Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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O tema da violência policial, aqui há uns anos abordado em Portugal, por causa do espancamento abusivo e injustificado de um adepto de futebol, que pacificamente transitava na rua, perto de uma zona onde tinham acabado de acontecer diversos distúrbios sociais ligados a um jogo, já fez correr alguma tinta no país. Porém a coisa agrava-se quando juntamos a isto a palavra racismo.
O Renascer do Racismo com o Populismo de Direita
A ascensão de André Ventura nos meandros da política pode tornar este afastado e quase esquecido episódio numa prática, assustadoramente corrente, num abrir e fechar de olhos.
Com efeito, amiga Berta, os discursos de Ventura apontam para o desejo de transformação das nossas forças de segurança e não só, numa polícia de intocáveis, ameaçando a população civil com prisão, se ousarem, quiçá, insultar polícias ou magistrados.
O rastilho foi recentemente aceso com o caso do homem de raça negra que clemente dizia: “não consigo respirar”. Um homem que morreu pelo joelho de um polícia, que não abrandou, por mais de 8 minutos a pressão intencional, que exercia sobre o pescoço da vítima. Foi assim que morreu George Floyd, um óbito registado por telemóvel para o mundo ver, se poder indignar e, finalmente, condenar publicamente. A situação decorreu nos Estados Unidos da América, o país da alegada liberdade, e tem gerado protestos de revolta à escala mundial.
Para acicatar ainda mais os ânimos o Presidente Americano, um tal de Donald Trump, ordena à polícia que desmobilize uma manifestação pacífica perto da Casa Branca, a fim de atravessar a rua e, usando uma igreja como fachada, vir mostrar a bíblia, enquanto promete retaliação repressiva aos manifestantes revoltosos que considera terroristas.
Uns graus de latitude mais abaixo, a situação piora quando, também neste passado mês de maio, se descobre o macabro caso de um jovem de 30 anos, abatido pela polícia mexicana por resistir, imagine-se, ao uso de máscara na via pública. O facto foi ocultado por uns dias graças a uma tentativa de suborno, com pagamento de cerca de 8 mil euros à família, sem recursos, da vítima, mas acabou por ser denunciado e exposto na praça pública.
O infeliz sujeito chamava-se Giovanni López, a sua detenção foi filmada pelo irmão da vítima, que só o voltaria a ver, já morto, no hospital da cidade onde foi declarado o óbito. A tentativa de suborno foi imaginada e conduzida pelo perfeito da cidade que agora se encontra a ser, também ele, investigado. A indignação disparou com o galardoado, com o Óscar de melhor realização de 2018, Guillermo del Toro, a demonstrar publicamente a revolta perante o sucedido na sua terra natal. Estes acontecimentos obrigaram o Governador do Estado de Jalisco a vir a público prometer que os culpados serão punidos, a meu ver, minha amiga, tarde de mais, uma vez que a indignação já invadiu as ruas.
A tempestade perfeita parece formar-se quando, mais uns graus de latitude abaixo do México, mas precisamente na mesma altura, no maior país da América Latina, o Presidente da República do Brasil, que responde pelo inconcebível nome de Jair Bolsonaro, vem afirmar publicamente, e perante a televisão, que os grupos de populares que se manifestam contra ele, e contra o seu Governo, são não apenas marginais como também terroristas. Tudo a acontecer num país onde 9 em cada 10 dos mortos causados pela polícia brasileira no Rio de Janeiro são negros ou mestiços.
Numa altura em que muitos observadores internacionais apontam para a possibilidade crescente de o Brasil descambar numa guerra civil, entre os apoiantes do Presidente e os que o condenam, tudo parece cozinhado para uma monstruosa crise, sem precedentes, no admirável novo mundo.
Por enquanto, os reflexos desta violência irracional em Portugal, não nos remetem nem para a gravidade dos acontecimentos vindos das Américas, nem apontam ainda qualquer possibilidade de que isso possa transpirar para esta terra de costumes pacíficos, onde apenas o ex-comentador benfiquista da CmTV, o alegadamente mentecapto André Ventura, tenta gerar alguma exaltação de ânimos. Mesmo assim, seria interessante tentar saber se, após este último empate do Benfica em casa, frente ao Tondela, a posterior vandalização das casas de Bruno Lages, Pizzi e Rafa têm ou não a ver com o papel inflamatório do ex-comentador televisivo e atual deputado do Chega. Contudo, importa relembrar que, desde que este fulano apareceu a divulgar as suas ideias e baboseiras na praça pública, pelo menos a partir do verão de 2018, os relatos têm vindo a ganhar gravidade e frequência. Coincidência ou não, o inflamador não se livra da sombra que a ele se colou.
Quem é que já se esqueceu do raid levado a cabo pela polícia de Alfragide à Cova da Moura, que terminou com a detenção de um grupo de indivíduos de raça negra, que foram posteriormente sovados no interior da dita esquadra, e cujo caso ainda continua aberto e em julgamento? Ou da senhora também de raça negra que, por causa de um bilhete de autocarro, se viu terrivelmente maltratada e sovada pela polícia na Amadora, cujas notícias fizeram furor no início deste ano?
Ainda há também o vídeo de outro jovem de raça negra, maniatado pela polícia e a ser obrigado a respirar o fumo de escape de um automóvel ou o outro individuo da mesma raça, no final de janeiro, filmado por duas turistas a ser detido, enquanto um polícia proferia “tens um ar suspeito”, à noite na baixa de Lisboa, perante a suplica do fulano alegando nada ter feito. No entanto, não escapou a uma revista pública efetuada abusivamente por 4 polícias, que depois o levaram preso, sem nada ter sido aparentemente encontrado.
