Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Don Corleone, é uma personagem de ficção do romance The Godfather, de Mario Puzo, de 1969, e dos dois primeiros filmes da trilogia de Francis Ford Coppola. Já Alberto João Jardim, é uma pessoa real e um político aposentado, mas bem conhecido, da nossa praça. Contudo, se eu tivesse de escolher quem acho que melhor retrata o Padrinho de Coppola na vida real, a minha escolha recairia sempre em “Albertoni”. Daqui para a frente, entramos no universo do alegadamente, e, nada do que te direi, amiguinha, poderá ser entendido como um facto, visto esta carta ser mais parecida com uma narrativa de ficção.
Para o Padrinho, doce amiga, os políticos de hoje parecem-lhe um bando de amadores. Fazem as coisas sem a magia de outros tempos e deixam-se enredar nas malhas da lei. Na sua douta opinião, bem do alto do seu charuto, “Albertoni” não consegue entender o que se passa com todos estes incompetentes que agora pululam nos meios da política.
Caramba, Berta! Até o seu benjamim caiu… o pirata da perna sem pau a quem ele ensinou a fazer ar de mau,Miguel Albuquerque, o seu menino queque “Bimby”. O Padrinho está zangado, as coisas começaram a azedar com Armando Vara, depois o Sócrates (que talento tão completamente desperdiçado) seguindo o Costa (com um Governo cheio de gente que não sabe estar) e, por fim, o seu Benjamim…
Onde estavam aqueles anos dourados em que se podia fazer tudo sem que a Justiça pudesse agir? Minha querida, no tempo de Cavaco o Ministério Público e a Polícia Judiciária apenas se preocupavam em manter o emprego. Cavaco, esse velho Conde Drácula reencarnado, o homem que nascido em Boliqueime conseguiu dar dignidade ao lugar transformando o buçal poço em fonte. Sim, sim, Fonte de Boliqueime cheirava a turismo e prosperidade, enquanto Poço de Boliqueime não podia ser mais povinho.
Ah! Que saudades desse Arcanjo dos Infernos que podia impunemente arrebanhar a Casa da Coelha, ganhar cem mil euros em ações do BES, aconselhar o povo que o banco era seguro, enquanto o mesmo apodrecia e arrastava tudo e todos saindo ele incólume e impoluto. Cavaco, sim era homem, sabia-a toda. Alguém lhe tocou por causa do BPN? Jamais, Dias Loureiro, Oliveira e Costa e Duarte Lima compunham o ramalhete daquilo a que o Observador chamou o lado negro da força: o Cavaquismo. Isso sim, tinham sido dias gloriosos, Bertinha.
Agora tudo começara a sair dos eixos quando os burros do PS quiseram ter uma Justiça mais forte e independente. Para quê? Os idiotas meteram a lenha toda na fornalha, deram força e poder à Justiça e agora queixavam-se que se estão a queimar? Burros. Minha cara confidente, toda a gente sabe que não se brinca com o fogo. A Justiça tinha um açaime perfeito, porque raio foi o PS mexer naquilo?
O Padrinho estava chateado. Agora até ele tinha que ter cuidado. Ele o Rei da Pérola do Atlântico. Que vergonha, que humilhação. Pois é Berta, “mudam-se os tempos…” por hoje fico-me por aqui, recebe um beijo saudoso deste teu eterno amigo,
O suíço Joseph Blatter, o ex-presidente da FIFA, disse no passado dia oito de julho algo que poucos terão ouvido:
- “I’m back!”
