Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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(discurso de Passos Coelho sobre o candidato do PSD à Câmara de Loures, nomeadamente o Sr. Dr. André Ventura)
Olá Berta,
Continuando a minha narrativa sobre o suposto perigo do crescimento do partido de André Ventura, que devo encerrar amanhã, espero deixar clara a ideia que tenho sobre ele. Com efeito, não consigo ver onde está o perigo. Dizem uns que em seu redor se reúnem os racistas, muitos fascistas, os xenófobos e os homofóbicos, entre outras categorias de gente de valores e princípios intoleráveis neste fim do primeiro quartel do século XXI.
Não duvido minimamente da possível veracidade destas afirmações, contudo, e isso é importante, elas não fazem parte do perfil ideológico que consta no programa partidário em causa. Essa ideia advém, principalmente, das posições concretas que vamos vendo Ventura a tomar sobre situações específicas da atualidade política.
Com efeito, basta analisar a evolução, nestes curtos dois anos de existência, do programa do partido, para termos a certeza que este se desenvolve e expande mais pelas oportunidades e oportunismos, do que por ideias próprias bem alicerçadas e cimentadas.
O CHEGA congrega e arrebanha descontentes, em todas as áreas. Venham eles de que partido ou tendência vierem são todos bem-vindos ao polvo aglutinador. Sejam eles os militaristas, os defensores da segurança como um valor que se sobrepõe à liberdade e dos gangues organizados de gente sem caráter, mas também dos tais saudosos do fascismo, dos preconceituosos relativamente a algo, onde encaixam os racistas, os xenófobos e os homofóbicos, entre outros, como os que acreditam que o lugar da mulher é entre a cozinha e a cama e que a igualdade de género é uma história mais fantasiosa do que a da própria Carochinha.
Com efeito, antes de me despedir até amanhã, espero sinceramente, minha querida amiga Berta, que estejas a acompanhar o meu raciocínio e que não julgues o que digo antes de eu terminar a próxima carta. Despede-se saudoso, este amigo sincero, com um abração muito virtual,
Entramos hoje na segunda parte da saga sobre o Malandro luso. Das seis categorias principais que te apresentei, na introdução, aquela classe que mais parece representar o verdadeiro Malandro, na melhor aceção da palavra, é a do «Criador de Esquemas», um autêntico desenrascador de coisas e situações, portador de um comportamento apimentado, com uma ponta quase ingénua de malicia.
Este Malandro, que não tem problema, no meio do seu processo criativo, de pisar o risco da ilegalidade e da marginalidade, procura com naturalidade resolver qualquer problema recorrendo ao engenho da sua mente. Estas ações incluem os negócios paralelos, fora do controlo da Autoridade Tributária, as cunhas e favores, a destreza de (muitas vezes) ter de vestir a pele do «Faz-Tudo» ou o faro apuradíssimo para descobrir uma falha na legislação que lhe permita agir e atuar, com relativa segurança, à margem da mesma sem, contudo, a infringir (pelo menos em demasia).
Este «Criador de Esquemas» não é o cidadão indolente, preguiçoso e oportunista descrito por quem desconhece as artes do ofício. Apenas a palavra oportunista se conjuga com o seu “modus operandi”, pela esperteza e sagacidade com que o Malandro consegue agarrar uma oportunidade, que apenas ele granjeia vislumbrar e utilizar, em proveito próprio, com a consequente vantagem e ganho.
Este especialista é um ser social muito ativo, que se integra em ambientes que não são os seus, agindo com a naturalidade de um felino que saca o peixe já temperado da beira da travessa de uma janela de cozinha entreaberta por descuido, sem que ninguém se dê conta. O seu génio criativo consegue realizar milagres no papel de intermediário entre duas partes, muitas vezes antes mesmo de ambas saberem que precisam do que ele encontra, levando o produto ou serviço gerado por alguém, ou inventado por si ao produtor, até ao consumidor ou vendedor do mesmo.
