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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta nº. 141: Por falar em Carnaval...

Berta 120.jpgOlá Berta,

Espero que este Carnaval estival te vá encontrar bem e com vontade de ires assistir às folias em Loulé. Acredita que vale a pena. Trata-se, na minha opinião, do maior evento do concelho e tu certamente vais gostar de o ver em primeira mão. Não estou a puxar a brasa para a minha sardinha, só porque vivi uns 27 anos no Algarve. Nada disso. Aliás, se o visitares vais poder julgar por ti mesma.

Acontece que estás perto de um dos melhores do país. Apenas considero que deves aproveitar. O facto de o ter vivido, durante os meus tempos de criança, não influencia em nada a alegria e o entusiasmo, que esse Carnaval transmite a quem o visita pela primeira vez.

Podia, igualmente, recomendar-te o Carnaval de Ovar, mas terias de fazer uma deslocação grande daí até lá. Porém, Ovar tem outro dos melhores carnavais do país. Houve um ano em que consegui juntar-me a um dos grupos que iria participar no desfile, podes não achar normal, mas estive 6 dias sem me deitar.

A folia decorreu 24 horas por dia, durante uma semana inteira. Sei que deixara pouco tempo antes a adolescência, mas nunca mais esquecerei o tempo e as aventuras daquele Carnaval. Foram tamanhas as façanhas e proezas que, para ser verdadeiramente honesto, ainda hoje não sei se não terei deixado descendência na terra do pão-de-ló.

Importa referir que há quem defenda que o Carnaval substituiu, depois da chegada do Cristianismo a Roma, as festas dedicadas ao deus do vinho, Baco. O que é certo, porém, é que a Igreja o registou e oficializou no entrudo, no calendário litúrgico em 590 d.C.

Contudo, tratavam-se de pequenos divertimentos sem grande organização, dispersos e sem existirem propriamente festejos organizados a nível das cidades ou das regiões. No século XI apareceram em Veneza os primeiros sinais de um Carnaval organizado por uma cidade. A ideia era permitir à nobreza que se misturasse, durante uns dias, com a restante população usando máscaras, num convívio que nos pode parecer democrático, mas que tinha mais de boémio do que outra coisa qualquer.

Só em 1296 é que o evento foi oficializado em Veneza, tornando-o por isso mesmo, este Carnaval, enquanto celebração oficial e devidamente denominada, organizada e reconhecida por uma cidade, no mais antigo do mundo. As festividades, e o uso das máscaras, foram balizadas em 10 dias (embora tivessem existido anos em que o seu uso chegou aos 6 meses).

Portugal, minha querida amiga, que bebia culturalmente das fontes francesas e italianas, principalmente a partir do século XV e XVI, iniciou estas festividades por esta altura, principalmente na Madeira onde o evento ganhou rapidamente foros de festa maior.

Durante o século XVI, enquanto maior entreposto comercial do Atlântico de escravos para o Brasil e conhecida como a rainha ocidental da rota do açúcar, a Madeira acabaria por exportar também para o Brasil uma das suas festas maiores, fazendo com que o Carnaval cedo se instalasse em Pernambuco, por volta do século XVII, naquela que era chamada de Festa dos Reis, quando os trabalhadores das Companhias de Carregadores de Açúcar e de Mercadorias, formavam cortejos carregando caixões de madeira e recriando músicas em ritmo de marcha popular, com um travo reconhecidamente madeirense.

Ora, bastaram 100 anos para que esta folia se espalhasse por todo o território brasileiro, ganhando novas formas de festejo, novos adornos e muita cor. Com a instalação da Corte e da família real no Rio de Janeiro em 1808, e com as primeiras tentativas de ordenar as festividades, estava lançado de vez o Carnaval do Brasileiro que, embora com o passar dos anos se tivesse civilizado no que aos festejos oficiais diz respeito, nunca perdeu o seu lado genuinamente popular, livre e quase selvagem, cheio de dança, de festa e de muita cor.