Com efeito, querida amiga, isto aconteceu porque Joseph Blatter e Michel Platini foram ambos absolvidos das acusações de corrupção de que eram alvo, enquanto estiveram nos lugares de topo do futebol mundial e europeu respetivamente. Após seis anos de investigação, que se diluíram numa confrangedora falta de provas concretas, e ao fim de duas semanas de julgamento na Suíça, saíram ilibados. Desse dia, à moda dos antigos filmes de terror e suspense de Alfred Hitchcock, ficarão para a eternidade as palavras de Blatter:
- “Olá amigos, estou de volta, ainda forte. Terminaram sete anos de mentiras. Agora o jogo está de novo na direção correta. Ou como disse Michel Platini: vão voltar a ter notícias nossas…”
Segundo informa a Agência Lusa, cara Berta: «Em 08 de julho, Michel Platini e Joseph Blatter, antigos presidentes da UEFA e da FIFA, respetivamente, foram absolvidos das acusações de corrupção, após seis anos de investigação e duas semanas de julgamento na Suíça. Numa entrevista ao canal televisivo LCI, Platini garantiu que não tem vontade de voltar ao futebol, embora queira encontrar "os culpados" que estiveram ausentes do julgamento por corrupção. Blatter e Platini eram suspeitos de terem combinado o pagamento ilícito de dois milhões de francos suíços (1,8 milhões de euros) por parte da FIFA ao então dirigente máximo da UEFA.
Platini terá recebido a quantia em 2011, alegadamente, pelos serviços prestados como conselheiro de Blatter entre 1998 e 2002. Ambos justificaram o pagamento tão diluído no tempo com o facto de as finanças da FIFA, na altura, não permitirem remunerações tão elevadas como as acordadas entre Blatter e Platini. O caso já foi julgado nas instâncias desportivas, tendo Blatter, que renunciou à presidência da FIFA em 2015, sido suspenso por seis anos de qualquer atividade ligada ao futebol, por "abuso de posição", "conflito de interesses" e "má gestão", e Platini recebido uma punição de quatro anos.»
Quer isto dizer que Blatter e Platini não foram a julgamento pela parafernália de casos de corrupção de que eram suspeitos, mas apenas foram julgados por aquela acusação que parecia ter mais provas e ser mais consistente para formular uma acusação e uma posterior condenação.
Ora, ambos foram inequívoca e absolutamente ilibados no passado dia oito de junho de toda a acusação do processo. E foi, nesse mesmo dia, que começou um outro processo por parte de ambos os ex-arguidos, trata-se do processo indemnizatório para a reputação do bom nome destes dois homens e da limpeza da sua imagem, entretanto caída pelas ruas da amargura, como é evidente.
Isto quer dizer, minha amiga, que estes homens querem agora dinheiro, muito, mas muito, dinheiro de compensação pelo seu nome ter sido arrastado indevidamente para a lama badalhoca da corrupção. Aliás, será mais correto dizer que isso é apenas o que Michel Platini quer, porque Blatter, por seu lado, prepara-se para voltar a concorrer às mais altas instâncias do futebol.
Mal estará o mundo do desporto se Blatter concretizar este seu sonho, à laia de vendeta, e conseguir voltar a ser eleito presidente da FIFA. Porque, afinal, para um cargo destes não basta ser incorrupto, é realmente preciso parece-lo.
Agora, imagina tu, Berta, que algo deste género acontece com José Sócrates, consegues? Nem quero sequer imaginar. As consequências seriam devastadoras para a imagem da nossa justiça. Por hoje fico-me por aqui, despede-se este teu velho amigo, com um beijo de franca amizade,
Hoje, se me puderes ler em desabafo, agradeço-te de coração. Tenho andado bastante irritado com a polémica viral em torno das declarações de Mamadou Ba, um dos rostos do SOS Racismo em Portugal, sobre a pessoa do tenente-coronel Marcelino da Mata. Mais me irrita ainda que seja a direita a tomar as dores da defesa da honra do falecido militar e a querer crucificar o elemento ligado ao SOS Racismo.
Em primeiro lugar, esta não devia ser, nunca por nunca ser, uma questão política e muito menos uma temática ligada ao racismo. Em segundo plano, a história, quando se analisa e estuda e quando sobre ela se comenta, tem sempre de ser analisada à luz da época em que ocorreram os factos e não pode, sob pena de perder a sua essência temporal e geográfica, ser transportada para a realidade e para os valores da sociedade contemporânea.
