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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta n.º 562: Campo de Ourique e a Clonagem de Cartões Multibanco (versão alterada a pedido de Nuno Martins)

Berta 562.jpgOlá Berta,

Campo de Ourique não é a minha terra natal só porque nasci numa outra parte do campo, lá para os lados de Campo Grande. Porém, foi o bairro que me acolheu com um carinho como nenhum outro. Conforme já te contei por diversas vezes, minha querida amiga, já me encontro por cá há mais de treze anos.

Adoro o bairro, embora para muitos dos meus vizinhos, ainda hoje, eu seja um novato (pese embora os meus sessenta anos) que acabou de chegar à freguesia. Com efeito, muitos deles já ultrapassaram os quarenta e os cinquenta anos, alguns ainda mais, de convivência íntima com a terra. Esta é a mais linda aldeia da minha cidade berço, Lisboa, a capital do país. Muitos lembram, saudosamente, que o bairro já não é o que era e eu acredito. Mas é assim, Berta, num pequeno espaço de 1,65 quilómetros quadrados, esta é, hoje em dia, a segunda freguesia da cidade com mais habitantes por quilómetro quadrado.

Aliás, enquanto Lisboa tem perdido bastante população para a periferia, Campo de Ourique nunca parou de crescer e aumentar as suas gentes. Enquanto em 2011 a população era de 22.120 habitantes, em 2021 passou para 22.169, com este aumento de quarenta e nove pessoas a freguesia foi das poucas de Lisboa a crescer em número de habitantes. São, mais trinta pessoas por quilómetro quadrado.

Isto quer dizer que hoje, querida Berta, Campo de Ourique tem 13.436 pessoas por quilómetro quadrado, ou seja, vivem 13 indivíduos por cada metro quadrado. Quer isto dizer que se não existissem prédios, muitos com bastantes andares e vários apartamentos por andar, e que se toda a população do bairro viesse em simultâneo à rua, nós não caberíamos, uns ao lado dos outros, coladinhos, nas ruas do bairro em que vivemos.

Por outras palavras, em Portugal vivem cerca de 112 pessoas por cada quilómetro quadrado, isto tendo em conta a população e a área do território nacional, ilhas incluídas, enquanto em Campo de Ourique vivem cento e vinte vezes mais pessoas concentradas por cada quilómetro quadrado.

Ora, minha amiga, a acreditar nos dados das eleições autárquicas de 2021 e simultaneamente nos valores apresentados nos censos deste ano, existem 3.087 menores de 18 anos no nosso bairro. Um valor muito baixo, a ser real.

Dito isto não é para admirar que, este mês, ao sair da Pastelaria Trigo da Aldeia, onde vou frequentemente buscar bolinhas de pão malcozidas e o melhor bolo de laranja do bairro, uma rapariga na casa dos trinta anos, me tenha clonado o cartão de débito que eu acabara de meter no bolso detrás das calças. Minutos depois já me tinha sacado 60,21 euros da conta numa compra internacional, online, na aquisição de um qualquer produto de estética. Por sorte eu tinha seguro do cartão e o banco fez a reposição da verba.

Mas isso só acontece porque vivemos num local onde a população é considerável e os recursos são cada vez mais escassos. Eu nem sabia que era possível um cartão multibanco ser clonado desta forma, porém, essa é a triste realidade. E nem Campo de Ourique, na sua pacatez de aldeia escapa aos novos métodos dos bandidos e burlões. É o excesso de população em relação aos recursos a fazer-se sentir. Por isso, Bertinha, tem cuidado, se aconteceu comigo aqui, pode muito bem acontecer contigo por aí. Ainda mais nesta época natalícia onde andamos sempre de cartão multibanco à mão de semear.

Por hoje é tudo, fica com os meus votos de Boas Festas. Com um beijo de saudade, deste teu amigo de sempre, me despeço até à próxima carta,

Gil Saraiva

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PS: A imagem anterior foi removida a pedido do senhor Nuno Martins. Transcrevo o texto que originou esta mudança.

Nuno Martins (13:58) - Bom dia. Agradeço que apague a publicação que tem no seu Facebook relativamente ao trigo da aldeia. Não queremos ser associados às suas publicações sem a nossa autorização, ainda para mais sendo o assunto sobre um tema que nada nos diz respeito. Atentamente, Nuno Martins

Gil Saraiva (17:08) - Caro Nuno Martins, entendo a sua posição.  Mas é esta a realidade de um jornalista. Coloquei efetivamente a vossa publicidade na esquina da fotografia apenas para não identificar quem lá se encontrava. Podia ter tirado outra que não seria tão apelativa. Isto no que se refere à publicidade. Quanto à Carta à Berta são crónicas de um Jornalista Profissional em atividade e sinceramente não preciso da vossa autorização, nem a vou remover, evidentemente. Contudo, se desejar, posso alterar a fotografia que ilustra a peça, com a divulgação desta troca de mensagens entre os dois, no final da mesma. Uma vez que se dirigiu diretamente a mim. Aguardo a sua decisão. Sem outro assunto de momento, atentamente, Gil Saraiva

Nuno Martins (18:09) - Boa tarde. Agradeço que altere a fotografia, e de preferência que não apareça a nossa imagem. Atentamente, Nuno Martins

Gil Saraiva (19:40) – Caro Nuno Martins mudança de imagem efetuada para uma de minha autoria. Estou a proceder à respetiva alteração nos grupos do Facebook onde esta entrou e espero ter a situação resolvida ainda hoje. Contudo, nos grupos e nas partilhas que não controlo não poderei fazer grande coisa. Obrigado. Com a mais elevada consideração, Gil Saraiva

Nuno Martins (19:45) - Muito obrigado. Boa semana.

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Carta à Berta n.º 562: Campo de Ourique e a Clonagem de Cartões Multibanco

Berta 562.jpgOlá Berta,

Campo de Ourique não é a minha terra natal só porque nasci numa outra parte do campo, lá para os lados de Campo Grande. Porém, foi o bairro que me acolheu com um carinho como nenhum outro. Conforme já te contei por diversas vezes, minha querida amiga, já me encontro por cá há mais de treze anos.

Adoro o bairro, embora para muitos dos meus vizinhos, ainda hoje, eu seja um novato (pese embora os meus sessenta anos) que acabou de chegar à freguesia. Com efeito, muitos deles já ultrapassaram os quarenta e os cinquenta anos, alguns ainda mais, de convivência íntima com a terra. Esta é a mais linda aldeia da minha cidade berço, Lisboa, a capital do país. Muitos lembram, saudosamente, que o bairro já não é o que era e eu acredito. Mas é assim, Berta, num pequeno espaço de 1,65 quilómetros quadrados, esta é, hoje em dia, a segunda freguesia da cidade com mais habitantes por quilómetro quadrado.

Aliás, enquanto Lisboa tem perdido bastante população para a periferia, Campo de Ourique nunca parou de crescer e aumentar as suas gentes. Enquanto em 2011 a população era de 22.120 habitantes, em 2021 passou para 22.169, com este aumento de quarenta e nove pessoas a freguesia foi das poucas de Lisboa a crescer em número de habitantes. São, mais trinta pessoas por quilómetro quadrado.

