gilcartoon n.º 1109 - Miga, a Formiga: Série "Dah!" - Fazer Grande Merd@ em Portugal Outra Vez!
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Olá Berta,
Ontem analisei a direita, mas, analisando a esquerda, a situação não é melhor. O Livre anseia por ver a saída da sua ex-deputada do parlamento, Joacine Katar Moreira, e voltar a ganhar um lugar no hemiciclo. Porém, amiga Berta, era muito mais inteligente se conseguisse ir a votos associado ao PS (coisa que na direita o Chicão vai tentar fazer com o PSD para que não seja visível a sua enorme queda de apoiantes). O PAN por seu turno meteu os palitos ao touro e às touradas. Afinal, a líder do partido tinha garantido o apoio ao orçamento e apenas se absteve. Com isso perdeu a subida do IVA das touradas, a proibição dos adolescentes poderem ir às touradas, entre outras conquistas que tinha conseguido.
O PCP e os Verdes queriam ir a votos já, ontem se possível, pois que, mesmo que percam de momento mais um ou dois deputados, isso será preferível a perderem meia dúzia, ou mais, se o ato eleitoral se mantivesse apenas para 2023. O PCP tenta a todo o custo evitar ficar com o lugar do CDS, como o partido do Táxi e foi por isso que o Orçamento de Estado foi chumbado. Já o Bloco de Esquerda e a Catarina Martins estão todos pelos cabelos. O Bloco receia perder metade dos seus eleitores. Todavia, no que diz respeito ao PS e a Costa não estão felizes de ir a votos, fingem estar, mas receiam mais uma surpresa desagradável como a que aconteceu, minha amiga, com a recente derrota na Câmara de Lisboa. A dúvida pode inclusivamente prejudicar a campanha do Partido Socialista nestas eleições. Costa sente-se sozinho e no escuro. À espera tem muitos sucessores, com vontade de liderarem o partido.
Este é o resumo do filme, contudo, falta dizer que o encolher de ombros de Marcelo não lhe retira a culpa de ter anunciado antecipadamente, e cheio de orgulho tolo e mal fundado na sua influência na esquerda, que partiria para a dissolução da Assembleia da República se o orçamento fosse chumbado.
A esquerda não ligou às suas ameaças e deixou o presidente sem alternativa que não marcar mesmo as eleições legislativas para o início do ano de 2022. Há ainda um último problema que pode ser bastante preocupante. Refiro-me à data de para quando as eleições serão marcadas.
Excetuando o Iniciativa Liberal e o adversário de Rui Rio nas eleições internas do PSD, e estou a falar do convencido Paulo Rangel, que quer eleições em fevereiro, todos os outros líderes partidários propuseram ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o dia 16 de janeiro de 2022, domingo, como o dia ideal para a realização urgente do ato eleitoral.
Ora, a marcação das eleições por parte de Marcelo para dia 23 de janeiro, ou outro domingo ainda posterior a esse, implica um auxílio direto a Paulo Rangel. Significa a ingerência da presidência, num assunto interno de um partido político e um apoio específico a um candidato, o que seria péssimo quer para um estado democrático, quer para a própria imagem presidencial. É este o motivo, amiga Berta, que me leva a estar expectante no que à marcação das eleições diz respeito. Faço votos que o presidente dos afetos consiga escapar da armadilha de se tornar o presidente dos afetados. A ver vamos, já falta pouco tempo.
Espero que tenhas encontrado algum sentido nesta minha análise. Pode ser que me engane, porém, se o curso dos próximos tempos for como eu prevejo, o PS vai subir em votos e em deputados, perto da maioria absoluta, o PC e o Bloco descem, o CDS, se for sozinho, elege apenas um deputado, assim como o Partido Livre (que talvez chegue aos dois). O PAN desce também para metade e a Iniciativa Liberal pode eleger um segundo deputado. O PSD não melhora e o CHEGA talvez atinja os quatro deputados. Todavia, o melhor mesmo é esperar para ver, porque, afinal, a política é uma arte circense, mas sem rede e de elevado grau de risco extremo.
Já basta de pensar em política minha querida amiga Berta. Voltarei a escrever se aparecerem mais notícias interessantes como, por exemplo, a COP 26, ou o vulcão Cumbre Viella em La Palma, nas Canárias. Despeço-me com um beijo solidário e de amizade,
Gil Saraiva
Olá Berta,
Conforme comprovaste esta semana o Orçamento do Estado não passou. Agora já me podes dar razão relativamente ao meu parecer do fim-de-semana passado. Conforme eu te tinha dito o Bloco de Esquerda estava fiado na abstenção do PCP, dos Verdes e das duas deputadas independentes, que lutavam para segurar o poleiro e do voto a favor do PAN, que já o tinha prometido.