Há ainda uma terceira abordagem, à qual terei o cuidado de voltar no final desta carta, e que diz respeito ao ditado: “À mulher de César não lhe chega ser honesta, deve também parecê-lo”. O princípio desta última premissa, se assim lhe podemos chamar, tem a ver com um dos problemas sociais mais graves da atualidade, não apenas em Portugal, mas que se tem generalizado pelo mundo supostamente civilizado e que começa a necessitar da devida correção.
Todavia, já que falamos em Júlio César, pergunto-te, minha querida amiga Berta, que pensamentos tens quando te lembras dele? Igualmente, sem qualquer problema, eu próprio respondo à questão, pensas num grande imperador que foi capaz de levantar e erguer um grande império, que por acaso pertenceu a uma das duas mais importantes civilizações clássicas da nossa história ocidental.
Poderia também indagar o que achas dos reis de Portugal que expandiram o Condado Portucalense, a começar por D. Afonso Henriques e a parar apenas quando, já como Portugal, o país ocupou o Algarve. Pelo caminho ficaram batalhas sanguinárias com os reinos vizinhos cristãos e com os reinos mouros a Sul do país. Falas de heróis ou de assassinos, sem dó nem piedade, quando recordas a sua história? Também respondo, uma vez mais, que falas de heróis.
Aliás, por falar em Portugal, o mesmo se passa com os Descobrimentos Portugueses e com a implantação do império colonial português. Dentro do contexto histórico e analisando o pensamento de então, nem a escravatura pode ser condenada quando foi praticada em larga escala nessa altura. Foi necessário muita alteração de mentalidades e muita luta por princípios que hoje nos parecem evidentes, para que uma prática que vinha da pré-história e que era refletida como natural fosse considerada uma barbaridade. Afinal, a história deve ser analisada à luz da sua época.
Podia estar para aqui a falar do império zulu, mongol, chinês, grego, otomano, espanhol, inglês, alemão, soviético ou egípcio, aliás, não importa qual deles se analisa, se retirados do pensamento e da época, em resumo, do contexto, aquilo que fica é apenas e somente a atrocidade, a guerra e a barbárie, associadas sempre à sede de poder e de conquista dos protagonistas invasores e dos seus povos, ou seja, sem enquadramento a realidade fica comprometida e a verdade dos factos deixa de fazer sentido.
É curioso pensar que nem a história das principais religiões do mundo escaparia a uma análise fora de contexto, à luz dos princípios e valores que hoje nos regem, enquanto sociedade civilizada e integrada no século XXI. Todas, sem exceção, incluindo as orientais, tiveram de praticar aquilo que hoje apelidamos de atrocidades para vingarem na devida altura e se imporem a outros credos e crenças. Podemos nem sequer conhecer o percurso e engenho de cada uma delas em concreto, mas se as formos analisar em detalhe…
Por tudo o que aqui explanei, e muito mais havia para dizer e exemplificar, as afirmações do cidadão Mamadou Ba, enquanto individuo, não passam das opiniões do próprio e deviam ser enquadradas enquanto tal se, e aqui é que nasce o problema, ele não fosse um dos elementos da organização não governamental SOS Racismo e se as mesmas declarações não tivessem sido proferidas enquanto voz desta organização.
Neste enquadramento o senhor Mamadou Ba torna-se um falso moralista que ofende a própria organização que representa pela descontextualização que faz da pessoa do tenente-coronel Marcelino da Mata. As alegações de Mamadou Ba são sectárias e indignas de um dirigente do SOS Racismo e esta revelação deveria ser a condição necessária e suficiente para que a própria instituição afastasse este elemento da sua equipa.