É maioritariamente um homem bem parecido, bom falante e que nos agrada com alguma simplicidade, seja pelas boas maneiras, seja pela forma eficaz e aparentemente desinteressada com que nos resolve uma situação, um problema ou nos disponibiliza um produto a preços que, de outra maneira, nunca conseguiríamos obter. Todavia, nem sempre este ser inteligente usa a sua astúcia para tirar vantagens imediatas dos atos que pratica. Muitas vezes deixar o alvo do desenrascanço a dever-lhe um favor mostra-se, a médio e longo prazo, uma estratégia bem mais eficaz e rentável do que aquilo que poderia parecer à primeira vista, sem grande investigação.
O «Criador de Esquemas» é o bacano que todos conhecemos e a quem recorremos porque, sempre que pode, nos desenrasca sem nada pedir em troca (pelo menos assim pensamos) com aquele ar de amigo do seu amigo.
Na esperança de ter ajudado a entender este Malandro tão lusitano me despeço por hoje, minha querida amiga, com o usual beijo de até amanhã, deste teu ombro sempre pronto a servir-te,
Acaba aqui a segunda parte da conclusão do ensaio sobre o beijo do livro “O Colecionador de Beijos” que editei pela Chiado Books em 2019. Espero como dizes que te tenhas divertido a ler os meus porquês. Hoje, envio também a Bibliografia. Não é para a leres obviamente. Apenas serve para o caso de teres interesse em ver uma ou outra fonte de que me servi na elaboração do ensaio. Assim, e sem mais demoras aqui vai:
“Conclusão
Enfim, beijar gera tranquilidade, conforto físico e psicológico, age neurologicamente proporcionando bem-estar e acelera o metabolismo. O beijo combate a impotência masculina e lubrifica os genitais femininos, promove o apetite sexual no homem e o desejo na mulher, aumentando significativamente a líbido em ambos os sexos. Em resumo, a ciência defende que o beijo prolonga a vida.
Os 435 beijos que aqui foram apresentados são dedicados ao público em geral e a todos os casais que, por um ou outro motivo, se sintam agradados por alguma das descrições apresentadas de maneira a que com isso, se tal lhes apaladar o apetite, possam recriar uma ou outra cena ou até adquirir uma renovada capacidade de inovação inspiradora.
Enquanto estrutura de apresentação decidi usar a ordenação alfabética por forma a facilitar a procura rápida e eficaz de cada beijo. Como curiosidade o número 435 poderia representar os 366 beijos que podem ser dados dia a dia, em ano bissexto, a que ainda se podem juntar mais os 52 ósculos semanais e, inevitavelmente, os 12 referentes aos meses, os devidos às quatro estações e o do ano em si. Porém, se somássemos aqui os beijos considerados equivalentes, como o Beijo de Afinismo que se equipara ao Beijo das Almas Gémeas então, seriam muitos mais, mas isso são contas de outro rosário que não deste ensaio.
O Colecionador de Beijos, enquanto ensaio jornalístico e literário, de matriz sociológica, do ato de bem beijar, embebido da vertente cultural e não perdendo as suas raízes históricas e a composição literária e humanista é, de facto, na minha opinião, um trabalho que ajuda a demonstrar a importância do ato de bem beijar, na senda de uma melhor qualidade de vida da humanidade, tendo em conta que cada ser humano consome, em média, durante toda a sua existência, considerando uma expetativa de 70 anos de sobrevivência, cerca de 20.000 horas a beijar. Beije bem, se tiver a quem.
Bibliografia
As Loucas Curiosidades Sobre Sexo, 2007, Sintra, Portugal, Impala Editores, S.A.
Beaty, Erin, 2017, O beijo Traiçoeiro, SP, Brasil, Editora Seguinte (Companhia das letras).
Ioga, O Caminho da Harmonia, 2009, Barcelona, Espanha, Black Dog & Leventhal Publishers
Jaf, Ivan, 1996, Beijo na Boca, Rio de Janeiro, Brasil, Moderna
James, Eloise, 2017, Um beijo à meia-noite, SP, Brasil, Editora Arqueiro
Johnson, Anne,2002, O essencial do Sexo Tântrico, Lisboa, Editorial Notícias
Kama Sutra, O Caminho da Sensualidade, 2009, Barcelona, Espanha, Black Dog & Leventhal Publishers
Kuraweil, Arthur. 2008, The Torah for Dummies, New Jersey, USA, Wiley Publishing,
Machado, Ana Maria, 1996, Beijos Mágicos, SP, Brasil, Editora FTD
Machado, José Pedro, 1990, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 6ª. Ed., Lisboa, Portugal, Livros Horizonte
Machado, José Pedro, 1981, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, Sociedade de Língua Portuguesa, Tomo II, Tomo VIII, Lisboa, Portugal, Amigos do Livro
Magonet, Jonathan, 1995, Jewish Explorations of Sexuality, New York, USA, Berghahn Books
Mead, Richelle, 2017, O Beijo das Sombras, Rio de Janeiro, Brasil, Editora Nova Fronteira Participações, S. A.