Uma coisa é certa, eu, querida Berta, sou dos que não acredita em coincidências. Não é difícil gerar descontentamento à boleia da pandemia, do aumento do desemprego e da chegada anunciada da pior recessão das últimas décadas a Portugal. Se queremos manter o equilíbrio pacífico e ponderado que nos carateriza maioritariamente enquanto povo temos, urgentemente, de pôr um ponto final nas carreiras públicas daqueles que, usando de um populismo demagogo, tentam criar o conflito e o confronto. Basta olhar as sondagens para ver que a mediocridade medra facilmente e isso é realmente uma grande merda.
Será mera coincidência que, com tanta ocorrência, nos últimos 10 anos, não exista um único caso de condenação policial por atitudes racistas, pese embora as variadíssimas queixas da Amnistia Internacional e do SOS Racismo sobre os vários e frequentes casos em Portugal?
Já me sinto melhor depois de desabafar. Este teu amigo despede-se com um beijo de saudades,
Hoje vi-me obrigado a escrever sobre um dos temas que menos me agrada abordar nesta nossa partilha diária de informação e contacto. Estou a referir-me ao racismo, contudo, se fosse sobre xenofobia ou a homofobia, seria precisamente a mesma coisa. Acho absolutamente inadmissível a existência desta tríade do mal no seio das sociedades modernas.
O Alegado Cretino Do Chega
A reação de André Ventura à morte de George Floyd nos Estados Unidos da América, foi a minha gota de água, para evitar abordar temas que me desagradam e incomodam verdadeiramente. O alegado cretino do Chega, depois de uma condenação à morte de Floyd, que mais parecia uma apologia da atitude policial, tão malparida ela foi, vem, ainda a propósito do tema, afirmar que, se e quando ele for Governo, ofender policias, magistrados ou guardas prisionais vai mesmo dar prisão. Acrescenta ainda que a Rede Social Twitter deixará de ser a bandalheira que é.
O alegado imbecil André Ventura, não é nem tão inocente como o fatinho e a gravatinha pretendem apresentar, nem tão idiota como as suas hediondas afirmações nos podem fazer crer. Tudo na estratégia do homem está trabalhado para congregar em voto os que constituem a escória do país em que vivemos. Afinal, Portugal, como qualquer outro país do mundo, tem no seu seio, um certo grupo de imprestáveis.
Podem ser 3, 4, 6 ou 10% da população global. É gente que normalmente não vota e que é fácil de controlar, desde que não se reveja num líder público e político, como agora parece estar a acontecer. Nas próximas legislativas é que ficaremos a saber quantos e que percentagem de obtusos e marginais temos por cá.
Com a sua conversa radical o aparentemente atrasado mental do Ventura, conseguiu, nestes meses, reduzir o CDS-PP a uma dimensão que se assemelha imenso à do PPM ou do PCTP-MRPP nos anos 80 e 90 do século passado. Até o recentemente eleito deputado do dito Partido Liberal parece, também ele, estar condenado a ser absorvido pela palhinha da hipocrisia venturina.
É claro que esse partido também fez por isso, depois da liderança de uma alegada galinha, que só fez miséria no Governo, despejando das casas onde habitavam há dezenas de anos os séniores deste país, com a sua famigerada Lei das Rendas, incomportável para tantos, uma tal de Assunção Cristas, seguiu-se-lhe um Chicão, o que em nada abonou em favor do antigo partido de Lucas Pires ou Freitas do Amaral. Chega a parecer que havia, e que há, uma vontade oculta de esvaziar o partido, em favor do próprio Partido Chega.
Faltou ao ainda alegado ignóbil André Ventura explicar explicitamente, quando se referiu ao caso de George Floyd, que quem a polícia pensar que a ofende, se não for morto vai preso. A meu ver era esta a verdadeira mensagem do alegado abominável Ventura, só não a terá passado, assim, tão claramente, por saber que ao fazê-lo arriscaria incorrer em afirmações que poderiam ditar o fim do seu reinado que, por enquanto, se vai mantendo no fio da navalha do legalmente permitido pela liberdade de expressão da nossa democracia. Mas os silêncios, as omissões, os subentendidos e os incentivos à sublevação, também deveriam poder ser considerados na condenação democrática deste alegado oportunista da política e dos fracos de espírito.
Vês, amiga Berta, a presença de gente como Ventura, na cena política nacional, deixa-me com a vontade de gritar como Floyd fez na sua inimaginável aflição: “I Can’t Breathe”. Mais do que o polícia que matou Floyd, para mim, o verdadeiro culpado desta ocorrência é um alegado mau caráter que dá pelo nome de Donald Trump e que por estes dias continua a incentivar as populações ao divisionismo e à revolta contra os seus próprios Estados a propósito do combate à pandemia. Para imenso azar dos norte-americanos este alegado racista, xenófobo e homofóbico é Presidente dos Estados Unidos da América.
A minha esperança é que da tragédia de George Floyd possa nascer um movimento legal e devidamente organizado, denominado talvez de “I Can’t Breathe” que conduza o país a uma verdadeira aceitação das diferenças de credo, raça, opções sexuais, origens ou formas de pensar, como parte do todo e não como parte a ser excluída do mesmo todo.
A democracia, nos vários pontos do mundo, tem de encontrar, com urgência premente, uma forma eficaz de lidar com quem dela abusa e tenta esticar os seus limites para além do verdadeiramente admissível. No caso português, eu passarei a dormir bem melhor e sem o mínimo peso de consciência, no dia em que o partido de Ventura e o próprio alegado incendiário da revolta dos cretinos e idiotas, for considerado ilegal. Não me doerá a alma de assistir à ilegalização do Chega, nem de ver Ventura acusado como o autor moral de muitas das atrocidades que parecem estar a aumentar no país.