O assunto nunca deveria servir de bandeira a uma direita histérica, armada em defensora de algo que não lhe pertence, mas que é parte integrante do nosso coletivo histórico enquanto povo e país. É por esta mesmíssima razão, e sem qualquer pejo, que considero que o tenente-coronel Marcelino da Mata foi um herói do seu tempo ao serviço do seu país, no seio das circunstâncias que rodearam a sua luta, tal como D, Afonso Henriques o foi no seu ou Alexandre, o Grande na sua altura.
Desenquadrar figuras históricas e analisá-las à luz dos nossos dias é, e se não é devia ser, um crime de lesa-memória da história dos povos e o seu julgamento nunca deveria ser de cariz político-partidário, mas de efetiva descontextualização da verdade e dos factos da própria história. Um raciocínio como o de Mamadou Ba, para chamar de assassino a Marcelino da Mata, da forma como foi feito, serve igualmente para que se possa considerar Jesus Cristo, um radical religioso, líder de um movimento terrorista.
Resumidas que estão, neste último parágrafo, as duas primeiras premissas com que comecei esta carta, amiga Berta, retorno igualmente à terceira:“À mulher de César não lhe chega ser honesta, deve também parecê-lo”, ou seja, se Mamadou Ba quer ser uma personalidade de relevo no seio da organização SOS Racismo, tem não apenas de ser integro nas suas avaliações como parecer isento nos pareceres que emite publicamente.
Sem estas qualidades o dito senhor apenas descredibiliza a entidade que representa e tira-lhe o prestígio e a atenção que deveria efetivamente ter. Agradeço-te, querida Berta, pela paciência que por vezes te obrigo a ter quando me lês. Contudo, a tua atenção acalma-me o espírito e serena-me das irritações que apanho com estes falsos defensores de direitos e princípios que escondem o seu próprio preconceito na sombra das instituições que representam. Por hoje fico-me por aqui, deixo um beijo saudoso,
Conforme referi as escutas, anos a fio a João Galamba, foram uma verdadeira serra, cheia de montanhas, que pariram um rato. Para terminar a análise da última carta ainda ficaram algumas coisas por dizer. Vamos em frente.
Os magistrados do Tribunal da Relação de Lisboa lembraram o Ministério Público de que um projeto do tipo PIN, tinha direito a várias prerrogativas e em particular a “um regime especialíssimo, mais célere e mais simplificado, de obtenção de decisões, licenças administrativas” e que, na verdade, “não foi observado”, como realçam, nada de ilegal.
Acontece, porém, que o projeto estava “muito” atrasado e “que não era compaginável, à luz das mais elementares regras de senso comum, que um investimento destes valores, com vários parceiros económicos envolvidos, capital proveniente de outros países, com importantes impactos, no ambiente, nos objetivos da transição energética e digital e na economia portuguesa esteja mais de dois anos pendente sem que sejam proferidas as decisões necessárias a essa implementação”, apontam ainda os magistrados. No acórdão, chegam a notar o investimento já feito por privados de mais de 160 milhões de euros, referindo a expectativa de investir ainda mais dois mil milhões de euros. Pelo que concluem que todos os atos se justificam à luz das necessidades encontradas.
Assim, os Juízes acusam MP (Ministério Público) de “inaptidão”. O acórdão de 366 páginas inclui variadas críticas ao MP, que chega a ser acusado de “inaptidão”, referindo-se o uso de expressões “vagas” e “genéricas”. “As conversas telefónicas nada mais demonstram do que a sua própria existência, provam que aquelas frases foram ditas e foram proferidas por aquelas pessoas que surgem identificadas nas transcrições, como sendo os seus interlocutores.
Mas não são factos. São meios de prova. E a sucessão de conclusões ou ilações que o MP delas retira, não são nem uma coisa nem outra”, salienta o acórdão. O Tribunal da Relação de Lisboa praticamente acusa o Ministério Público de má fé e de se intrometer num negócio delicado que exigia um tipo de postura totalmente diferenciado do observado.