Melyan, Gary G. & Chu, Wen-Kuang, 2009, I-Chig, O Caminho da Sabedoria, Barcelona, Espanha, Black Dog & Leventhal Publishers
Mitologia, Mitos e Lendas de Todo o Mundo, 2011, Sintra, Portugal, Caracter Entertainment
Moning, Karen Marie, 2001, O Beijo do Highlander, Lx, Portugal, Saída de Emergência
Nova Enciclopédia Larousse, Volume 3, (Dir. Edit. Oliveira, Leonel de),2001, Lisboa, Portugal, Círculo de Leitores, S.A.
Nyrop, Christoper, 1901, The Kiss and its History, London, GB, Sands & Co.
Os Mais Belos Contos de Fadas, 1961, Lisboa, Portugal, Seleções do Reader’s Digest
Pereira, Aldo, 1881, Dicionário da Vida Sexual, Volume 1, SP, Brasil, ABZ Ltda.
Perkins, Stephanie, Anna e o Beijo Francês, 2013, Lisboa, Portugal, Quinta Essência
Popozuda, Valesca, 2013, Beijinho no Ombro, Rio de Janeiro, Brasil, Pardal Records
Praça, Afonso, 2001, Novo Dicionário de Calão, Lisboa, Portugal, Editorial Notícias
Prontuário da Língua Portuguesa, 2005, Porto, Portugal, Porto Editora
Trevisan, Dalton, 2014, O Beijo na Nuca, SP, Brasil, Record, Grupo editorial
Vilhena, José, 2005, O Beijo Como Aperitivo para Outras Comidas. Lisboa, Portugal, Dom Quixote
Ward, J. R., 2015, Beijo de Sangue, SP, Brasil, Universo dos Livros Editora
Zen, O Caminho da Verdade, 2009, Barcelona, Espanha, Black Dog & Leventhal Publishers.”
Assim termino este ensaio sobre o beijo enquadrado no livro “O Colecionador de Beijos”. Foi um prazer repartir contigo esta minha viagem sobre o ato de bem beijar em toda a boca ou “quase” em todo o lado. Despeço-me com um beijo amigo e franco,
Nestas sete crónicas sobre a parte do livro “O Colecionador de Beijos” que não descreve propriamente os beijos em si, espero que fiques com a visão global da razão porque me meti nesta verdadeira aventura de compilar tanto beijo e de os descrever o melhor que consegui. Segue-se a segunda parte da introdução:
“Introdução
Também não descuro os anos de aprendizagem, na área das Artes Plásticas, passados com o grande Mestre da Pintura, conhecido como o pai do Neorrealismo em Portugal, Isolino Vaz e com a Pintora Susana Olga e os conhecimentos de Português, Latim e Grego adquiridos desde a infância, com a minha mãe, a Professora Maria José Gil Alexandre. Tudo ajuda na formação das ideias, na produção da criatividade e na elaboração de contos, romances, poemas, ensaios e fábulas. Até na criação de um simples quadro a óleo existe um distinto olhar sobre o mundo e uma perspetiva diferente de o observar.
