Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Ontem, depois de dias e dias de suspense o Orçamento de Estado passou. O espetáculo foi transmitido na televisão e vê-lo passar foi quase surrealista. Porém, acabou por ser o Novo Banco, tema que começa a ficar velho, o verdadeiro protagonista do dia. A Assembleia da República acabou por votar maioritariamente à esquerda e à direita o condicionamento de transferências de verbas para a instituição. Primeiro exigem os resultados de uma auditoria efetuada pelo Tribunal de Contas. No meio deste desfile dei comigo a cantarolar “A Banda” de Chico Buarque. Resolvi fazer umas adaptações e falar através delas do que se passou.
“O Orçamento”
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver o orçamento passar
Cantando verbas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver o orçamento passar
Cantando verbas de amor
O desempregado que contava dinheiro parou
O banqueiro que contava vantagem parou
O restaurante que contava as cadeiras parou
Para ver e ouvir a votação bem ali na TV
A Ana Gomes, que vivia falada, sorriu
A mercearia que vivia fechada se abriu
E a imprensa toda se assanhou
Pra ver o orçamento passar
Cantando verbas de amor
Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver o orçamento passar
Cantando verbas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver o orçamento passar
Cantando coisas de amor
O Novo Banco se esqueceu dos ataques e pensou
Que vinha verba pra sair do buraco e… dançou
E o Ventura por 3 vezes votou
Ninguém sabe bem em quais ele se enganou
A Ferreira Leite debruçou na janela
Pensando que orçamento caía, qual estrela,
E falhou, que PCP não deixou
Que o PAN o acompanhou…
A marcha alegre se espalhou na assembleia e insistiu
A Joacine que vivia escondida surgiu
O hemiciclo todo se enfeitou
Pra ver o orçamento passar
Cantando verbas de amor
Mas para meu desencanto
A Covid não acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que o orçamento passou
E cada qual no seu canto
E em cada canto uma dor
Depois do orçamento passar
Cantando verbas de amor
Depois do orçamento passar
Cantando verbas de amor
Depois do orçamento passar
Cantando verbas de amor
Depois do orçamento passar
Cantando verbas de amor
Pois é minha querida Berta, depois do circo a vida continua. Este é um momento difícil como poucos que o país viveu nos últimos anos. Espero que em breve tudo nos pareça um pesadelo que também passou. Despeço-me com um grande abraço, este teu velho amigo,
Como vai a vidinha por aí? Espero que a adaptação esteja a correr pelo melhor. Por cá as notícias continuam a dar comigo em doido. Dias há em que penso não ligar às coisas que leio, mas a necessidade de opinar não me deixa descansado. A minha missiva de hoje é alegadamente a mais alega de todas elas. Ao fim ao cabo, é sobre o SIS, o Serviço de Informações de Segurança, a CIA à portuguesa.
O diretor-geral dos nossos serviços secretos, Adélio Neiva da Cruz, o senhor que se recusou no parlamento, mais concretamente na Comissão Parlamentar dos Assuntos Constitucionais, a responder, por 2 vezes, em 2014, se era ou não um elemento ativo e bem posicionado da maçonaria portuguesa, uma organização, ao que parece, mais secreta que os próprios serviços secretos nacionais, veio ontem a público, numa intervenção pública na Universidade do Minho, em Braga, dizer que: “a Europa não está livre de um novo ataque terrorista de larga escala”, terminando a sua intervenção com a seguinte informação: “Estamos hoje mais fortes e inequivocamente mais preparados e mais capacitados para combater a ameaça terrorista que se desenha no futuro”.
Sabes Berta, não sei o que me preocupa mais, se a propaganda de um diretor-geral sobre as futuras ameaças terroristas de que nada sabe, com vista à angariação de mais recursos financeiros para a sua organização, alegadamente liderada por um maçon cuja agenda me é desconhecida, se a possibilidade de uma ameaça terrorista em território nacional.
Afinal, se tivermos em conta que, só para medidas antiterroristas, Portugal gasta mais de 3 milhões de euros por ano, desde de 2004 até aos dias de hoje, bem perto dos 50 milhões se somarmos tudo, imagine-se a verba se a ameaça de larga escala se concretizar, seja a onde for, na Europa. É que o dinheiro em causa dava, por exemplo, para reforçar apoios socias de 417 euros, doze meses por ano, durante 10 anos, a pouco mais de mil pessoas.
Poderão os puritanos defensores do sistema dizer que eu estou a afirmar que não devia existir SIS em Portugal, o que não corresponde, em nada, às minhas palavras (até podiam ter razão, mas não é isso que está em causa). Eu não contesto a existência de uma polícia secreta, no contexto ocidental, em Portugal. Se calhar pareceria mal, aos nossos aliados, não termos nenhuma. Mas, sem contar com as quantias destinadas ao antiterrorismo, as secretas custaram-nos, só no presente século, em orçamento conhecido (ainda falta saber quanto passa por debaixo da mesa na atribuição de fundos secretos) qualquer coisa como 632 milhões de euros. Ou seja, mais de 2,6 milhões de euros por cada mês, durante os últimos 20 anos, para além dos já referidos fundos antiterroristas, entre outros.
Só para termos um termo comparativo, este valor é mais de metade do montante destinado à agricultura, florestas, desenvolvimento rural e recursos hídricos, em Portugal, em 2019, e isto antes das cativações de Mário Centeno.
Contudo, minha querida Berta, não me vou alargar muito mais com este tema sensível, apenas te digo que gostava imenso de saber onde, e em quê, aplica o SIS 3 milhões de euros todos os meses, deste 2000, ininterruptamente. Porém, como não me agrada a ideia peregrina de ter os ditos a investigarem-me seja lá por que razão for, faço minhas as palavras ditas, em 2007, por um idoso, alentejano e comunista ferrenho, de seu nome Manuel Machado, a propósito dos fascistas: <<Eles “andem” aí, cuidado, muito cuidadinho…>>.
Despeço-me com um sempre saudoso beijo, deste teu eterno amigo,