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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta n.º 615: O Metro no Jardim da Parada - Parte I/VI

Berta 615.jpg (Jardim da Parada, fotografia do autor, todos os direitos revervados)    

Olá Berta,

Os meus vizinhos e amigos estão cansados de me pedir para voltar a falar sobre a Estação de Metro, trinta e um metros abaixo do Jardim da Parada, aqui, em Campo de Ourique, neste bairro, tantas vezes considerado o melhor de Lisboa, porque, consideram eles, minha amiga, o que eu escrevi até agora foi muito curto, se comparado com a gigantesca dimensão do problema. Contudo, eu tenho evitado escrever demasiado sobre o tema, talvez por pensar que quem me ler pode achar que não estou a ser isento porque, afinal, sou pessoa diretamente interessada em que esta barbaridade nunca chegue a ocorrer.

Porém, defendem eles, que isso de defender a minha dama, é apenas mais uma razão para o fazer. Assim sendo, Bertinha, e depois de juntar algumas notas sobre o tema, resolvi pesquisar um pouco mais. Finalmente, arranjei coragem para dizer tudo o que penso sobre a vinda trágica do metropolitano mesmo para o coração de Campo de Ourique, o que, no meu entender, fere de morte a alma do nosso amado bairro, isto é, o Jardim da Parada.

Sim, porque é grave ver uma estação de metro colocada exatamente debaixo do nosso querido, e único, Jardim. Afinal, os meninos da toponímia bem lhe podem querer chamar Jardim Teófilo de Braga, mas, por cá, o nome do segundo Presidente da República Portuguesa, não tem singrado por entre a população. Já voltarei ao tema porque faz sentido voltar a falar no poeta açoriano, mas, para já, amiga Berta, prepara-te para leres a primeira das seis cartas que te envio sobre este tema. Elas constituem a minha preocupação, angústia e revolta contra a banalização da única aldeia existente no centro de Lisboa.

Não sei se tens noção, amiguinha, mas Teófilo de Braga foi, não apenas, Presidente da República, mas também alguém doutorado em Direito, na Universidade de Coimbra, há quase cento e cinquenta anos e, para além disso, poeta, filólogo, sociólogo, político, filósofo, ensaísta e até professor universitário de elevado gabarito. O seu primeiro livro publicado, nos idos de 1859, com a tenra idade de 16 anos, chama-se “Folhas Verdes”. A este livro de poesia e ao facto de ter falecido em Campo de Ourique, tendo a sua sepultura na Igreja de Santa Isabel, se deve a toponímia do Jardim Teófilo de Braga. Uma homenagem sentida ao poeta.

Ora, em “Folhas Verdes”, minha querida, o autor exprime, segundo o próprio, a distância que o aparta da sua criação juvenil, porque olha sempre para as “Folhas Verdes” com uma "compunção de piedade", alimentada pela "ingenuidade primitiva" e a "sinceridade rude" dos seus versos dos quinze anos de idade. Explica também os motivos das poesias que compõem o livro: "os gritos espontâneos, os desabafos, a queixa confusa e chorosa, o medo de um futuro desprotegido, o desamparo da orfandade, o sentimento do mar distraindo os pesares prematuros e o amor como única luz na aurora nevoenta da vida” (conforme é referido na Infopédia da Porto Editora).

São essas “Folhas Verdes” que me fazem lutar pelo Jardim da Parada, pelo Jardim Teófilo de Braga, minha amiga. O sentimento de piedoso de pesar e arrependimento por não estar a fazer tudo o que posso para tentar salvar o Jardim. Eu consigo sentir em mim os gritos espontâneos de gerações, que ao longo de 140 anos se sentaram naqueles bancos, revoltadas com a chegada ao seu refúgio do metro, é uma linha vermelha que se desenha a sangue no coração e na história do bairro de Campo de Ourique e que não pode ser ultrapassada.