Mas porque refiro eu, nesta introdução, este tipo de historial pessoal? Apenas é só porque o tempo acumulado no exercício da profissão de jornalista e investigador, a longa viagem de estudos académicos e universitários, a convivência com mestres, criativos e gente das letras e a consequente aprendizagem adquirida, permitiram, por fim, a deteção da falta de sistematização ensaística do beijo, enquadrado enquanto ato sociológico relevante, nas diferentes civilizações da história e da atualidade. É este olhar diferente que me proponho a deixar aqui registado. Porém, conforme já deixei subentendido, nem o tema acaba com as conclusões deste ensaio, nem o beijo se esgota numas dezenas de páginas sobre ele. Mas é um início, um instrumento de trabalho, um princípio, enfim. Depois dos pressupostos apresentados, que por si só justificam a presente escolha, importa sublinhar alguns aspetos relevantes sobre o beijo. Para além de se tratar, por um lado, de um laço do foro privado, entre duas pessoas, ele é, por outro, uma manifestação de cariz público, se bem que com uma relevância absolutamente diferente do anterior. Assim sendo o beijo acontece quer se cumprimente alguém ao chegar a um determinado lugar, quer nas despedidas, quer ainda nos atos de afeto, simpatia, carinho e, como não podia deixar de ser, de amor.
Poderíamos apelidar o beijo de ser o reóstato perfeito do relacionamento humano. Assim, a sua falta assinala com frequência um estado deteriorado de uma relação específica, no caso dos amantes, um historial clínico depressivo, na convivência social ou o estado de uma relação afetiva dependendo da intensidade deste. A deteção destes factos pode ajudar os envolvidos a efetuarem reavaliações e a procurarem corrigir essa falta procedendo ao seu resgate. No plano íntimo ele funciona como uma dança, quando mais se pratica, melhor é a execução e o prazer que dele se extrai.
Porém, nem tudo é positivo, uma pessoa doente pode transmitir através de um beijo, constipações, gripes, sarampo, rubéola, mononucleose e herpes, embora esses problemas não sejam culpa diretamente do beijo, mas sim, do estado clínico de um dos seus participantes.
No que se refere à sua origem, o beijo tem um passado algo obscuro. Não há certezas quando começou a ser praticado, porque se iniciou esta prática, nem mesmo onde é que esta possa ter a sua origem. Os primeiros registos encontrados, onde se faz prova do seu uso têm, porém, cerca de quatro milénios e meio. Com efeito, são de 2.550 a.C. os primeiros registos de beijos, talhados na pedra, pelas paredes dos templos de Khajuraho, na Índia.”
É com uma despedida oriental, à moda indiana, que termino esta carta. Porém, ciente das minhas limitações relativas a estes rituais fica omissa a respetiva descrição. Recebe também mais um beijo e um até amanhã do teu amigo,
Bem-vinda a “Imigrantes - parte II – E agora é assim...”. Esta carta atualizada da que te escrevi em 2020 e que não te pude enviar por estares incomunicável nos idos da pandemia, a 2 de outubro, continua a falar de migrantes, todavia, caríssima, se a primeira falou de emigrantes portugueses no estrangeiro deste os anos 60 do século passado, esta fala dos imigrantes, logicamente estrangeiros, em Portugal.
Antes de mais aproveito para te relembrar, doce confidente, que no início da década de 70, já lá vão 44 anos, o número de imigrantes no país era considerado nulo, devido a números muito pouco relevantes no país. É claro que sempre existiram estrangeiros a viver em Portugal, por exemplo, os Franceses têm uma escola em Lisboa desde finais do século XIX e o Liceu Francês Charles Lepierre existe na atual morada desde 1952, sob a alçada direta do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês.
Porém, foi depois do 25 de Abril de 1974 que as coisas se alteraram significativamente. Primeiro instalaram-se uma imensidão de consulados e embaixadas em Portugal, depois foi o regresso de meio milhão de retornados portugueses vindos das ex-colónias, muitos com uma mão atrás e outra à frente e, hoje em dia, amiguinha, no final do primeiro quartel do século XXI, já no próximo ano, deverão estar perto de chegar aos 2,5 milhões.
Em resumo, e para pôr as coisas em termos simples, estamos à beira de 2 em cada 10 residentes no país serem estrangeiros. Podemos dizer, minha querida, que o padrão se inverteu. Na verdade, a sua presença é já tão importante que, sem eles, a nossa Segurança Social já tinha implodido sem qualquer forma de salvação.
Contudo, não temos apenas um único tipo de imigrantes. Os atuais fluxos têm 4 origens distintas. Em primeiro lugar, minha amiga, temos os imigrantes originários da CPLP, ou seja, da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em que o Brasil lidera. Cerca de metade destes emigrantes são pessoas de raça negra ou mestiços, tendo muitos destes um nível de instrução bastante limitada. A maioria vive junto das grandes cidades e dedica-se a trabalhos ligados à mão-de-obra indiferenciada.
