Carta à Berta: Alexander Lukashenko ou "Lukinhas Vasourinha"
Olá Berta,
De vez em quando, embora prefira outros assuntos, lá apareço eu a escrever para ti, minha querida amiga, sobre temas internacionais, muitos deles de cariz político. Tento evitar, podes acreditar nisso, mas nem sempre consigo deixar em branco, certos acontecimentos ou situações. Desta vez trata-se de Alexander Lukashenko, o Presidente reeleito da Bielorrússia, o homem que afirma curar Covid com vodka.
Com a recente eleição o nosso amigo “Lukas” conseguiria, pela sexta vez consecutiva, chegar ao poder. Eu sei que disse conseguiria, errando na aplicação do verbo, porque efetivamente ele já o conseguiu. Acontece que o “Lukinhas” é um menino maroto e malcomportado. Dizem as más línguas, do país onde governa, que o malandreco só ganhou, sem marosca, as primeiras eleições a que concorreu. Todas as outras foi-as manipulando de forma a apresentar-se como o vencedor.
Ora, o povo deste país tem sido tolerante com o “Lukinhas”, mas tudo tem um limite. Desta vez, o copo já estava cheio e, finalmente, transbordou. São himalaias de pessoas a manifestarem-se na rua pedindo a sua saída imediata. Vagas, de muitos milhares de homens e mulheres de todo o país, aparecem nas reportagens das televisões do mundo ocidental a mostrar o descontento em manifestações a que o “Lukas” responde com balas reais.
Até ao momento apenas o Sr. Pudim, digo Putin, parece vir demonstrar algum apoio. Curto, muito curto, quando apenas um ditador apoia outro ditador. Ah! Antes que me esqueça, e não me importa nada que se trate de uma ditadura de esquerda, disfarçada de democracia. Para mim, ditadura é ditadura, venha lá ela de onde vier. Será que não serve de nada estarmos no século XXI?
O “Lukinhas” é o tal fulano que num discurso de Estado trocou as palavras “melhorar” (razvivatsa) por “despir” (rasdevasta) afirmando: “Vocês sabem o que fazer, como fazer, que objetivos atingir… A nossa vida resume-se a duas coisas despir e trabalhar.” O resultado foi que, em imensas empresas e escritórios do país, principalmente nas agências de publicidade e criatividade, no dia seguinte, todos os funcionários foram trabalhar nus, sendo as fotografias de um sem número de locais de trabalho, despidos de preconceitos, sido publicados na imprensa.
O “Lukinhas” a quem muitos chamam de “vassoura velha” aludindo aos 26 anos de poder e ao bigodinho do ditador, contudo, afirma que nem morto larga o osso. Desde que o povo saiu às ruas o “Lukinhas-Vassourinha” já prendeu mais de 7 milhares de pessoas. As poucas centenas que, entretanto, foram soltas mostram publicamente as marcas da tortura e dos espancamentos sofridos em cativeiro. Isto tem de ter um fim. Já chega, de ver na Europa regimes totalitários a tratar os povos que governam como lixo. Lukashenko precisa de ser reciclado ou, em alternativa, oferecido como bibelot a Putin. Mas é tempo de deixar o poder.
Despede-se de ti este amigo quotidiano que te adora, querida Berta, com um beijo cansado de ver tanta injustiça, num mundo que tarda em ser superior,
Gil Saraiva