Carta à Berta n.º 618: O Metro no Jardim da Parada - Parte IV/VI
(Jardim da Parada, fotografia de autor, todos os direitos revervados)
Olá Berta,
Chegam-me aos ouvidos, minha querida, recorrentemente, que esta malta a favor da petição “Salvar o Jardim da Parada” é um bando de velhas (umas vezes com a palavra Restelo, outras sem, junto à frase) que passa a vida a contestar por tudo e por nada e que, porque estão reformadas, já não precisam de metro e que só têm por motivo fazer parar o progresso. É com este rumor que inicio esta Carta à Berta: O Metro no Jardim da Parada – Parte IV/VI. Um bando de velhas?
Àqueles que defendem o Metro no Jardim, querida amiga, o mínimo que lhes podemos exigir é respeito. Faltas de respeito são coisas próprias de garotos, cuja educação dada pelos progenitores foi profícua em lacunas, e não de gente adulta que defende que o Jardim da Parada tem de sofrer com o avanço da mobilidade urbana em Lisboa.
Mesmo que fosse verdade, que não é, que apenas certas senhoras em idade de reforma, sem apelo pelo progresso e sem nada mais que fazer, fossem o cerne do Movimento “Salvar o Jardim da Parada” isso não daria, em caso algum, o direito aos seus opositores de as classificarem de bando, como se de malfeitores se tratassem, Bertinha.
Afinal, os mais idosos são a voz da experiência de um povo e, por isso mesmo, é-lhes devido um trato com educação e muito respeito. Um bando de velhas? Essa agora!
Todavia, minha cara, o Movimento tem gente de todas as idades e de ambos os sexos. Aliás, faz tanto sentido aqui o género como afirmar que o grupo de homens que joga à sueca no Jardim da Parada são um bando de velhos que jogam forte a dinheiro, a coberto do assobio para o lado da Junta de Freguesia.
Se é verdade que existem mesas de sueca ali onde se aposta forte e feio, isso não quer dizer que são todos idosos, nem que todos apostam, nem que a Junta de Freguesia assobie para o lado. É sim, algo que sempre acontece aqui ou ali, quando grupos de jogadores de cartas se reúnem para jogar, seja onde for. Ora, minha querida, tomar a parte pelo todo e faltar aos respeito a todos os envolvidos rotulando-os de isto ou daquilo, só porque não nos agradam certos procedimentos de alguns, é profundamente injusto.
Bando de velhas, é depreciativo, machista e deplorável. Mas porquê esta classificação tão decrépita dos elementos do Movimento? Porque, ao contrário do que é normal, este é um movimento genuinamente popular e espontâneo. O rosto do Movimento é uma jovem senhora que tenta, com todas as suas forças, representar o melhor que sabe e pode, todos os rostos deste grupo de pessoas que, independentemente das suas preferências partidárias, amiguinha, se uniram em torno de uma causa. Su não está aqui para se autopromover, é apenas a face simpática de um grupo já muito grande de residentes.
Com efeito, mais de 7.000 pessoas já se juntaram ao Movimento através da assinatura da petição “Salvar o Jardim da Parada”. Para ser mais preciso já são 7.160. Ora, doce amiga, algo assim acontecer num bairro com pouco mais de 22.000 eleitores é mais do que uma lança em África, é um feito de inigualável valentia, tão própria de um bairro que ostenta a estátua da Maria da Fonte e donde a revolução de abril partiu para nos abrir as portas da liberdade.
Mais uma vez, Berta, tudo começa num movimento popular, pela defesa do Jardim da Parada, um património que é um bem insubstituível de todo um bairro, no centro de Lisboa, o Bairro de Campo de Ourique. Aliás, 7.160 assinaturas, são mais do dobro do que os votos obtidos por Pedro Costa com que este ganhou a Junta de Freguesia de Campo de Ourique nas últimas eleições autárquicas, eleito, de facto, com apenas 3.500 votos.
Também há quem diga, mesmo assim, que o Movimento “Salvar o Jardim da Parada” não sabe bem o que quer e que a sua luta não tem pés nem cabeça. Se esta carta fosse como o Polígrafo da SIC, impunha-se saber ao certo se assim é. Ao fim ao cabo, quem defende a luta deste Movimento? Haverá gente credível a apoiar a tremenda batalha contra os poderes instituídos e contra o Metropolitano de Lisboa, que nem acesso aos estudos realizados para o prolongamento da linha vermelha dá aos afetados pela obra? Nestas coisas a verdade é sempre muito importante, cara amiga.
Desde logo, minha querida, o parecer da Quercus é bem demostrativo das razões do Movimento, de que é prova o seguinte excerto:
“… a construção da estação de Campo de Ourique, prevista para se situar a 31 metros sob o Jardim Teófilo Braga (Jardim da Parada), jardim histórico da cidade e dos poucos espaços verdes de Campo de Ourique, que, para além de um rico património arbóreo (cerca de 100 árvores, entre elas várias Ginko biloba, uma grevília de grande porte – a abater-, lódãos-bastardos, palmeiras das Canária, etc.), possui árvores classificadas de Interesse Público (2 metrosíderos, 1 cipreste mexicano, 1 sequoia). A construção nos termos previstos implicaria o abate de pelo menos treze árvores do lado da Rua Infantaria 16, alteraria as condições edáficas do solo e colocaria assim em risco diretamente uma das árvores classificadas, e indiretamente, todas as outras árvores existentes neste jardim, incluindo as demais classificadas. A construção desta estação, até pela implantação do poço de ataque, é totalmente incompatível com o desenvolvimento radicular das árvores de grande porte e conduzirá à destruição do mesmo. Não é sequer compreensível ou aceitável esta proposta porquanto existem alternativas viáveis, nomeadamente o Largo Afonso do Paço, a travessa de cima dos quarteis, ou a área fronteira á Igreja de Santo Condestável…” (Quercus - Contributo para a Consulta Pública - Parecer à Expansão da Linha Vermelha do Metropolitano de Lisboa).
Na próxima carta, a quinta de seis, continuarei, saudosa amiga, a dar-te mais alguns exemplos e declarações de associações e pessoas que concordam com este movimento porque, afinal, o que é preciso é mesmo: “Salvar o Jardim da Parada”. Entretanto relembro a todos os que lerem esta Carta à Berta que, por favor, não deixem mesmo de assinar a petição pública que circula na internet é simples, é só irem a salvarojardimdaparada.pt/peticao, e depois fazem a confirmação da assinatura no vosso email quando a petição vos enviar a mensagem de confirmação. Já só faltam 340 assinaturas, estamos quase lá, um terço ou quase da população da freguesia de Campo de Ourique já assinou. Despeço-me com um beijo saudoso,
Gil Saraiva