Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

Carta à Berta n.º 590: Algoritmos e as Notícias do Verão

Berta 590.jpg Olá Berta,

Hoje, por estes dias que vimos atravessando, existem quatro tipos de notícias. As primeiras, que nos chateiam porque somos impotentes para lhes pôr um fim, são as que se referem à invasão da Rússia à Ucrânia.

O país não deixou de ser solidário, amiga Berta, nem de estar do lado dos mais fracos, de apoiar os oprimidos e detestar os opressores, nada disso, o país está é farto de notícias miseráveis que exploram a guerra até ao tutano, uma guerra a que apenas podemos assistir de sofá.

Ouvimos dizer que a Europa está unida. O que une estes povos, contudo, minha querida, pouco tem a ver com solidariedade e muito deve à necessidade de manutenção dos níveis de vida de cada um dos países em si mesmos. É cínico? Muito. Mas é verdade. Tudo o resto é espetáculo mediático. No entanto, para as pessoas, a coisa tem elevados padrões solidários e é disso que todos os governos se aproveitam, embora ninguém o assuma publicamente, porque, no mínimo, seria egoísmo.

O segundo tema destes tempos quentes são as alterações climáticas, a seca, os fogos, o calor extremo. A comunicação social pela-se por colocar um bom bosque a arder na sua magnificência. Se aparecerem umas casas a arder e umas velhotas a chorar então, Berta, a cereja é colocada no topo do bolo. Até parece que lhes agrada a desgraça dos outros.

E nós, o povo, genuinamente solidário, engolimos todas as notícias sem sequer nos apercebermos que são exploradas até ao tutano, em prole de audiências ou de maiores tiragens de jornais nos pasquins deste nosso mundo.

O terceiro assunto envolve política. Este é, aliás, um tema, minha querida Berta, que dura todo o ano e que é algo de que todos estamos fartos, mas que afeta o nosso dia-a-dia. Sejam as tomadas de posição dos diferentes partidos políticos, sejam os atos dos dirigentes de outros países ou dos nossos, a comunicação social raramente informa sobre o que de bom acontece no mundo, mas vende facilmente a informação do que correu errado ou foi corrompido ou que possa vir a acabar de forma menos boa.

O quarto grande assunto estival é o desporto, nesta altura com imenso destaque para o futebol, com o mercado das transferências aberto e os clubes a formarem as equipas que apresentarão já em agosto próximo, minha amiga. Mas tudo sempre muito manipulado, cheirando a desgraça alheia, como se o povo a quem a comunicação social se dirige não estivesse já farto de desgraça em todo o lado.

Pois é Berta, a matemática de hoje é usada para estudar o que nos move e comove e nos faz consumir qualquer porcaria que nos queiram impingir. Claro que tem de vir devidamente embrulhada. Nós, infelizmente, aderimos ao processo calculado em computadores caros que acedem ao nosso modo de vida sem pedirem licença.

Um conjunto de coisas, mais ou menos abstratas para o cidadão comum, como matemática, estatísticas, rankings, algoritmos, padrões, comportamentos, psicologia emocional, probabilidades, perfis, e mais uma parafernália de ferramentas são interligadas e trabalhadas por forma a conseguirem, em última análise, influenciar o nosso comportamento, sem que nós mesmos demos conta de que estamos a ser manipulados por um produto ou algoritmo, traduzido em uma qualquer aplicação, publicidade, produto ou apresentação.

Ás vezes penso no que diriam as grandes mentes da história da humanidade, que viveram antes da revolução industrial se pudessem comentar o nosso quotidiano e atualidade. Tenho a certeza que de Platão a Camões e até a outros pensadores bem mais recentes, seriamos apelidados de idiotas ou de algo muito parecido com isso. Por isso, minha querida Berta, o meu conselho, antes de me despedir, é: antes de fazermos algo ou comprarmos algo, pensarmos se realmente isso ou aquilo nos interessam realmente ou se nos estamos apenas a deixar levar… fica com um beijo,

Gil Saraiva

 

 

 

 

Carta à Berta n.º 564: “Andam a tentar manipular, alegadamente, as próximas eleições legislativas de 2022.” - Parte II/III

Berta 564.jpgOlá Berta,

Aqui estou eu a escrever-te sobre o tema de ontem e passo de imediato à segunda parte do tema. “Andam a tentar manipular, alegadamente, as próximas eleições legislativas de 2022.” Voltando à vaca fria, eu falava na possível manipulação das sondagens por parte das empresas que as realizam.