Poderia ficar para aqui, minha querida amiga, a tecer considerandos por mais umas horas, mas já me alonguei que baste. Despeço-me com um beijo rápido, porque hoje até eu fiquei sem conseguir respirar. O teu sempre amigo,
Neste regresso ao calor que parece definitivo assistimos ao anunciar da volta à ribalta de uma velha saga mediática. Hoje em dia já são poucas as coisas que me espantam, porém, não esperava por isto:
O Caso de Madeleine McCann
Não sei se tens visto as notícias da TVI. Uma das últimas revela drasticamente que a polícia identificou um alemão como suspeito formal pelo rapto e morte de Maddie McCann. Esta é a primeira grande surpresa do furo televisivo. Todavia, quando o jornalista identifica a polícia em causa, aparece a segunda surpresa da notícia. Não se trata propriamente de uma identificação exclusiva de uma só força da ordem. A alegada descoberta, minha amiga, é anunciada como proveniente de uma task-force internacional, composta pela nossa brilhante Polícia Judiciária, pelo Departamento Polícia Criminal Alemã e pela “Metropolitan Police of London”.
Pelo que nos é contado, o caso de Madeleine McCann, tem sido investigado e articulado em absoluto segredo nos últimos anos por estas forças policiais. O método silencioso foi tão eficaz que nem o Correio da Manhã o descobriu. Uma surpresa quase tão grande como as 2 anteriores, não achas Berta?. O apontar o dedo, de forma firme e acusatória a um suspeito, que será formalmente acusado do rapto e homicídio de Maddie, parece querer indicar que a criança inglesa, que à data, em 2007, tinha apenas 3 anos de idade, vai ter, finalmente, direito a justiça.
O caso, mundialmente mediatizado e que fez correr imensa tinta na época e no decurso de todos estes anos, pelo que se passou no remoto mês de maio, no concelho de Lagos, na Praia da Luz, há 13 anos, recentemente feitos e celebrados, anuncia poder chegar, por fim, a um verdadeiro culpado e assassino.
Este homem ou esta alegada besta demoníaca, como eu lhe chamaria se escrevesse a notícia para a TVI, é, ao que parece, um cidadão alemão, de 43 anos de idade, que se encontra atualmente preso no seu país de origem. Segundo a informação da TVI, cara Berta, trata-se de um predador sexual, com uma grande história no infeliz capítulo da predação sexual abominável.
A pena de prisão que cumpre na atualidade é devida a outro caso. Desta vez tratou-se comprovadamente da violação de uma mulher. No entanto, parece haver provas que o sujeito viveu no Algarve entre os seus 18 e 30 anos, o que significa entre 1995 e 2007, assim como todos os indícios recolhidos indicam que se encontrava na Praia da Luz, por altura do desaparecimento de Maddie.
Segundo o jornalista, que divulgou a notícia no Jornal das 8 na TVI, minha querida amiga, há provas, recolhidas nos últimos meses, que o colocam como presumível autor dos crimes de rapto e homicídio de Maddie. Quanto ao móbil do crime, desta criança de tão tenra idade a passar férias no Algarve entre pais e amigos da família, apontam ao que parece, exclusivamente, para motivações de natureza sexualmente predatória. O jornalista da TVI também adiantou que, na sequência de todas estas informações, o casal McCann já foi devidamente informado pelos serviços da polícia inglesa.
Contudo, Berta, relembro que, apesar das suspeitas formais que recaem sobre este cidadão alemão, o mesmo já aconteceu, pelo menos, a mais 4 pessoas, ao longo destes 13 longos anos de investigação, e sobre as quais recaiu, sucessivamente, o estatuto de arguido no processo, incluindo os próprios progenitores de Madeleine. Em resumo tem sempre existido muita parra, mas sempre pouca uva, no que a esta investigação diz respeito.
Se já não tens bem presente o caso, querida amiga, encontras na internet várias descrições exaustivas relativas a estes acontecimentos, havendo até, inclusivamente, um grande artigo na Wikipédia. Não é para admirar tanta informação, a correr por aí, uma vez que continua a existir uma recompensa de, pelo menos, 2 milhões e 940 mil euros, pela descoberta do raptor e possível assassino.
A divulgação da investigação nesta altura, prende-se com o objetivo de solicitar, a quem se encontrava na Praia da Luz à data dos acontecimentos, o favor de reverem as fotografias da época, para que confiram se, em alguma delas, encontram imagens de 2 viaturas, pertencentes ao individuo agora apontado como possível raptor e assassino. Quanto às viaturas eram: uma carrinha Volkswagen, modelo t3, de cor branca e amarela e um Jaguar XJR dos anos 90 de cor escura.
Para além de tudo isto, minha querida amiga, eu continuo cético quanto à prova de que este alegado novo suspeito seja o verdadeiro culpado. Mais cético ainda que a prova possa ou consiga ser produzida. Afinal, se a investigação já fosse totalmente consistente, já teriam divulgado o nome e o rosto do individuo, coisa que continua omissa em todos os comunicados feitos à imprensa até hoje.
É triste que assim seja, mas parece-me bem mais realista pensar que isto não se resolverá, do que engolir esta nova “História da Carochinha”, mais uma vez sem um fim à vista e carente de provas claras, para que o suspeito possa ser acusado e julgado. Despeço-me minha querida amiga com um beijo doce, este com quem sempre podes contar,
É fácil criticarmos o que os outros fazem. Mais ainda se não pudermos ou quisermos fazer nós aquilo que criticamos, para demonstrar as diferenças entre o que se apresenta feito e realizado e o que nós poderíamos alcançar e que convictamente produziríamos.
