Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Como sabes, minha cara confidente, eu tenho administrado um grupo de bairro no Facebook. Estamos perto de chegar aos dez mil membros e embora se possa falar de política, mesmo satirizando este ou aquele político faz já algum tempo que ficou claro que não é permitido insultar seja que político for, como também está fora de questão dizer que são todos desonestos ou pior do que isso.
Esse tempo, amiguinha, já não tem mais lugar nesse espaço. Contudo, não escondo de ninguém que sou socialista e até militante do Partido Socialista. Todavia, uma coisa é ser socialista filiado, outra coisa é concordar com tudo o que o PS faz ou programa fazer. Aí, como sempre, eu e o partido nem sempre estamos de acordo.
A nível autárquico fui totalmente contra o apoio demonstrado pela Junta de Freguesia de Campo de Ourique, onde o PS ganhou por menos de duas dúzias de votos, à localização da estação do metropolitano no subsolo do Jardim da Parada, ao desvio do lençol freático e à condenação à morte lenta, minha querida, num prazo não superior a dez anos, das árvores centenárias do Jardim da Parada.
Penso até que, quando a população do bairro começar a ver as consequências desta decisão, o PS autárquico estará por muitos anos longe do poder em Campo de Ourique. Infelizmente, amiga, duvido que me engane.
A vida tem destas coisas e, proximamente, no dia dez de março, vamos ter eleições legislativas. Ora, ao contrário de muita gente, eu gostei bastante da governação socialista. Aliás, apoiei internamente António Costa e fiquei muito satisfeito quando ele ganhou o partido, exatamente do mesmo modo, Berta, como fui contra José Sócrates desde o princípio. Ser socialista não é ser estúpido, nem deixei de ter pensamento próprio, eu sei que há várias crises em curso, desde o gravíssimo problema da habitação, passando pelas várias crises do SNS, até ao problema dos professores e das forças armadas e de segurança.
Mas também sei que o poder de compra em minha casa não desceu, subiu quase 25% em oito anos. Sei que não posso ser retirado da minha casa, pela senhoria, pois estou num regime protegido, graças à teimosia do PS em manter esse regime. Mesmo assim, querida amiga, a Lei Cristas fez-me pagar cinco vezes mais renda do que anteriormente pagava. Claro que nem tudo está bem. Porém, o PS fez o país crescer, face à Europa, aguentou sem se ir abaixo uma pandemia, e suportou o rebentamento de duas guerras quase à nossa porta, conseguindo, mesmo assim, fazer diminuir a divida pública e recuperar Portugal de uma economia no lixo para um “raiting” de nível A, novamente. Já nem falo na superação da crise do petróleo.
Agora, aquilo a que eu apelo no grupo, não é para os membros votarem PS, é apenas para irem votar. No PS, na AD, na IL, no Livre, no PAN, na CDU ou no Bloco de Esquerda, não importa, votem na democracia, esqueçam dos partidos que garantem a banha da cobra, que são populistas, e que só prometem coisas porque sabem que nunca as terão de cumprir. Se não querem votar em ninguém votem em branco, mas votem. Não ir votar aumenta a abstenção e beneficia diretamente a estrema direita. Não me vou alargar mais por hoje, minha doce Berta, deixo um beijo saudoso, deste teu amigo,
Vem aí a Caralhampana. Perguntarás tu, certamente curiosa, e com razão...” — Maso que é uma Caralhampana?” Pois bem, uma Caralhampana é uma Geringonça do “Carvalho”. O termo é importado do Brasil, mas é realmente expressivo. Se a Geringonça já é uma Engenhoca difícil de engendrar, uma Caralhampana é, sem dúvida, o superlativo desta dificuldade. E foi o único que encontrei para ilustrar o que, segundo o nosso último Primeiro-Ministro, se adivinha em perspetiva, depois de trinta de janeiro.
Pelo pedido e matemática de António Costa não é complicado entender que, caso o PS falhe a maioria absoluta poderá muito bem ter de constituir um governo à esquerda cujos aliados se tornam mais complicados de alinhar no mapa desenhado pelo líder do PS.
Convém acentuar que, amiga Berta, para alguns dos estudiosos da linguagem, a palavra que importei dos nossos irmãos poderá ter uma outra origem e derivar de outra, também brasileira, a saber, “Cralhampana”, que mais do que ser apenas uma geringonça é bem mais aproximada do significado de um “Trambolho de uma Traquitana”. Ora, aqui já estamos numa termologia bem mais lusitana. Todos conhecemos bem o significado de “Trambolho” e de “Traquitana”.
Dito isto, fica particularmente difícil imaginarmos que uma Engenhoca, que combina ambos os termos, seja algo que realmente funcione. Mas a análise a fazer a esta importante temática não se fica por aqui.
Vamos, para nosso conforto, minha querida amiga, analisar o significado destas duas últimas palavras de forma a podermos aumentar as possibilidades de entender o que nos espera dentro de dias, após a realização do ato eleitoral, quando, provavelmente, o PS tiver de formar governo.
“Trambolho” (segundo o que consta no Dicionário Online Priberam): Palavra de origem obscura.
Cepo que se prende ao pescoço ou ao pé dos animais domésticos, para que não se afastem muito de um local. = Trangalho.