Isto quer dizer que hoje, querida Berta, Campo de Ourique tem 13.436 pessoas por quilómetro quadrado, ou seja, vivem 13 indivíduos por cada metro quadrado. Quer isto dizer que se não existissem prédios, muitos com bastantes andares e vários apartamentos por andar, e que se toda a população do bairro viesse em simultâneo à rua, nós não caberíamos, uns ao lado dos outros, coladinhos, nas ruas do bairro em que vivemos.

Por outras palavras, em Portugal vivem cerca de 112 pessoas por cada quilómetro quadrado, isto tendo em conta a população e a área do território nacional, ilhas incluídas, enquanto em Campo de Ourique vivem cento e vinte vezes mais pessoas concentradas por cada quilómetro quadrado.

Ora, minha amiga, a acreditar nos dados das eleições autárquicas de 2021 e simultaneamente nos valores apresentados nos censos deste ano, existem 3.087 menores de 18 anos no nosso bairro. Um valor muito baixo, a ser real.

Dito isto não é para admirar que, este mês, ao sair da Pastelaria Trigo da Aldeia, onde vou frequentemente buscar bolinhas de pão malcozidas e o melhor bolo de laranja do bairro, uma rapariga na casa dos trinta anos, me tenha clonado o cartão de débito que eu acabara de meter no bolso detrás das calças. Minutos depois já me tinha sacado 60,21 euros da conta numa compra internacional, online, na aquisição de um qualquer produto de estética. Por sorte eu tinha seguro do cartão e o banco fez a reposição da verba.

Mas isso só acontece porque vivemos num local onde a população é considerável e os recursos são cada vez mais escassos. Eu nem sabia que era possível um cartão multibanco ser clonado desta forma, porém, essa é a triste realidade. E nem Campo de Ourique, na sua pacatez de aldeia escapa aos novos métodos dos bandidos e burlões. É o excesso de população em relação aos recursos a fazer-se sentir. Por isso, Bertinha, tem cuidado, se aconteceu comigo aqui, pode muito bem acontecer contigo por aí. Ainda mais nesta época natalícia onde andamos sempre de cartão multibanco à mão de semear.

Por hoje é tudo, fica com os meus votos de Boas Festas. Com um beijo de saudade, deste teu amigo de sempre, me despeço até à próxima carta,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Campo de Ourique - Maria da Fonte, Símbolo de Liberdade

Berta 557.jpgMaria da Fonte - Campo de Ourique - Lisboa – Portugal (Gil Saraiva -Fotos de autor, direitos reservados)   

OS 101 ANOS E 21 DIAS DA ESTÁTUA DA MARIA DA FONTE EM CAMPO DE OURIQUE EM 6 DE OUTUBRO DE 2021

Olá Berta,

Não sei se sabes, mas dá-se o nome de MARIA DA FONTE à revolta no seio do povo cuja primeira chama teve origem no Minho, no decorrer dos idos de maio de 1846, tendo acabado por se propagar a todo o reino de Portugal, desencadeando uma cruel contenda popular que ficaria na história como «A GUERRA DA PATULEIA», que deixou a rainha D. Maria II em muito maus lençóis.

Não me vou armar em historiador, nem pôr-me aqui a desenvolver um grandioso ensaio sobre este período da nossa História, bem pelo contrário, apenas pretendo te apresentar um pequeno vislumbre do ocorrido explicando o como e o porquê da estátua da Maria da Fonte se encontrar desde há cento e um anos no Jardim da Parada em Campo de Ourique.

Pelo que nos dizem os cronistas da época, a causa do conflito teve origem na proibição real de se enterrarem os mortos nas igrejas, como era hábito até então. Este facto serviu de rastilho à revolução, movida pelo ódio popular contra o Governo, contra a política fiscal, e contra a pessoa do Conde Costa Cabral que o liderava e que apelidaria a revolta como a «REVOLUÇÃO DO SACO AO OMBRO E DA ROÇADEIRA NA MÃO».

No dia quinze de setembro de 1920, a propósito dos cem anos da proclamação do regime liberal, foi lançado um marco comemorativo que se traduziu na inauguração de um monumento a Maria da Fonte, a mulher de Fonte da Arcada que terá tido um papel relevante na sublevação das mulheres minhotas, que culminaria com o fim do governo de Costa Cabral, exonerado a 17 de maio de 1846.

Porém, a estátua da Maria minhota de Fonte da Arcada é basicamente usada como um símbolo da libertadora revolta popular que foi fulcral para a consolidação da liberdade e do regime liberal em Portugal, mais do que uma homenagem, propriamente dita, à mulher do Minho que se terá destacado no início dos conflitos de 1846.

A estátua da Maria da Fonte, representa uma mulher de armas, num movimento guerreiro e decidido e é inspirada nas artísticas correntes Naturalista e Realista, sendo de autoria de Costa Motta. Trata-se da imagem, em mármore branco, de uma jovem mulher minhota descalça, que avança bramindo um apelo guerreiro, de arma de fogo na mão direita, ao alto, e com um rudimentar pau com ferrão sobre o ombro esquerdo, antigamente denominado por chuço, num perfeito movimento de incitamento à luta.

A sua colocação no Jardim da Parada, em Campo de Ourique, não é um mero acaso, pelo contrário, serve para realçar o local onde teve origem, nos idos de 1803, o movimento revolucionário gerador das revoltas populares que implicariam o estabelecimento do regime liberal em Portugal.

É a escultura desta mulher do Norte que faz a ponte emblemática e liberal entre o Minho e Lisboa, num claro simbolismo de unidade nacional, a qual, ao ser colocada na capital, no sítio preciso onde o Liberalismo português nasceu, tenta mostrar às gentes que vale a pena lutar pela liberdade.

A demonstração, por intermédio de uma escultura colocada a centenas de quilómetros do local onde a respetiva heroína se notabilizou, traduz assim, de uma forma clara, que locais tão díspares como o Minho ou Lisboa (e que poderiam ter ocorrido entre outros quaisquer pontos do país, como, por exemplo, Ponta Delgada ou Faro) podem contribuir com igual relevância na consolidação da unidade nacional e do valor mais alto que a liberdade representa.

A estátua de Maria da Fonte representa assim, mais do que a consolidação do liberalismo, sob uma forma feminina, decidida e guerreira, a luta de um povo pela unidade nacional contra tiranias, na vontade inequívoca, decidida e persistente da implementação da liberdade.

Por hoje despeço-me, minha querida amiga Berta, cento e um anos e vinte e um dias depois da colocação da escultura de Maria da Fonte no Jardim da Parada, em Campo de Ourique, neste dia seis de outubro, um dia depois do feriado que comemora a implantação da República em Portugal, neste ano de 2021, enviando um beijo saudoso deste teu amigo de sempre,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: O Que Se Passa em Campo de Ourique? Conversa à Mesa do Café - IV - Os Bombeiros de Campo de Ourique - Espírito Pioneiro - Parte III/III

Berta 543.jpg(Fotografias de Gil Saraiva - Bombeiros de Campo de Ourique)    

Olá Berta,

Esta é a última de três cartas, sobre “O Que Se Passa em Campo de Ourique - Conversa à Mesa do Café" – Os Bombeiros de Campo de Ourique – Espírito Pioneiro. A presente carta trás consigo, pelo menos, mais duas situações que eu desconhecia de todo. Hoje o assunto versa, entre outras novas informações, aquelas que para mim constituem surpresa.