É fácil, Berta, decifrar os desabafos, a queixa confusa e chorosa, o medo de um futuro desprotegido, o desamparo da orfandade e o sentimento do verde distraindo os pesares prematuros e o amor ao jardim como única luz na aurora nevoenta da vida, ao saber que aquelas “Folhas Verdes” que fazem do Jardim da Parada um ícone de Campo de Ourique estão em vias de ser trucidadas pelos burocratas bafientos, pelas toupeiras sem sentimento, pelos insensíveis homens do Metropolitano de Lisboa.

Pelas “Folhas Verdes” de Teófilo de Braga e pelas folhas verdes do jardim da parada é preciso lembrar às toupeiras e aos políticos que a poesia de um jardim é imensamente mais importante do que os interesses suspeitos dos burocratas e dos seres do submundo e das suas escavadoras. Despeço-me, amiga, com um beijo sentido, até à próxima carta, a segunda de um rol de seis,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta nº. 357: Os Novos 4 Cavaleiros do Apocalipse - Introdução - I/VI

Berta 335.jpg Olá Berta,

Ao entrarmos na terceira década, do primeiro século do terceiro milénio d.C., pairam no ar notícias de 4 renovados Cavaleiros do Apocalipse. Na verdade, minha cara, embora aparentem ser novos cavaleiros apenas a roupagem é diferente e simplesmente muda a forma e o feitio do embrulho com que nos são presenteados.

Nesta carta e nas próximas 5 seguintes, vou tentar dar-te a conhecer, o melhor que posso e sei, aquilo a que me refiro. Serão, portanto, um total de 6 cartas sobre estes obstinados personagens que nos invadem o quotidiano. Esta é, Bertinha, a carta introdutória de apresentação dos cavalgantes. Antigamente eles eram perfeitamente identificáveis, o primeiro era a Guerra, sempre montada num cavalo malhado de cor indefinida entre o cinza e castanho. 

O segundo era a fome, que galopava embalado pelo primeiro, num garanhão creme, de crina ruiva, quase vermelha, determinado a levar a melhor sobre as gentes que encontrava no seu caminho. Sem se importar minimamente se ao passar devastava ou não, amiguinha, uma população amedrontada que tentava, a todo o custo, sobreviver. Unicamente focado em servir a causa dos 4 emissários.

O terceiro era a peste, que ajudava os 2 primeiros a manter o foco da missão, transportado pelo seu alazão branco, de meias negras, que sem piedade pisava e destruía a saúde daqueles que com ele se deparavam à sua passagem. Tudo porque, doce confidente, o seu objetivo era mesmo o de massacrar seres humanos. Sendo, como todos os outros, absolutamente insensível ao padecimento das suas vítimas, fossem elas homens, mulheres ou crianças.

O quarto era a morte, que trotava uma besta negra reluzente, enorme e possante, suportado pelo apoio dos outros 3 cuja missão era, minha querida, apenas e só ceifar vidas. Um verdadeiro colecionador de almas, corações, corpos e seres. Temido por não poupar nada, nem ninguém, na sua rota devastadora com destino ao abismo dos mortais, relegados à cova escura dos estros sem saudade ou esperança.

O facto de todos eles terem nomes femininos, Berta, era apenas mais um logro. Afinal, guerra, fome, peste e morte eram uma maneira, pouco subtil, de dizerem ao que vinham, sacudindo a água dos seus próprios capotes. Desprovidos de piedade e consciência, toda a vida, escudados nos seus contos e mentiras.

Amanhã, falo-te de como o primeiro destes cavalgantes iniciou o seu adaptado trotar neste princípio do terceiro milénio. Não mudou de nome, apenas adotou mais uns pseudónimos, para tentar passar despercebido no início da sua viagem pelos dias que correm. Deixo-te um beijo de despedida, alma gémea, com carinho, deste teu amigo de sempre,

Gil Saraiva

 

 

 

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