Porém, se eu estiver correto, a lei que regula estas empresas terá que sofrer grandes alterações para impedir tais manipulações e para que se deixe de usar os eleitores portugueses como simples marionetes de um jogo de interesses. Importa pois voltar à última sondagem da Aximage, e tentar ver o que dizem.

Segundo esta gente o PS e o PSD encontram-se agora, no momento presente, numa situação de empate técnico (com 35,4% e 33,2% de votos respetivamente), dentro das balizas da margem de erro da própria sondagem (3,44%) o que significa que qualquer um dos partidos poderia, eventualmente, vir a ganhar as eleições.

Ora, eu acho que estão completamente enganados e que tal informação é passível de influenciar a reação dos votantes à direita, canalizando votos para o PSD. Nada do que aconteceu no último mês e meio justifica uma aproximação tal de dois partidos, que há tão pouco tempo estavam separados por 12% nas intenções de voto. Mais ainda, considero que as sondagens têm, de uma forma quase que generalizada, vindo a aproximar estes partidos, gradualmente ao longo destes 45 dias, para chegarem às vésperas da campanha eleitoral neste preciso patamar.

Mais grave ainda, acho que vários grupos de comunicação social estão, velada e alegadamente, a favorecer esta tendência. Entre eles estão aqueles que dominam a SIC, a TVI, a CMTV, Renascença, TSF, ou os jornais, Correio da Manhã, DN, JN, Expresso, Observador, I, etc., pela forma como vão encandeando notícias e sondagens.

Para mim, que sempre fui contra as teorias da conspiração, esta conclusão é avassaladora e extremamente irritante. Porém, tive recentemente uma pequena prova de que posso não estar enganado, e foi ela que me fez despertar o alarme.

Estou a falar do complô, da combinação concertada das televisões generalistas, que pretendiam deixar fora dos debates eleitorais o partido Livre, que elegeu um deputado nas últimas legislativas, da mesma forma que as sondagens também o excluíram da análise eleitoral. Foi preciso a reclamação do Livre para a Comissão Nacional de Eleições para esta vir repor a legitimidade democrática da presença deste partido nos debates televisivos.

Por hoje é tudo e na próxima carta, querida Berta, que ainda tentarei enviar hoje, espero terminar esta abordagem que me tem consumido o juízo. Despeço-me com o carinho usual, deixando um beijo saudoso, este teu eterno amigo de hoje e de sempre,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: A Ameaça do Chicão Queixinhas

Berta 435.jpg

Olá Berta,

Como não podia deixar de ser, com alguém que se dá a conhecer aos outros pelo nome de Chicão, aí vem o potencialmente perigoso Chicão ameaçar quem trabalha e tenta fazer o seu melhor. A situação só é suavizada pelo ridículo da situação. Com efeito, a ameaça traduz-se em fazer queixinhas. Ora fazer queixinhas é algo que não se mescla muito bem com o cognome Chicão.

Mas pronto, vamos aos factos, o Chicão Queixinhas fala em palhaçada (mais uma afronta grave de alguém que devia saber que os circos estão encerrados há um ano), quando se refere à última sondagem encomendada pela TSF, DN e JN à empresa profissional de sondagens Aximage. Sobre o assunto podemos ler as duras palavras de Chicão no Facebook:

“A Aximage decidiu antecipar o carnaval e começou hoje a ensaiar umas ‘palhaçadas’. Publicou uma sondagem de alfaiate, feita à medida de quem manda, na qual dá o PS a subir – apesar dos recentes escândalos – e o CDS, que os tem denunciado, a descer para os 0,3%”.

Ou seja, Francisco Rodrigo dos Santos, o “«pseudo-sanguinário» Chicão Queixinhas” e líder do CDS, ameaça fazer queixa da Aximage sobre a sondagem partidária, por esta efetuada, à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).

