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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Estro: Relembrando um Poema Feito na Época do Massacre de Tian An Men

Massacre de Tian An Men.jpg

"TIAN AN MEN"

(AS VINDIMAS DE JUNHO)

 

Cantam as vindimas os Podadores,

Cantam na Praça de Tian An Men...

 

Vindimas de junho

Onde uvas, aos cachos,

Aguardam a poda...

E há quem as ouça... parecem gritar:

"- Queremos Liberdade! Democracia...

E embora com medo queremos Liberdade!

Não vamos fugir,

Somos milhares pedindo uma voz,

E apenas uma,

Hoje e aqui em Tian An Men,

No lar da Paz Celestial...

Tien An Men, Tian An Men,

Pedimos apenas o que é natural!..."

 

Fazem chacinas os Caçadores,

Caçam na Praça de Tian An Men...

 

Chacinas de junho

De foice e martelo, de gás e de bala,

De bomba e canhão, de tanques estanques,

Ceifam-se estudantes...

 

Morrem às dezenas, centenas, milhares,

Qual carne picada triturada a aço;

Não sobra pedaço...

No lagar de horrores o mosto já fede!...

 

E choram as vítimas dos Podadores

Choram na Praça de Tian An Men...

 

Vítimas de Junho...

Só os mortos cantam, num descanso ameno,

Na Praça da Paz Celestial...

Vítimas do medo, que o Poder tremeu,

Vítimas tão cedo de quem não cedeu...

Mortos, mais mortos e outros ainda

Que em Tian An Men

Pra sempre ficaram...

E só porque ousaram pedir Liberdade

Pra poder falar e ouvir e ler,

E poder escolher

Entre concordar e não concordar...

 

E contam as vítimas os Ditadores

Contam na Praça de Tian An Men

 

Um, dois, três, cem, mil, e mais e mais...

Aumentam os corpos ceifados a esmo:

Mulheres, homens, velhos, crianças,

Dois mil, três mil...

Vale mais não somar,

Esquecer os totais...

Que em Tian An Men,

A praça da Paz Celestial,

Nasceu um Inferno feito por mil Dantes...

O Verão foi Inverno... morreram estudantes...

 

E cantam os Anjos num coro de dor

Cantam as Almas de Tian An Men...

 

E a China já chora

O chão decorado de ossos e tripas,

De músculos rasgados,

Banhados no sangue de um mar de mártires:

Um novo Austerlitz!...

No tocar dos extremos

O sangue é fusão...

 

Cantam as vítimas os Podadores

Tomara que só em Tian An Men...

 

Tomara também que no Luso Ocidente,

Vindimas não hajam

Nos meses errados...

 

Cantam as vítimas os Podadores

Tomara que só em Tian An Men...

 

Vítimas de Junho...

Pisaram-se as uvas e embora verdes

Um mosto vermelho encheu o lagar

- Tian An Men... Tian An Men...

Os bagos esmagados parecem falar...

 

E cantam as vítimas os Podadores

Tomara que seja o Canto dos Cisnes...

 

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta nº. 83: O Próximo Homem

Berta  64.jpg

Olá Berta,

Estamos quase a abandonar o presente ano. A mim não me deixa saudades pois os 9 AVC que ele me deu não foram a melhor coisa do mundo. Tu, pelo menos concretizaste o teu sonho de te instalares no Algarve. É sempre assim. Os anos bons de uns não são necessariamente igualmente bons para os outros. Contudo, esta transição fez-me voltar ao ano de 1994. Sabes que tenho um blogue onde estou a colocar a minha poesia, não sabes? Pois bem, vou reformar um velho livro de poemas meus desse ano, reformatá-lo e editá-lo nesse blogue a partir de hoje mesmo.

Trata-se de “O Próximo Homem” e faz parte de um tempo em que eu ainda me indignava com a injustiça e a desgraça. Hoje, com tantas notícias, a toda a hora, fica mais difícil de sentir os males do mundo ou de fazer a verdadeira triagem, mas pouco mudaram as coisas 25 anos depois. Mando-te parte da introdução original que usei na época, já atualizada, para que te possas enquadrar.