A Junta de Freguesia de Campo de Ourique
Dito isto, só porque não existe como demonstrar como se faria melhor, na prática, porque na teoria todos somos muito bons, isso não impede a existências de críticas. Ainda mais, como é este meu caso de hoje, quando a crítica recai sobre uma entidade pública e, ainda por cima, quando esta foi eleita pelo voto das pessoas. Estou a falar concretamente da minha Junta de Freguesia.
Esta minha Junta é bem maior que muitas Câmaras do país, em termos populacionais, tendo apenas 1,65 Km quadrados de área, com um orçamento anual superior a muitas vilas e cidades portuguesas, algures na casa dos milhões de euros. É, aliás, a Junta que maior densidade populacional tem em Lisboa, a capital e a maior cidade deste país em que vivemos.
Faz hoje um mês que a Junta de Freguesia de Campo de Ourique publicou um Edital. Sobre ele tenho a tecer alguns comentários. Aliás, não é bem sobre ele, mas é mais a propósito da sua existência e contexto. Em si, ele reflete na Freguesia as medidas relacionadas com o Estado de Calamidade e toda a situação em volta do Covid-19.
Lido o Edital ficamos a saber o que funciona ou não no que às atividades relacionadas com a Junta, ou com projetos e espaços onde a mesma intervém, diz respeito. Como comunicado cumpre a sua função cinzenta, grave e institucional, ou seja, não há nada a dizer. Muito menos a criticar quanto à forma ou ao conteúdo.Podes lê-lo se tiveres interesse pois está online na página oficial da freguesia.
Então porque estou eu a falar dele? Tem a ver com o seu enquadramento na página principal, a usual “homepage” da Junta de Freguesia. Neste que é o Órgão de poder mais próximo de mim, cidadão e residente no Bairro de Campo de Ourique. Tem a ver com o restante conteúdo desta página. Da esquerda para a direita encontramos, sequencialmente, o Edital, seguido de uma publicação institucional relativa ao Coronavírus, depois vem o apoio domiciliário aos maiores de 64 anos ou portadores de 60% ou mais de deficiência e termina com a publicidade narcisista às revistas alegadamente mensais da Junta.
Abro aqui um parenteses para louvar a forma correta e absolutamente eficaz com que o serviço de apoio domiciliário tem estado a operar em Campo de Ourique. Funciona de segunda a sexta-feira, entre as 9 e as 18 e faz entregas de compras de supermercado (só trabalha com o Pingo Doce) ou de farmácia ao domicílio. Bem coordenado, boa distribuição, pessoal simpático na receção telefónica e na distribuição. Verdadeiramente muito bom e extremamente útil para quem precisa deste apoio.
Então, perguntarás tu, amiga Berta, de que me queixo eu afinal? Queixo-me da frieza institucional e da ausência de uma relação de proximidade, solidariedade ou até carinho com que o Presidente da Junta se deveria dirigir aos seus munícipes, numa esperada mensagem menos informal e mais emotiva de quem está ao nosso lado, bem no meio da página principal da Junta na internet.
Pode ser que a culpa, desta falta que sinto ali, seja do nosso Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que nos habituou a essa partilha continuada e cuidada de conselhos, apoios e preocupação com todos nós, cidadãos de Portugal. Mesmo assim, acho que os bons exemplos são para se seguirem, principalmente quando estamos a falar de quem está mais próximo de nós ou deveria estar.
Eu sei que o nosso bonacheirão Presidente de Junta, Pedro Cegonho, é um homem ocupado, seja nos meandros do PS, seja no seu lugar de Deputado da Assembleia da República, seja como Presidente da Junta de Freguesia de Campo de Ourique, seja a preparar o filho do Primeiro-Ministro para o suceder na mesma no próximo mandato autárquico, enquanto ele se prepara para outros voos, mas, que diabo, uma carta solidária e agradável aos munícipes, assinada por si, só lhe requer o tempo para a ler e assinar, nem tem de a escrever, ora bolas.
Esta é, de longe, a maior queixa sobre a forma como a minha Junta de Freguesia se tem portado nestes tempos de pandemia. Porém, há uma outra que assinalo com desagrado. Sendo nós todos, os residentes do Bairro de Campo de Ourique, os seus quase 30 mil habitantes, gente preocupada com o presente vírus, faria algum mal a Junta manter um aviso diário de como a pandemia se está a comportar no bairro? Quantos casos temos? Quantos estão internados? Quantos recuperaram? Quantos residentes já perdemos nesta batalha? Custava muito? Não, não custava e demonstrava, mais uma vez, preocupação e carinho por todos nós.
Afinal, Campo de Ourique não é uma Junta de Freguesia qualquer. Tem, por exemplo, o dobro dos habitantes do Concelho de Valença do Minho, com uma área geográfica 71 vezes menor, enquanto possui, por outro lado, a maior concentração de seres humanos da Capital, num espaço circunstancialmente curto e muito limitado. Se Valença, como exemplo escolhido, tem direito a saber como está a sua população relativamente à doença, por que razão não o sabemos nós?
Mesmo não tendo a DGS optado pela divulgação transparente e universal dos casos de Covid-19 em cada Junta de Freguesia, dados que possui desde a primeira hora, pelo menos as grandes Juntas deveriam substituir-se nesse papel à Direção Geral de Saúde e informar a população sobre a atualidade da sua situação face à pandemia.