Efetivamente o Adjunto de Comando, André Fernandes, conseguiu fazer-me abrir a boca de espanto mais uma vez, nesta recolha de novos e surpreendentes conhecimentos, sobre os Bombeiros de Campo de Ourique, eles que são uma das sete corporações de Soldados da Paz existentes no Concelho de Lisboa.

Afinal, os “meus” bombeiros, e digo meus porque transportam consigo o nome do meu bairro (a que chamo meu, porque nele vivo e nele me sinto parte de um todo) que estão sempre prontos para socorrer e assistir quem deles precisa (ainda há poucos dias estiveram em Monchique), sem que disso sejam obrigados, tinham, minha cara amiga, muito mais para me revelar.

A conversa com o Adjunto do Comando já ia longa sem que André Fernandes demonstrasse qualquer pressa em lhe pôr um fim. A certa altura, enquanto me falava das viaturas ao serviço no quartel, que iam das quatro ambulâncias, ao veículo urbano de combate a incêndios, passando pela história adorável de como tinham transformado, estando já em fase de ultimação, um camião de transporte de leite num autotanque, até ao veículo de combate florestal e ao veículo ligeiro de combate a incêndios, veio à baila a necessidade de renovar este último.

No meio do diálogo, querida Berta, acabei por não anotar se tinham apenas um a funcionar e precisavam de renovar um segundo ou se se tratava de renovar o único existente. Porém, o relevante era mesmo a necessidade de atualizar devidamente uma das viaturas da corporação. Estas necessidades poderiam ser superadas mais rapidamente se o apoio da população, e de um ou outro mecenas, fosse mais relevante, o que atualmente era, cada vez menos, o caso.

Berta 543 b.jpg(Corredor de Fardamentos - Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique)   

Como não podia deixar de ser, eu, que desde que entrara no quartel vira o estado de degradação em que todo o edifício se encontrava, encaminhei a conversa para a humidade visível, e para a falta de manutenção adequada, que era notória em todas as instalações no seu conjunto. Ora, cara Berta, sem qualquer vergonha o Adjunto do Comando reconheceu o óbvio. Aquele quartel fora antigamente uma fábrica de contadores de água, que por se encontrar ao abandono, fora ocupada pelos Bombeiros de Campo de Ourique, e transformada em novo quartel, precisamente porque as antigas, pequenas e obsoletas instalações da Rua Francisco Metrass tinam começado a meter água à séria.

Atualmente, a manutenção era efetuada à custa das artes e ofícios dos próprios bombeiros. O eletricista desenrascava o que era necessário para manter as ligações operacionais, os carpinteiros ajudavam na reparação de algum mobiliário, os canalizadores faziam o mesmo, bem como os pintores e outros ramos de operários que, simultaneamente, acumulavam as funções de bombeiros voluntários com a sua normal atividade laboral. O problema não era, portanto, o custo da mão de obra, porque essa era oferecida, mas o custo dos materiais para se fazerem as reparações.

Um sorriso no rosto de André fez-me perceber que vinha a caminho mais uma revelação, aliás, minha querida amiga, uma verdadeira surpresa. Porém, contava-me o Adjunto de Comando, a situação das instalações dos Bombeiros de Campo de Ourique, estaria certamente resolvida nos próximos anos, não mais que uma mão cheia deles e isso no máximo, afirmava ele convicto da situação.

Ao que parecia o imenso terreno, onde a corporação estava instalada, tinha-se valorizado de sobremaneira ao longo dos anos e era agora um território a que a Câmara Municipal de Lisboa queria deitar mão, para depois o valorizar em termos imobiliários, devido à situação estratégica e à excelente vista que proporcionaria a quem viesse a viver naquele local. Não apenas vistas para Monsanto, mas até ao Tejo se a construção fosse baseada em estruturas verticais de maior altura e porte.

Ora, para isso acontecer a Câmara iria em breve mandar construir um novo quartel para os soldados da paz, muito bem localizado, dentro do bairro e com facilidade de acesso a algumas vias principais da cidade de Lisboa.

O local mais provável, amiga Berta, parecia ser  a perpendicular à rua Ferreira Borges, na Rua de Campo de Ourique, do lado direito de quem vem a subir a Rua do Sol ao Rato, mesmo antes de chegar à Ferreira Borges, onde hoje se encontram uma imensidade de edifícios vazios e devolutos, prontos a dar lugar a um novo quartel de bombeiros. O local permitiria que os bombeiros ficassem com três saídas estratégicas das instalações, consoante a necessidade e urgência de cada situação, para outras tantas vias.

A alienação do atual terreno dos bombeiros dava e sobrava para a construção de raiz do novo espaço. É claro, dizia-me André, que continuariam com necessidades e carências para poderem ter um funcionamento menos preocupante, mas a atualização das tabelas de preços dos serviços prestados pela corporação, que se mantinham os mesmos desde há doze, treze ou catorze anos poderia ajudar.

Havia ainda a possibilidade de poder gerar algum rendimento através de dar formação aos lisboetas nas áreas dos primeiros socorros e outras, bem como às empresas, ou até de conseguir alguém capaz de elaborar um crowdfunding dirigido a necessidade específicas da instituição.

Berta 543 e.jpg(Sala de Formação - Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique)     

Explicar às empresas e às pessoas que donativos em dinheiro ou em espécie, estavam abrangidos ao abrigo da Lei do Mecenato e que, portanto, eram donativos deduzíveis aos impostos, era ainda outra grande tarefa que eles tinham em mãos, minha querida amiga Berta.

Se alguém doasse, por exemplo, uma televisão ou casaco de cabedal ou uma bicicleta, o donativo aceite é traduzido pelo seu custo de mercado e a pessoa pode descontá-lo no IRS, sem precisar de ser ela a o transformar em dinheiro, elucidava-me André. Tinham era de arranjar formas de cativar a comunidade e gerar o envolvimento com eles, de forma a que todos se pudessem vir a sentir parte deste todo que se desejava implementar, ajudando a criar e fomentar esta interação.

A outra preocupação do Adjunto de Comando era fazer-me ver a importância do reforço de sócios dos Bombeiros de Campo de Ourique. Afinal, com apenas cerca de vinte euros pagos por ano, um novo sócio, se somado a muitos outros, pode contribuir de sobremaneira para suprir as necessidades mais urgentes dos soldados da paz.

André achava até que as pessoas deviam vir conhecer o quartel, visitar a sala-museu ou vir comer ao restaurante de forma a que a interação com o seu corpo de bombeiros pudesse crescer de forma sustentável e com isso ajudar a tornar mais fortes os laços comunitários. Era contagiante o carinho, dedicação e amor daquele homem aos bombeiros.

Uma pessoa pode não precisar dos bombeiros durante anos, mas quando precisa quer certamente ter a certeza de que pode contar com eles. A conversa à mesa do café aproximava-se do fim, minha querida amiga, e eu ainda não perguntara a André como faziam, nos dias de hoje, para arranjar pessoal, a mão de obra tão necessária para a existência de bombeiros voluntários.

