve de aviso aos bandidos de que o país está atento e pronto para os obrigar a mudar de estratégia, sob pena de ficarem sem a droga.
Segundo o site «noticias ao minuto»: “A apreensão aconteceu numa operação inédita realizada por autoridades do Brasil e com órgãos de combate ao tráfico internacional de drogas como o Centro de Análise e Operações Marítimo-Narcóticas (MAOC-N), organização internacional com sede em Lisboa, a Administração de Fiscalização de Drogas (DEA) ligada ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América e a Agência Nacional de Crimes do Reino Unido.”
Jair Bolsonaro, que nunca referiu na sua intervenção a cooperação internacional, deu apenas os parabéns à Polícia Federal, responsável pela operação, e fez referência à colaboração com a Marinha do Brasil. Aliás, ao comentar as imagens mostrando os 2.200 quilogramas de drogas, informava que esta era a maior apreensão de cocaína realizada neste ano.
O veleiro foi intercetado na segunda-feira por um navio de guerra, sendo os cinco tripulantes presos de imediato. A quantidade da carga apreendida só foi revelada nesta terça-feira, depois do navio ser escoltado até ao porto do Recife, local onde a cocaína foi pesada.
Por sua vez, o Ministério da Justiça brasileiro divulgou uma nota onde dava conta que as autoridades do Brasil fizeram durante 2020 a captura de quase cem toneladas de cocaína, um pouco abaixo do máximo em apreensões registado no ano de 2019 onde foi atingida a marca das cento e trinta toneladas. Mais uma vez, ficou omissa nesta divulgação a colaboração fundamental com o Centro de Análise e Operações Marítimo-Narcóticas, cuja sede se localiza em Lisboa, com o Departamento de Justiça americano e com a Agência Nacional de Crimes do Reino Unido.
Há ainda a referir que, na passada semana, a Polícia Federal conseguiu apanhar cerca de 500 quilos de cocaína ocultos numa aeronave particular cujo destino final era Portugal. Embora todas estas ações resultem da colaboração internacional, em caso algum o Governo de Bolsonaro faz referência a esse facto.
Nas redes sociais, corre o boato humorístico de que, alegadamente, a felicidade de Bolsonaro, com as apreensões de cocaína se deve ao facto de, assim, o referido presidente, poder ter o que consumir gratuitamente, durante os próximos tempos. Certamente que se trata de uma notícia falsa, embora venha sempre acompanhada de fotografias de Jair agarrado ao seu nariz.
Estes boatos mal-intencionados, minha querida Berta, penso que se devem ao facto de continuar a haver uma grande parte da sociedade brasileira descontente com a atual presidência. O aproveitamento das notícias de apreensão de drogas, sem o reconhecimento oficial da ajuda internacional e aproveitando o descontentamento externo que isso gera, leva uma parte da oposição a Jair Bolsonaro a especular sobre o alegado consumo de drogas por parte da presidência do Brasil. Coisa com a qual eu não pactuo. Dada que está a novidade, despeço-me por hoje, com um beijo saudoso,
Gil Saraiva