Há quem defenda, com unhas e dentes, que depois de Veneza, o segundo Carnaval organizado e estruturado como festa e folia por altura do entrudo, antes da Páscoa, é o da Madeira. Ora, realmente os registos encontrados sobre a festividade em cidades como Paris, que muito difundiu o conceito moderno de Carnaval pelo mundo ocidental, são realmente posteriores ao da Madeira, o que faz jus da reivindicação do arquipélago. Contudo, o mais importante e curioso é sabermos que, sem querer, demos origem a uma das festas mais populares do mundo, num país que fez do Carnaval a sua maior festa, o Brasil.

Contudo, embora o Carnaval do Rio de Janeiro, tenha maternidade madeirense e paternidade portuguesa, por força da sua exportação para o Brasil pela Madeira e da instalação da corte e da família real portuguesa na cidade, o que é realmente relevante é ele ser atualmente o maior Carnaval do mundo.

Apesar do tema da minha carta de hoje ser o Carnaval, em termos gerais, aquele de que eu queria falar, na realidade, era sobre o Carnaval de Veneza. Não por ser o primeiro e, por isso mesmo, o mais antigo, mas porque, pela segunda vez na sua história está suspenso, cancelado, enfim, não se realiza.

A primeira vez que isto aconteceu o Carnaval de Veneza esteve sem se festejar por quase 200 anos. O motivo foi a proibição da festividade na cidade por parte de Napoleão Bonaparte, em 1797, jugando no ostracismo uma tradição de séculos, que, para quem não sabe, só regressaria oficialmente em 1979, sendo que, a partir de então, se assistiu a um renascimento esplendoroso e magnífico da tradicional festa veneziana.

Agora, este ano, pela segunda vez, o Carnaval de Veneza é cancelado. Desta feita, o novo ditador não vem de França, mas da China e chama-se Coronavírus, mais propriamente Covid-19. Esperemos que, desta feita, a interrupção seja de apenas um ano e que a maldição deixe de pairar sobre esta festa da alegria e do povo.

Com estes votos me despeço, minha querida Berta, solicitando que não leves a mal este desabafo de ver uma tão linda festa cancelada por um motivo tão nefasto, recebe um beijo de saudade deste teu amigo de sempre,

Gil Saraiva

Carta à Berta nº. 125: Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 15) Vegan

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Olá Berta,

Eu sei que o início temático, nestas minhas últimas cartas, tem sido um pouco pesado. Por isso, para aliviar a coisa, escolhi para o dia 7 de fevereiro o terceiro aniversário da nossa vitória no Festival da Eurovisão. Foi a 7 de fevereiro, precisamente há 3 anos que “Amar pelos Dois” de Salvador Sobral, terminou com a maldição das classificações secundárias de Portugal neste evento. Vencemos e deixámos a concorrência a milhas, relativamente aos pontos que cada canção atingiu, na final do certame de 2017.

Salvador Sobral era nessa altura um músico desenquadrado da ribalta festivaleira, que sofria de um grave problema de coração, sendo visto, por quem o conhecia, como uma espécie de anti-herói de quem não seria de esperar feito algum. Contudo, o mais imprevisto dos prognósticos concretizou-se quando conquistou o mundo, fazendo história ao interpretar o tema escrito pela irmã, Luísa Sobral, trazendo o ambicionado caneco para o país que oficialmente o desdenhava, mas que secretamente o ambicionava como de pão para a boca.

O ano passado o cantor, depois de uma operação bem-sucedida do transplante ao coração e da respetiva recuperação da mesma, regressou finalmente aos palcos, lançando o seu segundo álbum “Lisboa, Paris”.

Nos últimos tempos, o cantor, que sente orgulho de ter vencido o Festival da Eurovisão, mas que não dá relevância à excelente passagem que teve nos “Ídolos”, adora apresentar em palco, clássicos que considera imortais, com especial destaque para com aquele que julga ser o maior interprete de todos os tempos, ou seja “Jacques Brel”. Ouvi-lo no papel do seu herói é uma experiência singular que te recomendo, minha querida amiga.