Segundo o Adjunto de Comando, os voluntários estavam destinados a acabar em todo o país. Cada vez menos gente conseguia estar disponível para ir passar horas e horas, dias e mais dias, depois do seu horário de trabalho, afastado da família, a dar o tempo aos voluntários.

Antigamente era mais fácil, por exemplo, em Campo de Ourique, e sabendo que apenas as classes mais baixas estão, maioritariamente, disponíveis para servirem como bombeiros, a angariação de jovens era feita nas franjas menos abonadas do bairro, fosse na zona da Maria Pia ou da Meia Laranja, fosse mesmo no Casal Ventoso, onde, segundo André Fernandes, centenas de jovens foram, ao longo dos anos, salvos da droga, porque precocemente integravam os bombeiros voluntários como infantes e mais tarde cadetes, na esperança de chegarem a bombeiros.

Berta 543 c.jpg(Parte das Salas Museu dos Bombeiros de Campo de Ourique)    

Fiquei impressionado com mais esta surpresa, para mim uma verdadeira revelação, contudo, a lógica era inegável, se um jovem, ainda criança, tinha um objetivo nobre era, por força da situação, mais difícil que se metesse na droga.

De repente ao escutar o que o Adjunto me contava comprovei que, pelo que eu próprio conhecia que ele tinha toda a razão. Cheguei mesmo a inventar, para o interior dos meus pensamentos, um novo provérbio: “Gente fina não veste à bombeiro nem segura mangueira.” Sorri para mim mesmo. Era uma realidade… aos poucos os voluntários iriam, nos próximos anos, dar lugar a um cada vez maior número de bombeiros profissionais pagos pela sua função, devidamente, com uma carreira e devida progressão ao longo da vida. Era engraçado, querida Berta, que eu nunca tivesse pensado nisso.

Olhei para o relógio, a conversa estava a chegar às três horas de duração e o meu caderno já tinha cinco páginas cheias de apontamentos relevantes. O Adjunto de Comando devia querer ir-se embora, porém, fosse por educação ou gosto de me informar sobre assuntos que para ele eram uma evidente paixão, não dava qualquer mostras de cansaço da entrevista, nem de mim, por sinal.

Andávamos agora às voltas pelo quartel, enquanto ele me ia explicando tudo, passámos pela sala de formação, pelas instalações do comando e do comandante, sala de reuniões e foi nas salas do pequeno museu da instituição que uma fotografia me chamou a atenção. A foto, que me esqueci de apanhar com a máquina fotográfica que tinha ao peito, mostrava um grupo de raparigas, todas fardadas com a farda de bombeiro. Ingenuamente perguntei se era algum coro.

André Fernandes riu-se. Não, não eram coro algum, nem faziam parte de fanfarra ou de banda dos bombeiros. Aquela fotografia era a prova de que os Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique, tinham sido o primeiro quartel de bombeiros de Portugal continental e ilhas a promover a igualdade de género e a incorporar no seu seio um corpo de bombeiros femininos de doze ou treze mulheres, já não tinha a certeza. Decorria o ano de mil novecentos e oitenta e um e, mais uma vez, o comandante via-se na dificuldade de angariar novos voluntários. Ao consultar os regulamentos e normas dos bombeiros, notou que estes nunca se referiam a bombeiros masculinos, mas sim a indivíduos.

Decidiu então consultar a autoridade máxima dos bombeiros nacionais a quem perguntou se a palavra indivíduos nos regulamentos e normas se referia apenas a indivíduos ou também a individuas. O seu superior nacional pareceu incomodado com a questão. Não havia individuas, a palavra indivíduos não tinha género, era como dizer pessoas, esclareceu indagando o porquê de tal disparate. O Comandante dos Bombeiros de Campo de Ourique esclareceu prontamente que aproveitava a ocasião para comunicar superiormente que no fim daquele mês o seu quartel teria uma nova secção de bombeiros femininos.

A polémica gerada foi imensa, mas o Comandante levou a sua avante e foi assim, querida Berta, que os quarteis de bombeiros passaram a ter homens e mulheres na sua constituição. Esta foi a minha maior surpresa nesta entrevista à mesa do café. Senti-me orgulhoso por saber que os “meus” bombeiros foram geradores e pioneiros na promoção da igualdade de género dentro da instituição que compõe os nossos soldados da paz. Mais ainda por saber que a minha rua, a Francisco Metrass, foi berço das primeiras bombeiras de Portugal. Caramba, vivam os Bombeiros de Campo de Ourique. Com isto termino, espero que tenhas gostado, minha querida Berta, recebe um beijo deste teu camarada,

Gil Saraiva

Berta 543 d.jpg(Entrada Principal - Bombeiros de Campo de Ourique) 

 

 

 

 

 

Carta à Berta: O Que Se Passa em Campo de Ourique? Conversa à Mesa do Café - IV - Os Bombeiros de Campo de Ourique - Até Onde - Parte II/III

Berta 542.jpgOlá Berta,

Sendo esta carta a segunda, de três, sobre “O Que Se Passa em Campo de Ourique - Conversa à Mesa do Café" – Os Bombeiros de Campo de Ourique – Até Onde. A narrativa, hoje versa, entre outras novidades, mais uma das surpresas que tive do diálogo com o Adjunto de Comando, o senhor André Fernandes, em representação dos Bombeiros de Campo de Ourique.

Fiquei a saber que a corporação ronda os quarenta bombeiros no ativo, descontando os oito estagiários e os alunos da Escola de Infantes e Cadetes, sim porque, querida Berta, esta associação também ensina, sendo que, de momento, a escola é frequentada por quinze pupilos, que também compõem os elementos ativos da fanfarra.

Para além do pessoal já referido a casa conta também com mais quatro pessoas entre o pessoal administrativo e de limpeza. Porém, não sei bem como, eles conseguem ir dando conta do recado, com um número relativamente escasso de soldados da paz, ainda mais que, como fiquei a saber, destes quarenta, apenas dezoito estão integrados como bombeiros profissionais, ou seja, os restantes bombeiros são voluntários e só estão disponíveis depois de acabarem os seus trabalhos na outra atividade, sejam eles enfermeiros, carpinteiros, lojistas ou trabalhadores de uma qualquer empresa. Fiquei a pensar que aqui existe muita alma.

Para meu espanto, e juro-te amiga Berta que estava assombrado, não tivesse eu já sido presidente dos Bombeiros Voluntários de Sintra, descobri que embora não tendo ligação direta ao INEM e não possuindo nenhuma viatura do organismo, tinham quatro ambulâncias ao serviço da população a funcionar através do DIPEPH, que mais não é que o Dispositivo Integrado e Permanente de Emergência Pré-Hospitalar.

Ora bem, o DIPEPH funciona como, deves estar tu, amiga Berta, a perguntar, pois pouco entendes de bombeiros? Ele é, para explicar resumidamente, um programa coordenado pela Câmara de Lisboa, através do Serviço Municipal de Proteção Civil, que trabalha, entre outras muitas valências, com o INEM, reforçando a assistência do mesmo, em viaturas, serviços e pessoal, quando esta é solicitada.