Porém, Catarina Martins não imaginou que o PCP queria ir já a eleições, minha amiga, para tentar minimizar prejuízos na queda de eleitores que vem tendo, pois ir só a votos em 2023 poderia retirar-lhe muitos lugares na Assembleia da República, assim, mesmo que perca mais um ou dois, ainda mantém um grupo parlamentar talvez na casa dos dois dígitos, ou seja, o tiro saiu pela culatra ao Bloco de Esquerda que poderá perder imensa força já nestas eleições. Afinal, o partido de Catarina é tido como um dos principais culpados pelo fim da geringonça e da maioria de esquerda.
Ora, o Presidente, que se julgava mais influente do que é, à esquerda do parlamento, queimou todas as possibilidades de deixar o PS, querida Berta, apresentar um novo orçamento ao garantir, repetida e insistentemente, que, se o primeiro não passasse dissolveria a Assembleia da República e marcaria eleições antecipadas. Ninguém entenderia que, face ao acontecido, desse agora o dito por não dito.
Assim, postas as coisas nestes termos, Marcelo Rebelo de Sousa, vê-se obrigado a dissolver a Assembleia da República e a convocar eleições. Consta que, para os lados de Belém, a simpatia do nosso Presidente recai, no que aos candidatos a líder no seio do PSD diz respeito, para o jeitinho de Rangel, que fez questão de ir ao beija-mão presidencial. Para Marcelo, Rui Rio, parece demasiado tolerante com o Governo de Costa e o nosso presidente tem outro tipo de perfil em vista para a liderança do seu antigo partido político, que não passa, evidentemente, por Rio.
Mas, fazendo uma breve síntese de como os partidos estão a ver a dissolução da AR, podemos dizer que o mais feliz é o Chega de André Ventura. A ânsia de ter um grupo parlamentar é superior ao ganho que teria com o aumentar do descontentamento dentro de dois anos. Já o Iniciativa Liberal está aflito, Cotrim acha que lhe falta tempo para fazer uma campanha que lhe traga mais deputados. Por outro lado, minha querida, o CDS tem uma crise de poder grave e o Chicão, preferiu atirar com a escolha do novo líder para depois das eleições, desterrando Nuno Melo. Quanto a Rangel está convencido que pode ser alternativa a Costa e, na sua vaidade infinita, não consegue antever que o apoio que tem no partido existe apenas no aparelho e não nas bases, onde a maioria dos militantes são do Norte e do interior do país e que, quer ele queira quer não, ainda são bastante homofóbicos, coisa com que Rio conta para vencer.
Amanhã termino esta breve análise, minha querida Berta, pois não quero ser demasiado maçador. Deixo um beijo saudoso, deste que todos os dias tem imensas saudades das nossas antigas conversas de fim de tarde, o teu eterno amigo,
Gil Saraiva
Olá Berta,
No âmbito da aprovação do Orçamento de Estado para 2021 o PAN, o Partido dos Animais e Natureza (eles dizem também pessoas, embora isso não conste da sua própria sigla) conseguiu fazer aprovar, uma nova taxa que entrará em vigor em 2022. Fica estranho que um partido que se apresenta contra o aumento de impostos, venha, à distância de um ano e um mês, quase que à socapa, impor um novo imposto que terá uma implicação direta sobre o consumo das classes mais baixas, até à famosa classe média, bem como sobre o seu rendimento mensal real e efetivo.
A taxa visa cobrar 30 cêntimos por embalagem descartável para refeições. Embalagens que até ao momento custavam entre 2 e 10 cêntimos, que pouco ou nada eram imputados ao consumidor final (as ditas pessoas de quem o PAN se diz defensor). A partir de 2022 o Zé Povinho passa a pagar mais meio euro (que vai ser o resultado do aumento no custo das embalagens, acrescidos de impostos e do aproveitamento dos fornecedores e revendedores), de cada vez que traga uma sopa do supermercado ou do pequeno comércio, uma refeição congelada ou que faça um pedido de entrega de comida ao domicílio ou use o “take-away”. Em números redondos, se levarmos em linha de conta os hábitos de um reformado urbano, facilmente somos levados a concluir que a situação é mais grave do que se imagina.