Passemos agora às quadras populares sujeitas a tema com que me tens desafiado. O tema Vegan foi, entre os últimos o mais difícil. Contudo, gostei do resultado.

Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 15) Vegan.

 

Vegan

 

Dizes que carne não comes,

Vegan, é que é boa malha,

Ficas magra, quase somes,

Todo o burro come palha…

 

Gil Saraiva

 

Com esta quadra me despeço até à carta de amanhã. Recebe um beijo amigo, deste sempre presente compincha, que não te esquece nunca,

Gil Saraiva

Carta à Berta nº. 114: Isabel dos Santos - Uma Saga de Família que vem do Século XVII - Epílogo

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Olá Berta,

Esta é uma carta que transmite, alegadamente, apenas e só o que me foi possível descortinar neste espaço de tempo relativamente curto. Refiro o alegadamente porque a minha interpretação dos factos não é, nem pretende ser, uma descrição histórica e factual em volta do poder em Angola. É apenas e somente o que, repito, alegadamente, eu acho que realmente se passou.

Já sei que é chegado o momento de falar um pouco de Isabel dos Santos. Porém, gostaria de deixar aqui também uma nota sobre o que aconteceu, nestes últimos anos aos clãs dos Santos e Van-Dunem. É, aliás, por eles que vou começar esta carta. Para que fiques com uma ideia, vou-te apenas dar os nomes dos seus representantes no último Governo de Angola. De fora ficam todos os outros que se mantém na esfera do estado e em algumas das largas dezenas de grandes empresas e organismos públicos.

Contudo, no Governo de João Lourenço e depois de 3 remodelações ministeriais, continuam visíveis, nos lugares de topo os seguintes nomes: Joffre Van-Dúnen Júnior, Ministro do Comércio; Sérgio de Sousa Mendes dos Santos, Ministro da Economia e Planeamento; João Ernesto dos Santos “Liberdade”, Ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria; Frederico Manuel dos Santos e Silva Cardoso, Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República.

Porém, há a destacar a nomeação para a Secretaria de Estado das Finanças e Tesouro de Vera Esperança dos Santos Daves, bem como a presença de Cândido Pereira dos Santos Van-Dúnem como deputado da Assembleia Nacional, sendo membro integrante da 1.ª Comissão dos Assuntos Constitucionais e Jurídicos. Já Fernando da Piedade Dias dos Santos é o Presidente da Assembleia Nacional e Abrahão Pio dos Santos Gourgel foi, até há 4 dias atrás, o Presidente do Conselho de Administração do Banco de Desenvolvimento de Angola. Fiquei, amiga Berta, por saber, para que cargo foi transferido depois disso. Finalmente, importa referir que Fernando Pacheco Augusto dos Santos, é, nesta data, membro do Conselho da República. Por último na Administração do Banco Nacional de Angola, encontramos Beatriz Ferreira de Andrade dos Santos e na do Banco de Desenvolvimento de Angola está ainda Constantino Manuel dos Santos.

Em resumo, os dois clãs mantêm no poder 11 dos seus elementos nas estruturas mais próximas do Presidente João Lourenço e isto apenas analisando as mais altas esferas do Estado angolano. Chega a parecer mais do que acontecia no anterior governo de José Eduardo dos Santos e isto depois de inúmeras purgas efetuadas, principalmente, no seio da família direta do ex-presidente, mas não só.

Para mim, João Lourenço, que alegadamente já possui 3 familiares seus na roda do poder, não vai muito mais longe na sua missão purgatória. Não lhe desejo qualquer infortúnio, mas tudo aponta para um mandato curto. Pode ser que me engane, porém, eu, no lugar dele, reforçava muito bem a segurança. É que, ao se mexer com os aliados do ex-presidente, começando pelos familiares, sem limpar todos os cabecilhas do exército, correm-se grandes riscos.