Berta 542 b.JPG(Imagens de Gil Saraiva - Parte da Sala Museu dos Bombeiros de Campo de Ourique)

Como fontes de rendimento as coisas não estão famosas para estes soldados da paz, pois os sócios (já para não falar nos voluntários) são cada vez menos, fruto da mudança de estratos sociais no bairro, penso eu que já lidei com estes assuntos. Com efeito, embora pareça contraditório, quanto mais educada e instruída é a população de um bairro, quanto mais este deriva da classe baixa para a média ou a média alta, como tem acontecido com Campo de Ourique, menor é o apoio económico dado aos bombeiros locais. Assim como também diminui drasticamente o número de gente disposta a ser bombeiro voluntário.

Aqueles que estão bem economicamente tendem a pensar que não é sua responsabilidade contribuírem para os seus bombeiros, porque estes devem ser obrigatoriamente apoiados pelo poder autárquico e pelo Estado. Ora, isso é verdade, mas apenas em parte, estas entidades cobrem as despesas mínimas da associação, mas não muito mais do que isso.

Assim, se é necessário adquirir mais uma viatura, reforçar o quadro de pessoal profissional, arranjar equipamento novo para substituir o obsoleto ou deitar mão a um novo serviço, os recursos vindos pela via institucional são, e serão sempre, muito inferiores às verdadeiras necessidades de uma corporação de bombeiros.

Por sorte, segundo me contou o Adjunto de Comando, existe um benemérito que tem ajudado com a aquisição de equipamento, só não me foi dito quem ele é porque a pessoa pretende manter o anonimato. Apesar deste auxílio as necessidades são muito superiores às receitas e era bom ver a população a aderir à condição de sócio dos bombeiros.

Como complemento extra a associação tem ainda um parque de estacionamento, para os residentes do bairro que aí pretendam guardar as suas viaturas, bem como um bar e restaurante, aberto a toda a população, mas concessionado, o que faz com que os bombeiros não tenham qualquer desconto nas refeições. Aliás, a escassez de recursos tem feito desenvolver o espírito inventivo dos homens da paz.

Com efeito, estão a ser pensadas ações de formação pagas para os sócios, empresas e população em geral, seja no âmbito dos primeiros socorros, seja na prevenção e combate a incêndios. Esta ideia de gerar novos recursos e de cativar a população numa modalidade de quartel aberto a todos veio do próprio combate à pandemia de Covid-19, e à diminuição ainda maior dos recursos disponíveis, sendo que o Plano de Contingência da Câmara Municipal de Lisboa sempre ajudou com o fornecimento atempado, dentro do razoável, de equipamento de proteção individual.

Berta 542 c.JPG(Mostra de equipamentos - usados em formação)

Porém, embora este extra fosse precioso, isso não tem impedido que, no decorrer deste ano e meio, não existam sempre dois ou três bombeiros infetados e outros tantos remetidos ao isolamento profilático, o que tem reduzido o número médio de ativos ao serviço em dez ou quinze por cento, desde o início da pandemia.

Mas o que me espantou, minha querida amiga Berta, aquilo que me fez ficar de boca aberta foi a novidade seguinte. Estava eu a dizer a André Fernandes (já sem o senhor, a pedido do mesmo), o Adjunto do Comando, que Campo de Ourique era um bairro e uma freguesia densamente populosa, e que considerava que eles estavam abaixo dos recursos necessários para fazer face a uma emergência maior que pudesse surgir, quando o vejo a sorrir para mim, como se eu estivesse a dizer uma asneira que, no entanto, não deixava de ser engraçada por ser tão fora da realidade.

Falta de recursos para o bairro não era coisa que alguma vez tivesse passado pela cabeça do Comando dos Bombeiros de Campo de Ourique. O problema era que a área dos bombeiros que eu julgava, induzido pelo nome, serem só para serviço da área da freguesia, também se estendia para além das fronteiras do bairro.

André Fernandes sorria enquanto me informava, orgulhosamente, que eles também eram os Bombeiros da Freguesia de Campolide, cobrindo todo o território do bairro vizinho, indo a sua área de influência até Benfica, São Domingos de Benfica, Avenidas Novas e Santo António com quem estabeleciam fronteira. Estava eu a argumentar que o espaço a cobrir em Campolide era quase duas vezes a de Campo de Ourique e o meu novo amigo André já não sorria, em vez disso, ria descaradamente.

Quis saber em que é que o meu espanto o fazia rir daquela maneira. Ele acalmou-se e esclareceu-me que os Bombeiros de Campo de Ourique, também eram os Bombeiros da Freguesia da Estrela, indo até ao Tejo e fazendo fronteira com Alcântara e Misericórdia, sendo que aí a área abrangida era mais de três vezes a do nosso bairro. A vantagem era que, em termos de densidade populacional, quer a Estrela quer Campolide, tinham cerca de um terço da densidade de Campo de Ourique. Não era uma tarefa fácil, reconhecia André Fernandes, mas até agora, com mais ou menos sacrifício, sempre tinham dado conta do recado.

Juro-te, querida Berta, que se tivesse levado o meu chapéu, aquele teria sido o momento ideal para o tirar àquele bem-disposto Adjunto de Comando. Adversidade e resiliência pareciam palavras tão corriqueiras como pandemia ou teimosia e orgulho. Nesta altura a minha admiração sobre os Bombeiros de Campo de Ourique estava em níveis elevadíssimos, contudo, ainda haveria de subir mais com a surpresa que deixo para a parte final, amanhã, desta entrevista à mesa do café. Por hoje é tudo, beijos,

Gil Saraiva

Berta 542 d.jpg(Imagem de Gil Saraiva às Homenagens sempre presentes aos bombeiros mortos no cumprimento do dever)

 

 

 

Carta à Berta: O Que Se Passa em Campo de Ourique? Conversa à Mesa do Café - IV - Os Bombeiros de Campo de Ourique - Da Origem ao Futuro - Parte I/III

Berta 541 C.JPGOlá Berta,

Nesta carta, e nas duas seguintes, regresso ao tema sobre “O Que Se Passa em Campo de Ourique? Conversa à Mesa do Café" – Os Bombeiros de Campo de Ourique – Da origem ao Futuro. A conversa, que terei de dividir em três cartas, porque foi longa, esclareceu-me imensos detalhes sobre estes voluntários que antes de serem bombeiros já eram, por natureza, providos de uma imensa alma repleta de altruísmo.

Aliás, sobre estes soldados da paz fiquei a saber três coisas verdadeiramente surpreendentes que, querida Berta, te revelarei durante estas próximas cartas. A conversa, que por opção da corporação, não foi o Presidente da Direção dos Bombeiros, o doutor João Ribeiro, um homem com laços muito fortes às forças da ordem, porque, querendo eu saber da história da instituição, se considerou que o Comando era mais habilitado para este tipo de diálogo.

O senhor André Fernandes, adjunto de Comando, foi quem substituiu o Comandante Luís Neto, que não pode estar presente na entrevista devido a uma urgência, pelo que entendi, relacionada com problemas numa viatura. Tendo eu, obviamente, aceite e compreendido a ausência do Comandante, e sendo esta uma viagem entre o passado e o futuro, foi com agrado que descobri que André Fernandes é um bombeiro de terceira geração e que quer o seu pai quer o seu avô foram comandantes da associação.