Mas o malfadado Chicão não se fica por aqui. Na sua douta verborreia de contra-ataque afirma:

 “Anunciar a morte do CDS-PP até pode ser um desporto que agrade a alguns (…) O problema é que as eleições nos Açores desmentiram essa morte e contrariaram todas as sondagens – a Aximage dava ao CDS, naquela altura, 1%”. Que segundo o mesmo contradiz a sondagem foi o facto de o CDS ter sido o terceiro partido mais votado nos Açores com 5,51%.

“Os erros repetidos sistematicamente contra o CDS deixam de ser apenas erros: são má fé ou incompetência”, proclama o Chicão Queixinhas que, na sua publicação, agride a Aximage, que pertence ao Grupo Bel, e lança ainda um feroz ataque à pessoa de José Almeida Ribeiro, que é quem assegura a direção técnica da referida empresa.

Ora eu compreendo que o Chicão Queixinhas esteja aos saltos por uma sondagem lhe reduzir o partido que “lidera”, se é que podemos chamar ao reinado do Chicão uma liderança, a uma expressão bem perto do zero.

Sou solidário com a contrariedade que uma revelação destas possa trazer aos sobreviventes centristas, o que não consigo entender são as ameaças à empresa de sondagens e aos seus colaboradores, coisa que nem, nas Américas, Donald Trump e Jair Bolsonaro se lembraram de fazer. É urgente que alguém explique ao Chicão Queixinhas a Democracia.

Assim sendo importa explicar ao Chicão Queixinhas não apenas como funcionam as instituições e os partidos democráticos, como o que é a liberdade de imprensa, e ainda o que significa a margem de erro apresentada na divulgação de sondagens pelas empresas do setor. Quiçá, com sorte, o grande Chicão Queixinhas conseguirá aprender alguma coisa com essa douta explicação, que urge realizar-se, quer para bem do próprio quer para o partido em si.

Por hoje termino esta carta com um beijo de até amanhã. Despede-se sempre saudoso este teu grande amigo, sempre pronto para o que for preciso,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 7) O Juiz

Berta 100.jpg

Olá Berta,

Não sei se tens acompanhado, minha amiga, a discussão sobre a eutanásia. Terminar com a vida de alguém é efetivamente uma coisa séria. Mas nós vivemos em democracia e demos o poder de legislar, nas urnas, aos nossos representantes.

Os deputados, por muito que alguns lhes invejem a vida, mesmo sendo obrigados a votar, até contra a sua própria vontade, por disciplina partidária, por mais que se descubram desonestos no seu seio, são quem escolhemos, dentro das regras democráticas que traçámos para o país. São eles que regulam e criam as normas legislativas do país e foi precisamente para essa tarefa que os elegemos.

É a eles, que incumbe a responsabilidade de decidir o que fazer quanto a cada tema, de acordo com as maiorias parlamentares que arranjem, para cada um dos assuntos em causa, durante os anos que ali estão em funções. Portanto, terão de ser eles a votar a eutanásia e a definir as regras da sua execução, quer isso signifique a aprovação ou o chumbo da lei, apenas eles e mais ninguém.

Não me parece justo é ir pôr em causa a vida ou a morte de alguém, baseada na minha opinião, cuja área principal é o jornalismo, na opinião da Igreja Católica, que impõe o celibato aos padres e descrimina as mulheres, ou do meu eletricista que só quer saber de curto-circuitos, de minis e de futebol.

Votar a adoção e legalização da eutanásia por referendo é que seria profundamente errado. Se não confiamos no sistema temos, pelo voto, a possibilidade de o mudar. Mas não me peçam a mim para tomar o lugar que não é o meu e ir votar em algo sobre o qual até sei alguma coisa, embora tendo a consciência de não saber o bastante para aceitar essa responsabilidade.

Desculpa o aparte, mas o assunto anda na ordem do dia e eu sinto-me incomodado com algumas das coisas que vou ouvindo e lendo. Quanto à temática da nossa carta, sobre quadras sujeitas a tema, escolheste-me para hoje algo ligado à justiça. Por via das dúvidas fiz 3 quadras.

 

Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 7) O Juiz.

 

O Juiz I

 

Se fores, em tribunal,

Injustamente acusado,

O juiz que te fez mal

Devia acabar culpado.

