Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

Carta à Berta nº. 190: As Aventuras de um Vagabundo no Hospital Egas Moniz em Tempos de Covid - Parte VI / VII - Os 3 Mosqueteiros - Ainda o Libânio

Berta 172.jpg

Olá Berta,

Está na altura de concluir o que te estava ontem a relatar sobre o terceiro mosqueteiro. Continuemos assim As Aventuras de um Vagabundo no Hospital Egas Moniz. Finalizando as informações sobre o meu amigo de quase 77 anos de idade, resta-me contar-te o seguinte:

E)Cheio de um otimismo contagiante, regado com uns curtos períodos de desalento, o mosqueteiro ainda tinha esperança de salvar os tarsos e os metatarsos. Não se podia era irritar ou contrariar o pessoal do hospital. Fosse a senhora da limpeza, a auxiliar de ação médica, os enfermeiros ou os médicos. Essa era a regra de ouro. Quando lhe perguntei porquê pareceu espantado e afirmou conhecedor que toda essa malta se vingava com muita facilidade tratando em seguida muito mal o paciente refilão. Deu-me logo o exemplo que insistiu 2 vezes com uma enfermeira para poder usar o seu robe pessoal e que esta, de castigo, ainda lá no Hospital São Francisco Xavier, lhe retirara o relógio, o telemóvel, os óculos e até as próteses dentárias e que tinha ido tudo para um saco, para que a sua filha o levantasse na receção.

F)Libânio já tentara recuperar as suas coisas, mas tinha sido tudo em vão. Agora, por causa disso, estava a papas, pois sem dentes, não podia comer normalmente. Pedi-lhe o número de telemóvel da filha, uma advogada de sucesso, segundo o meu amigo, e liguei-lhe a expor o problema.

G)A Susana era uma simpática dama na casa dos 40, a mais nova das 2 filhas de Libânio, que, depois de falar comigo, ficou indignada com o sucedido. Quando lhe tinham entregue os pertences do pai tinham-lhe falado em procedimentos especiais por causa do vírus e ela nem fora indagar ou averiguar se era mesmo assim. Confirmei-lhe que naquela enfermaria todos possuíamos os nossos pertences e que ninguém nos tirara nada. Tinha era tudo sido desinfetado. No dia seguinte mestre Libânio recebia, por uma auxiliar de ação médica, o saco com as suas coisas e ainda a sua máquina de barbear.

H)Foi este pequeno facto que gerou a amizade entre nós os 2. O homem passou a poder falar com a família, mudou para comida sólida, já conseguia ver televisão e ler, parecia outro. Agora, informava ele, só lhe faltava conseguirem controlar-lhe a insulina e, mesmo que os dedos se perdessem, salvarem-lhe o resto do pé. Teve muita sorte, o médico foi cortando a carne morta, instruiu os enfermeiros de como mudar o penso, e aos poucos toda a parte morta foi removida e os dedos começaram a recuperar. A insulina é que estava pior. Saltava dos 90 para os 400, em termos dos níveis de açúcar, com uma facilidade quase assustadora.

I)Depois da minha saída, continuamos a falar ao telemóvel, tínhamos uma boa empatia. Ele era divertido, simpático e durante o tempo de hospital fora quem me impedira de ser mais refilão com o pessoal.

Não me vou alongar mais, apenas resta referir que, o Libânio beneficiou de um novo programa de tratamento em casa (foi o quinto beneficiário no país) e 4 dias depois da minha saída, continuou a sua baixa médica, em casa, com um médico e um enfermeiro a irem tratá-lo diariamente, fazendo a muda do penso do pé e acabando por conseguirem estabilizarem-lhe os níveis de insulina. Fiquei ali com um bom amigo, minha querida Berta. Por hoje é tudo que já me estiquei muito, recebe um beijo de despedida do teu grande amigo de todos os dias,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta nº. 189: As Aventuras de um Vagabundo no Hospital Egas Moniz em Tempos de Covid - Parte V / VII - Os 3 Mosqueteiros - Libânio, o Sénior

Berta 171.jpg

Olá Berta,

Ainda agarrado ao tema de ontem, As Aventuras de um Vagabundo no Hospital Egas Moniz, dedico hoje esta quinta parte ao terceiro dos mosqueteiros. Também passou pelo Hospital São Francisco Xavier, também fez o teste ao coronavírus e, mais uma vez, o resultado foi igualmente negativo. As diferenças maiores é que chegou 2 dias depois de nós e foi enviado para casa cerca de 4 dias depois de eu ter saído de lá. Assim:

3) Libânio:

A) O terceiro mosqueteiro, o Libânio era um respeitável senhor de 76 anos de idade, embora nunca afirmasse que os tinha. Ele preferia dizer que estava quase a fazer 77. Por algum motivo, a diferença na forma, para se referir aos seus já respeitáveis tempos passados no planeta Terra, parecia ganhar outra relevância, com a repetição do 7 e a omissão do 6. Na minha opinião, o facto de se ler a primeira vogal aberta no 7 era para ele algo de maior prestigio no que à idade dizia respeito. Talvez algo como o título de Sir para os ingleses. Cheguei a pensar que no dia em que fizesse 78 passaria a dizer que estava perto de chegar aos 79, usando assim, uma vez mais, a vogal aberta. Aliás continuando esse raciocínio, após os 79 iria ter 4 anos para afirmar que ainda estava longe ou perto de alcançar os 84. Na verdade esta opção era tão firme que poderia jurar que seria o caso.

B) Graças à sua categoria de mosqueteiro ancião, este nosso novo amigo já revelava certos sinais de muita vivência. Entre eles, destacaria o uso de próteses dentárias e a necessidade de usar óculos quer por miopia, quer por vista cansada. Um coração que requeria alguma vigilância e medicação diária e, por um triste azar, segundo o próprio, tinham-lhe sido detetadas, como a mim, calhaus na vesícula que, por enquanto, ainda não tinham avançado para qualquer manifestação mais nefasta. Porém, aquilo que lhe abalava o ego, o verdadeiro motivo que levara ao seu internamento, era a diabetes.

C) Libânio, tratava a diabetes como uma verruga chata e incomodativa. Uma chatice que o impedia, por vezes, de dar aso à sua veia de grande caçador, às suas visitas às meninas fofinhas e muito queridas, suas amigas dedicadas, que tinham o afinado dom musical para o trombone, efetuando maravilhosas composições de perfeito deleite, usando esse instrumento que fazia as delícias acústicas e outras do grande sénior ou, com irritante frequência, de realizar as suas famosas patuscadas com os seus tradicionais amigos da caça e de outras das suas muito energéticas atividades recreativas e lúdicas.

D) Fora a diabetes que lhe causara o internamento. Segundo ele, quando estava a calçar-se, reparou que tinha os dedos do pé direito escuros, com o dedo grande particularmente negro. Pelo médico soube que tinha gangrena.

E) Aquilo acontecera uns dias antes de ser internado. Não lhe doía, mas emanava um cheiro horrível a carne morta. Segundo o cirurgião, a gangrena parecia avançada em demasia, para poder ser tratada, e ele iria possivelmente perder os dedos desse pé. Ora isso poderia causar-lhe problemas de mobilidade e condicionar toda a sua frenética atividade. Não podia ser.

Vou ter de interromper as informações sobre o mosqueteiro sénior, Não quero ser chato a escrever demasiado num só dia. Amanhã continuo. Recebe um beijo de até mais, do teu amigo e camarada de sempre,

Gil Saraiva

 

 

Mais sobre mim

foto do autor

Sigam-me

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Em destaque no SAPO Blogs
pub