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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta n.º 619: O Metro no Jardim da Parada - Parte V/VI

Berta 619.jpg  (Jardim da Parada, fotografia de autor, todos os direitos revervados)   

Olá Berta,

Na sequência da última carta que te escrevi convém referir que, conforme te prometi, há mais gente a apoiar o Movimento “Salvar o Jardim da Parada”, aliás é o que poderás ler nesta Carta à Berta: O Metro de Campo de Ourique – Parte V/VI. Sim, porque não é só a Quercus que se manifesta no apoio ao Movimento, Bertinha, a Associação Portuguesa dos Arquitetos Paisagistas (APAP) refere na sua Carta Aberta do Presidente da APAP ao Presidente da Câmara Municipal de Lisboa sobre o Projeto do Prolongamento da linha Vermelha-Sul do Metropolitano de Lisboa EPE num excerto que repetimos:

“… nos projetos do Metropolitano de Lisboa, as avaliações ambientais quando se trata da afetação de Jardins e Parques públicos, são feitas com o aligeirar de alguns impactes, fazendo sobressair … alguns descritores, explicitamente branqueados, em lugar de uma visão integrada do conjunto... é fundamental esclarecer à partida que estamos perante uma unidade de paisagem, constituída pelo perímetro do Jardim Teófilo Braga (Jardim da Parada), e não somente pelos 3 (três) exemplares arbóreos classificados de interesse público no interior do jardim… as dimensões do Jardim Teófilo Braga são reduzidas, equivalentes à superfície dos quarteirões envolventes do bairro… assinalando o jardim como o coração do bairro, que palpita de vida até hoje… atualmente, o que lá está, encontra-se protegido pelo passeio periférico acompanhado por uma cintura de Lódãos, assegurando o equilíbrio de uma natureza estável e madura. A paisagem do jardim possibilita singulares condições de conforto, atraindo pessoas e animais, sob copas de várias espessuras e tonalidades, que escondem vivências de muitas gerações. Neste ambiente romântico e preservado, encontramos o lago com água corrente, o coreto, os sanitários, a paragem de carros de praça, a esplanada, o jardim infantil e ao lado a premonitória estátua da Maria da Fonte. O conjunto do jardim resulta de uma escala própria, e da agregação ordenada das várias peças, num corpo uno. Tocar num membro ou num sector e o corpo ficará definitivamente destruído. Acontece assim nas coisas vivas e belas, quase perfeitas. Por isto, é de estranhar a naturalidade, com que o estudo e os especialistas complacentemente referem, a simples afetação de uma parte do jardim com a construção – veja-se bem, do poço da estação, dos elevadores, das escadas de emergência, e das grelhas de ventilação como é referido no EIA, como se tudo fosse recuperável ou reposicionável através da obra, escamoteando a destruição sumária e planeada do Jardim.

E para o fazer, é preciso também lembrar os profundos e irreversíveis impactos que a obra irá produzir durante a fase de estaleiro aberto, num tecido de enorme sensibilidade, ao ruído, às poeiras, e às vibrações, aos veículos pesados, independentemente das atenuantes técnicas previstas, não somente nos exemplares vegetais classificados, mas na globalidade da vegetação do jardim… não temos dúvida que a magnitude da obra face à escala do bairro e ao tipo de vivência do sítio, redunda numa brutal e cega ação, recaindo também sobre o edificado, das casas, das habitações e lojas, com o sacrifício do comércio não somente na orla do jardim, mas em grande parte do bairro. Nada disto é compensável com indemnizações, porque se trata de afetações irreversíveis, sem preço.

Num ato proativo de cidadania, o movimento criado por vizinhos e cidadãos, perante a notícia do traçado da linha, veio desde o primeiro momento apontar entre outras, a alternativa que dista 300 metros do ponto previsto, para localização da futura estação. Trata-se de um sector em talude ligeiro, entre a Igreja do Santo Condestável e a Rua Saraiva de Carvalho, o qual nos parece constituir uma alternativa racional, talvez a única, face às contingências observadas. Este local, apresenta clara aptidão, relativamente aos danos ambientais e paisagísticos, com profundas afetações sociais e urbanísticas que a variante atualmente em curso evidencia sobre o Jardim da Parada. Curiosamente este ponto, segundo o estudo do Metropolitano de Lisboa, já tinha sido avaliado pelos técnicos. Pelos vistos prevalece ainda, bizarramente, o Jardim como centro da obra. Esta alternativa, dispõe de boas acessibilidades, franca disponibilidade de espaço para construção das infraestruturas necessárias, área de operação de estaleiro facilitada, com reserva de distância às frentes construídas, diminuta presença de elementos vegetais de grande porte, proximidade com o terminal dos Prazeres da linha 25 e 28, disponibilidade de estacionamento rodoviário subterrâneo e à superfície, fatores que entre outros, justificam à partida que esta alternativa, entre em análise técnica, como peça de referência, no prolongamento da linha vermelha. No entanto o parecer da comissão de avaliação, do EIA, mantém os pressupostos sobre o estudo prévio da variante, sem qualquer menção à possibilidade de revisão daquele, o que nos faz pensar na intenção deliberada de evitar reavaliar ao nível do projeto novas propostas, deitando por terra a real utilidade da auscultação pública, dos debates com os cidadãos e do direito ao contraditório…” (APAP).

Mas os apoios não terminam por aqui. Quem desejar pode ler o que diz sobre o assunto a “Plataforma da Defesa das Árvores”, de fácil consulta na internet com o seguinte link a seguir: https://somosarvores.blogspot.com/2022/06/nao-aceitamos-que-se-destrua-um-jardim.html?m=1&fbclid=IwAR2f2UJSF1_VXLMdYB9NXfpCD__dqrJn-IHFBraT42jaCtR-KyFTEJU-wNE. Posso afirmar que se trata de mais um parecer positivo para a causa do Movimento, minha amiga. A lista de apoios é longa e bem fundamentada.