[Informal, Figurado] — Aquilo que não tem utilidade; aquilo que atrapalha ou incomoda. = Embaraço, Empecilho.
[Informal, Depreciativo] — Pessoa considerada de pouco valor.
[Informal, Depreciativo] — Pessoa muito gorda que tem dificuldade em andar.
[Informal, Depreciativo] — Pessoa que é fisicamente pouco atraente ou maljeitosa.
“Traquitana” (segundo o que consta no Dicionário Online Priberam): — Palavra de origem obscura.
Carruagem de quatro rodas, para duas pessoas, com cortinas de couro por diante.
[Informal] — Carro desconjuntado e reles. = Calhambeque, Caranguejola, Carripana.
[Informal] — Coisa de pouco valor = Bagatela, Bugiganga.
Em resumo, minha amiga Berta, a Caralhampana é um termo tão obscuro como os seus significados e sinónimos, seja na origem brasileira original ou seja nas palavras sinónimas em português de Portugal. O seu verdadeiro significado parece, com efeito, ser portador de uma carga não só negativa como superlativamente depreciativa.
É também um facto que Geringonça também já era, pelo seu significado, uma coisa ou construção improvisada ou com pouca solidez ou uma construção pouco sólida e que se escangalha facilmente ou, ainda, um aparelho ou máquina considerada complicada ou, até, uma coisa consertada que funciona a custo, para não dizer uma sociedade ou empresa de estrutura complexa e pouco credível ou, pior ainda, uma ideia engendrada de improviso e que funciona com dificuldade, ou seja, no caso político, uma combinação ou acordo partidário pouco credível, criado de improviso, que funcionou a custo.
Ora, querida Berta, devido ao seu fator periclitante a Geringonça criada pelo Partido Socialista não conseguiu sobreviver mais de setenta e cinco por cento do tempo para que tinha sido projetada. Ficou, como é sabido, a dois anos de realizar plenamente a sua função integralmente. Mas, mesmo assim, não foi mau de todo se tivermos em conta que os analistas lhe davam, no máximo, um a dois anos de existência.
O problema hoje em dia põe-se, contudo, de outra forma. Quando se pega numa Geringonça que gripou (ou «covidou») talvez fruto da própria pandemia de Covid-19, e se tenta consertar este equipamento, tentando aproveitar o mesmo princípio de engenharia e usar partes da Caranguejola para assim criar uma obscura Caralhampana que funcione, arriscamo-nos, minha amiga, a entrar diretamente no domínio da ficção científica.
A acontecer, segundo parece crer piamente António Costa, esta nova Traquitana, tanto se pode tornar rapidamente um Trambolho, ditado ao fracasso, se a máquina for construída com partes do PAN, como pode conseguir funcionar por algum tempo, talvez até um ciclo inteiro de quatro anos, se o Livre conseguir eleger um ou dois deputados e se juntar ao PS para formarem conjuntamente a dita Caralhampana. O mais difícil para Costa será convencer Rui Tavares a fazer parte de uma solução sem que este exija a agregação novamente o Bloco de Esquerda e a CDU na Caralhampana.
O Livre poderia ajudar a Caralhampana a tornar-se não uma mera Traquitana, mas um verdadeiro Calhambeque funcional se, como exige Rui Tavares, António Costa permitisse a entrada, uma vez mais, do Bloco e da CDU num Calhambeque de quatro cilindros.
Quanto ao PAN será certamente o Empecilho disfuncional de uma futura governação à esquerda e disso não tenho qualquer dúvida. Com efeito, não me parece viável a reconversão das Touradas em Corridas de Touros, em que os animais correm à volta da praça, na perspetiva de ver qual deles apanha o lencinho vermelho primeiro. Já no caso do lítio, como o elemento não é verde, não poderia vir a ser explorado em Portugal apesar de, no entender do PAN, ele possa ser substituído, quiçá, por sumo de limão, embora este não sirva para fabricar baterias, mas, em compensação, seja excelente para gerar ótimas limonadas.
Também não estou a ver António Costa a aceitar obrigar a Autoeuropa a construir apenas viaturas que funcionem a Etanol, Hidrogénio ou por simples empurrão. Muito menos me parece possível o país a alimentar os seus Canídeos com uma dieta especial onde a carne esteja ausente, tipo “Bobi, toma lá o teu molho de brócolos” ou, ainda, a transformar a caça num desporto de tiro ao repolho.
Dito isto, hoje termino esta carta por aqui, querida Berta, na espectativa do que possa vir a acontecer depois do dia trinta de janeiro, sendo que uma coisa me parece certa: não sei como conseguirá funcionar mas vem aí a Caralhampana. Recebe um beijo saudoso deste teu amigo de sempre,
Termino, nesta terceira carta, a temática que tenho vindo a abordar, ou seja, que “Andam a tentar manipular, alegadamente, as próximas eleições legislativas de 2022.” Coisa que, dita assim, por quem é absolutamente contra teorias da conspiração, me angustia seriamente.
Terminei a última carta a falar-te da forma como o partido Livre, de Rui Tavares, foi alvo por parte das empresas de sondagens e dos grandes grupos da comunicação social de uma tentativa descarada de abafamento da sua legitimidade democrática. Ora, eu não tenho nada a favor ou contra o Livre, mas acho que não o referir nas sondagens, e exclui-lo previamente dos debates, foi uma jogada atentatória e clara de manipulação de resultados eleitorais e sobre esta, as provas não deixam quaisquer dúvidas.