Em resumo, querida amiga, da minha Junta de Freguesia apenas me posso queixar da pobreza de proximidade da “homepage” oficial da mesma, onde informação, carinho, solidariedade e ombro amigo pouco significado têm face ao flagelo que a todos atinge, sem escolha de idade, sexo, raça ou credo e, infelizmente, fico triste, muito triste. Por hoje é tudo, despeço-me com o tradicional beijo, este sempre teu amigo,
Com a abertura dos cafés e restaurantes em Campo de Ourique o bairro voltou quase ao seu antigo esplendor. Não reabriram todos, é certo, mas uma grande maioria já mexe novamente. Para mim, que moro na Rua Francisco Metrass entre os 3 supermercados (Pingo Doce, Go Natural e Minipreço), o confinamento quase tinha quintuplicado, em movimento e quantidade, as pessoas nos passeios. Agora a situação começa a parecer um pouco mais normal. Já não vejo filas de 30 a 50 pessoas desde que o desconfinamento teve início.
Eu, que me encontro confinado desde o início de fevereiro, primeiro por questões pessoais e depois pelas recomendações da DGS, para quem, como eu, faz parte dos grupos de risco, tive 3 vezes fora de casa. A primeira por causa de ter de ser hospitalizado e internado por 12 dias, por problemas de vesícula e uma segunda devido a uma consulta médica solicitada pelo hospital, a que, infelizmente, não pude fugir.
Quanto à terceira, fui jantar ao Restaurante Verde Gaio, no primeiro dia em que reabriu, pois andava mortinho por um piano grelhado, confecionado primorosamente pelo senhor Jorge. Escusado será mencionar que a única saída que me agradou foi esta última. Sou fã incondicional do Verde Gaio e ainda para mais o restaurante fica na minha rua.
Falar no Verde Gaio abriu-me o apetite. Depois de acabar a carta, querida Berta, vou fazer uma Açorda Secreta de Marisco à Gil. Acompanhada de um bom Vinho Verde bem fresco. Como já sei que queres a receita, aqui vai ela:
Açorda Secreta de Marisco à Gil
Para 4 pessoas
Ingredientes:
Miolo de 1 Kg de Ameijoa Vietnamita (abertas no vinho, no limão e Azeite);
½ Kg de Camarão sem casca cortado em 2 (Tamanho 50/70 aprox. os gulosos usam 1 Kg de camarão);
100 g de Toucinho ou Bacon;
1 linguiça pequena (sem pele);
250 g de Pão de trigo ou caseiro duro (partido em pedaços pequenos);
1 Cebola média (picada miúda);
8 dentes de Alho (picado miúdo);
3 Ovos tamanho M ou L.
1 l de água de cozer (molho) o Camarão.
1/4 l de vinho branco
1 colher de chá de Açafrão (em pó);
1 colher de chá de Caril (em pó);
3 colheres de chá de massa de pimentão
1 molho de Coentros (cortados fininhos, com os talos, à tesoura);
½ molho de Salsa (cortados à mão);
Sumo ½ Limão;
Sal q.b.;
Piripiri em dose generosa;
1 dl de Azeite;
Nota: Faça sempre um molho de camarão (mesmo que volte a cozê-lo, quer compre este cozido ou cru).
(Mariscos alternativos: um outro tipo de ameijoa, ou, a juntar a gosto, em miolo, lagosta, lavagante, lagostim, conquilhas, berbigão).
Confecionar:
Num prato: o miolo de Camarão e das Ameijoas e meta-o no frigorifico.
Corte o Toucinho ou Bacon e a Linguiça em pedaços muito pequenos.
Frite-os numa frigideira, em lume brando, com Azeite, o Alho picado (todo), a cebola(toda) e alguns dos Coentros. Antes de terminar junte 100 ml dos molhos e deixe fervilhar.
Coloque num tacho, o Toucinho e a Linguiça, a Cebola, o Pão, o Sal, o Açafrão, o Caril, o restante Azeite, a massa de Pimentão, o que sobrou dos molhos (das Ameijoas e do Camarão), um Ovo e o Piripiri e deixe ao lume até ferver, mexendo sempre.
Deixe ferver entre um a 2 minutos e no final junte o Marisco e os 2 Ovos e o resto dos Coentros e da Salsa em falta. Ferve mais 2 minutos apenas, mexa sempre.
Depois sirva bem quente de preferência em prato de barro enfeitando com um raminho de Coentros ou Salsa.
Bom Apetite.
Por hoje é tudo, querida Berta, deixo-te um beijo de até amanhã, este que jamais te esquece, saudosamente,
É hoje que concluo o assunto começado há 2 dias. Ainda deves estar intrigada sobre o propósito de trazer a cultura, a literatura, Aquilino Ribeiro e o livro <<Andam Faunos Pelos Bosques>> à temática destas cartas. Contudo, a coisa vem de trás, foi um assunto que ficou latente na Parte V das Confissões em Português, no passado dia 18 de maio há precisamente 14 dias atrás.
Confesso, porém, que a abordagem apenas me serve de imagem, alegoria ou hipérbole, de algo muito corriqueiro e usual no mundo animal e humano. Em última análise trata-se de tornar polido e educado algo que carece dessa vertente harmoniosa, por motivos que na narrativa que se segue te pareçam óbvios e perfeitamente claros e justificáveis. Pelo menos, foi com essa intensão que a figura de estilo foi usada por mim. Assim:
Memórias de Haragano: Confissões em Português – Parte XIX
“Pronto! Caro leitor, antes de mais uma explicação. Começo, muitas vezes, a divagar baseado num determinado tema e, às páginas tantas, como se costuma dizer no Norte, dou por mim completamente fora do enquadramento e do assunto que me fez começar a escrever em primeiro lugar.
Há muito experiência adquirida no tempo passado a virar frangos, como também há muita maneira de fazer bacalhau. Tudo para dizer que a situação do que fiquei por relatar não ficou esquecida, apenas suspensa, à espera de uma nova oportunidade para regressar e ser concluída. Porém, deixar passar tantas páginas foi, desta vez, um verdadeiro exagero.