 

O Juiz II

 

Condenar, sem ter certeza,

Perdoar, por preconceito,

São critérios de tristeza

De juízes com defeito.

 

O Juiz III

 

Decidir, sem ter razão,

Num juiz é mais que asneira…

Se uma luva é para a mão,

Não se usa na carteira.

 

Gil Saraiva

 

Com estas 3 respostas me despeço, recebe um beijo amigo deste que nunca te esquece,

Gil Saraiva

Carta à Berta. Lisboa, Capital Verde Europeia 2020

lisboa-capital-verde-2020.jpg

Olá Berta,

Em 2004, um ano que já lá vai, perdido na memória da primeira década do século XXI, era eu editor e jornalista do boletim oficial “TerrAzul”, da Associação da Bandeira Azul da Europa, escrevi uma série de eco crónicas para o semanário Expresso. São elas a base de algumas reflexões que, passados estes anos, e já sem o fervor ambientalista de então, acho relevante analisar agora. Não me vou dedicar aos artigos em si, mas ao evoluir das problemáticas então apresentadas. Espero que te agrade.

A vida é uma teia complexa de eventos que interligam de forma, mais ou menos perfeita, factos, atitudes e comportamentos. No final do segundo milénio a preocupação com o ambiente era crescente e ganhava adeptos, mais ou menos ferrenhos, em quase todas as frentes. Nasceram os partidos ditos ecologistas, desenvolveram-se as associações ligadas à defesa do ambiente. As sementes estavam lançadas. Era agora necessário cuidá-las.

A sociedade civil e os senhores do poder em todo o mundo foram, aos poucos, cedendo à necessidade: Era imperativo tomar medidas! Finalmente, na Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento, que ficou conhecida como a Cimeira da Terra ou ECO92 ou RIO92, realizada no Rio de Janeiro em 1992, geram-se, entre outros, 2 documentos basilares: A Agenda 21 e a Agenda 21 Local.

 O conceito de “Desenvolvimento Sustentável” amplamente difundido na ECO92 possuía, por fim, amiga Berta, instrumentos e conceitos operacionais para uma aplicação eficaz e efetiva de políticas para ele direcionadas. Estavam inventadas as fórmulas de referência para a construção de um plano de ação a ser desenvolvido global, nacional e localmente, quer pelas organizações do sistema das Nações Unidas, quer pelos Governos e Autoridades Locais.

Mas onde? Onde aplicar semelhante plano? A resposta é por demais evidente, minha querida amiga: Em todas as áreas onde a atividade humana provoca impactos ambientais desfavoráveis.

É desde o RIO92 que quase duas centenas de países passam a considerar o “desenvolvimento sustentável” como elemento efetivo da sua estratégica política conjugando ambiente, economia e aspetos sociais.

A primeira Conferência das Partes (COP1 - Conferência das Partes designada também por Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) ocorreu em 1995 na cidade de Berlim e nela foi firmado o Mandato de Berlim, no qual os países do Anexo I assumiram maiores compromissos com a estabilização da concentração de GEE ( a Emissão de Gases com Efeito de Estufa), por meio de políticas e medidas ou de metas quantitativas de redução de emissões.

Um salto significativo foi dado depois pelo Protocolo de Quioto em 1997, onde uma série de metas ficaram definitivamente estabelecidas e acordadas. Já no atual milénio, em setembro de 2002, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo, reafirmou, inequivocamente, o imperativo de plena implementação da Agenda 21, entre outros documentos essenciais.

A Agenda 21, minha amiga, que se traduz na criação de objetivos e indicadores que possam aferir progressos e estabelecer metas a atingir para um desenvolvimento sustentável, tornou-se a ferramenta ideal para a aplicação de medidas e premeditação de objetivos no que ao ambiente dizia respeito.

Portugal (e é o nosso caso que nos importa mais diretamente, embora esteja globalmente inserido na estratégia mundial) tem, em termos de legislação ambiental, uma posição relevante na salvaguarda do Planeta. O nosso único problema é que parece que nos ficamos pelo papel, pela palavra escrita, pela promessa assinada.