Se bem que no interior e nas aldeias os hábitos não sejam exatamente os mesmos, nas cidades e nas grandes zonas metropolitanas, onde se concentra 80% da população do país, um idoso, normalmente a viver sozinho ou na companhia do seu par, de idade semelhante, passa a ter um encargo mensal acrescido, que podendo inicialmente parecer pouco, se traduz numa enormidade perante as parcas reformas da população alvo.
Para poder ter algumas bases sobre o que fundamento em seguida, resolvi contactar os proprietários de vários espaços de restauração que conheço aqui, em Campo de Ourique, e perguntar a algumas das caixas de supermercado, com quem já tenho uma certa lidação, qual era o comportamento dos séniores nas suas aquisições.
Face a esta pequena investigação pude concluir que, em média, um sénior leva para casa, diariamente, duas embalagens de comida preparada e, pelo menos, outras duas para o fim de semana. Uma das embalagens é normalmente uma ou duas sopas (dependendo se vive sozinho ou se tem cônjuge) para o jantar e uma embalagem de frango do supermercado ou do prato do dia, do seu espaço de restauração habitual. O somatório destas encomendas perfaz um volume de 48 embalagens por mês. Ora, se multiplicarmos isto por 50 cêntimos, teremos para os idosos, em média (haverá certamente casos piores ou melhores), um acréscimo de 26 euros por mês em custos.
Em resumo, o aumento extraordinário de 10 euros das reformas do próximo ano, mais a subida observada este ano e a do ano de 2022 serão integralmente absorvidas por esta ecológica medida do Partido dos Animais e da Natureza (e das pessoas, segundo afirmam os seus líderes).
Por incrível que pareça serão as famílias remediadas, e as com menos meios, as mais afetadas em mais este contributo ecológico. Aliás, a ele irá somar-se a taxa que vai nascer proximamente para os resíduos sólidos urbanos por agregado familiar.
Os ricos não trazem com regularidade o jantar para casa. Pelo contrário, ou jantam fora ou têm quem lhes confecione o jantar. A sorte de uns e o azar dos outros é uma das causas do fosso cada vez maior entre quem tem e quem não tem na nossa sociedade contemporânea. É triste ver que de uma assentada, graças ao PAN, o nível de vida da terceira idade recua três anos.
Não penses, querida amiga, que sou contra medidas ambientais. Pelo contrário, sou totalmente favorável, mas deve haver a preocupação em que o ónus não recaia sempre sobre os mesmos. Afinal, segundo sempre ouvi dizer, o Sol quando nasce é para todos. Até lá… resta-me dizer: arreganha a taxa, ó Zé! Recebe um beijo de despedida deste teu amigo de ontem, hoje e sempre,
Gil Saraiva
Olá Berta,
Há 4 anos, quando te escrevi esta Carta em tempos de pandemia, o PS defendia a revalorização anual das pensões mais baixas, acima dos valores da inflação. Aliás, esta foi uma política que tivera início no ano anterior permitindo que quem ganhava menos na aposentação visse valorizada a sua reforma e pudesse ter esperança em dias melhores. Aproveitando o facto de nunca te ter enviado a carta, devido à pandemia, aproveitei para o fazer agora, com a devida atualização.
Com efeito, os tempos são outros, e neste momento a direita, no Governo, apenas pretende fazer atualizações consoante o valor da inflação, bonificadas pontualmente sempre que a situação económica o justifique. A diferença é que estes ajustes não ficam vinculados aos aumentos dos pensionistas e não permitem uma verdadeira valorização das pensões. Não gosto de falar de política, porém, impõe-se um esclarecimento:
Ora, o PS pretende que o aumento a fazer aos pensionistas fique efetivamente vinculado de modo permanente na atualização e isto para quem tem pagamentos mensais de reforma inferiores a 1.565 euros, mais coisa menos coisa, e procura ainda que o valor seja atualizado cerca de 1,5% acima do proposto pela AD que apenas pretende subir em 3,01% as pensões mais baixas e abaixo dos 800 euros, o que não permitiria qualquer valorização extraordinária aos pensionistas em 2025.