Depois há que analisar as questões relacionadas com a matemática. Pensemos um pouco… se entre 2003 e 2008 tinham desaparecido, sem deixar rasto, cerca de 30 biliões de euros, só da Sonangol, não levando sequer em conta os valores dos sumiços em diamantes, metais preciosos e outros negócios, então quanto terá desaparecido entre 2008 e 2018, no conjunto de todos os negócios? Mais 90 biliões? No mínimo algo de parecido. Tais números representam 120 biliões de euros. O que na minha aritmética são 110 fortunas iguais à do homem mais rico do mundo Jeff Bezos, o patrão da Amazon. Dá que pensar…

Ora, é neste contexto que se levantam suspeitas sobre a filha primogénita de José Eduardo dos Santos. Até ao momento, é acusada de ter roubado 100 milhões a Angola. Parece-me grave, mas considero que estão ainda a tentar puxar por um dos fios da meada e pouco mais. As 2 perguntas que se põem logo são: porquê vai João Lourenço atrás da filha mais velha do seu mentor e ex-presidente? O que fez e quem é ao certo Isabel dos Santos?

Comecemos pela segunda questão. Vou-te falar, querida Berta, da filha do ex-presidente de Angola. Isabel foi acompanhada pela mãe (geóloga e ex-quadro superior da Sonangol, campeã de xadrez, natural de Baku enquanto este era território soviético), quando foi estudar para Inglaterra. Contudo, isto passou-se apenas em 1980, logo a seguir a Isabel celebrar os seus 7 aninhos.

Ora, os primeiros anos da sua vida, até o pai se tornar Presidente e Senhor de Angola, embora desafogados, não foram fáceis. Quando nasceu, o seu pai tinha ainda 30 anos de idade e a sua mãe cerca de 25, uma vez que era recém-formada em geologia e entrara, havia pouco tempo, ao serviço da Sonangol, na URSS.

A relação de José Eduardo dos Santos com Tatiana Kukanova, cujo nome sofreu algumas atualizações e renovações (entre as mais conhecidas tenho: Tatiana Cergueevna Kukanova, Tatyana Cergeevna Kukanova, Tatiana Cergueevna Regan e finalmente Tatyana Cergeevna Regan), parece ter-se iniciado em 1971, numa altura em que os pais tinham respetivamente 27 e 22 anos, Segundo as más línguas (porque não encontrei outras fontes mais fidedignas) o casamento deu-se devido à gravidez inesperada de Tatiana, quando o namorado era apenas um convidado dos soviéticos, em formação, na URSS.

Isabel dos Santos viveu com a mãe em Baku, mas apenas, segundo apurei, nos primeiros meses de vida, porém, tendo a sua mãe sido transferida para a Sonangol em Luanda, acabou por viver os primeiros anos de vida na capital do país. Pouco via o seu progenitor, pois que, nessa altura, querida amiga, o pai vivia com a sua segunda companheira. Aos 7 anos foi estudar para Inglaterra, levando a mãe como encarregada de educação, Estudou na St. Paul’s Girls School em Londres e formou-se em Engenharia Eletrotécnica no King’s College de Londres.

Ao contrário do que informa alguma imprensa e a própria “wikipedia”, Isabel dos Santos não acabou engenharia em 1990, com a idade de 17 anos, mas sim, algures entre 1995 e 1997, ou seja, entre os 22 e os 24 anos.

Ainda antes de completar a sua formação académica, já estava inscrita (possivelmente através do pai) como gestora de projeto na empresa Urbana 2000, pertencente ao grupo Jembas. Contudo, Isabel dos Santos conseguiu, segundo apurei, querida Berta, implementar algumas das suas ideias na estrutura da companhia, que levaram a uma melhoria da eficácia de trabalho, logo na primeira fase, de quase 300 porcento desta empresa de resíduos urbanos, pela introdução de uma rede de “walkie-talkies” para coordenar todos os motoristas da empresa. Isabel acabaria, mais tarde, por os substituir por telemóveis, numa altura em que já tratava da fundação da rede de celulares UNITEL.