A ideia desta Conversa à Mesa do Café, veio de outro bombeiro, o senhor Miguel Oliveira, que graciosamente se dá ao trabalho de ir mantendo a instituição viva e pulsante nas redes sociais, nomeadamente, no Facebook. Sempre que a vida lhe permite este bombeiro, e carpinteiro de primeira água, lá se vai dando ao trabalho de fotografar, filmar e registar nos anais da internet, para quem quer ver, a ação e intervenção dos Bombeiros de Campo de Ourique nas diferentes vertentes do seu imenso trabalho. Tem sido, aliás, graças a ele, a quem agradeço de coração, que eu tenho acompanhado a corporação com alguma regularidade.

Saindo deste aparte, do parágrafo anterior, e voltando ao André Fernandes e à Conversa à Mesa do Café, foi com surpresa, a primeira de três, que fiquei a saber que os Bombeiros de Campo de Ourique nem sempre o foram, ou seja, a fundação da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique a treze de novembro de mil novecentos e dezasseis, que brevemente celebrará cento e cinco anos de existência, era, anteriormente uma associação de saúde transportando como símbolo a Cruz Branca.

Berta 541 B.JPGPor outras palavras os Soldados da Saúde, juntaram o fogo e o combate a incêndios às suas atividades ao serviço da população, para se tornarem, de pleno direito, Soldados da Paz. O que faz desta gente uma corporação centenária dedicada a servir, proteger, cuidar e salvar os seus conterrâneos, faça sol, chova ou faça frio, sempre que para tal são solicitados por aqueles que nas proximidades nem imaginam os sacrifícios acumulados ao longo dos anos, sem que o sorriso dos rostos o demonstre.

Por agora fico-me por aqui, querida Berta, pois não quero que um assunto tão importante se torne aborrecido por ser demasiado extenso, numa só carta. Amanhã e depois contar-te-ei as outras duas surpresas que esta Conversa à Mesa do Café revelou. Fica com um beijinho,

Gil Saraiva

Berta 541.JPG

 

 

 

 

Carta à Berta: Campo de Ourique - Eduardo dos Livros - Nova Ação de Despejo - Parte II/II

Berta 535.jpgOlá Berta,

Terminando a carta de ontem, sobre “O Que Se Passa em Campo de Ourique?” sem “Entrevista à Mesa do Café”, no que concerne à loja do Eduardo dos Livros e à Nova Ação de Despejo, resta-me completar hoje a Parte II/II. Efetivamente, tudo deveria ter ficado resolvido, aparentemente em 2019, quando a loja foi proposta ao programa municipal que a protegia, por pelo menos mais dez anos, de qualquer tentativa do fundo de tomar posse da mesma, ou seja, à categoria de “Loja com História”.

É sabido que, na época, várias das propostas a que a iniciativa fosse tomada partiram do Bloco de Esquerda  e do PCP que chegaram, inclusivamente, a usar o exemplo do que estava a acontecer com o “Eduardo dos Livros”, para tentar defender todos aqueles inquilinos que, face à Lei Cristas ou Nova Lei das Rendas, se viam na eminência de serem despejados depois de décadas a viver em apartamentos que lhes estavam alugados ou de lojas arrendadas, também há muitos e muitos anos, pelos senhorios.

Porém, segundo os relatos da época na imprensa, a loja “Eduardo dos Livros” não foi considerada pelo programa “Lojas com História” por apenas usufruir de oito dos onze indicadores ou pontos necessários para poder conseguir este estatuto e por isso mesmo esta proteção ter-lhe-á sido negada em sessão da Câmara Municipal de Lisboa.

Há, contudo, uma versão, vinda dos corredores da Câmara, que conta uma história diferente, segundo a qual, depois de se terem conseguido contornar todos os indicadores, foi Fernando Medina quem se recusou a validar a proposta, com a desculpa esfarrapada de não querer abrir mais precedentes na autarquia prejudiciais ao setor imobiliário. Infelizmente esta minha declaração terá de ficar no âmbito do “alegadamente” uma vez que as fontes, que me garantiram a veracidade da informação, se recusarem a vir a público dar a cara, com receios, no seu dizer fundados, de poderem serem alvos de futuras represálias.

No ar ficará, independentemente dos factos ocorridos, a dúvida sobre quais foram as motivações da Câmara Municipal de Lisboa de contrariar uma medida aprovada por unanimidade pela Junta de Freguesia de Campo de Ourique, também ela socialista, de considerar a loja do “Eduardo dos Livros” como devendo ser protegida pelo programa municipal de “Lojas com História”.

O que me espanta mais é que, sendo o Eduardo dos Livros a mais antiga loja de Campo de Ourique, inaugurada em mil novecentos e sessenta e quatro, não tenha tido o direito de ser classificada como “Loja com História” pela Câmara Municipal de Lisboa. O que falta à “Eduardo dos Livros”? Teias de aranha? Mobiliário de mogno ou de cerejeira? Um gigante candeeiro com penduricalhos de cristal de Alcobaça com a assinatura da velhinha e prestigiada marca Atlantis?

O facto é que, está mesmo a terminar o prazo da terceira ordem de despejo à “Eduardo dos Livros”. Maria Helena Pereira vem resistindo, à custa de muitos cabelos brancos, desde 2018, a esta terrível situação. Subsistir de quê, se perder o direito a continuar na fonte do seu sustento, quando ainda nem sequer tem idade para se reformar?

Para cúmulo, e porque uma desgraça nunca vem só, a VASP, a principal distribuidora de jornais e revistas, começou, de há uns poucos meses a esta parte, a cobrar aos lojistas, já que não pode aumentar os preços dos editores, um euro e meio por dia a que acresce mais um euro ao domingo, para entregar nos quiosques, livrarias e tabacarias, as encomendas que lhes são devidas.

O argumento da distribuidora é que tem de distribuir pelos clientes finais, as lojas, os custos de perda de rentabilidade devida à pandemia de Covid-19, ou seja, por outras palavras, a VASP é mais um vampiro, morcego ou pangolim a sugar o sangue ao mexilhão, os desgraçados dos pontos de venda, que não têm como se defender por estarem no fim da cadeia alimentar. Mais uma vez é o “paga e não bufes” contra uma atividade cada vez mais estrangulada nas margens de lucro da sua atividade e na drástica diminuição de clientes face às contingências da pandemia.

Tudo isto, amiga Berta, se vai acumulando, nas tristezas de um povo, cada vez mais descontente e, por isso mesmo, disposto a medidas mais radicais ou a ideias até há pouco tempo consideradas absurdas. O mal vem do afastamento, cada vez mais profundo, entre a população desprotegida e carente e as elites do poder ou da representatividade democrática. Eu sou uma pessoa de esperança, pode ser que o final da pandemia consiga trazer ao de cima um estado mais solidário e atento às necessidades daqueles que governa ou administra.