Não tivesse havido reclamação, e sem a intervenção da Comissão Nacional de Eleições, o Livre estaria hoje fora dos debates televisivos. Todavia, a análise não se fica por aqui, pois há muito mais.
Com efeito, embora concentrando os votos da direita no PSD, esta última sondagem coloca o Chega quase à frente da CDU e do Bloco de Esquerda, e nomeiam este partido como estando na luta para poder vir a ser o terceiro maior partido nacional, pois anunciam estar em fase crescente. Mais uma vez num claro, enquanto alegado por mim, jogo de interesses em favorecer a direita do espectro político nacional.
Eu falo em manipulação das sondagens pela incongruência das mesmas. Se era possível, há dois meses, aceitar que o Chega pudesse ser a terceira força partidária nacional numa altura em que o PSD oscilava entre os 25% e os 29% nas intenções de voto, tal situação deixa de ser coerente com as próprias sondagens quando concentram os votos da direita no PSD. Quer isto dizer que não faz qualquer sentido, manter a força eleitoral do Chega num possível terceiro lugar, se for correto que o PSD está realmente a congregar as forças à sua direita.
A bota não bate com a perdigota. E a situação agrava-se quando a mesma sondagem mantém os votos do Iniciativa Liberal equiparados aos votos da CDU e do Bloco de Esquerda. A situação é simples, ou o PSD está mais forte, e as outras forças à sua direita perderam fulgor, ou inversamente o PSD continua fraco e os outros partidos à direita reforçam as suas posições. Agora, as duas coisas em simultâneo é um absoluto contrassenso político, que considero, mesmo que apenas no âmbito virtual, absurdo.
Na mesma perspetiva de análise, fazer baixar o PS e manter os níveis historicamente baixos da CDU e do Bloco de Esquerda, sofre da mesma estúpida deturpação das tendências eleitorais. É evidente que se o PS estiver mais fraco os votos à esquerda ganharão mais relevo e importância. Nada disto, querida Berta, faz sentido nas sondagens.
Veremos, aliás, se o Livre não vai aparecer novamente com um ou mais representantes eleitorais e se não supera até os votos do CDS, um partido (finalmente) que acredito estar certo nas análises das sondagens e, por isso, quase em vias de extinção no que à sua representatividade no parlamento diz respeito.
Ainda no campo puramente das sondagens, a manutenção do PAN dentro dos mesmos parâmetros de há dois anos, depois do partido ter perdido o seu carismático líder André Silva para a trapalhona Inês Corte Real, já envolta em várias polémicas que chegaram à comunicação social, parece-me propositado e mais uma vez a tentar justificar a descida do Partido Socialista.
Aliás, a sondagem da Pitagórica anterior a esta, tem mesmo o descaramento de apresentar o Chega como a terceira força nacional, para além de outras alarvidades que a realidade, mesmo com estas tentativas de manipulação, se encarregará de demonstrar.
Quando a mim, não é importante quem vença se o fizer de forma justa e embora eu me considere um homem de esquerda. O fundamental é que as eleições sejam transparentes.
Por hoje é tudo, querida Berta, despeço-me desta trilogia desejando-te umas Boas Festas, com tudo a correr pelo melhor. Por aqui, recebe o saudoso beijo do costume, deste teu amigo que nunca te esquece,
Aqui estou eu a escrever-te sobre o tema de ontem e passo de imediato à segunda parte do tema. “Andam a tentar manipular, alegadamente, as próximas eleições legislativas de 2022.” Voltando à vaca fria, eu falava na possível manipulação das sondagens por parte das empresas que as realizam.
Porém, se eu estiver correto, a lei que regula estas empresas terá que sofrer grandes alterações para impedir tais manipulações e para que se deixe de usar os eleitores portugueses como simples marionetes de um jogo de interesses. Importa pois voltar à última sondagem da Aximage, e tentar ver o que dizem.
Segundo esta gente o PS e o PSD encontram-se agora, no momento presente, numa situação de empate técnico (com 35,4% e 33,2% de votos respetivamente), dentro das balizas da margem de erro da própria sondagem (3,44%) o que significa que qualquer um dos partidos poderia, eventualmente, vir a ganhar as eleições.
Ora, eu acho que estão completamente enganados e que tal informação é passível de influenciar a reação dos votantes à direita, canalizando votos para o PSD. Nada do que aconteceu no último mês e meio justifica uma aproximação tal de dois partidos, que há tão pouco tempo estavam separados por 12% nas intenções de voto. Mais ainda, considero que as sondagens têm, de uma forma quase que generalizada, vindo a aproximar estes partidos, gradualmente ao longo destes 45 dias, para chegarem às vésperas da campanha eleitoral neste preciso patamar.
Mais grave ainda, acho que vários grupos de comunicação social estão, velada e alegadamente, a favorecer esta tendência. Entre eles estão aqueles que dominam a SIC, a TVI, a CMTV, Renascença, TSF, ou os jornais, Correio da Manhã, DN, JN, Expresso, Observador, I, etc., pela forma como vão encandeando notícias e sondagens.