Por essa via, com o patrocínio paterno, acaba por ficar ligada à UNITEL, da qual foi fundadora (de certeza que não pelo seu dinheiro, mas pelo que recebeu diretamente do pai), tendo sido esta a primeira grande empresa de telemóveis de Angola, área em que nenhuma multinacional queria pegar, devido à guerra e à instabilidade no país.

Até aquele que é chamado do seu primeiro negócio, o Miami Beach Club, um dos primeiros clubes noturnos de Luanda, embora apareça em seu nome, não pode de maneira alguma ter sido implementado e criado por uma miúda de 24 anos que tinha acabado de chegar de Inglaterra com o diploma de Engenheira Eletrotécnica. Trata-se, evidentemente, mais uma vez, de uma prenda do papá, para dar a conhecer à sociedade angolana, e a alguns ilustres visitantes, a sua filha recém-formada e recém-chegada da Grã-Bretanha.

Entre os 24 e os 29 anos até finais de 2002 Isabel dos Santos preocupou-se principalmente em desenvolver a empresa que realmente criou e fundou, a UNITEL, tentando arranjar parceiros internacionais que a ajudassem a tornar a companhia numa verdadeira empresa detentora de uma rede de abrangência nacional de telemóveis. Um esforço, Berta, que acabaria por dar excelentes resultados.

Em dezembro de 2002, Isabel dos Santos casou com o herdeiro de uma das maiores fortunas da República Democrática do Congo, Sindika Dokolo, cujo pai, congolês, falecido um ano antes, possuíra, entre outros grandes negócios o maior banco privado do Congo, o “Bank of Kinshasa”, que, entretanto, mudou de mãos, em 1986.

Já a mãe, de nacionalidade dinamarquesa, Hanne Taabbel Kruse, fez questão de educar o filho nas melhores instituições da Bélgica e depois França, onde este se acabou por formar em Economia, Comércio e Línguas Estrangeiras na Universidade Pierre e Marie Curie, de Paris.

Sindika, é o maior colecionador de arte em África, vocação que iniciou com o pai aos 15 anos de idade, tendo também uma Fundação internacional de arte, cuja sede europeia é no Porto, e, na altura do seu casamento com Isabel dos Santos, possuía, fruto da herança do pai e da gestão dos negócios da família, uma fortuna de mais de 3 mil milhões de euros, onde se incluía, entre outras, a maior empresa de cimentos de Angola de que é proprietário.

Até 2008, Isabel dos Santos, dedica-se a ajudar o marido, muito mais interessado em arte, a cimentar os seus negócios quer no Congo, quer em Angola, e aos 35 anos, apresenta uma fortuna bem mais consolidada, após 6 anos de dedicação intensa às empresas de ambos. Aliás, se compararmos os bens atualmente conhecidos do casal, e tendo em conta que nenhum dos negócios sofreu quaisquer quebras graves, não é difícil de justificar o atual património, só à luz dessas empresas.

Os grandes negócios internacionais e angolanos de Isabel dos Santos, dão-se entre 2009 e 2017, num espaço de 8 anos, até à altura em que o atual presidente de Angola, João Lourenço, a retira da liderança da Sonangol onde esta apenas esteve um ano e meio, tendo substituído no cargo Manuel Domingos Vicente, a quem tinha apontado o dedo pela falta de vários biliões de dólares na Sonangol.

Diga-se, em boa verdade, que o referido Manuel Domingos Vicente, acusado de corrupção em Portugal, continua a gozar de imunidade judicial em Angola, por ser deputado na Assembleia Nacional de Angola (o Parlamento angolano). Mais, dizem as más línguas que o atual presidente, controla, como já acontecia com o seu antecessor, a procuradoria Geral da República de Angola e que não permite que qualquer ação recaia sobre Manuel Domingos Vicente.

Quanto aos negócios internacionais de Isabel dos Santos, nestes 8 anos em que ela os realizou, um pouco por todo o mundo, mas principalmente em Portugal e Angola, mesmo que ela fosse condenada por roubo ou desvio de 50 porcento das verbas em causa, estaríamos a falar de um montante que nem 5 porcento do que desapareceu apenas da Sonangol no “reinado” de Manuel Domingos Vicente representa.