Seguem-se, menina, os imigrantes vindos das ondas migratórias da atualidade, a que se juntam refugiados, exilados políticos e trabalhadores indiferenciados recrutados no estrangeiro como mão-de-obra barata. É gente de várias raças e etnias, ainda pouco adaptada à realidade em Portugal, com muito poucas condições de subsistência e de habitação. A exceção aqui são os ucranianos e mais alguns imigrantes de Leste, que possuem geralmente bons níveis técnicos ou mesmo universitários, e os brasileiros, das últimas levas de migração, o que pertencem à classe média ou alta.
Depois, caríssima, temos os comerciantes, muitos deles chineses, indianos e de outras proveniências, que se dedicam a serviços técnicos ou tecnológicos e ao comércio de bens e serviços, muitos deles importados através dos seus países de origem.
Por fim, Bertinha, temos os ricos e o pessoal qualificado, sendo que os primeiros vieram para Portugal por intermédio dos vistos Gold, e os outros se instalaram porque muitas grandes empresas internacionais abriram sucursais no nosso país, que neste momento é atrativo porque, mesmo os quadros de topo, são pagos abaixo das tabelas reais da Alemanha, do Reino Unido e de muitos outros países desenvolvidos, pelo que compensa trabalharem a partir de Portugal. Ainda neste grupo temos os que veem para Portugal estudar ao abrigo de programas de permuta internacional como o Erasmus.
A divisão que faço destes imigrantes em 4 grupos não é totalmente correta porque há outros motivos, origens e proveniências, ainda mais complexas e se que entrecruzam muitas vezes. Basta pensar que o Algarve, por exemplo, tem uma grande comunidade de estrangeiros reformados, que aqui residem de forma permanente, principalmente ingleses, porque o custo de vida por cá, lhes potencializa as pensões e reformas. Para além disso, amiga, é preciso não esquecer que, em comparação com o resto da Europa e outras partes do mundo, o clima ameno do país e a paz lusa ajudam muito.
De um momento para o outro, em Portugal, passámos de um país onde quase só viviam lusitanos para um país onde as culturas de mais de 130 países se misturam de uma forma já bem notória e acentuada. Na verdade, Berta, se a tudo isto juntarmos o turismo, e o seu crescimento astronómico, com a abertura de milhentos hotéis e alojamentos locais, etc., somos capazes de ter regularmente em terras lusas mais de 3 milhões de estrangeiros, ou seja, 3 em cada 10 habitantes, e isso nota-se imenso.
Ora, atualmente no seio do povo luso, cara companheira de desabafos, 2 em cada 3 portugueses é gente com mais de 60 anos. Tendo em conta esta realidade como é possível pedir aos lusitanos que se adaptem a uma mudança de hábitos e vizinhança tão rápida e radical? Não é de espantar que a população envelhecida se sinta invadida na privacidade e hábitos do seu quotidiano. Numa alteração tão abrupta do dia-a-dia os fenómenos do racismo, da xenofobia, da discriminação e muitos outros pululam e alastram como fogo em seara seca.