As medidas tardam a ser implementadas e algumas das que florescem parecem temer ser coladas a adjetivos como “fundamentalista” ou “pseudo-qualquer-coisa”, mas nem tudo se perde e, aos poucos, lá vamos encontrando o traçado correto, pois temos os instrumentos para ir e chegar bem mais longe...

Começámos tão bem, nestes anos de definição de estratégias que temos de ir em frente, nem que seja… por um “desenvolvimento sustentável”.

Estes 2 últimos parágrafos servem para vermos como a passagem dos textos aos atos é enganadora. Portugal, que implementou entre 1992 e 2004 um excelente conjunto de medidas na legislação, passou os 15 anos seguintes a assobiar para o lado, a ver a banda passar. É certo que houve alguma evolução positiva, mas as centrais a carvão não deixaram de funcionar. As energias alternativas foram subsidiadas quase exclusivamente numa perspetiva muito mais económica do que sustentável e a meada ainda teria muito fio se lhe resolvêssemos pegar seriamente. Tudo correu de tal forma que, a dada altura, nós, que partimos na carruagem da frente da defesa do ambiente, perdemos literalmente o nosso lugar no comboio.

Apenas em 2019 a coisa voltou a ser importante para o país e a tomar uma relevância, muito por força de novos movimentos e partidos, pelas eleições legislativas, pelo Acordo de Paris em 2015, pelas COP seguintes e depois pela Cimeira do Clima em Madrid,  convocada pelo Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, para coincidir com a COP25 e dela tirar um proveito sustentável com a aprovação de novas medidas e metas a alcançar para o equilíbrio climático, envolvendo, praticamente, todos os países.

Infelizmente, Berta, graças à Austrália, Estados Unidos e Brasil, seguidos da Índia, China e Rússia, num patamar abaixo, tudo volta a ficar adiado, uma vez mais, para a COP26. O caso australiano, então, é perfeitamente surpreendente e absurdo, se tivermos em linha de conta que o estado de calamidade que o país atravessa é, quase na totalidade, devido aos incêndios, fruto das próprias alterações climáticas, que geram tempestades secas, repletas de raios, que vão gerando o caos, à medida que provocam incêndios, que alteram o comportamento dos ventos, que, que, que… numa reação em cadeia sem fim à vista.

Mais grave ainda é sabermos que estes 6 países são os produtores diretos de mais de 50 por cento das emissões produzidas no planeta, e que, por isso mesmo, são diretamente responsáveis pelo agravamento do problema, que continua sem solução à vista. Durante este ano resta-nos seguir com a União Europeia o caminho da Sustentabilidade. A UE resolveu continuar o seu trajeto, independentemente dos outros parceiros mundiais o fazerem ou não. É por causa disso que Lisboa é, a partir de ontem, a Capital Verde Europeia 2020, com obrigação de plantar, este ano, 20 mil árvores, entre outros objetivos.

Este, minha querida amiga, é o atual ponto de situação, esperemos que os anos 20, agora iniciados, sejam mais auspiciosos para todos nós. Despeço-me com um beijo saudoso, este teu amigo de sempre,

Gil Saraiva

 

Carta à Berta: Livre Resolvido, Chega sem Basta...

Berta 43.jpg

Olá Berta,

Cá estou eu de novo a “falar” contigo. Mesmo que não oiças os sons tenho a certeza que me consegues imaginar a articular as palavras e, se bem concentrada, quase que te parecerá estares a escutar o som do meu diálogo provido do entusiasmo do costume.

Como sabes, realizou-se ontem a Assembleia Geral do Livre, toda a comunicação social esperou ansiosamente por assistir à luta titânica entre os escassos elementos de um partido, que pouco mais tem que uma direção e um grupo de contacto. De um lado do ringue deveria estar o aguerrido e imenso líder do Livre, Rui Tavares, e, do outro, seria de esperar, de lenço da Guiné Bissau a prender-lhe os cabelos, à laia de pirata que roubou o protagonismo ao partido, a única deputada eleita pelo mesmo nas últimas eleições legislativas, Joacine Katar Moreira, pronta a pôr “knockout”, atirando palavras soltas, como se de lâminas ninja se tratassem, ao líder do partido.