Vou regressar ao ponto em que me referi às nunca solicitadas incursões dos intestinos no nosso quotidiano… caro leitor, quando eu abordei o assunto sobre a adivinha da poia, enquanto explicava de seguida a sua utilidade para desbloquear uma conversa, não me referi a uma outra situação derivada do mesmo tipo de temática. Ficou, portanto, algo relevante por esclarecer, porquê? Bem, nessa altura o que tinha começado a deslindar acabou por se perder, com a introdução das quadras da adivinha, ficando omisso um esclarecimento. O parágrafo iniciara-se da seguinte forma, aproximadamente:
O que faço eu quando, coabitando com uma companheira, sou obrigado a abordar a temática constrangedora do peido, da bufa, do pum, do traque, do flato ou flatulência, do vento ou da ventosidade, do petardo, ou até da bomba atómica que, mais tarde ou mais cedo, um de nós acaba por dar ou largar na presença do outro? Antes de responder essa questão, deveras pertinente, importa chamar ao texto a imagem, a alegoria e a hipérbole previamente anunciadas.
Se bem te lembras, amigo leitor, quando falei de Aquilino Ribeiro, e do seu romance <<Andam Faunos Pelos Bosques>> referi que iria fazer uso dele mais tarde. É precisamente este o momento. O título refere a possibilidade de existência de Faunos, enquanto entidade oculta, de que não se conhece verdadeiramente nem a sua essência, nem mesmo se nos estamos a referir a uma quantidade singular ou plural, ou seja, tudo à volta dos Faunos no romance de Aquilino é um mistério, um tabu não desvendado, um assunto incómodo, uma inconveniência até social.
O mesmo se passa com a temática do peido na presença de segunda ou terceiras pessoas. Pode ser detetado ou não o responsável pela sua proveniência, quando existem pelo menos 3 indivíduos presentes, é um ato incómodo, que aparece como que vindo do nada, oculto, resvalando clandestinamente por uma ou outra borda de roupa, um mistério, um tabu temático e realmente uma inconveniência social, que chega a ser tomada como falta de educação, mesmo na intimidade de um lar ou na presença única de uma companheira ou companheiro.
Ora, aquilo que eu faço, sempre que uma inconveniência destas ocorre, e na presença de alguém a quem já falei da minha analogia, mesmo não quando não sou eu o flatulento, é dizer, com um ar inocente: <<andam faunos pelos bosques>> e, logo de seguida, acrescento: <<é melhor darmos de frosques>>. Quem conhece, sorri.
No caso de existir a presença de alguém que ainda não tenha escutado a minha explicação, fica lançado o tema para uma conversa brejeira, sem maldade e que também ajuda a esquecer o descuido da incauta pessoa que libertou a fragrância.
Se a palavra <<faunos>> se refere diretamente aos peidos, já o <<andam>> revela o seu aparecimento, enquanto o <<pelos bosques>> aponta para a origem misteriosa e possivelmente desconhecida da sua proveniência, ora desculpando o culpado, ora significando que se desconhece a origem. O acrescentar da expressão <<é melhor darmos de frosques>> não só rima com a frase anterior, como serve de aviso, não vá o aroma ser demasiado desagradável, para que se consiga manter o bom ambiente ou o agradável convívio até então existente.
Portanto, caro leitor, se alguma vez na sua conveniência social escutar a frase <<andam faunos pelos bosques>> já sabe que está na presença de alguém que também leu esta minha história e eu, se fosse a si, aproveitava para me pôr na alheta, antes que alguém profira: <<é melhor darmos de frosques>>.“
Termino, querida Berta, mais uma carta, esperando que, tenhas a sorte de nunca me ouvires dizer que “andam faunos pelos bosques”. Despeço-me rindo, com um beijo do amigo de todos os dias,
Dando seguimento à última carta, que agradeço que tenhas referido ter-te deixado curiosa, sigo de imediato para a narrativa. Assim:
Memórias de Haragano: Confissões em Português – Parte XVIII
“Se devidamente analisado, à luz do seu tempo, Aquilino Ribeiro mostra-se muito à frente da sua época e das ideias de então. Neste romance ele promove aquilo a que se poderia muito bem chamar uma verdadeira revolução sexual. De notar que a ação decorre 40 anos antes dos famosos anos 60, esses muito conturbados tempos da paz e do amor e da reivindicada liberdade sexual.
Aliás, embora nunca tenha lido nada que possa sequer comprovar o que vou escrever, eu acho provável que os loucos anos 20, na América, possam ter influenciado o papel verdadeiramente diferente do habitual, naquela altura, atribuído à mulher, por parte de Aquilino, na sua obra. Por ventura, as notícias do novo mundo podem ter ajudado na quase sátira de Aquilino Ribeiro ao <<status quo>> instituído e tomado como certo.
Podia ter também falado aqui da personalidade única do escritor. Ele que foi beirão, emigrante, preso, procurado pela polícia, fugitivo, seminarista, fundador de revistas literárias, membro da Biblioteca Nacional de Portugal e do grupo com a mesma denominação, sócio da Academia das Ciências de Lisboa, desertor, arguido em tribunal militar, condenado, caçador e até estudante universitário da Sorbonne, em Paris.
Contudo, também foi cavaleiro, republicano, contacto regular do movimento regicida, presidente e fundador da Sociedade Portuguesa de Escritores, presidiário, evadido da prisão, clandestino, cronista na imprensa escrita, professor, sem licenciatura, filho, pai e avô.
Somando aos demais parágrafos Aquilino foi ainda escritor, proposto para o Prémio Nobel da Literatura em 1960, acusado de anarquista, maçon, militante acérrimo da candidatura à Presidência de Humberto Delgado, Comendador da Ordem da Liberdade.
