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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta: Campo de Ourique - A Morte da Galinha dos Ovos de Ouro - Parte II/II

Berta 239.jpg

Olá Berta,

Continuando a minha história de ontem sobre a saída prematura da ave rara da minha aldeia, ou seja, de Campo de Ourique e a chegada da Corte Real do Oriente Lusitano, repito, Oriente porque a origem é a Índia e Lusitano porque a família é originária de Goa, cumpre-me hoje falar, precisamente, desse sucessor, que tantas boas coisas augura para este burgo.

Campo de Ourique: A Morte

da Galinha dos Ovos de Ouro

- Parte II/II

Conseguirá o Infante ajudar o bairro a manter a sua identidade? Esperemos que sim, a ave rara que agora só voa lá para os lados do parlamento, diziam, estava disposta a vender-nos o coração ao turismo e aos interesses imobiliários. Certamente más línguas de quem nada sabe. Contudo, pelo sim pelo não, ainda bem que levantou voo. Paz no seu ninho é o que lhe desejo.

Todavia, é preciso que Dom Pedro Costa Segundo ao Quadrado, consiga manter o segredo de Campo de Ourique seguro, para que este permaneça um bairro com identidade própria, que pouco tem mudado com o correr dos anos, devido ao facto de ter conseguido, até aos dias de hoje, manter o metropolitano pelas margens da freguesia. Tal como no espaço restrito de uma capoeira as aves se deslocam a pé e se conhecem umas às outras, mantendo do outro lado da rede os predadores como a raposa, também o bairro tem conseguido usar o seu planalto para se deslocar a pé, convivendo entre si, alegremente. Manter isso é agora a tarefa do Príncipe Pedro Costa II.

É que a chegada de um transporte de massas ao interior de Campo de Ourique, vai trazer magotes de gente nova ao bairro, aumentar a pressão sobre a população idosa, doente ou mais desfavorecida, obrigando-os a largar as casas onde viveram toda uma vida, importar mais crime, gerar menos segurança e menos conhecimento do próximo. O turismo terá níveis de crescimento na casa dos 50 a 100% e o bairro, que não tem as ruas estreitas de Alfama, Bairro Alto ou de outros típicos de Lisboa, perderá, em poucos anos, as caraterísticas que o tornam singular, especial e único. Um cenário a evitar porque, tal como numa capoeira nenhum galo quer magotes de falcões, doninhas, furões, águias e outros predadores com acesso facilitado à capoeira, no bairro acontece o mesmo. Nenhum! Também aqui o Príncipe do Oriente Lusitano tem de ajudar a manter a ameaça pela periferia.

Se querem mesmo trazer o metropolitano para Campo de Ourique, ao menos continuem a fazê-lo pelas margens. Uma estação quiçá junto ao Shopping das Amoreiras, outra talvez na praça João Bosco. Porém, pelos anjinhos, não coloquem nenhuma estação dentro ou no meio do bairro.

A beleza desta aldeia está precisamente na proximidade entre as coisas e as pessoas, já nos debatemos hoje em dia com alguma descaraterização de habitantes, porém, ainda dentro dos limites do controlável.

Abrir um Metro no centro de Campo de Ourique seria matar a Galinha dos Ovos de Ouro, acabando com o que o carateriza. O progresso pode chegar, mas com regras, com respeito pelo que somos. Afinal, nunca mais me esqueço de como era a Avenida Almirante Reis antes do Metropolitano e daquilo em que se transformou depois. Espero que a juventude e agilidade do Príncipe Pedro Costa Segundo consiga levar a bom porto esta tarefa fundamental para que este bairro se mantenha com as caraterísticas que sempre lhe reconhecemos.

