Carta à Berta: Série "Os Segredos de Baco" - VII - Parâmetros de Qualidade do Vinho
Olá Berta,
Hoje deves-te sentir como no verão aí pelo Algarve. Se aqui está excelente, imagino aí, minha querida amiga, até deve dar vontade de ir até à praia. Porém, tem cuidado com os ajuntamentos pois atravessamos momentos de crise muito sérios em termos virais. Hoje, todavia, mudando de assunto, cheguei ao ponto de te falar das caraterísticas mais relevantes dos vinhos. Aquelas que, normalmente, o ajudam a classificar.
Por isso, o capítulo VII de “Os Sabores de Baco” vai ser totalmente dedicado aos parâmetros de qualidade do vinho inseridos na classificação dos vinhos. Para não gerar confusão deixo apenas um último esclarecimento sobre a matéria. Nem todos aqueles que classificam se regem pela totalidade dos 10 critérios, embora esta devesse ser a norma. Há quem, por exemplo, não valorize o décimo ponto, aquele que se refere à apresentação.
Contudo, todos os grandes avaliadores optam por levar em linha de conta este parâmetro porque, afinal, o olhar aguça a sede e estimula o cérebro. Portanto, os verdadeiros especialistas não minimizam este ponto que pode ser fundamental, principalmente quando chegamos aos 2 mais elevados níveis de classificação. Um vinho de topo é facilmente prejudicado por uma garrafa ou um rótulo criado sem os devidos cuidados de maneira displicente. Na opinião dos críticos isso pode demonstrar descuido na produção ou falta de empenho integral no produto, ou seja, não é apenas necessário ser, mas, também, parecer excelente, para o ser.
C) A Classificação dos Vinhos - Parâmetros de Qualidade:
1) Cor: Para os vinhos brancos as cores observadas podem ir desde uma quase ausência de cor, passando por alguns tons de esverdeado até aos diversos amarelos. Paro o vinho tinto as cores podem variar por todas as tonalidades de vermelho e alguns azuis (quase violeta) até ao vermelho tijolo e ao bordeaux bem carregado e escuro, bem perto do negro.
2) Claridade: A maior parte dos vinhos não demonstra problemas de claridade, no entanto ,se o vinho se apresentar “turvo”, com uma espécie de “nevoa” que o impede de ver a outra face do copo e se essa “névoa” se mantiver mesmo depois do vinho decantado a apreciação será sempre negativa.
3) Aroma ou Bouquet: Cada vinho oferece uma variedade de aromas e o nosso olfato apenas é capaz de identificar aromas que já tenha sentido anteriormente, por isso, nos cursos de vinhos usam-se kits de aromas para que os alunos se familiarizem com os diversos aromas que, eventualmente, podem existir no vinho (e cuja tabela completa contém mais de 1000). Para ajudar a identificar os aromas é necessário conhecer as castas que compõem um vinho e os aromas de cada uma delas.
4) Equilíbrio: Toma-se um gole de vinho e rola-se pela boca, algo parecido com um bochechar e antes de cuspir o vinho deixa-se entrar um pouco de ar. Embora o termo equilíbrio seja um vocábulo muito subjetivo, toda a avaliação também tem o mesmo problema. Aqui devemos ter em atenção se nenhum dos componentes do vinho sobressai sobre os restantes, por exemplo, se os elementos químicos sobressaem dos restantes a pontuação deve ser baixa, mas se existir um equilibro perfeito essa pontuação deve ser alta.
5) Açúcares: é preciso ter em atenção se estamos a beber um típico vinho seco ou se estamos a beber um vinho de sobremesa (por exemplo um vinho do Porto). Se se tratar de um vinho seco, mas sentirmos o açúcar isso não é bom. Nos vinhos de sobremesa (doces) a análise deve ser contrária. A bota tem sempre de bater com a perdigota.
6) Acidez: é um dos aspetos principais pois pode tornar um bom vinho num vinho de difícil digestão. Se um vinho for ácido, mas ao mesmo tempo é equilibrado por outros aspetos do vinho (taninos, álcool, sabores, etc.) isso é positivo, mas se a acidez desequilibra o vinho ao ponto de o tornar difícil de beber isso é péssimo.
7) Corpo: é a sensação de textura que o vinho deixa na boca. Uma boa forma de analisar o corpo de um vinho é tomar um gole de água, se, após isso, o vinho que provamos tem um maior corpo (peso), uma maior presença na boca, estamos perante um vinho com mais corpo (ou encorpado), se, por outro lado, o vinho se aproximar do peso da água na boca, é um vinho sem corpo. Quanto maior o corpo do vinho maior deve ser a pontuação.
8) Taninos: são os elementos químicos que resultam das sementes da uva e do carvalho onde o vinho pode estagiar (caso tenha estágio em madeira). Conferem estrutura aos vinhos, particularmente aos tintos, sendo indispensáveis à sua longevidade. Um vinho jovem (com capacidade de envelhecimento) deve ter uma boa presença de taninos, esse mesmo vinho, com o passar do tempo, acaba por ter os taninos mais equilibrados, por isso encontrar um vinho jovem com taninos fortes é bom sinal (principalmente é sinal de que devemos guardar o vinho e voltar a bebê-lo mais tarde), implica que estamos perante um vinho que vai crescer na garrafa por um determinado tempo, o qual até pode ser de vários anos.
9) Qualidade Geral: a melhor forma de avaliar a qualidade geral é pensar se voltaria a beber esse vinho, se for um "sim definitivo" o vinho é bom e um "não claro" também não deixa dúvidas, já os valores intermédios dependem da avaliação do vinho em causa.
10) Apresentação: muitos especialistas não classificam este item, o que é um erro. Os olhos também bebem e por muito bom que um vinho seja ninguém apreciaria vê-lo servido numa garrafa mais parecida em rótulo e forma à da lixivia de casa. Um bom design sempre ajuda um bom vinho.
Minha querida amiga, despeço-me com um beijo, este teu amigo de sempre,
Gil Saraiva