Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

Carta à Berta: A ASAE pode degenerar numa nova PIDE/DGS?

Berta 54.jpg

Olá Berta,

Nestes tempos de mau tempo e de vendas em ventania rumo ao dia de Natal, espero que os nossos concidadãos se comportem com a inteligência habitual e não se deixem levar pela euforia das compras. Para a minha carta de hoje resolvi retomar um documento que escrevi há 9 meses atrás e que acabei por nunca te dar a ler.

Sendo eu, por nascimento, português, faço parte, tal como tu, de um povo de brandos costumes e de uma tolerância à prova quase de choque. Mas sou, também, um daqueles que gosta de refilar por tudo e por nada, porque nós temos essa tendência meio masoquista de criticarmos o que é nosso (nacional) mas que, por acaso, até pertence ao próximo, seja ele vizinho, conhecido, pessoa mais ou menos famosa ou até um dos VIP cá do burgo, enfim, não importa muito o quem para o assunto em causa.

Somos assim, podemos nem estar a sofrer com a crise, mas, como convém que ninguém saiba que até estamos bem, não se vão lembrar de nos chatear, lá alinhamos nós na desgraça nacional da crise que nunca mais passa. Temos a tendência incompreensível de nos acharmos vítimas de tudo e de todos. Muito mais nesta altura em que se discute o Orçamento do Estado.

Foi num ambiente parecido com este, de consciência negativa, que nasceu, tem uns anos, uma nova organização.

Ela era, na realidade, fruto de fusões, transformações, maiorias absolutas e sede de poder, enfim, uma autoridade nacional de repressão, feita de encomenda para os nossos masoquistas sentimentos de que as coisas não estão bem no que ao quintal do vizinho diz respeito. Estou obviamente, a falar da ASAE, leia-se a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, um órgão de Polícia Criminal.

Quando foi criada, nos idos de 2005, minha querida amiga, a ASAE deveria ser a resposta nacional à EFSA, em português a Autoridade Europeia de Segurança dos Alimentos, mas o governo não podia, nem queria, criar um organismo de apenas defesa alimentar dos seus cidadãos, dependente de um menos significativo Ministério da Agricultura. Não! Era necessário pôr o povo na ordem. Tal e qual, Berta, como nos fazem com as imagens e as frases nos maços de cigarros ou agora com o recente IVA moralizador de 23 porcento sobre as touradas nacionais.

O plano desenvolveu-se em 2 fases. A primeira fase, em 2005, foi a dos pezinhos de lã, com o objetivo de relançar a política de defesa dos consumidores, criando uma entidade para avaliar os riscos na cadeia alimentar e fiscalizar as atividades económicas a partir da produção e em estabelecimentos industriais ou comerciais.

Essas funções, que antes estavam dispersas por vários serviços e organismos, faziam da ASAE um organismo principalmente fiscalizador, tendo como pano de fundo o espírito da Autoridade Europeia de Segurança dos Alimentos, pese embora já com a sementinha da economia plantada no seio do organismo.

A segunda fase, em 2007, foi a da tomada do poder, sendo uma das alterações com maior impacto a da transformação da ASAE num órgão com poderes de autoridade, ou seja, um órgão de polícia criminal.

Como tal, querida Berta, pode fazer buscas, apreensões e escutas telefónicas, desde que autorizadas por uma autoridade judiciária. O mesmo acontece com as restantes polícias. Assim sendo, na prática, a ASAE é uma polícia, ainda por cima criminal, que não foi ratificada pelo Parlamento como constitucionalmente o deveria ter sido. Mais grave é que um organismo criado, em princípio, para defesa dos consumidores se torna numa polícia criminal de métodos e objetivos bem mais repressivos.

Ora, a História tem a propriedade espetacular de a podermos estudar e, se o fizermos com o devido cuidado, vamos descobrir que foi exatamente assim que a Polícia Internacional e de Defesa do Estado / Direção Geral de Segurança, vulgo PIDE/DGS, nasceu: com funções administrativas e funções de repressão e prevenção criminal, também com contornos de defesa dos cidadãos e da sua suposta segurança (conforme consta no Art.º 2º. do edito que a constituiu) só que a irmã mais nova, a ASAE, que por desígnio tem muitas funções, não deixa de ter, no meio das suas inúmeras alíneas, o desenvolvimento de ações de natureza preventiva e repressiva, conforme poderás constatar, minha amiga, no Decreto-Lei número 274 de 2007, sendo, por isso mesmo, bem mais esperta do que a irmã e clamando uma legitimidade que afinal nem tem.