Despede-se com carinho, querida Berta, e a penar com este problema de avicultura, o teu amigão do peito,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta: Campo de Ourique - A Morte da Galinha dos Ovos de Ouro - Parte I/II

Berta 238.jpg

Olá Berta,

Aqui estou eu mais uma vez a escrever-te diretamente da minha aldeia, ou seja, de Campo de Ourique. Espero que te encontres bem e feliz como sempre. Mas vamos à carta de hoje:

Campo de Ourique - A Morte

da Galinha dos Ovos de Ouro

Parte I/II

Hoje descobri que existem algumas coisas coincidentes entre a minha aldeia e o universo restrito de uma capoeira. Logo à partida ambos têm penas. As do refúgio galináceo são mais visíveis, já pelo bairro, no entanto, embora existam algumas vestes de patos e de pombos espalhadas principalmente pelo Jardim da Parada, entre outros locais, por onde a passarada vai deixando, aqui ou ali, vestígios da sua passagem, a grande maioria das penas, desta minha aldeia, são de outra espécie, bem mais difícil de detetar.

Mais de um quarto dos residentes destes 1,65 quilómetros quadrados, já passou os 65 anos de idade e uma larga maioria deles vive, cada dia que passa, com as penas próprias da solidão, da doença ou da subsistência. Penas que em nada se assemelham em leveza às das galinhas. Mas são estoicos os anciãos e anciãs do meu pequeno burgo. Não se deixam abater com as primeiras adversidades e aguentam, não em poucas ocasiões, a DFS (doença, fome e solidão), as segundas, as terceiras e as outras contrariedades que mais vierem.

Tal como na capoeira esta minha terra tem no sexo feminino a sua grande força. Por aqui vivem mais 3 mil e tal mulheres do que homens. Não é por isso de admirar que exista tanto comércio de rua. Aliás, Campo de Ourique é considerado o Maior Centro Comercial ao Ar Livre do país. Este pequeno detalhe faz com que, durante as 9 da manhã e as 7 da tarde, a população feminina nos passeios e lojas quase que dobre face à masculina, mais dada a culturas de sofá.

Também, como na capoeira, o meu Bairro tem uma ave como seu símbolo máximo de poder. Se, no primeiro caso, me refiro ao galo do topo do galinheiro, no segundo, a ave assume ter 2 poleiros, ou seja, tanto é deputada da nação como, simultaneamente, presidente da Junta de Freguesia, isto para além da raridade de ser tratada no masculino, por Cegonho, em vez do termo vulgarmente utilizado de Cegonha.

Contudo, dizem as más línguas, que o Cegonho canta de galo melhor que o genuíno. É pena, ou talvez não, que ontem tenha sido o seu último dia enquanto autarca, mas não deixa penas num poleiro onde agora reina a monarquia do Oriente Lusitano. O que nada tem a ver com aquela conhecida loja de gente de avental, pelo menos nada que se saiba com certezas de afirmação, mas sim, unicamente, com as reais fundações da família real a que agora me refiro, são originários de Goa, na Índia.

Com efeito, na senda do ex-presidente da Câmara, António Costa, herda o condado, digo, a freguesia, o seu primeiro filho, Pedro Costa. O novo Príncipe de Campo de Ourique, Dom Pedro Costa Segundo ao Quadrado (da parte do pai, também Costa, e da parte do ex-presidente da junta, também Pedro). Afinal, gerir discotecas e bares não é negócio de futuro e daqui a 3 dias o Primogénito já faz 30 anos. Acredito que o presente recebido por Dom Pedro Costa II, na figura de novo Presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, fará com que o aniversariante faça justiça à Família Real de quem herdou o Condado, digo a Freguesia. Espero que o herdeiro consiga manter a Galinha dos Ovos de Ouro que se traduz pela identidade única e singular deste bairro.

Beijo minha querida Berta, já me estou a alongar demais, amanhã termino esta pequena história de capoeira comparada. Espero que pelo menos tu escutes as minhas penas e preocupações. Despeço-me com saudade, sem pena da partida da ave rara, o teu amigo,

Gil Saraiva

 

 

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