Carta à Berta: A Bicha Justiceira Vence Novamente
Olá Berta,
Não sei se já deste conta que o Natal se aproxima a passos largos. No Algarve é um pouco mais difícil, para quem vem de fora, dar pela chegada da quadra. Se fosses de frequentar os grandes centros comerciais ainda davas por ele, agora assim, não é tão evidente. Bem, não era, quando eu vivia aí pelo Sul. Hoje em dia até já pode ser de outra maneira.
Não sei se tens acompanhado “As Aventuras de uma Bicha Portuguesa”, peripécias que davam para pôr nome a um filme, do género do que acabei de dizer. Estou-me a referir ao icónico, pela negativa, José Castelo Branco.
Depois de ter declarado publicamente no verão passado que ia lançar a sua candidatura a Primeiro-Ministro, de ter feito um alarido público anunciando já ter recolhido 12 mil e quinhentas assinaturas, para a formação do seu partido “MJP”, ou seja, o “Movimento de Justiça Portuguesa”, acabou por se retirar prematuramente, alegadamente devido à saúde da sua Betty Grafstein, que se teria agravado ao ponto de ir ser operada no final de agosto passado, o que o obrigava a regressar, fora do previsto, rapidamente aos Estados Unidos.
A senhora de 92 anos foi realmente operada, aos olhos, e, 3 dias depois, já Castelo Branco a exibia num dos aparelhos do ginásio particular do apartamento desta em Nova Iorque.
Ficam no ar as dúvidas se realmente as 12 mil e quinhentas assinaturas existiam. Mas o amigo José, não é bicha que se preocupe com detalhes. Aliás, ele próprio se afirmou como tal, o que justifica eu estar a usar o mesmo termo. Foi precisamente quando em agosto anunciou a sua prematura saída da política:
” Vou continuar sempre a ser a bicha justiceira. Eu não minto nem brinco em serviço”. Estas são palavras do próprio, que escolhe com orgulho, a denominação de bicha para se autoidentificar. Podes achar algo de incompreensível, mas tudo neste espécime tem esse tipo de caraterísticas de difícil entendimento.
Se pensarmos na personagem como pretenso líder da justiça portuguesa a situação ainda é mais confusa. José Castelo Branco, em 2003, foi detido no Aeroporto de Lisboa por contrabando de mais de 2 milhões de euros em joias, acabando o caso por ser resolvido pelos advogados de Betty Grafstein, com pagamento de pesadas coimas. Mais tarde, em 2013, foi condenado a 9 meses de prisão, com pena suspensa, a pedir desculpas publicamente e ao pagamento de mil euros por ter injuriado e dado uma cabeçada ao produtor Daniel Martins. Depois, em 2016, foi condenado por injurias e maus tratos a uma empregada doméstica, com 3 meses e 16 dias de prisão efetiva ou, em alternativa, ao pagamento de uma indeminização de 6 mil e 400 euros, que acabou por pagar.
Finalmente, esta quarta-feira, Castelo Branco foi novamente preso no Aeroporto de Lisboa, antes de partir para Nova Iorque, acusado de roubar um perfume da marca Dior. No presente momento aguarda julgamento, com termo de identidade e residência, sem autorização para sair do país, por determinação judicial.
Ora, perante um cenário destes, faz realmente sentido que uma pessoa com este perfil, casado com uma mulher 36 anos mais velha, proprietário de uma galeria de arte em Nova Iorque, de uma vivenda em Sintra e de um apartamento em Lisboa, que vive, não se sabe bem do quê, se excluirmos a fortuna da esposa, resolva criar um partido denominado “Movimento de Justiça Portuguesa”.
Minha querida Berta, eu acho que o Termo de Identidade e Residência, agora pendente sobre esta pessoa natural de Moçambique, e que ostenta passaporte português, tem, no fundo, a ver apenas com o facto da própria justiça o querer mais perto de si.
Como ainda não te enviei esta carta e já há novidades sobre a bicha rica, achei por bem um pequeno “update”. José Castelo Branco conseguiu “provar”, ao que parece, que o perfume lhe caiu para dentro da carteira. Foram anuladas todas as acusações e já seguiu hoje para Nova Iorque. Como diria a bicha: “Money talks”. Mais absurdo só naquele antigo jornal… “O Incrível”.
Despeço-me com um beijo, sempre cheio de saudades, este teu amigo eterno,
Gil Saraiva