Por hoje termino com os votos de que a dona Maria Helena Pereira, consiga levar de vencida mais esta grande batalha contra a injustiça que recai sobre quem é pequenino e não tem os recursos dos poderosos. Deixo um beijo de despedida e até uma próxima carta, este teu eterno amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: O Que Se Passa em Campo de Ourique? Sem a "Conversa à Mesa do Café" - Eduardo dos Livros - Nova Ação de Despejo

Berta 534.jpgOlá Berta,

Continuando a minha rubrica sobre “O Que Se Passa Em Campo de Ourique?” desta vez é sem qualquer “Entrevista à Mesa do Café”. Porquê? Porque o advogado da lojista em causa teme que qualquer entrevista, agora efetuada, possa ser prejudicial para a sua cliente, tendo optado por manter a contenda sem mais declarações públicas, na tentativa de defender os melhores interesses da arrendatária.

Hoje vou falar-te de uma casa que abriu portas, pela primeira vez, no Bairro de Campo de Ourique, dia um de abril de mil novecentos e sessenta e quatro. Precisamente há 57 anos, três meses e nove dias. Estou a falar-te do Eduardo dos Livros uma das casas comerciais mais conhecidas e antigas do bairro, senão a mais antiga.

A atual detentora da propriedade, filha do fundador original, a dona Maria Helena Pereira, é quem continua ao leme de um barco que já enfrentou mais tormentas do que qualquer nau portuguesa frente ao velho Adamastor, a quando dos Descobrimentos Portugueses.

Depois de iniciada uma luta imensa contra a primeira ordem de despejo, feita pelos chineses do Fundo Fosun que, segundo o seu CEO, Wang Qunbin, faz de Portugal a sua segunda casa, e que adquiriram mais de um milhar de imóveis da Companhia de Seguros Fidelidade, em dois mil e dezoito, por mais de quatro centenas de milhões de euros. Um bom negócio pelo que consta nos corredores dos valores imobiliários, carregado de ordens de despejo de inquilinos e lojistas, alicerçados na lei das rendas criada e aprovada pela ex-presidente do CDS, Assunção Cristas, no tempo de mau agoiro de Passos Coelho.

A guerra continuou quando os chineses “pressionados” venderam boa parte desses imóveis a um outro fundo, desta vez americano, o qual depois o revendeu a outro fundo abutre, o Fundo Apolo, também ele americano. Afinal, um abutre é sempre um abutre, venha ele de África, Ásia ou América. Aproveitam-se sempre dos mais fracos e nunca têm preocupações de caráter social. Aliás, desconhecem, por completo, o significado da palavra solidariedade, para além de outras como respeito, integridade ou verticalidade, só para referir as mais importantes.

A dona Maria Helena Pereira já coleciona ações de despejo, indo atualmente na terceira, recebida há ainda não fez dois meses. Ressalvo que não me foi possível confirmar se foi este exatamente o trajeto das antigas propriedades da Fidelidade, mas reafirmo que o atual detentor das propriedades é o denominado Fundo Apolo.

Em anexo segue uma das reportagens de dois mil e dezanove, efetuada pela SIC. Amanhã, para não ser mais muito maçador, termino esta rubrica, hoje iniciada, com a parte II/II. Recebe um beijo deste teu amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Electro Neves - Campo de Ourique. A Resposta

Berta 533.JPG

Olá Berta,

Volto ao tema da Electro Neves, pois sinto-me na obrigação de fazer um esclarecimento a quem me leu e aos que comentaram a última carta que publiquei e que partilhei nos grupos de Campo de Ourique que a aceitaram.

Conforme sabes, minha querida amiga, costumo publicar as cartas que te escrevo num blog do sapo (https://alegadamente.blogs.sapo.pt/) bem como uso outros três os blogues do sapo para outros temas (poesia, desabafos e cartoons), na minha página pessoal do Facebook (https://www.facebook.com/gil.saraiva/) e nos dois grupos onde sou o único administrador (seja no grupo “SIP, Som Imagens e Palavras”, seja no grupo “Bairro de Campo de Ourique”).

Certas cartas, em que verso temas de Campo de Ourique, ainda as divulgo nos grupos: “Turma de Campo de Ourique”, “Ah, Campo de Ourique”, “Viver Feliz em Campo de Ourique”, “Campo de Ourique”, “Tertúlia de Campo de Ourique”, “Fãs de Campo de Ourique”, “Novidades em Campo de Ourique”, “Campo de Ourique Bairro de Campeões”, “Crescemos em Campo de Ourique” e “Campo de Ourique Ontem”. Porém, a divulgação nestes outros grupos, está sempre sujeita à aceitação dos respetivos administradores e somente eles têm o poder de decidir o que querem ou não ver partilhado nos grupos que gerem.

São estas as regras e, porque vivemos num país democrático, é assim que deve ser. Por vezes também divulgo, nos grupos, temas gerais de temática nacional ou internacional e deixo ao critério dos decisores se o tema importa ou não para o grupo. Até ao momento julgo que tenho tido uma boa aceitação por parte da grande maioria dos administradores e em média cerca de 50% do que partilho, ou talvez um pouco mais, acaba por ser aceite nestes grupos ou em alguns deles, pelo menos. Não me posso, por isso queixar.

Desculpa o preambulo, mas era necessário explicar porque certas cartas não são partilhadas por este ou aquele grupo. A decisão está sempre na mão de quem gere o grupo e, repito, é mesmo assim que deve ser.

Ora, quando as cartas são sobre o Bairro de Campo de Ourique, o número de participantes das mesmas ultrapassa, com frequência, os cinco mil leitores, ou seja, quase 25% dos votantes da freguesia de Campo de Ourique.

Este facto, obriga-me a ser responsável e a tentar evitar, pelo menos propositadamente, o boato, o mexerico, a notícia falsa ou a simples má língua. Tendo sempre, dentro dos limites do possível, fazer apenas o registo dos factos e dar a minha opinião, quando a considero relevante. De qualquer forma todas as Cartas estão sujeitas ao “alegadamente” precisamente porque nem sempre posso confirmar em mais do que uma fonte aquilo que escrevo.

Berta 533 b.JPGFeito este longo esclarecimento prévio, regresso ao tema da última carta, ou seja, o que aconteceu com a Electro Neves. Ora, pelos comentários de muitos dos participantes dos diferentes grupos onde a carta foi partilhada, dá para concluir que, na generalidade, as opiniões se dividem bastante. Há quem tenha sido sempre muito bem atendido na loja desde que a loja existe ou desde que o Carlos tomou conta da empresa, como há quem se tenha sentido mal tratado, mal atendido ou até enganado e há, já mais recentemente, um elevado número de gente que foi burlada, roubada e enganada.

Tudo isto era de esperar num caso como este. A minha primeira carta implicava uma pergunta óbvia: porque é que aconteceu uma coisa destas? Sobre isso, ao que parece, não ficou, nas largas dezenas de comentários feitos, nenhuma certeza. Contudo, recebi uma mensagem em que um leitor afirma ter provas de que até as duas lojas foram vendidas atempadamente, tendo a de Campo de Ourique sido adquirida pelos donos do Restaurante Magano.