No topo do bolo, qual cereja, Aquilino Ribeiro é um dos ilustres portugueses a ter o direito de ter os seus restos mortais a descansar no Panteão Nacional.
Tendo em conta os últimos 4 parágrafos, tudo o que foi escrito relata o escritor, entre outras coisas, e não necessariamente por esta ordem, escolhida propositadamente, por mim, para parecer conturbada e polémica como aliás foi toda a sua vida.
Aquilino Ribeiro era, por si só, um caso único e invulgarmente admirado na cena literária portuguesa e internacional, de que são exemplos as honras recebidas no Brasil e em Paris. Eu, aqui, podia vir falar dos mais de 40 livros que deixou, enquanto obra publicada. Porém, não era sobre Aquilino Ribeiro, propriamente dito, de que me interessava falar. Prefiro referia-me sim, apenas e só, à sua obra: <<Andam Faunos Pelos Bosques>>.”
Despeço-me com uma piscadela de olho e um sorriso franco, deste que sempre será teu amigo, com votos de que estejas a ter um excelente dia, com amizade,
Hoje entro, sem demoras, num novo tema. Algo mais erudito porque, para meu próprio orgulho, também se torna necessário, dar um pouco de luz às cartas que te escrevo. A cultura não aleija e, por estranho que te possa parecer (ou talvez não), ajuda a formar mentalidades e identidades. Ao contrário do provérbio que afirma que << o saber não ocupa lugar>> eu considero que ele não só ocupa, como devia ser sempre encontrado no cume das nossas prioridades. Assim:
Memórias de Haragano: Confissões em Português – Parte XVII
“Caro leitor, desculpa-me se te pergunto, mas já leste tu, por acaso, a excelente obra-prima de Aquilino Ribeiro intitulada <<Andam Faunos pelos Bosques>>? O autor certamente que te diz alguma coisa, mas e a obra? Conheces a sua obra literária?
Como não estás presente para responder, vou depreender que não, pois será a resposta mais comum de quem me lê. Porquê? Porque sendo tu uma pessoa desta época, onde se vive a era da imagem, só por mero acaso ou gosto particular é que terias ido ler uma obra escrita em 1926, por muito clássica que esta possa ser. Vejo-te a ler mais facilmente os romances do José Rodrigues dos Santos do que a desempoeirares o Aquilino. Contudo, posso estar absolutamente errado na minha avaliação e, se for esse o caso, peço desculpa, apenas o disse porque a leitura não está na moda e muito menos ainda o Aquilino.
Porém, hoje, por motivos que explicarei um pouco mais à frente, interessa-me falar neste assunto. Nomeadamente sobre o romance do mestre: <<Andam Faunos pelos Bosques>>.
Resumindo a ideia da história, mas sem intenções de a contar, posso dizer que ela anda à volta de um muito estranho acontecimento, passado nas serranias das Beiras e em Viseu, em que as mais belas damas da região são vítimas (ou não) de um predador sexual. A polémica instala-se, principalmente entre os investigadores do caso: os padres. Uns ingénuos e cândidos, outros com uma visão ainda perfeitamente arcaica e rural. Ainda há alguns esclarecidos e modernos, influenciados por uma educação na capital e mais aqueles realistas, conhecedores das influências que, à época, ventavam Paris, com um bafo a meandros bem obscuros e muito pouco dados à fé.
As teorias sobre que criatura ou criaturas andariam a colocar as suas sementes nas beldades regionais divergiam entre si. As conjeturas variavam entre os que defendiam tratar-se do próprio Belzebu; os que colocavam um anjo como protagonista; os que pensavam que deveria ser tudo obra, isso sim, de um Casanova regional ou até de vários e, por fim, os que atribuem as culpas a um ou mais faunos míticos e sedutores, os quais enfeitiçariam as donzelas, com a mágica e erótica música das suas flautas de Pã, arrastando-as para os bosques, onde consumariam os seus enfeitiçadores intentos.
É do alegado arrastamento das mulheres para os bosques, com intuídos de uso de uma flauta, que não a de Pã, que surge o título da obra <<Andam Faunos pelos Bosques>>. Ninguém sabe lá muito bem quem são, quantos são, onde estão e como fazem as coisas. Contudo, desafiando a lógica, serão eles os possíveis e derradeiros culpados. Pensaram mesmo que os faunos através do uso profano e encantador das sonoridades da sua Pã, enfeitiçam, usam e abusam das castas raparigas e das respeitáveis senhoras beirãs?”
Deves estar a estranhar o porquê da presente temática, querida amiga, todavia, dentro de um ou 2 dias será bem mais fácil entenderes as minhas motivações. Tem um pouco de paciência comigo. Por hoje fico-me por aqui. Este teu amigo despede-se com uma beijoca sorridente,
Tendo deixado em aberto a minha ideia sobre forças da ordem e fardas, acho que devo concluir essa linha de pensamento antes que avance para outras áreas, minha amiga, assim:
Memórias de Haragano: Confissões em Português – Parte XVI
“Regressemos, pois, às forças da ordem, mal pagos, rancorosos e prepotentes porque, até para darem um tiro, precisam de preencher seis ou sete impressos posteriormente. Depois existem, infelizmente, muitos deles com pouquíssima vocação para a profissão. A polícia devia cumprir a sua profissão com orgulho pela farda, pelo brio e pelo seu precioso auxílio na manutenção da ordem, na segurança e no combate aos malfeitores, que depois a justiça deveria tratar com sabedoria e eficiência.
Para além disso, não é necessário criar 20 diferentes forças policiais para fazer um mesmo serviço. Basta uma que esteja dividida por departamentos, áreas de atuação, campos de ação, zonas geográficas, ou seja lá o que for, mas uma chega.