A diferença entre as propostas é imensa, no caso da proposta do PS um casal de pensionistas que receba, por exemplo, cerca de 1.910 euros (digamos 1260 euros um e 650 euros o outro), passaria a receber cerca de mais 90 euros por mês o que num ano significaria um aforro extra de 1.260 euros, face ao ano anterior, (um 15º. mês extra, para um dos membros do casal) enquanto na proposta do Governo esse aumento apenas rondaria os 250 euros.
Aliás, o que o PSD pretendia oferecer às grandes empresas de bónus, ao reduzir o IRC em 2% é muito mais caro do que apenas a redução de 1% proposta pelo PS e gera rendimentos suficientes para que o Governo possa realizar, com segurança, este aumento efetivo das pensões.
Portanto, querida Berta, eu espero que o PS consiga levar por diante as suas intensões e que as alterações fiquem plasmadas no Orçamento do Estado pois com o que aí vem com o acabar das rendas protegidas anteriores a 1990, todo o dinheiro será pouco para fazer face à crise que se segue. Despeço-me com um beijo, este teu amigo de sempre,
Gil Saraiva
Olá Berta,
Não sei se já te falei aqui da minha amiga Maria de Lourdes Quintas e do marido José Borralho, mas são dois amigos que fiz, no grupo Campo de Ourique, por acaso. Ora, ontem, enquanto se falava da Carta que te escrevi ela lembrou-me uma realidade sobre a qual eu ainda não tinha pensado recentemente, mas que esteve para acontecer em tempos de pandemia há 4 anos, tendo o governo emendado a mão a tempo. É o seguinte:
Se as rendas anteriores a 1990 forem desbloqueadas, e os preços das mesmas atualizados nós, eu e a Marília, seremos os próximos a ser despejados e não é daqui a um tempo, nada disso, é uma realidade que tem os dias contados e que começa já em janeiro de 2025.
Ou seja como temos um rendimento na ordem dos 2.000 € juntos, se a renda sobe para preços correntes de mercado lá vamos nós com os porcos sem apelo nem agravo. E de nada interessa se em 1982 demos 500 contos pela chave de um T4, quando a compra de um T2, naquele tempo custava (para comprar), cerca de 700 contos.
Também não interessará certamente que o 3º. Andar que alugámos não tivesse casa de banho, e apenas uma bacia na cozinha e um buraco no chão na varanda para se evacuar e que tivéssemos de fazer às nossas custas toda a canalização e esgotos do apartamento.
O que vai por certo importar é que são 180 metros quadrados de casa, ao preço a que um terceiro andar sem elevador está em Lisboa, e de nada valerá termos acabado de gastar 20.000 euros a pôr vidros duplos, a pintar a casa e a arranjar o soalho da mesma o ano passado, já para não falar de uma cozinha nova, porque a senhoria não queria fazer obras.
Mais grave ainda é o facto de termos de fazer uma mudança, nem imagino para que Cochinchina, quando temos 42 anos de vida acumulada nesta casa. O que faço a uma biblioteca de 10.000 livros? E a uma coleção de relógio de mais de 300 e aos mil discos de vinil, aos 2,500 Cd’s de música e aos 1,000 DVD de filmes clássicos? Onde pôr mais de 500 isqueiros e cerca de outros tantos porta-chaves e o meu atelier de pintura e os quase 100 quadros? Onde? Onde vou eu colocar, de um dia para o outro, mais de 40 anos de vida? Pois é, amiga Berta, não faço a menor ideia.
A lei Cristas já nos tinha encostado à parede há uns anos atrás, com um aumento de renda 5 vezes mais alta do que aquilo que pagávamos até ali. Mas este OE, este Orçamento de Estado manda-nos de um momento para o outro, pela porta fora para o olho da rua.
A senhora que nos alugou a casa já nem está vida, a filha está internada num lar e o neto, que ao que parece (porque nem fomos avisados) agora gere o prédio não quer saber de nada do que se passou no tempo da avó. O que ele vai querer é receber uma renda, compatível com a casa que hoje existe, independentemente de aqui nunca ter gasto um cêntimo.
Mas minha querida Berta, se a Lei deixar de nos proteger o que funciona mesmo é o mercado, não imagino como será a minha vida, mas não vejo como poderei continuar a viver em Campo de Ourique ou em qualquer outro lado deste país, nem importa muito bem onde seja.
Os Governos de direita não se preocupam muito com isso, o que lhes importa mesmo é servir a sua clientela. Desculpa o desabafo amargurado, mas fazer o quê? Recebe um beijo de despedida deste teu amigo de sempre, porque a vida é mesmo assim…
Gil Saraiva
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