Para mim, que sempre fui contra as teorias da conspiração, esta conclusão é avassaladora e extremamente irritante. Porém, tive recentemente uma pequena prova de que posso não estar enganado, e foi ela que me fez despertar o alarme.
Estou a falar do complô, da combinação concertada das televisões generalistas, que pretendiam deixar fora dos debates eleitorais o partido Livre, que elegeu um deputado nas últimas legislativas, da mesma forma que as sondagens também o excluíram da análise eleitoral. Foi preciso a reclamação do Livre para a Comissão Nacional de Eleições para esta vir repor a legitimidade democrática da presença deste partido nos debates televisivos.
Por hoje é tudo e na próxima carta, querida Berta, que ainda tentarei enviar hoje, espero terminar esta abordagem que me tem consumido o juízo. Despeço-me com o carinho usual, deixando um beijo saudoso, este teu eterno amigo de hoje e de sempre,
Conforme sabes é generalizada a opinião dos portugueses de que as empresas de sondagens políticas em Portugal não batem certo com a realidade dos factos, uma vez chegada a hora da verdade. Há quem diga, inclusivamente que estas empresas se encontram presentemente a ser manipuladas por interesses ocultos, muitas vezes ligadas a este ou àquele interesse económico ou político. Vou ter que dividir esta carta em três partes para não te massacrar com o assunto de uma só vez.
Sobre a questão de os interesses por detrás das sondagens existirem ou não, minha querida amiga, não me interessa pronunciar, contudo, não posso criticar quem assim o acha, devido às tremendas coincidências que se vão constatando face aos resultados finais sobre os quais as mesmas recaíram.
O que me interessa realçar e, isso sim, parece-me importante é que, efetivamente, as sondagens se têm equivocado, e bastante, ao ponto de, segundo a minha opinião, terem condicionado os resultados das últimas eleições autárquicas em Lisboa.
Eu, que acompanho de perto a política nacional, estou mais uma vez convencido que as sondagens continuam erradas, e começo a ficar inclinado para pensamentos que preferia não ter, ou seja, que este serviço anda a reboque de interesses, sejam lá eles quais forem. Se assim for o caso é grave, pois é suposto acreditarmos na isenção destas empresas.
Como exemplo uso a última sondagem da Aximage para o Jornal de Notícias (JN), o Diário de Notícias e a TSF, divulgada neste sábado, que coloca PS e PSD em empate técnico nas intenções de voto dos eleitores, para além de colocar os outros partidos, com assento parlamentar, distribuídos de forma que não me parece a mais correta com aquilo que eu tenho analisado.
O que me parece é que estas últimas sondagens, e não apenas esta, pretendem levar os eleitores a concentrarem os seus votos no PSD, dando esperança aos eleitores não socialistas de que a batalha eleitoral não está ainda decidida e de que tudo é possível, contribuindo eficazmente com isto para adulterar resultados eleitorais, por manipulação dos eleitores.
Contudo, para mim, esta afirmação ainda se encontra dentro do chapéu do alegadamente, pois não tenho quaisquer provas concretas sobre o que acabei de afirmar. Para já esta alegação é apenas uma conjetura política, baseada na minha experiência de quarenta anos de jornalista e tenho alguma esperança de poder estar enganado.
Por hoje despeço-me, mas voltarei amanhã com as duas cartas ainda em falta sobre este tema, deixo um beijo de despedida, com a mais elevada consideração, saudosamente, este teu amigo do coração,
Ontem analisei a direita, mas, analisando a esquerda, a situação não é melhor. O Livre anseia por ver a saída da sua ex-deputada do parlamento, Joacine Katar Moreira, e voltar a ganhar um lugar no hemiciclo. Porém, amiga Berta, era muito mais inteligente se conseguisse ir a votos associado ao PS (coisa que na direita o Chicão vai tentar fazer com o PSD para que não seja visível a sua enorme queda de apoiantes). O PAN por seu turno meteu os palitos ao touro e às touradas. Afinal, a líder do partido tinha garantido o apoio ao orçamento e apenas se absteve. Com isso perdeu a subida do IVA das touradas, a proibição dos adolescentes poderem ir às touradas, entre outras conquistas que tinha conseguido.
O PCP e os Verdes queriam ir a votos já, ontem se possível, pois que, mesmo que percam de momento mais um ou dois deputados, isso será preferível a perderem meia dúzia, ou mais, se o ato eleitoral se mantivesse apenas para 2023. O PCP tenta a todo o custo evitar ficar com o lugar do CDS, como o partido do Táxi e foi por isso que o Orçamento de Estado foi chumbado. Já o Bloco de Esquerda e a Catarina Martins estão todos pelos cabelos. O Bloco receia perder metade dos seus eleitores. Todavia, no que diz respeito ao PS e a Costa não estão felizes de ir a votos, fingem estar, mas receiam mais uma surpresa desagradável como a que aconteceu, minha amiga, com a recente derrota na Câmara de Lisboa. A dúvida pode inclusivamente prejudicar a campanha do Partido Socialista nestas eleições. Costa sente-se sozinho e no escuro. À espera tem muitos sucessores, com vontade de liderarem o partido.
Este é o resumo do filme, contudo, falta dizer que o encolher de ombros de Marcelo não lhe retira a culpa de ter anunciado antecipadamente, e cheio de orgulho tolo e mal fundado na sua influência na esquerda, que partiria para a dissolução da Assembleia da República se o orçamento fosse chumbado.