E o que dizer, por exemplo, da entrevista prestada no programa Contracorrente, na Rádio Observador, no dia 19 deste mês, pelo Ex-Vereador da Mobilidade, saído em 2013 da Câmara, Fernando Nunes da Silva da qual retirei o seguinte excerto, minha cara:

“- … a Obra vai destruir o Jardim da Parada. Vai mesmo! Basta ver que todas as estações de metro de Lisboa, onde antes haviam árvores, desde Entrecampos ao Areeiro, nenhuma árvore resistiu, passados alguns anos. Nenhuma! Vir dizer que agora vai ser diferente é atirar poeira para os olhos das pessoas. A estação do Jardim da Parada vai ficar a mais de 30 metros de profundidade, portanto, idêntica à do Chiado, desde o tempo em que eu era vereador. A manutenção da escada rolante e do elevador vão ser o mesmo caos, quer na Estrela, quer em Campo de Ourique, se não se parar com esta aberração. E obviamente, com aquela dimensão de escadas e volume de pessoas previsto, é óbvio que aquilo vai ter problemas de manutenção sérios… tem de se resolver isto de outra forma, evitando aquele tipo de situação…”

Com efeito, Berta, o movimento “Salvar o Jardim da Parada” não tem falta de apoios de associações e de pessoas coerentes e conhecedoras dos perigos em causa (de todo o espetro partidário e não só), tem é a necessidade imperativa de impedir um futuro e grave disparate. Ninguém do Movimento espera tirar com isto outras mais valias que não a de conseguir levar de vencida o Metropolitano Acéfalo. Nem um só elemento procura fama, lugar na política ou protagonismo. Todos desejam, unicamente, continuar as suas vidas como até aqui, mantendo o Jardim da Parada intocável.

Entretanto relembro aos que lerem esta Carta à Berta que, por favor, não deixem mesmo de assinar a petição pública que circula na internet. O processo é muito simples, vá a salvarojardimdaparada.pt/peticao, e depois façam logo a confirmação da vossa assinatura (no respetivo email de cada um), assim que a petição vos enviar a mensagem de confirmação.

Já só faltam 280 assinaturas, estamos quase lá, um terço ou próximo da população da freguesia de Campo de Ourique já assinou. Passe a mensagem aos seus familiares e amigos. Precisamos de todos aqueles que vivem ou já viveram no bairro, dos que aqui trabalham ou trabalharam ou dos que nos visitam, para levar a bom porto esta missão.  Despeço-me com um beijo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta nº. 339: Os Novos 4 Cavaleiros do Apocalipse - Morte - V/VI

Berta 339.jpg Olá Berta,

Esta é a quinta carta que te escrevo sobre os 4 Cavaleiros do Apocalipse. Desta vez para te falar do cavaleiro do cavalo preto, o último dos 4, cuja força reside na forte união que partilha com os outros 3, a Morte. Não é comum, nos dias que correm ouvirmos a palavra. Com efeito, cara confidente, a comunicação social, tem vindo a aprimorar a forma gentil como fala de Morte, principalmente da Morte de seres humanos.

Em situação de Guerra não nos comunicam o número de Mortos, nada disso, falam do número de Baixas, no caso da Fome escutamos a palavra Óbitos, para a Peste, por seu turno, a escolha recair sobre o termo Vítimas. E mesmo quando falam especificamente dos Mortos a palavra é substituída por Falecimentos ou Falecidos. O ridículo, amiguinha, é quando substituem a frase “aqueles que já morreram” pela simpática expressão “aqueles que nos deixaram”.

Os sinónimos são tantos que nos parecem realidades paralelas que nos fazem esquecer a Morte. Falam de Desaparecidos, de Massacrados, de Abatidos, de Trucidados, de Chacinados, de Sacrificados, de Extintos, de Fuzilados, de Finados, de fatalmente Atingidos e Alvejados ou, ainda os Baleados. Relatam os Assassinados, os Martirizados, os Cadáveres e os Corpos, mas, minha cara, evitam os Mortos.

Quando o Rei faz anos, e quando já não dá mesmo para esconder, lá aparece a Morte, os Mortos e a Mortandade, mas é raro, muito raro. Todos os termos são bons para transformar a Morte em algo que parece menos grave do que a verdadeira realidade. Efetivamente, minha querida, é mais fácil ouvir falar em velar o Defunto do que o Morto, como se este pudesse ficar ofendido pelo uso do termo e, quiçá, virar Alma Penada.

A realidade, cara amiga, não precisa de tantos floreados, todos sabemos, desde muito cedo, que o avô não Partiu, mas que Morreu. Para Morrer, aliás, já diz o povo, basta estar vivo. É algo que faz parte da condição humana, das especificidades de todos os seres vivos.

É conhecida a lenda da fonte da juventude, o desejo profundo de enganar a Morte, ficando para sempre jovem e saudável, mas mesmo que a fábula, como por milagre, se tornasse realidade, Bertinha, mesmo assim, a Morte podia acontecer acidentalmente, por muito que fossemos jovens e saudáveis.

Não há como enganar o Derradeiro Destino, chamado Morte. Ele vai vir, vai chegar e vai acontecer, quer queiramos quer não. Pode estar na moda tentar disfarçar a dureza dos factos e da vida, podem existir mil termos para não falar de Morte, mas não é por isso que ela deixa de existir. Por hoje é tudo, Berta, voltarei, para o epílogo final um destes dias. Beijo deste teu amigo de sempre,

Gil Saraiva

 

 

 

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