Será que a ASAE, corre o perigo de se tornar a Nova PIDE/DGS? De momento parece-me um exagero considerar tal coisa. Afinal, Berta, temos tido no poder, partidos mais ou menos democratas, amarrados pelas imposições da Europa e da Comissão Europeia, mas, mesmo assim, dentro dos limites da democracia. O problema é se um Chega, ou algo semelhante, consegue, um dia, chegar ao poder. Pelo articulado da lei a ASAE pode fazer bem mais que uma PSP ou uma GNR, pode até agir sozinha ou solicitar a ajuda de qualquer outra força de segurança. Dá que pensar, não dá? E ainda agora a procissão vai no adro…

Deixo-te uma beijoca carinhosa, deste teu saudoso amigo, em jeito de despedida,

Gil Saraiva

 

Carta à Berta: O Orçamento de Estado e o Triplo XXI

Berta 51.jpg

 

Olá Berta,

Já vi nas notícias que choveu e bem por aí. Espero que dê para encher as barragens e para deixar os solos húmidos. A chuva faz muita falta ao Algarve.

Hoje, estou aqui para te falar da apresentação do OE, isso mesmo, o Orçamento de Estado. Mas fica descansada, não me vou armar em José Gomes Ferreira, nem em Manuela Ferreira Leite ou em Francisco Louça, muito menos em comentador bailarino, tipo Marques Mendes, que tudo comenta sem de tudo saber.

Nada disso, apenas vou falar enquanto portuga mediano que escuta o que se diz sobre o orçamento e tira as suas conclusões, próprias, pouco analíticas, do ponto de vista económico, e mais baseadas naquilo que é o seu dia-a-dia, com tudo o que um documento desta natureza lhe pode afetar e alterar rotinas estabelecidas.

Depois de ouvir os especialistas da televisão, e de ler as notícias online, acho que vou ficar na mesma. Sem grandes alterações ou sobressaltos no meu quotidiano, sendo que isso, por si só, já não é uma má notícia.

Contudo, há algumas notas que terei de realçar: o Ministro das Finanças, Mário Centeno, não abre mão do seu porquinho de zero vírgula dois porcentos de excedente orçamental. Com isso, os transportes, nomeadamente os ferroviários, voltam a ficar apenas na pouca-terra, pouca-terra; com a Linha de Sintra, já em processo de rotura para quase meio milhão de pessoas, a não ver a resolução deste problema ao fundo do Túnel do Rossio ou seja de que túnel for; a educação mantem-se em níveis que não perspetivam uma melhoria para os alunos, os auxiliares de ação educativa, os professores ou até para as imensas instalações afetadas pelas más condições ou pelo amianto; ao que parece quer o IVA da eletricidade, para os clientes de menor consumo, quer os escalões do IRS, passam para a discussão na especialidade sem garantias, até ao momento, de mexidas substanciais, mais uma vez.

Mário Centeno fala em factos históricos. É uma realidade que este é o primeiro orçamento da democracia portuguesa a dar lucro, feito alcançado pelo XXI Governo Constitucional, no século XXI, mesmo às portas do ano XXI. Mas essa bonita trilogia nada resolve de substancial.

Os ordenados da Função Pública voltam a derrapar; os impostos indiretos sobre os produtos açucarados, o tabaco, o álcool, os produtos petrolíferos, entre outros, mantém as previsões de subida; as pensões mais baixas continuam muito aquém do que era ambicionado; os desempregados de longa duração e o elevado nível de jovens à procura do primeiro emprego parecem destinados à estagnação, as soluções de fundo para a habitação ficaram esquecidas nalgum sótão perdido nos Paços do Governo; não se apresentam projetos de investimento e relançamento económico, no panorama macroeconómico, por parte do Estado; até mesmo a grande injeção de capital na saúde parece deixar apenas a ferida do SNS desinfetada, mas sem apresentação de uma cura à vista.

No entanto, minha adorada amiga, temos mais de 17 mil milhões de euros em reservas de ouro, fora os outros (vários) milhares de milhões em reservas em moeda corrente, cerca de metade guardado por cá e a outra metade em diversos locais do mundo, estando uma boa parte do bolo à guarda de um tal de Donald Trump, nos Estados Unidos da América. Uma história rocambolesca a lembrar o Tio Patinhas que deixa a família viver com salários ridículos, enquanto ele se banha na sua imensa caixa forte recheada de fortunas.

Não compreendo as lógicas de mercado, nem as negociatas da alta finança, mas sei que a utilização de apenas 20 porcento do ouro libertava completamente Portugal do sufoco e gerava um boom nacional nunca visto por terras lusas. Contudo, devo estar louco, por só eu pensar desta forma.

O uso cirúrgico dessas verbas ou até um pouco mais do que isso, não apenas podia servir para pagar os compromissos da dívida pública da República para este ano, como libertava do Orçamento de Estado uma verba tão significativa que seria equivalente a alcançarmos uma tal prosperidade que poderia levar à angariação de verbas superiores às inicialmente aplicadas.

Seria como meter um foguete na Lua, carregá-lo de pedras preciosas e com estas, de regresso à Terra, pagar o foguete e ainda ter lucro com a expedição. Enfim, coisas de quem não entende nada de economia e finanças, minha querida amiga. Isto sou eu a sonhar à noite.

Despeço-me com um beijo saudoso, enviado com gosto por este que não te esquece,

Gil Saraiva

Mais sobre mim

foto do autor

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em destaque no SAPO Blogs
pub