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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta nº. 44: Leiria - O Muro da Vergonha

Muro da Vergonha.jpg

Olá Berta,

Espero que tudo esteja bem contigo. Hoje tenho uma coisa insólita para te contar. Não te preocupes que não me vou alongar como da última vez. Não sei se conheces Leiria ou não. Eu, por acaso, só lá estive uma vez. Contudo, a história de hoje vem dessas bandas.

Não faço ideia quem é o presidente da autarquia, pode até ser uma pessoa muito bem-intencionada, todavia, aquilo que fez não pode acontecer numa região que, pelo que me é dado saber, pertence a Portugal.

Estou a falar das obras realizadas pela Câmara Municipal de Leiria ou por sua ordem, não imagino se direta ou indiretamente, num dos maiores bairros sociais desse burgo, pertencente à edilidade, sob sua orientação e responsabilidade. É esse facto que me faz dizer que algo vai mal no conceito que têm de país laico, solidário e em harmonia com as minorias populacionais, refiram-se elas a raça, etnia ou religião, já para não enumerar, exaustivamente, todos os outros casos de tratamentos diferenciados, onde a diferença vira ofensa e insulto grave, para dizer o mínimo.

No caso, aqui, a Câmara juntou uma boa parte da população de etnia cigana num único bairro. Poucos haverá que o não são, se é que existe algum caso. Este tipo de segregação, absurdo e abjeto, começa logo por trazer aquele fedor a Chega, e, segundo sei, esse partido não tem nenhum representante que tenha acento entre os vereadores de Leiria.

Pode até a autarquia vir a alegar que esse foi o desejo daquelas pessoas. Pretendiam ficar juntas e unidas. Contudo, não interessa o que elas poderiam ou não preferir, não se segregam ciganos, imigrantes, estrangeiros de qualquer tipo, negros, amarelos, roxos ou às bolinhas, seja essa a sua preferência ou não.

Depois, não se coloca o bairro, coincidentemente, afastado de todos os outros numa área isolada. E por fim, por mais que o edil aprecie Donald Trump, não se constrói um muro de betão armado, à volta de mais de metade do bairro, com 50 centímetros de largura, 2 metros de altura e apenas a 3 metros e pouco afastado das portas das casas. O espaço é tão apertado que, quem tente fazer a curva, na rua junto ao muro, arrisca-se a deixar por lá uma boa parte da pintura. Ainda mais se se tratar de uma carrinha, um género de um veículo bastante usado por estas populações.

Não penses que, quem sai de casa, tem qualquer tipo de paisagem que possa apreciar. Talvez os projetistas tenham elaborado o bairro durante as férias do arquiteto paisagista. A verdade é que não tem, não existe vista alguma, apenas resta aos moradores fixar os olhos no cinzento do muro. Aliás, como se trata de um bairro térreo, à janela, a imagem é a mesma, betão e só betão, tão frio, tão triste e tão amorfo como a soberba de quem o mandou erigir. Enfim, tudo cinzento, faça chuva ou faça Sol.

Na reportagem que vi da TVI, os responsáveis pela obra ainda têm, depois de tudo isto, a distinta lata de ironizar com a situação, dizendo que o muro até protege os residentes de possíveis fogos, que possam acontecer no futuro, nas matas vizinhas, como se o muro fosse um prémio extra oferecido a quem por ali reside.

Uma verdadeira vergonha, ainda por cima porque a obra usou, a acreditar no que os moradores afirmam, com indignação, fundos comunitários para os segregar e aprisionar. Parece anedota, seguida de outra que se prende com o nome dado ao bairro pelos inteligentes autarcas, a saber, Bairro da Integração.

Não sei o que fará a Comissão Europeia quando se enviarem estes dados para Bruxelas. Alguém que saiba como os fazer lá chegar, deveria remetê-los, com urgência. Não me parece bem usarmos esses Fundos para a prática da segregação de etnias. É revoltante, abjeto e mete nojo. Não haverá ninguém, Governo ou outra qualquer entidade, para obrigar esta Câmara a concertar o erro que cometeu, mas quanto antes?

Afinal, cada dia que passa nesta comunidade, nas circunstâncias referidas, não ofende os residentes apenas, ofende a mim e a muitos mais como eu, ofende Portugal.

Despeço-me saudoso com um beijo, este teu amigo,

Gil Saraiva

Carta à Berta nº. 41: O Melhor Restaurante da Europa

Rei dos Leitões.jpg

Olá Berta,

Estou cansado de todos os dias te vir falar em coisas menos positivas ou mesmo em totais desgraças. Eu sei que é importante estarmos informados, mas esta coisa, tão portuguesa, dos desgraçadinhos e dos coitadinhos, não faz realmente o meu estilo. Por isso, hoje, vamos virar o bico ao prego.

Soube ontem, através de uma reportagem num dos noticiários da RTP, que Portugal foi mais uma vez premiado. Desta vez com um galardão atribuído anualmente ao “Melhor Restaurante da Europa”.

Deves estar a pensar que o prémio é atribuído pela marca do fabricante francês dos pneus Michelin, André Michelin, o tal que em 1900 iniciou a edição de 2 revistas de turismo, para promover o turismo automobilístico, na vertente de hotelaria e gastronomia, que são as publicações de capa vermelha, e  na vertente de património natural e cultural de cada região, publicadas com capa verde, para premiar os melhores, entre os melhores, na hotelaria e restauração ou na natureza e cultura com 1, 2 ou 3 estrelas. Enganas-te, minha querida Berta.

Este não é um prémio de uma empresa para outras, com critérios, que geram regras e espartilhos, para os premiados, se quiserem manter os seus galardões ao longo do tempo. Nada disso, este prémio não interfere em nada com a essência e natureza do premiado, apenas lhe reconhece o mérito, entregando-lhe aquele que é o coroamento de excelência de um restaurante. O galardoado torna-se rei, por um ano, e a coroa é entregue a um restaurante em toda a Europa, nesse mesmo ano.

Assim aconteceu este ano com a atribuição de Melhor Restaurante da Europa ao “Rei dos Leitões” na Mealhada.

O prémio é atribuído pelo Conselho Europeu de Confrarias Vínicas e Gastronómicas, que incluí 14 galardões em diferentes categorias. Por exemplo, o jornalista da TVI, Paulo Salvador recebeu, também este ano, o Prémio de Melhor Jornalista Europeu de Gastronomia, 2019.

Já no campo dos empreendimentos turísticos foi o Zoomarine o vencedor, recebendo o prémio de Melhor Empreendimento Turístico da Europa, 2019. No que se refere à atribuição do melhor produto gastronómico artesanal o prémio foi atribuído, em simultâneo a 3 produtos, sendo que um deles é português e da zona de Leiria. Assim, ganharam a “Morcela de Arroz”, a “Terrine de Volailles aux Marrons de Redon”, de França, e a “Tarte au Crastofé” da Bélgica, partilhando o Prémio de Melhor Produto Artesanal Gastronómico de 2019.

Por outro lado, Rita Cabral, atualmente Chef em Macau, repartiu com o Chef italiano Domenico Longo o Prémio de Melhor Chef Europeu, 2019. Já o Restaurante “Mato à Vista”, em Paderne no Algarve, recolheu o troféu de Melhor Restaurante Nacional, 2019, que premeia apenas um restaurante nesta categoria entre os países participantes.

Como vês, minha amiga, guardado está o bocado para quem o há de comer. Despeço-me enviando-te um saudoso beijo gratinado, este teu amigo,

Gil Saraiva

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