As diferentes polícias, sejam elas a Polícia de Segurança Pública, a Guarda Nacional Republicana, a Polícia Judiciária, a Polícia Marítima, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, o Serviço de Informações de Segurança, a Guarda Prisional, a Autoridade Tributária e a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica já que têm todas, ao que parece, de existir em simultâneo, pelo menos, deveriam ter as acomodações e instalações, os efetivos, os meios e as condições mínimas asseguradas para com eficácia e segurança dignificarem os serviços onde estão inseridos. Ora, isso implica, inclusivamente, usufruírem de um pagamento compatível com os cargos e funções desempenhadas.
É precisamente a falta de algumas destas condições básicas de funcionamento que acaba por gerar, os defeitos e deficiências, a corrupção, o erro, as falhas na eficácia e pior ainda, a ausência de brio profissional. Afinal, como podemos pedir competência a uma PSP ou uma GNR se, ambas as polícias, têm metade da sua frota automóvel parada por carência de verbas para a oficina ou de capital para o combustível? Impossível. Só que as lacunas se estendem a todas estas forças e, pior ainda, cumulam com más remunerações, instalações degradadas, armamento e equipamento a precisar de reforma, e mais algumas dezenas de outras brechas em todo o sistema que deveria ser estanque e que urge calafetar.
Posso não gostar de fardas, conforme referi, mas exijo, pois é um direito meu enquanto cidadão, que as que existem tenham os meios e as condições para efetuarem e cumprirem eficaz e exemplarmente o seu papel na sociedade.”
Sendo eu, por nascimento, português, faço parte de um povo de brandos costumes e de uma tolerância à prova quase de choque. Mas sou, também, um daqueles que gosta de refilar por tudo e por nada, porque nós temos essa tendência meio masoquista de criticarmos o que é nacional, mas que, por acaso, até nem é nosso, pertence ao próximo seja ele o vizinho, conhecido, pessoa mais ou menos famosa ou até um VIP cá do burgo. O mexerico, os males de inveja e a saga do fado do coitadinho, são coisas que já não deveriam ter lugar numa sociedade que se diz evoluída.
Somos assim, podemos nem estar a sofrer com a crise, mas, como convém que ninguém saiba que até estamos bem, não se vão lembrar de nos chatear, lá alinhamos nós na desgraça nacional da crise que nunca mais passa. Temos a tendência incompreensível de nos acharmos vítimas de tudo e de todos. Com efeito, na atualidade, somos vítimas do Covid e do imenso problema de saúde que ele nos criou, gerando em simultâneo uma crise social e económica ímpar no país. Será necessária a coragem lusitana para enfrentar, lutar e vencer todas estas adversidades, mas temos de nos unir em torno desse objetivo que importa implementar.
Minha querida amiga Berta, deixo-te um amorangado beijo saudoso nesta despedida por hoje. Tens este teu amigo sempre ao teu dispor, usa e abusa,
Ontem, ao falar da justiça e de possíveis forças ocultas, acabei por não dar exemplos, nem expor muito, o que penso sobre o assunto. Por isso, aqui vai a continuação:
Memórias de Haragano: Confissões em Português – Parte XV
“Não fiquei convencido no caso Carlos Cruz, como já te contei, caro leitor, nem tantos outros casos que se mediatizam para nos atirar areia para os olhos.
Esses e outros, que nem vale a pena referir, são os gladiadores escravizados, e antes senhores, do Coliseu de uma Justiça que não tem apenas os olhos vendados, mas que aparenta servir sociedades secretamente organizadas e portadoras de agendas especificas.
Podia falar aqui dos interesses escondidos da Opus Dei, da Maçonaria e de mais uma dúzia de organizações mais ou menos secretas, que vão desde os Rosa-Cruz, os Lions Club até aos beneméritos do Rotary Club, todos agindo na sombra em prol dos seus interesses. Talvez esteja a ser injusto, afinal isso é única e exclusivamente a minha forma de pensar.
Porém, vejamos: quem julga o bom ou mau trabalho dos juízes e determina se estão ou não ao serviço de algo menos visível? Outros juízes? Não me façam rir. Isso sim, era importante, digo mesmo, fundamental, podermos saber de forma bem clara e transparente quem lhes avalia os procedimentos e atuações, para que assim a nossa fé na justiça fosse reposta.
Se o Governo tem uma Assembleia da República que o fiscaliza, se o Presidente da República está sujeito ao julgamento popular através do voto, quem supervisiona o poder judicial? Eles, em Portugal, são uma carreira pública, não vão a votos, mas são controlados por quem? Haverá alguém que saiba?
De vez em quando lá nos atiram com um juiz, para a arena dos média, para nos distrair. Mas quem são esses juízes? Os que já estão tão queimados, que já nem os estagiários se oferecem para ir tomar um cafezinho com eles, ou os que precisam de um apertão por estarem a tentar fugir aos poderes ocultos?
Quando um procurador nos ofende em tribunal, antes que o que quer que seja fique provado, porque é que o referido senhor não é devidamente repreendido pelo atentado ao meu bom nome que, até ao veredito final, deveria continuar a ser considerado como bom? A justiça deveria ter júri na grande maioria dos casos, principalmente nos mais graves, e prazos. Sempre prazos e responsabilidades por incumprimento desses prazos. Enfim, os desabafos, como diz uma amiga minha, não me levam a lugar algum e, ainda, segundo ela, não interessam a ninguém (para quem pudessem ou possam serem relevantes e a quem, verdadeiramente, se interessasse ou interesse por eles).”
Eu sei que tu entendes as minhas dúvidas existenciais, querida Berta. Aliás, tu e pouca gente mais. A maioria conforma-se com o que existe e escolhe nem pensar nestes assuntos. Por hoje despeço-me amigavelmente com um beijo, saudoso,