No final, a montanha pariu um rato, pequeno, minúsculo, invisível mesmo. Tudo continua igual. Isto é, sem alterações, se nos esquecermos das feridas mortais que toda a história gerou. Há já quem diga que o partido é um quase nato morto que não sobrevive mais de 4 anos na incubadora da democracia com assento para lamentar. E lamentar muito, pois muito de bom se augurava ao líder, um homem arguto que levou a liberdade demasiado à letra.

Enquanto que, para os lados do Livre se vai assistindo a este Carnaval antecipado, nas bandas do PSD a luta interna faz esquecer a política nacional, um galo, um pinto e um frango da Guia disputam o poder. Se eu fosse de dar prognósticos diria que o animal com maior crista sairá vencedor.

Por falar em cristas, no seguimento da bancada, o CDS continua a descer a escada nas sondagens rumo à porta de saída do Parlamento, o PC e os Verdes ainda lambem as feridas da machadada eleitoral e esforçam-se por recuperar o controlo dos sindicatos que, por estes dias, parecem querer nascer independentes e livres do jugo vermelho, que nem cogumelos.

Ainda importa referir que o Bloco de Esquerda, distraidamente, serve de ama seca a Greta Tunberg e se preocupa com a política internacional ligada à COP 25 e à Emergência Climática, descorando a problemática nacional. Já o Iniciativa Liberal reorganiza a sua estrutura, face ao abandono do seu líder, depois das eleições. Por fim, o PAN ainda não deixou de se ver ao espelho depois de ter quadruplicado de tamanho, qual porco antes da matança.

O partido socialista, orgulhosamente sozinho no Governo, anda atarefadíssimo a tentar fazer passar o Orçamento de Estado para o ano de 2020, como quem não quer a coisa, enquanto a oposição anda ocupada.

Aproveitando tamanhas distrações as ervas daninhas prosperam e propagam-se. A levar em linha de conta o que dizem as sondagens o Chega cresce, diz que não basta e afinal quer mais. A acreditar nos especialistas, ultrapassou já as intenções de voto no CDS e continua de bola em campo, movendo um ataque consertado às balizas do poder.

Dando outra imagem: o Chega é como que um touro enraivecido, de cornos em riste, apontados à arena da democracia serena e pacífica de Portugal, a quem convém travar a investida, antes que este derrube e massacre os forcados distraídos, armados em deputados, em altura de pega brava.

Espero que esta carta te receba alegre e feliz. Despede-se este teu amigo de sempre, com um beijo,

Gil Saraiva

Carta à Berta: A Primeira Manifestação de André Ventura

A Manifestação de André Ventura.jpg

Olá Berta,

Como diz a canção, estou a pensar em ti. Mais precisamente no facto de a nossa correspondência ter sido diária. Não te habitues mal. Haverá, certamente, dias em que nada terei para te dizer. Contudo, enquanto assim não for, continuarei esta minha missão de regular ligação postal informática. Deixa-me feliz saber que me lês e me entendes, minha amiga do coração.

Não sei se viste na televisão as imagens da manifestação das forças de segurança. Eu vi… e o que vi fez-me sentir o toque de vários e preocupantes alarmes. Estou de acordo e afirmo-o, para que não se pense o contrário, que as forças de segurança, sejam elas a PSP, a GNR ou os Guardiões dos Sanitários Públicos de Lisboa, precisam de mais atenção e que muitas das suas reivindicações são totalmente justas e urgentes.

Todavia, também são justas algumas das exigências dos professores, dos auxiliares de ação educativa, dos enfermeiros, dos médicos, do pessoal dos tribunais, dos condutores de pesados, começando pelos condutores de matérias perigosas, dos trabalhadores a recibo verde, dos pensionistas e reformados, dos lesados do BES e de todos os outros bancos, dos guardas prisionais, dos funcionários autárquicos, dos pescadores, dos mariscadores, dos jornalistas, dos vendedores de castanhas, das minorias, etc..

Ora, o problema, continua a ser o mesmo, ou seja, Portugal não tem dinheiro que chegue para tudo, nem mesmo para 10 porcento do que é justamente reclamado pelos diferentes ramos de atividades e pelas situações que constituem o país que somos e do qual, mesmo assim, nos continuamos a orgulhar muito. Eu, pelo menos, continuo.

