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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta nº. 660: Por Morrer uma Andorinha Não se Acaba a Primavera

Berta 660.jpg Olá Berta,

Diz o povo que, “por morrer uma andorinha não se acaba a primavera”. Provavelmente, minha querida, já sabes qual é o meu tema desta carta. A Escola Secundária Pedro Nunes, em Campo de Ourique, Lisboa, tem regras de vestuário para os alunos que a frequentam.

 A direção, encabeçada pela presidente Maria do Rosário Andorinha, decidiu que, lá por se estarem a celebrar os 50 anos do 25 de abril, isso não era motivo para abrandar nas regras de conduta, que o regulamento interno tem vindo a impor aos seus alunos e assim, cara amiga, dito e feito, ameaçou não permitir que alunos com grandes decotes ou calções muito curtos possam realizar nas instalações os exames nacionais.

Não estou a inventar, Bertinha, o comunicado da escola diz o seguinte: “Caros Encarregados de Educação, agradecemos a vossa colaboração no cumprimento do regulamento interno da Escola por parte dos vossos educandos. Os alunos devem estar na escola com vestuário adequado. Isso implica não trazer roupa de praia, nomeadamente calções de banho, chinelos, calções demasiado curtos e camisolas com excessivo decote. Inclusivamente, em situação de exame, recomenda-se vestuário adequado sob impedimento de realização do mesmo. Atenciosamente, Maria do Rosário Andorinha”.

Porém, pese embora o termo indicado na comunicação seja “alunos” e “educandos”, sempre no masculino, ele é, minha querida, exclusivamente dirigido às alunas e não só não promove a igualdade de género num estabelecimento de ensino na capital, como é sexista e atenta seriamente contra a liberdade das alunas.

Segundo os alunos, entrevistados pelas estações de televisão, Berta, são as alunas (e não os alunos) quem tem sofrido com a imposição destas regras. Um dos rapazes afirmava inclusivamente não ter conhecimento de nenhum outro colega do sexo masculino ter sido, até à data, penalizado pelo regulamento escolar.

O tempo da imposição de vestuários nas escolas, por mais que se queira que assim não seja, ainda trás consigo, minha doce confidente, um bafio com mais de 50 anos. Provavelmente, Maria Rosário Andorinha, nunca usou quiçá, no seu tempo de estudante, decotes ou calções. Jamais saberemos se a vingança se está a servir fria. Mas é engraçado o texto não referir de todo as minissaias. Porquê? Porque embora implícitas no texto, a esperta presidente do Conselho Diretivo, não quer parecer sexista.

Depois, ainda fica por definir o que são “calções demasiado curtos e camisolas com excessivo decote”. Quem decide? E qual é a penalização para a minissaia? Até onde pode subir? A situação é grotesca, para não dizer cómica, amiguinha.

Finalmente, Berta, depois de o assunto rebentar na comunicação social e nas redes, a direção fechou-se em copas. Mas eu tenho a certeza que alguém avisou a presidente que proibir por um regulamento interno de uma escola uma aluna de frequentar um exame nacional extravasava, em muito, as competências e o âmbito do próprio regulamento, até porque foi a própria Andorinha a fazer sair um comunicado esclarecendo que em caso algum “um aluno” seria impedido de realizar um exame nacional.

Os pequenos poderes são isto mesmo: gente em bicos de pés a tentar impor a sua vontade por mais ridícula que ela possa ser. Por hoje é tudo, minha velha amiga, recebe um beijo do amigo saudoso,

Gil Saraiva

 

 

 

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