Se assim for, e somada esta situação aos restantes factos, a coisa começa a cheirar mais a grande golpe do que apenas a más decisões e a problemas devido à pandemia. Porém, porque não conheço a fonte da informação, não posso garantir que assim seja. Também não ficou esclarecida como passou a sociedade que geria a outra loja fora do bairro das mãos da ex-mulher do senhor Carlos para as da nova companheira. Aliás, uma outra mensagem, mais uma vez de alguém que não conheço, afirma que o recheio, de ambas as lojas, foi vendido, na sua totalidade, a um grande armazenista. Dito isto, e tendo em conta o volume da mercadoria existente nos dois espaços e se a coisa ocorreu desta forma, estaremos perante um golpe pensado e premeditado e sem intenção de, pelo menos, indemnizar aqueles clientes que já tinham pago uma série de bens e se viram privados dos mesmos.

Berta 533 c.JPGDe qualquer maneira, se, nos próximos tempos, se confirmarem estas afirmações e outras que já descrevi, desde a venda dos recheios, das lojas em si, das dívidas aos fornecedores, às finanças, à segurança social, aos bancos e aos clientes, estamos a falar de verbas que podem facilmente ultrapassar, no mínimo, o milhão de euros.

Ora, se assim for, não se trata de truque de mulher interesseira e calculista, seja ela brasileira, portuguesa ou checa. A parte do romance pode até ser mesmo isso: romance. Contudo, uma coisa desta envergadura não se faz sozinho e tem de envolver mais gente. É aí que pode estar o calcanhar de Aquiles de toda a operação. Sim, porque quando mais gente envolvida, mais hipóteses de fugas de informação haverá.

Incrédulo com tudo isto prometo ficar atento ao assunto. Até lá, até se saber realmente o que sou passou, prefiro manter a minha ingenuidade e pensar que o Carlos foi vítima de um conjunto de circunstâncias, por muito que esta hipótese pareça ser, cada vez mais, inverosímil. Fazer o quê? Nada. Eu gosto de pensar que as pessoas essencialmente boas e, com quase 60 anos, não é agora que vou mudar. Desculpa mais este desabafo, querida Berta. Recebe um beijo de amizade deste teu amigo, até uma próxima carta,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Electro Neves - Será o Carlos o Maior Burlão de Campo de Ourique?

Berta 532.jpg

Olá Berta,

O tema da carta de hoje demonstra como, às vezes, mesmo quem anda atento ao que se passa no meio onde vive, como é o meu caso, sempre na busca de informação relevante para aqueles que, como eu, adoram o bairro onde vivem, não vê ou nem se apercebe de tudo o que o rodeia. Aconteceu comigo, bem no meu raio de vizinhança e não dei por nada, nem sequer vi, e olha que sigo o programa, a reportagem da TVI na rubrica “Acontece aos Melhores” sobre o assunto. Porém, esta semana acabei, por motivos pessoais, por me deparar com toda a situação.

Estou a falar do fecho da loja da Electro Neves em Campo de Ourique e, pelo que averiguei, também noutro ponto da cidade. De um momento para o outro, ambas as lojas encerraram e foram escoadas de todo o recheio que continham. O site de venda online também saiu do ar e telefones, telemóveis e correio eletrónico de contacto com o gerente das lojas, sócios e funcionários deixou de funcionar, ao que parece, na mesma altura em que se deu o esvaziamento físico dos espaços comerciais.

Eu, minha querida amiga Berta, só dei conta do sucedido porque precisei dos serviços do estabelecimento do senhor Carlos Rodrigues. Com efeito, na passada terça-feira, a senhora que me vem aspirar e limpar o pó à casa, de quinze em quinze dias, foi indiretamente causadora deste despertar.

Quando acordei já a senhora tinha acabado as lides da limpeza e, na cozinha, estava o meu aspirador, comprado já lá vão treze anos, na Electro Neves, de quem sou cliente há 39 anos (desde os tempos em que era o pai o dono do negócio), com um papel em cima que dizia: lixo.

Resolvi interromper, mais uma vez, o meu confinamento e deslocar-me à Rua Tomás da Anunciação para adquirir um novo aspirador. Foi no decurso desta saída (e das investigações posteriores) que me senti tremendamente triste. A loja da Electro Neves estava vazia, tinha sido completamente esvaziada de conteúdo, durante um sábado, desde o princípio da tarde até à madrugada do dia seguinte. Pelo que soube o mesmo aconteceu na outra loja da família.

Depois descobri muito mais coisas, nas notícias, no portal da justiça, nas finanças, nos fornecedores e através do portal da queixa, onde clientes se queixavam ter sido burlados em totais que ultrapassavam dezenas de milhares de euros. As dívidas das duas empresas, pois que ambas representam a mesma marca, apanhavam todos sem distinção. Bancos, fisco, segurança social, fornecedores, clientes, senhorios e mesmo a antiga família.

Com efeito (coisa que eu desconhecia) o Carlos Manuel dos Santos Rodrigues, dono da empresa Luz Ardente, Unipessoal Limitada, ou seja, o Carlos, tinha uma nova relação e cortara os seus laços familiares para se unir à sua nova sócia, agora proprietária da Electro Nevexpress, unipessoal limitada, a menina Roseli Aparecida Nós de Sousa, em vez da sua ex-mulher, antiga detentora desta empresa. Em conjunto com o site estas duas empresas constituíam a minha velha conhecida Electro Neves.

Depois de verificar todos estes dados em fontes absolutamente credíveis, a maioria delas estatais, segui a minha investigação por conhecidos, amigos, fornecedores, clientes e vizinhos do Carlos. A versão que corria, na esmagadora maioria deles, é que ele despachou tudo, angariou quanto pode, deixou dívidas por todo o lado, burlou tudo e todos, e fugiu para o Brasil com a sua nova amante, a tal menina Rosali.

Sinceramente, minha querida Berta, o Carlos que eu conheci e cujas firmas publicitei na minha revista “Lisboa com Alma”, no meu jornal “O Javali” e de quem fui anos a fio cliente, podia ter mau feitio, quando embirrava com um ou outro cliente, mas era um homem justo e de palavra. Para a versão corrente dos factos ser realmente verdade, então a tal de Rosali só pode ser uma poderosa feiticeira, que arrancou do Carlos a noção de bem, de bom senso, de justiça e de seriedade que sempre lhe moldou o caráter. Ora, eu não acredito em bruxas.

Junto em anexo a reportagem da TVI. O Portal da Queixa e tudo o resto é público e consegues ver, também tu pela internet. Porém, enquanto não escutar ou ler um depoimento do Carlos a confirmar que esta é a verdade, recuso-me a aceitar que não existam outras explicações, que, entretanto, desconheço, mas que até pode passar pela Covid, para tudo o sucedido.

Que me desculpem os lesados, as vítimas desta alegadamente imensa e monstruosa burla, aqueles com quem ele era antipático por embirração, até mesmo a sua antiga família, mas eu gosto de pensar que as pessoas são essencialmente boas e não o inverso, principalmente aquelas com quem tive relações de proximidade, porque realmente nunca fomos amigos, mas, mesmo assim, não me sinto no direito de o condenar sem julgamento.

Poderão, muitos dos que me escutarem dizer que eu sou ingénuo, pois serei, se for mesmo esse o caso, mas reafirmo que gostava de saber a verdadeira história pela boca do seu protagonista principal: o Carlos. Não sei o que tu pensas disto, querida Berta, mas eu sou e hei de morrer assim. Despeço-me, por hoje, com um beijo de até à próxima carta, este teu amigo de sempre,

Gil Saraiva

 

 

 

 

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