A esquerda não ligou às suas ameaças e deixou o presidente sem alternativa que não marcar mesmo as eleições legislativas para o início do ano de 2022. Há ainda um último problema que pode ser bastante preocupante. Refiro-me à data de para quando as eleições serão marcadas.
Excetuando o Iniciativa Liberal e o adversário de Rui Rio nas eleições internas do PSD, e estou a falar do convencido Paulo Rangel, que quer eleições em fevereiro, todos os outros líderes partidários propuseram ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o dia 16 de janeiro de 2022, domingo, como o dia ideal para a realização urgente do ato eleitoral.
Ora, a marcação das eleições por parte de Marcelo para dia 23 de janeiro, ou outro domingo ainda posterior a esse, implica um auxílio direto a Paulo Rangel. Significa a ingerência da presidência, num assunto interno de um partido político e um apoio específico a um candidato, o que seria péssimo quer para um estado democrático, quer para a própria imagem presidencial. É este o motivo, amiga Berta, que me leva a estar expectante no que à marcação das eleições diz respeito. Faço votos que o presidente dos afetos consiga escapar da armadilha de se tornar o presidente dos afetados. A ver vamos, já falta pouco tempo.
Espero que tenhas encontrado algum sentido nesta minha análise. Pode ser que me engane, porém, se o curso dos próximos tempos for como eu prevejo, o PS vai subir em votos e em deputados, perto da maioria absoluta, o PC e o Bloco descem, o CDS, se for sozinho, elege apenas um deputado, assim como o Partido Livre (que talvez chegue aos dois). O PAN desce também para metade e a Iniciativa Liberal pode eleger um segundo deputado. O PSD não melhora e o CHEGA talvez atinja os quatro deputados. Todavia, o melhor mesmo é esperar para ver, porque, afinal, a política é uma arte circense, mas sem rede e de elevado grau de risco extremo.
Já basta de pensar em política minha querida amiga Berta. Voltarei a escrever se aparecerem mais notícias interessantes como, por exemplo, a COP 26, ou o vulcão Cumbre Viella em La Palma, nas Canárias. Despeço-me com um beijo solidário e de amizade,
Conforme comprovaste esta semana o Orçamento do Estado não passou. Agora já me podes dar razão relativamente ao meu parecer do fim-de-semana passado. Conforme eu te tinha dito o Bloco de Esquerda estava fiado na abstenção do PCP, dos Verdes e das duas deputadas independentes, que lutavam para segurar o poleiro e do voto a favor do PAN, que já o tinha prometido.
Porém, Catarina Martins não imaginou que o PCP queria ir já a eleições, minha amiga, para tentar minimizar prejuízos na queda de eleitores que vem tendo, pois ir só a votos em 2023 poderia retirar-lhe muitos lugares na Assembleia da República, assim, mesmo que perca mais um ou dois, ainda mantém um grupo parlamentar talvez na casa dos dois dígitos, ou seja, o tiro saiu pela culatra ao Bloco de Esquerda que poderá perder imensa força já nestas eleições. Afinal, o partido de Catarina é tido como um dos principais culpados pelo fim da geringonça e da maioria de esquerda.
Ora, o Presidente, que se julgava mais influente do que é, à esquerda do parlamento, queimou todas as possibilidades de deixar o PS, querida Berta, apresentar um novo orçamento ao garantir, repetida e insistentemente, que, se o primeiro não passasse dissolveria a Assembleia da República e marcaria eleições antecipadas. Ninguém entenderia que, face ao acontecido, desse agora o dito por não dito.
Assim, postas as coisas nestes termos, Marcelo Rebelo de Sousa, vê-se obrigado a dissolver a Assembleia da República e a convocar eleições. Consta que, para os lados de Belém, a simpatia do nosso Presidente recai, no que aos candidatos a líder no seio do PSD diz respeito, para o jeitinho de Rangel, que fez questão de ir ao beija-mão presidencial. Para Marcelo, Rui Rio, parece demasiado tolerante com o Governo de Costa e o nosso presidente tem outro tipo de perfil em vista para a liderança do seu antigo partido político, que não passa, evidentemente, por Rio.
Mas, fazendo uma breve síntese de como os partidos estão a ver a dissolução da AR, podemos dizer que o mais feliz é o Chega de André Ventura. A ânsia de ter um grupo parlamentar é superior ao ganho que teria com o aumentar do descontentamento dentro de dois anos. Já o Iniciativa Liberal está aflito, Cotrim acha que lhe falta tempo para fazer uma campanha que lhe traga mais deputados. Por outro lado, minha querida, o CDS tem uma crise de poder grave e o Chicão, preferiu atirar com a escolha do novo líder para depois das eleições, desterrando Nuno Melo. Quanto a Rangel está convencido que pode ser alternativa a Costa e, na sua vaidade infinita, não consegue antever que o apoio que tem no partido existe apenas no aparelho e não nas bases, onde a maioria dos militantes são do Norte e do interior do país e que, quer ele queira quer não, ainda são bastante homofóbicos, coisa com que Rio conta para vencer.
