Carta à Berta: Misticismo, Ciências Ocultas, Paranormal e Ciência: Evolução I (Excerto - II Do Diário Secreto Do Senhor Da Bruma - Capítulo IV)
Olá Berta,
Tu, minha querida amiga, como eu, já ouviste falar em coisas estranhas que a ciência dos nossos tempos não explica e cuja própria existência põe em dúvida. São os eternos campos entre o mundo real, provado e cientificamente demonstrado e tudo o resto que ainda não se enquadra nesse patamar de lógica demonstrada onde a matemática ocupa um papel central. Contudo, embora isto nos pareça, por demais, evidente, nos dias de hoje, e nos achemos muito mais esclarecidos e iluminados que os nossos ascendentes e ancestrais, a verdade é que tem sido sempre assim ao longo da história do ser humano, pelo menos até onde a conhecemos.
Se na pré-história o fogo era considerado uma arte mágica, toda a evolução cognitiva do ser humano e a respetiva experimentação e explicação tem-nos feito passar para o lado da razão cada vez mais conhecimentos, que antes eram considerados mágicos ou transcendentes.
Atualmente até já criamos uma área da ciência, a que chamamos de paranormal, uma espécie de purgatório do saber, para onde diversas matérias têm transitado, enquanto aguardam pelos dias em que o seu funcionamento seja claro, compreendido, explicado e até, sem margem para quaisquer dúvidas, matematicamente comprovado. Sempre que um destes setores atinge a independência é elevado a ciência.
Na área da medicina, do estudo do cérebro, da composição da matéria e do universo, da genética e da biologia existem, nos últimos 200 anos, muitos capítulos anteriormente absurdos, que têm contribuído para o crescimento de novas ciências, e que, dessa forma, fugiram definitivamente do campo da pré-ciência ou mesmo da magia ou do paranormal. Assim como outras matérias, como a nanotecnologia ou os campos dos tecidos e materiais ditos inteligentes, com propriedades até aqui consideradas bem sobrenaturais e obscuras, têm trilhado o mesmo caminho, a mesmíssima rota em que a demonstração, comprovação e aplicação os ou as transforma definitivamente em produtos da ciência.
Numa busca simples, não seria um espanto que, nos anos 20 do século XIX, alguém fosse considerado de satânico se visto a falar a um telemóvel com um outro alguém ou a comunicar, por um qualquer sistema informático, com bases de dados ou com outras pessoas. Tudo imensos absurdos impossíveis de então.
Nos anos 20 do século passado. 100 anos depois, seria natural alguém ser internado num hospício se começasse a anunciar que daí a menos de 50 anos o Homem poria o pé na Lua. Se repararmos bem, a evolução do conhecimento humano tem sido cada vez mais rápida e exponencial. Há 50 anos atrás, seriamos escritores de ficção científica se falássemos ou descrevêssemos o uso de dispositivos, sem fios, de conversa, imagem ou transmissão de dados.
Coisas sem as quais, as novas gerações, de hoje, acham impossível viver, sendo a sua inexistência e respetiva possibilidade da sua não utilização, um enorme absurdo arcaico inconcebível.
Por mais que a evolução nos tenha demonstrado que continuaremos a evoluir e a adquirir cada vez mais matérias dos campos mágicos ou paranormais para o lado da ciência, em cada presente, mostrar-nos-emos sempre relutantes à aceitação de que esta seja a verdadeira realidade.
Se eu afirmar aqui, em 2020, que daqui a 50 anos, a telepatia ou a telecinesia serão áreas da ciência e terão abandonado em definitivo a parapsicologia, facilmente, uma imensidão de meus conterrâneos me chamaria de alucinado ou tentar-me-ia explicar que tenho um parafuso em falta no cérebro, que me faz pensar disparates.
Em resumo, estamos moldados para só ir aceitando como válido o que, pelo trabalho de muitos, vai entrando no campo da lógica científica e saindo das malhas do parapsicológico ou do sobrenatural.
António Gedeão tinha toda a razão quando afirmava que: “sempre que o Homem sonha o mundo pula e avança”. Até lá, os que acreditam, no que não está efetivamente demonstrado, serão sempre os tolinhos, os bruxos, os incrédulos, os místicos ou os sonhadores da época em que estivermos a viver.
Não há como imaginarmos que isso vai mudar. Não muda, minha querida amiga Berta, mas acredita em mim quando afirmo que o impossível apenas demora mais tempo. Porém, cada vez menos… deixo-te um beijo de até amanhã, deste teu eterno amigo,
Gil Saraiva