O PRÓXIMO HOMEM II

Introdução

Quando em novembro de 1994 decidi publicar “O Próximo Homem” em versão inédita e integral na internet, então apelidada de autoestrada da comunicação, foi com a clara intenção de ser o primeiro a fazê-lo em toda a Web.

Pouco tempo depois a página era editada em formato eletrónico antes ainda de ter passado para papel… conforme a net foi evoluindo foi mudando de site, mas manteve-se sempre online. Agora, depois de ter os poemas publicados de forma, mais ou menos avulsa no blog: https://plectro.blogs.sapo.pt, regressa novamente, mas desta vez com ordem e à razão de um poema por dia, a uma casa, onde estou a publicar online todos os meus livros de poesia. Estou a falar do blog: https://estro.blogs.sapo.pt.

A decisão de editar o primeiro livro eletrónico, inédito e integral, e de o colocar, enquanto pioneiro, à disposição de todos na rede mundial de computadores e similares, teve como objetivo colocar um marco português na internet. Não se tratou de um padrão, como os dos Descobrimentos Portugueses, nem mesmo de uma lança em África, apenas o espírito foi o mesmo. Sermos nós, os portugueses, os primeiros a fazê-lo. Só em novembro de 1998, quatro anos depois, é que o livro passou, finalmente, a papel, através da sua publicação integral na Plectro Magazine.

Não pretendi, todavia, que pensassem na proeza e na primazia de ser o primeiro a fazê-lo, de divulgar a coisa como um feito inabalável. Não seria verdade afirmá-lo, apenas se tratou de colocar um marco. Sim, porque, apesar de tudo, se tratou do primeiro livro a estar integralmente publicado na internet e isso acabou por ser um marco histórico, que foi divulgado pelas próprias revistas de informática da época.

Porém, se alguém se interrogasse porque é que ninguém o tinha feito ainda a resposta seria mais simples do que possa parecer à primeira vista. Aliás é mesmo tão evidente que salta aos olhos daqueles um pouco mais atentos.

Primeiro que tudo, convém não esquecer que a rede dava os seus primeiros passos mais definidos e, depois, quem seria tolo suficiente para colocar online, gratuitamente, um livro de forma absoluta e integral? Quem editaria um livro à disposição de milhões, em versão completa, antes sequer de o ter vendido, primeiramente, em papel?

Talvez só eu mesmo. Eu que me queria servir disso para deixar um marco, mesmo sabendo que, comercialmente, a ideia não passava de um absurdo. Eu que preferi a inovação ao dinheiro agi em conformidade: publiquei e fiquei muito feliz porque fui o primeiro a fazê-lo, anos antes de o “eBook” ter sido inventado.

Esta segunda versão apresenta algumas restruturações por força do evoluir dos tempos, das vontades, e dos gostos. Contudo, “O Próximo Homem II” continuará a ser um livro de alerta poético. Quem sabe um dia não chama a atenção que alguém com poder para fazer com que alguma coisa, efetivamente, se resolva.

Por outro lado, sem desprimor do primeiro objetivo, “O Próximo Homem II” é também um hino aos sentimentos dos homens, embora as mulheres não fiquem de todo esquecidas. Por aqui, facilmente se encontram, versos de amor, de ternura, de impulso, de carinho, de raiva, de revolta, de mágoa, de injustiça, de medo, de tristeza e de saudade. Uma mescla que nos torna únicos enquanto seres na pequena parcela do universo que conhecemos.

A vida não é uma tarefa fácil para “O Próximo Homem” como nunca o foi para os seus antecessores. É a batalha eterna entre o que se quer e o que se tem, o que se despreza e o que se ama, o que se perde e o que se ganha. Sair vencedor nos primeiros grandes confrontos e saber agir de acordo com isso, conseguindo enfrentar as derrotas e tirar delas as lições necessárias para alcançar futuras vitórias é o segredo para que alguém se possa tornar “O Próximo Homem”. É o segredo para a compreensão e, mais do que tudo, a fórmula certa para o amor.

Deixo-te com esta peque explicação das minhas razões. Vai ao blogue amanhã que começam a sair os poemas. Recebe um beijo pleno de saudades, deste amigo de sempre,

Gil Saraiva

 

 

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