Amanhã termino esta breve análise, minha querida Berta, pois não quero ser demasiado maçador. Deixo um beijo saudoso, deste que todos os dias tem imensas saudades das nossas antigas conversas de fim de tarde, o teu eterno amigo,
Cá estou eu de novo a “falar” contigo. Mesmo que não oiças os sons tenho a certeza que me consegues imaginar a articular as palavras e, se bem concentrada, quase que te parecerá estares a escutar o som do meu diálogo provido do entusiasmo do costume.
Como sabes, realizou-se ontem a Assembleia Geral do Livre, toda a comunicação social esperou ansiosamente por assistir à luta titânica entre os escassos elementos de um partido, que pouco mais tem que uma direção e um grupo de contacto. De um lado do ringue deveria estar o aguerrido e imenso líder do Livre, Rui Tavares, e, do outro, seria de esperar, de lenço da Guiné Bissau a prender-lhe os cabelos, à laia de pirata que roubou o protagonismo ao partido, a única deputada eleita pelo mesmo nas últimas eleições legislativas, Joacine Katar Moreira, pronta a pôr “knockout”, atirando palavras soltas, como se de lâminas ninja se tratassem, ao líder do partido.
No final, a montanha pariu um rato, pequeno, minúsculo, invisível mesmo. Tudo continua igual. Isto é, sem alterações, se nos esquecermos das feridas mortais que toda a história gerou. Há já quem diga que o partido é um quase nato morto que não sobrevive mais de 4 anos na incubadora da democracia com assento para lamentar. E lamentar muito, pois muito de bom se augurava ao líder, um homem arguto que levou a liberdade demasiado à letra.
Enquanto que, para os lados do Livre se vai assistindo a este Carnaval antecipado, nas bandas do PSD a luta interna faz esquecer a política nacional, um galo, um pinto e um frango da Guia disputam o poder. Se eu fosse de dar prognósticos diria que o animal com maior crista sairá vencedor.
Por falar em cristas, no seguimento da bancada, o CDS continua a descer a escada nas sondagens rumo à porta de saída do Parlamento, o PC e os Verdes ainda lambem as feridas da machadada eleitoral e esforçam-se por recuperar o controlo dos sindicatos que, por estes dias, parecem querer nascer independentes e livres do jugo vermelho, que nem cogumelos.
Ainda importa referir que o Bloco de Esquerda, distraidamente, serve de ama seca a Greta Tunberg e se preocupa com a política internacional ligada à COP 25 e à Emergência Climática, descorando a problemática nacional. Já o Iniciativa Liberal reorganiza a sua estrutura, face ao abandono do seu líder, depois das eleições. Por fim, o PAN ainda não deixou de se ver ao espelho depois de ter quadruplicado de tamanho, qual porco antes da matança.
O partido socialista, orgulhosamente sozinho no Governo, anda atarefadíssimo a tentar fazer passar o Orçamento de Estado para o ano de 2020, como quem não quer a coisa, enquanto a oposição anda ocupada.
Aproveitando tamanhas distrações as ervas daninhas prosperam e propagam-se. A levar em linha de conta o que dizem as sondagens o Chega cresce, diz que não basta e afinal quer mais. A acreditar nos especialistas, ultrapassou já as intenções de voto no CDS e continua de bola em campo, movendo um ataque consertado às balizas do poder.
Dando outra imagem: o Chega é como que um touro enraivecido, de cornos em riste, apontados à arena da democracia serena e pacífica de Portugal, a quem convém travar a investida, antes que este derrube e massacre os forcados distraídos, armados em deputados, em altura de pega brava.
Espero que esta carta te receba alegre e feliz. Despede-se este teu amigo de sempre, com um beijo,
Os dias por aqui continuam de chuva. Espero sinceramente que este choro do céu seja suficiente para encher as barragens portuguesas, que tão à míngua têm andado e para tirar da seca o solo, devolvendo à vida terras empedernidas que urge recuperar.
“Joacine vai-te Katar” devia, alegadamente, ter sido assim que o líder e fundador do Livre, Rui Tavares, teria de ter respondido a Joacine, depois da abstenção da deputada do seu partido, no voto de condenação das ações de Israel contra os palestinianos na faixa de Gaza.
Uma ação firme e sem medos de ser confundido com racista, preconceituoso para com os gagos ou mesmo machista. Um líder tem de ser líder e apenas isso. A democracia, mesmo no seio da estrutura de um partido, se não tiver uma hierarquia de liderança e comando rapidamente se transforma em anarquia. Aliás, deveria, por muito original que o partido pretendesse ser, ter sido o seu líder o cabeça de lista às eleições legislativas.
Numa representação partidária depois das eleições para a Assembleia da República, onde as possibilidades, as sondagens e os estudos estatísticos, apontavam para uma presença efetiva entre os zero e os 2 deputados ao Livre, em primeiro lugar, exigia-se sempre a presença do fundador e responsável do partido, depois, e só depois, é que se poderia votar internamente e de forma democrática num segundo possível representante, isto como demonstração da infantil forma de liberalizar lideranças, só imaginável num partido que, sem querer, brinca com coisas sérias, por falta de calo político e ideias de sonho, mais próprias de histórias como as da Carochinha ou as do João Ratão.
O protagonismo entregue à pessoa de Joacine Katar Moreira tem-se demonstrado uma verdadeira calamidade. Aliás, ou a deputada arrepia apressadamente caminho ou, numas eleições futuras, o Livre regressará rapidamente para a lista dos partidos que desaparecem para sempre da esfera do hemiciclo.