Também sei que nós, os Lusitanos, que sempre acolhemos e nos misturamos com todos os povos que passaram pelo espaço geográfico que hoje ocupamos, somos um povo de brandos costumes e com uma enorme dificuldade de aprender com os erros da nossa história. Não penses que se trata de burrice, é mais uma questão de barriga. Sim, de barriga, algo genético que nos faz passar a vida a usá-la para empurrar para a frente todo e qualquer problema.

É por essa razão que não existe realmente um verdadeiro programa de reformas estruturais, seja qual for o governo que, num dado momento, esteja no poder. Pelo contrário, temos a mania e o vício (porque só pode ser vício) da política do desenrasca. Constituímos o povo mais desenrascado da Terra, quiçá do Universo. Porém, falta-nos visão estratégica e capacidade de perspetivar o futuro. Em termos de planearmos com a devida antecedência os próximos 10, 20 ou 50 anos, fazemo-lo na escala dos meses, mas sem atingir essa miragem absurda do número 50. Planeamos mais à dúzia, não sei se por pensarmos que é mais barato, se por não nos apetecer pensar demais.

Desculpa, minha querida, deixei-me levar pelos meus pensamentos e afinidades… já me estava a esquecer do que me levou a escrever esta carta: A manifestação frente à Assembleia da República das Forças de Segurança, com vista a alertar o Governo e toda a população para o seu justo caderno reivindicativo (quando digo justo apenas me refiro ao que se passa no umbigo das forças da ordem e no seio claro da sua perspetiva sobre o assunto).

Ora bem, quem viu as imagens televisivas (e estas são as que realmente importam, no que ao passar da mensagem diz respeito) já nem se lembra do que ali estavam a fazer as ditas forças de segurança. A ideia reivindicativa perdeu-se por completo. O que as pessoas não esqueceram foi a imagem dos manifestantes a ovacionar o deputado do Chega, André Ventura. O que todos se recordam é do discurso empolgado do mesmo, no palanque e ao microfone, levando ao êxtase apoteótico, e quase histérico, as forças de segurança. Só faltou mesmo ver os polícias (aqueles que faziam guarda às escadarias da Assembleia), a dançarem o vira ou o importado samba, ao som melodioso, carismático e oportunista da voz de André Ventura.

Claro que os organizadores da manifestação vieram logo dizer que Ventura foi o único deputado que "botou faladura", por ter sido o único que pediu para o fazer. Não explicaram foi o porquê de quase ter sido conduzido à tribuna ao colo de todos os presentes. Nem mesmo reconheceram o erro.

Quando falo de erro, sei bem ao que me refiro. A manifestação do André apagou por completo toda e qualquer reivindicação. O ajuntamento virou palanque do discurso distorcido do Chega e deu voz a um alegadamente perigoso megalómano.

Quando nessa noite fui jantar, a um restaurante do meu bairro lisboeta, logo na entrada, deparei-me com o diálogo entre 2 empregados de mesa. Eles não discutiam os problemas das forças da ordem, aquilo de que falavam era que Ventura, pode parecer radical, o que punham em dúvida, mas que até tinha muita razão em muitas das coisas que dissera. Berta, eu conheço os 2 jovens e sei que, nas últimas legislativas, ambos votaram PS. É alarmante a facilidade com que um comentador desportivo da CMTV, consegue, usando um discurso fácil e populista angariar simpatizantes em áreas que eu julgaria totalmente impensáveis.

Esta manhã, ouvi exatamente o mesmo discurso, entre dois velhotes, daqueles que dizem que isto precisava era de um novo Salazar, sem terem a noção da barbaridade que pronunciam, a louvar a manifestação de Ventura. Já nem falavam das forças de segurança.

Ora, ainda agora o homem se tornou deputado. Ou reagimos rapidamente ou as próximas eleições podem trazer graves e desagradáveis surpresas. Os alarmes já começaram a tocar. A minha dúvida é se haverá quem os escute.

Deixo-te um beijo de despedida, deste que não te esquece, saudosamente,

Gil Saraiva

Mais sobre mim

foto do autor

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em destaque no SAPO Blogs
pub