Seremos nós más pessoas porque nos tem custado, e muito nalguns casos, a fazer esta transição? Não, não somos. Também não somos mais racistas e xenófobos, ou seja lá o que for, do que o resto dos povos do planeta. Gente parva ou exagerada nos preconceitos existe em todo o mundo. Todavia, Berta, se derem tempo à população lusitana esta terá mais facilidade em se acostumar do que a maioria dos povos. Neste mundo global em que vivemos, o povo lusitano é dos mais tolerantes e adaptável. Deixem passar mais 20 anos e tudo terá voltado à normalidade. A única coisa que precisamos é de tempo e este não se vai acabar já amanhã. Por hoje é tudo, fica com um beijo amigo,
Esta terça-feira, ou seja, ontem, fui novamente obrigado a sair do casulo, onde tenho estado confinado desde que o ano teve início, pois tive de ir à farmácia, por falta de um comprimido, de toma diária e obrigatória. Estava esgotado no domingo e ligaram-me a avisar da sua chegada 2 dias depois. Foi esta saída que me levou a escrever a carta de hoje a qual intitulei de:
“Parada’s Garden – The Return Of The Yodas Council – Part II/III”
Quando uso a palavra yodas, não me estou a referir a velhos tolos e mentecaptos, atacados de Alzheimer e Esclerose Múltipla Aguda, que não sabem o que fazem (como muitas vezes são classificados pelos asnos, da nossa sociedade, de mente por vezes demasiado curta). Nada disso, muito pelo contrário, as palavras Yoda ou Yodas impõem o respeito por toda uma geração de anciãos e anciãs, que merecem o nosso absoluto esguardo e admiração porque, afinal, foram eles os responsáveis pela força de trabalho e de mão-de-obra, pelo pensar o país e nunca permitir que perdesse o rumo, nos últimos 50 anos. Mais, a eles e elas devemos o estarmos aqui, a lutar neste Estado de Calamidade, com a voz da experiência adquirida, de quem já travou muitas batalhas, de quem serve ainda de guardiã ou guardião milenar da nossa identidade enquanto nação, de quem porta, com orgulho a nossa bandeira enquanto país, de quem a ergue, bem alto, para que se veja e jamais se esqueça porque é que somos os Heróis do Mar e o Nobre Povo.
Os Yodas representam a sabedoria, a argúcia, a audácia e a experiência de Portugal. São eles, aliás, os guardiões e guardiãs da nossa mais pura identidade. Não os respeitar, ouvir e com eles aprender, para depois podermos evoluir um pouco mais, na direção presente que nos poderá conduzir a melhores futuros, é a condenação clara, inequívoca e evidente, à nossa estagnação enquanto povo.
Porém, por vezes, o descanso destes guerreiros de outrora, precisa ser acautelado pela sua própria descendência. É imperativo que os e as ex-combatentes de toda uma vida, quando descansam, o possam fazer em paz, conforto e segurança. Já não são eles a terem de se preocupar com isso. O acautelamento das condições de estabilidade está agora ao cuidado de filhos e netos. Foi para isso que eles e elas dedicaram toda uma vida.
Quando os séniores se reúnem em Concílio ou a jogar à Sueca nas mesas do Jardim da Parada, ou até a recordar a existência ou mesmo a falar do seu merecido repouso, nos bancos do Jardim da Parada, por exemplo, ou, simplesmente, a pôr a conversa em dia com vizinhos e vizinhas ou a mostrar as fotografias dos netos, seja lá o que for, é importante que o façam confiantes e em segurança. Ora, se a utilização das mesas de jogo e de leitura do jardim ainda estão vedadas e com fitas, a interditar o seu uso, se nos bancos da Parada, tal proibição de uso ainda se mantém, cabe à Junta de Freguesia zelar pelo cumprimento das normas impostas pela Calamidade Pública, decretada pelo Governo e, à PSP, que tem a esquadra a menos de 300 metros do local, avisar os mais distraídos de que a crise ainda não passou, por muito fartos da situação que todas elas e eles possam estar.
O dever cívico dos Yodas deve ser relativizado e ajudado a cumprir por todos, afinal, o peso dos anos, também ajuda a ver com mais benevolência a crise. É simples de entender, vindo de quem já enfrentou tantas outras no passado. O dever de alertar as anciãs e anciãos de que estamos em tempos de perigo é nosso, da nossa Junta de Freguesia, da PSP e Polícia Municipal. Não entendo porque é que a nossa autarquia não se articula com a PSP (que se localiza na porta ao lado da Junta) de forma a salvaguardarem os comportamentos no Jardim da Parada incluindo o uso das próprias máscaras por parte de todos…
Isto não é um mero conselho, é um imperativo. Temos de aprender a respeitar os nossos Yodas e a protegê-los do seu próprio cansaço ao confinamento. Passar-lhes a culpa de furarem as regras é como sacudir a água de um capote que é tanto nosso como deles.
Amanhã, minha querida Berta, termino este caminho pelo Regresso do Concílio dos Yodas ao Jardim da Parada, em Campo de Ourique. Deixo um beijo de despedida, deste amigo sempre presente,