Se bem te lembras minha amiga, só da Sonangol, desapareceram, sem deixar rasto, até à entrada de Isabel dos Santos na direção da petrolífera, 120 biliões de euros. É muito dinheiro.

Relativamente a toda a acusação que recai sobre Isabel dos Santos, se comparada com as importâncias desaparecidas em Angola, estamos a falar, alegadamente, de 0,000 000 002 porcento dos montantes envolvidos. Algo que me leva a pensar que Isabel mais não é que um mero bode expiatório, de toda a trama.

Alguém me consegue dizer quanto dinheiro se encontra nas mãos dos generais e das altas patentes angolanas? Alguém sabe, ao certo, o que detém ou controla o ex-vice-presidente de Angola e atual deputado, Manuel Domingos Vicente? E João Lourenço, alguém sabe?

É mediático e vende muito mais acusar a idolatrada princesa de África. Mas não passa de um deitar de areia para os olhos de gente mesquinha, invejosa e rancorosa com o sucesso dos ricos de um modo geral, de gente que segue, qual carneirada, a fome de ascensão e queda dos media, de uma figura internacional.

O verdadeiro problema de toda esta trama chama-se, ainda e somente, José Eduardo dos Santos, e os 120 biliões de euros desaparecidos, só da Sonalgol, durante o seu reinado. Mas se João Lourenço era um dos seus delfins, o preferido, será que, de repente, foi o único que nada lucrou? Qual é na verdade a demanda de João Lourenço? O que esconde este presidente? Até 2023 José Eduardo dos Santos continua, face à constituição angolana, sem poder ser julgado seja pelo que for. Estará João Lourenço a contar que o ex-presidente morra, entretanto? Qual é o jogo que realmente existe por detrás de tudo isto? Poucos saberão. Por enquanto, entretém-se a comunicação social, a nível mundial, com a perseguição à primogénita de José Eduardo dos Santos. Assim, para João Lourenço, Manuel Vicente e outros, muitos outros, enquanto o pau vai e vem, folgam as costas.

Ora, eu, minha querida amiga, não dou para esse peditório. A coisa não basta parecer. Mesmo que Isabel dos Santos tenha roubado, o que não está provado, mesmo assim, comparado com o que despareceu de Angola, é como ir à praia e surripiar um grão de areia. Afinal os outros? Onde estão os outros? Com esta pergunta me despeço, sempre saudoso,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta nº. 82: "A Flor Agreste"

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Olá Berta,

Espero que tudo se mantenha de acordo com as tuas expetativas para estas festas. Eu ando um pouco atrapalhado com a promessa que te fiz de, entre o Natal e o Ano Novo, não te escrever a fazer críticas, ou a deitar abaixo, algumas das coisas que menos me agradam no nosso mundo.

É engraçado verificar que é mais fácil ser critico que que positivo e portador de boas novas no que à escrita diz respeito. Estava aqui a pensar sobre o que haveria de colocar nesta carta, para ti, quando o meu olhar caiu sobre um busto que tenho no cimo da estante, a cerca de um metro do monitor do computador.

É uma reprodução, em gesso, da Flor Agreste, uma obra de António Soares dos Reis, um dos mais consagrados e apreciados escultores mundiais dos finais do século XIX, um homem nascido em Vila Nova de Gaia, que estagiou e completou a sua formação em Paris e depois em Roma, onde era considerado um génio no mundo da escultura entre os críticos da especialidade e os seus pares.

As saudades do seu Portugal fizeram-no regressar a Lisboa depois de ter esculpido em mármore de carrara a magistral estátua de “O Desterrado”, como a sua obra final de primeiro pensionista (o programa Erasmus da época) da Escola de Belas Artes do Porto em Paris e Roma.