Saber capitalizar o descontentamento do povo e com isso alcançar a representação parlamentar e, mais importante ainda, conseguir mantê-la, não se compadece com uma representação para lamentar de uma deputada que a única coisa que até agora deixou claro, para além do facto de ter um problema de gaguez, foi a soberba absurda do seu estatuto minoritário, pondo-se em bicos de pés, mais emproada que os perus de Natal, o que por certo não levará, num futuro próximo, a bons resultados, nem é via para quem pretende singrar na política.
Os erros de Joacine têm sido por demais evidentes e ficam a nu, devido ao foco especial criado pela novidade, por parte da comunicação social, pelo facto de muita gente simpatizar com o caráter humilde e ponderado do seu líder, Rui Tavares. O que a inteligência e comportamento de Rui Tavares têm a mais tem Joacine a menos. Em vez de humildade apresenta soberba, troca o bom senso pelo choque, vejam-se os casos do segurar da bandeira da Guiné Bissau no dia da eleição e da sua entrada na casa da democracia seguida por um pajem de saias.
Apesar do que escrevi atrás já ser “naif” é inaceitável que Joacine justifique a sua abstenção, no voto em defesa dos palestinianos, com a desculpa de ter estado 3 dias sem conseguir contactar o partido. Pelo que apurei, durante esse período, o telemóvel de Rui Tavares esteve sempre ligado. Mas pior que a desculpa das dificuldades de comunicação, que com Joacine se sobrepõem às camadas, o desconhecimento das posições do partido, face a esta e outras matérias, demonstra uma total incapacidade ou, usando o termo francês mais esclarecedor nesta situação, “inaptitude” para o cargo para o qual foi eleita.
Joacine, nem para as minorias que representa, e são várias, género, raça, origem, deficiência, é um bom exemplo. Ainda não me esqueci das entrevistas, em que a deputada recém-eleita, de bicos de pés, alegava estar a ser vítima de ameaças, em conjunto com insultos graves, que lhe foram dirigidos, como jamais imaginara ser possível acontecer.
Esta vitimização, que na perspetiva da dita cuja, deveria ter consternado os portugueses, apenas os deixou mais desconfiados pelo desdém e arrogância com que a senhora os apresentou, exatamente como quando afirmou que a sua eleição só a si mesmo se devia, relegando para vigésimo plano a importância dos ideais do partido e do seu líder.
Ainda hoje a pobre vítima desprotegida, veio a público dizer que a direção do seu partido está a lançar um “autêntico golpe” contra si. Ó almas caridosas deste país solidário, juntem-se, unam-se, lutem, por favor, na defesa da arrogante, empinada e complexada vítima da opressora máquina partidária de um partido chamado Livre. Haja paciência. Não há como aturar esta personagem.
É claro que a imprensa tem adorado todas estas batalhas, problemas e confrontos. O conteúdo noticioso é ouro para as redações e direções editoriais de toda a comunicação social e a absurda Joacine tem demonstrado ser uma verdadeira mina, cujo filão parece ser inesgotável.
Agora, Joacine, tão ocupada estava a mostrar ao mundo que é a última vítima dos redutores dirigentes do seu partido, de toda a gente em geral e mais umas botas, que se esqueceu do prazo, sua competência e responsabilidade, para entregar o projeto de decreto-lei sobre a lei da nacionalidade, uma das grandes bandeiras do partido e o primeiro compromisso prometido aos eleitores, caso elegessem algum representante. Este simples facto demonstra a irresponsabilidade, o amadorismo, o protagonismo balofo e sem conteúdo da deputada e revela bem a sua inaptidão clamorosa para o cargo que desempenha.
Ainda mal passaram os primeiros 25 dias da polémica afirmação de Joacine, em que esta comparava Daniel Oliveira, o comentador de esquerda do Eixo do Mal e colaborador regular do Expresso, com figuras de extrema-direita. Foi só há cerca duas semanas que, quando indagada, em entrevista ao Expresso sobre o assunto, ameaçou o jornalista que a entrevistava, sublinhando que ou ele parava de lhe colocar aquela questão ou ela se irritava.
Consegues entender, minha querida Berta, o que teria acontecido se Joacine se tivesse irritado? Viria o deus dos fracos e oprimidos com um raio trespassar o ignóbil jornalista assertivo? Dah!
Alguém me sabe dizer quantas entrevistas Joacine Katar Moreira já deu nestes últimos 50 dias, pouco mais de um mês e 20 dias, depois de ter sido eleita? Pelo que consegui apurar a deputada já correu todos os canais televisivos sejam eles generalistas ou informativos e as principais rádios do país, deu entrevistas exclusivas ao Observador, ao Expresso, à Visão, ao Público, ao Diário de Notícias, ao jornal “i”, e a lista continua… ou seja, a senhora em causa, ou não prepara minimamente as entrevistas que dá ou se prepara não tem tempo para se concentrar no seu papel de deputada, demonstrando uma incompetência e um deslumbramento de bradar aos céus. A deputada tem sido de tal forma bandeira empinada aos ventos que nem André Ventura a consegue ultrapassar com as suas manobras oportunistas.
