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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta n.º 598: Os 4 Cavaleiros da Minha Indiferença - Parte I/IV - SNS e Covid-19

Berta 598.jpg Olá Berta,

Sabes, minha querida amiga, a maior parte das notícias de hoje em dia consegue fazer-me atingir um tal grau de saturação que eu nem vontade tenho de expressar a minha opinião sobre elas. Porém, há alturas em que a minha indignação me faz explodir e desabafar. Vou-te dar apenas quatro exemplos, em quatro cartas e nem sequer me vou alongar muito em volta deles para não partir para o insulto.

Como as cartas que te escrevo, cara Berta, estão incluídas no meu blog “alegadamente” e tudo o que eu te digo é enquadrado dentro do domínio do supostamente em vez do campo da realidade, espero evitar com isso ter de ir a tribunal defender as minhas ideias. Não sei se as vais achar absurdas ou claras e evidentes, mas isso já é responsabilidade tua e depende exclusivamente do teu entendimento sobre elas. Nesta e nas próximas três cartas vou-te relatar os meus quatro exemplos tentando não me alargar demasiado.

Vamos às situações concretas. Vou começar, minha amiga, pela ocultação governamental dos dados sobre a Covid-19. Conforme já te disse um dia, Portugal ocupa, em número de habitantes, se considerarmos a atualização dos censos de 2021, o lugar 87 entre os 228 países e territórios do globo. Quando a pandemia começou e durante quase um ano, ocupámos a posição 43 no ranking dos mais infetados, o que não era assim tão mau pois estamos exatamente colocados no centro geográfico do chamado mundo ocidental.

Assim, Berta, se pegares num mapa-múndi e desenhares uma circunferência cujo raio apanhe a costa leste dos Estados Unidos da América, tendo a nossa capital como centro, facilmente verificarás que deixamos de ser um país periférico da Europa, para passarmos a ser o centro do mundo ocidental, não só apanhamos os EUA e o Canadá, como o México e o Brasil, ou boa parte de África, toda a Europa e uma fatia da Ásia. Esta evidência coloca-nos no centro geográfico do universo ocidental. Por isso, somos ponto de passagem para gente do todo o Ocidente. Não por sermos bonitos, mas porque estamos no caminho de quase todas as deslocações de pessoas entre continentes nesta parte do globo.

É isso que justifica, minha querida, não termos tido infeções de Covid-19 proporcionais ao nosso número de habitantes, mas o dobro disso. Como ponto de passagem estamos muito mais sujeitos a levar com todas as influências ocidentais quer sejam as boas, quer sejam, logicamente, também as más. Não há volta a dar neste assunto.

Ora, Berta, durante 2020, o primeiro ano da pandemia, portámo-nos que nem heróis e fomos diversas vezes apontados, neste mundo Ocidental, como um exemplo a seguir no que ao combate à Covid-19 dizia respeito, porém, graças ao desleixo das festas natalícias de 2020, fomos atacados forte e feio por uma variante da Covid-19 que matava a torto e a direito e nos meses de fevereiro e março de 2021 a desgraça foi total. Depois de algumas trapalhadas, pois não vale a pena chover no molhado, lá conseguimos voltar a exemplo máximo do Ocidente ao termos colocado um vice-almirante no comando da vacinação nacional contra a Covid-19.

As coisas correram até melhor do que era esperado, minha querida, e as mutações do vírus, para versões cada vez menos mortais no seio dos vacinados, tiraram-nos a pressão de cima. Assim que isto aconteceu, o Governo cansado de ser quase transparente (quase, porque nunca divulgou, por exemplo, o número de infetados por freguesia, embora tivesse esses dados) resolveu voltar à opacidade.

Promoveu, por um lado, cara amiga, o vice-almirante a almirante e devolveu-o à Marinha e até o fez chegar a Chefe do Estado Maior da Armada. Por outro lado, deixou de divulgar os dados da Covid-19 de forma diária, passando a semanal, mas agora com muito menos parâmetros divulgados. Já ninguém sabe sequer quantos internados por Covid-19 temos no SNS e, muito menos, quantos estão nos cuidados intensivos.

É saturante ver como o Estado nos tenta manter distantes da realidade, querida Berta. Desde o regresso ao obscurantismo da nossa Direção Geral de Saúde e de todo o Ministério da Saúde, que tudo se agravou, sem que o soubéssemos. Temos receitas da inflação a acumular nos cofres do Estado, mas as urgências do país em colapso total, o SNS a degradar-se e a Covid-19 a sair de controlo. Tudo isto não é mais grave não porque, realmente, não o seja, mas porque o Governo oculta um enorme manancial de informação.

Podes querer, Berta, que tudo está bem pior do que imaginamos, todavia, a gravidade das situações vai trazendo à ribalta aquilo que, rebentando pelas costuras, aqui e ali, nos vai levantando pontas de um imenso véu. É isto que me dá vontade de nem ligar, de deixar de ouvir, de me sentir farto por dentro, mesmo, às vezes, sem saber bem o porquê de esse sentir tão pegajoso.

Hoje, minha querida, por acaso, fui ver os dados mundiais relativos à Covid-19 e fiquei parvo com a situação de Portugal. Eramos o quinto país do mundo com mais testes por habitante, e tínhamos mais de quarenta países à nossa frente no ranking dos mais infetados.

Hoje somos o vigésimo segundo país com mais infeções desde o início e o vigésimo quinto com mais testes por milhão de habitantes, mas a coisa é inacreditável, pois, pela informação disponível, uma em cada duas pessoas em Portugal já teve Covid-19, num total de 5 milhões e 400 mil portugueses, ou seja, já ultrapassámos os 50% de população infetada. Com quase 25 mil mortos por Covid-19 até à data. Às vezes, sinto-me triste por sermos governados desta maneira, muito triste. Deixo um beijo de amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

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