Aliás, “O Desterrado” é a primeira escultura no mundo a aludir especificamente à condição triste de um emigrante, desenraizado do seu povo e da sua terra, algures no estrangeiro, longe da sua pátria onde foi feliz. É peça representativa de um jovem nu, em tamanho natural, sentado num rochedo, olhando um mar metafórico que nos leva a entender a solidão, a melancolia e a saudade de quem se sente inadaptado no estrangeiro, embora aí tenha que viver, para se poder formar na profissão que abraçou, por força do seu talento ímpar.

O regresso a Portugal não foi, muito longe disso, minha querida amiga, o paraíso esperado. Na zona do grande Porto, onde residia, quase que apenas lhe chegavam encomendas de estatuária póstuma para cemitérios e trabalhos para ricaços empertigados, muitos dos quais se negou a efetuar, mas foi a sua recusa para mudar o rosto da Virgem, que tinha esculpido para a Igreja de Nossa Senhora da Vitória, no Porto, e a derrota no concurso para o Monumento dos Restauradores, em Lisboa, que mais o marcaram.

Fez em 16 de fevereiro de 2019 precisamente 130 anos que o Mestre Escultor Soares dos Reis se suicidou. Era um homem ainda novo. Deixou, contudo, uma explicação, muito clara, embora enigmática, por escrito: “Sou cristão, porém, nestas condições, a vida para mim é insuportável. Peço perdão a quem ofendi injustamente, mas não perdoo a quem me fez mal.”

O maior nome da Escultura Nacional, segundo muitos dos especialistas, da fase de transição entre o Romantismo e o Realismo, ceifou a sua própria vida, com 2 tiros de pistola, na cabeça, aos 41 anos de idade. Portugal perdeu, nessa altura, um dos seus maiores génios de sempre no que às Belas Artes diz respeito. Considerado um dos grandes, melhores e mais geniais escultores do mundo no seu tempo, morreu com apenas 22 anos de carreira, a sentir-se novamente e em absoluto, “O Desterrado” na sua própria pátria.

Soares dos Reis é também o autor da estátua em bronze de Dom Afonso Henriques, o nosso fundador, entre as inúmeras obras que produziu em pouco mais de 2 décadas de carreira atribulada. Foi o primeiro escultor a esculpir a Saudade em estátua. Criou o busto feminino, que te referi no início da carta, da Flor Agreste, um rosto belo, jovem, mas vindo do povo, não composto segundo as modas da época, ou o modelo não tivesse sido uma carvoeira vizinha do escultor. Sempre irreverente, mas sempre genial.

Deixo-lhe a minha modesta homenagem:

 

“ARTE”

 

Arte...

Harmonia do Tempo,

Em cada tempo...

Reflexo cultural

Semigenérico

Que só alguns dotados

Conseguem realmente apresentar...

 

Arte...

Porque qualquer de nós tem

Por dever:

Compreender, amar, saber sentir...

 

A estética é bela,

“Fenixiana” pura

E a Arte

É o sentir representado

Da harmonia estética do mundo,

De fénixes mil por cada tema:

Reflexos de nós

E nada mais!...

 

Séculos há

Em que a Fénix se propaga...

A espécie ganha força,

Gera frutos,

Num movimento imenso:

Universal!!!

 

No vigésimo primeiro século da História

Uma outra ave nasce...

É de rapina e tem uma palavra nova

Para a explicar:

“Artítese”!

 

Um monstro deformado,

Devorador de Fénixes,

O Anticristo

Da Ordem dos Dotados Criadores!...

Rareia,

Agora, a Fénix na Terra

E todos temem,

Tremem, mas não falam!...

 

A “Artítese”

Proclama-se de Fénix

E diz renascer da anterior...

Tem falta de harmonia,

Foge à estética

E só ao medíocre dá aval!...

 

Artistas, criadores,

Deste planeta,

Património de toda a Humanidade,

Ajudem-me a matar o predador!

É necessário

Tentar salvar a Fénix!!

 

Despeço-me com este poema, recebe um beijo, deste teu amigo de sempre,

Gil Saraiva

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