Joacine, veio avisar, ao jornal online Notícias ao Minuto, para quem possa ter dúvidas, que não é descartável e que exige respeito, em mais uma das suas, múltiplas e brilhantes, 100 mil entrevistas. Para nossa sorte, sabemos que, pelo menos, Joacine Katar Moreira é biodegradável, já quanto a exigir respeito é preciso que, quem tal regra impõe, se dê ao respeito também, coisa que Joacine parece desconhecer que exista.
O Podcast “Comissão Política” da secção temática do Expresso questiona-se se o trajeto de rotura entre a deputada e o seu partido poderá ser revertido, depois da deputada ter acusado a cúpula do partido de ter sido abandonada, de absoluta falta de respeito para consigo e de a direção lhe estar a fazer a cama, sendo alvo de um verdadeiro golpe. Será que Joacine queria dizer cúpula ou cópula? Não faço a menor das ideias, mas tenho uma certa mágoa que tudo isto esteja a acontecer com o Livre.
Estou certo, Berta, que voltaremos a falar desta deputada, mas para já apetecia-me fazer como recomendei a Rui Tavares e dizer “Joacine, vai-te Katar”.
Recebe um beijinho de até à próxima carta, deste teu amigo que nunca te esquece,
A minha mensagem de hoje é sobre a recém-eleita deputada do Livre, Joacine Katar Moreira. Esclareço-te desde já não fui um dos que votei nesse partido, contudo, vi com agrado a eleição de um dos seus elementos para o parlamento. A diversidade não prejudica a democracia e é, a meu ver, até muito bem-vinda.
Joacine Katar Moreira tem ainda a seu favor o seu problema da gaguez. Quando o digo desta forma refiro-me à onda solidária que se gerou com a sua eleição. Afinal não é fácil ser mulher e a única representante de um partido, pertencer ao mesmo tempo a uma minoria racial no hemiciclo, onde apenas mais 2 deputadas são negras, ao que se soma o facto da deputada ter dupla nacionalidade, não ter nascido em território nacional mas na Guiné, na capital Bissau há 37 anos atrás e demonstrar ser afetada por uma gaguez profunda numa profissão a onde a voz é um dos principais instrumentos de trabalho.
Faço estas observações preliminares porque Joacine reunia as condições perfeitas para ser levada ao colo durante grande parte da legislatura. Os portugueses são muito mais solidários, do que demonstram à primeira vista, e gostam sobremaneira de apoiar o elo mais fraco. É a chamada descriminação positiva. Uma forma de agir que não só não critico como sou daqueles que apoia e incentiva este tipo de atitudes.
Mas algo não vai bem com a deputada Joacine Katar Moreira, licenciada em História Moderna e Contemporânea, nomeadamente em Gestão de Bens Culturais, detentora do mestrado em Estudos do Desenvolvimento e com o doutoramento em Estudos Sociais Africanos pelo Instituto Universitário de Lisboa. Digo isto porque, de repente, a doutora deputada resolveu começar a disparar para todo o lado, lançando aos 7 ventos, a notícia de que tem sido vítima de mensagens de ódio inarráveis e inadmissíveis, como nunca imaginou ser possível.
Até aqui, a serem verdade as críticas apresentadas nada haveria a dizer sobre este comportamento e a vitimização poderia até ser justificada. Porém, a causa cai por terra quando Joacine mistura verdadeiras mensagens de ódio, essas absolutamente condenáveis, com as que apenas refletem oposição às suas ideias ou apresentam perspetivas diferentes das que o atual Livre demonstra ter.
Ora, erroneamente, a deputada põe tudo no mesmo saco o que se torna totalmente inaceitável. Não é compreensível que uma pessoa formada em História Moderna e Contemporânea, com mestrado em Estudos de Desenvolvimento e doutoramento em Estudos Sociais Africanos confunda a crítica ou as ideias diferentes das suas com mensagens de ódio, como algumas das que recebeu. Por exemplo, não consigo sequer entender o ataque que fez a Daniel Oliveira acusando-o de pensar como a extrema-direita em vez de rebater a opinião critica do cronista.
Já agora é preciso que se diga que há idiotas em todo o mundo e que sempre haverá mensagens de ódio, racismo, xenofobia, entre outras, por parte de indivíduos sem grandes princípios e que, obviamente, Portugal não foge à regra. É que, neste campo, que envolve o insulto vindo de gente que não sabe estar, como diria Ricardo Araújo Pereira, Joacine Katar Moreira não está sozinha. Basta dar uma voltinha nalgumas redes sociais para ver um certo tipo de seres a achar que Portugal não pode ser governado por um velho monhé, que come palavras ao discursar.
A continuar a agir com esta vitimização total, a atingir vertiginosamente a irracionalidade, a deputada corre sério risco de ver desaparecer o capital de solidariedade, justa e sensata, com que iniciou o seu mandato. Em Portugal não é apenas fácil passar de besta a bestial, o inverso é igualmente verdadeiro e, Joacine, devia ponderar seriamente sobre o caminho que parece ter escolhido. Cá por mim espero que o bom senso prevaleça nas atitudes da luso-guineense e que os acontecimentos recentes não vir o seu novo “modus operandi”, sob pena de se vir a esbater a sua importância na Assembleia da República.
Deixo-te um beijo saudoso em mais esta despedida, este amigo que não te esquece,