Os magistrados também desvalorizam as reuniões entre administradores da Start Campus e elementos do Governo, intermediadas por Diogo Lacerda Machado, consultor daquela empresa e amigo de António Costa, então primeiro-ministro. “Conversar com governantes do poder central ou do poder local ou com outros agentes da administração pública sobre interesses próprios não tem, só por si, nada de ilícito ou sequer pouco razoável”, salientam. “Falar não é, necessariamente, constranger ou forçar seja quem for a fazer o que não quer ou que não tinha previsto fazer ou decidir”, consideram ainda os juízes. Sendo que acabam por concluir que não há quaisquer provas contra António Costa. Já o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa foge ao assunto e antecipa “um português no Conselho Europeu”. Tentando com isso justificar a queda do Governo e a não manutenção de uma maioria absoluta no poder, por sua vontade própria e pelo desejo de ver o PSD a formar Governo em eleições futuras conforme veio a acontecer.
Com as costas a arder, Marcelo Rebelo de Sousa recusa comentar o acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa que arrasa os argumentos do Ministério Público na “Operação Influencer”, considerando apenas que não há elementos de prova contra António Costa.
Ora, a legislatura anterior foi interrompida na sequência da demissão de António Costa, após ter sido divulgado que o então primeiro-ministro era alvo de um inquérito extraído do processo-crime “Operação Influencer”.
Mais ainda. o Presidente não aceitou a substituição do primeiro ministro como se os portugueses em vez de terem votado num partido, tivessem votado num Primeiro Ministro, o que é inteira e absolutamente falso. Foi um verdadeiro Golpe de Estado orquestrado pela Procuradora Geral da República e o Presidente da República e disso Marcelo não se livrará nunca, principalmente quando a história analisar a sua enviesada atuação e comportamento.
Vários meses depois, e após a realização de eleições e de ter tomado posse o Governo da Aliança Democrática, o caso judicial parece esfumar-se na falta de indícios de crime. Apesar de António Costa não ser arguido no inquérito, os juízes do Tribunal da Relação de Lisboa (TRL) repetem, por diversas vezes, que não há indícios contra o ex-primeiro-ministro num acórdão divulgado, que arrasa, por completo, o Ministério Público. Os magistrados entendem que o argumento do Ministério Público (MP) de que Diogo Lacerda Machado, um dos arguidos do processo, usou a sua amizade com Costa para favorecer os interesses da Start Campus no centro de dados em Sines, é uma mera suposição que resulta única e exclusivamente de “juízos especulativos”.
Ora, se não há indícios de crime, a carta da Procuradora Geral da República nunca deveria ter existido. Sendo deveras suspeita a sua intervenção pessoal no processo e o parágrafo que acrescentou à famigerada carta, levando obviamente à demissão de Costa. Tratou-se tudo de um Golpe de Estado iniciado pela senhora Procuradora e concluído pelo Nosso Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa.
Aliás, “O único facto concreto protagonizado pelo primeiro-ministro foi ter estado presente num evento de apresentação do projeto, no dia 23 de abril de 2021, no qual também estiveram presentes o então Secretário de Estado Adjunto e da Energia, João Galamba, o então Ministro da Economia, Pedro Siza Vieira”, escrevem os juízes no acórdão. “De uma relação de amizade com um membro do Governo, aliás claramente assumida de forma pública e reiterada por ambos os protagonistas, tem de resultar a conclusão inexorável de que houve tráfico de influências, ou corrupção ativa ou passiva, ou prevaricação?”, chegam a questionar os magistrados perplexos com as alegações apresentadas pelo Ministério Público.
Já Marcelo não comenta, pois o Golpe está dado e executado e de forma perfeita, agora já lhe é possível prever o fim do caso contra António Costa. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recusa-se agora, num novo papel de anjinho, comentar as conclusões do Tribunal da Relação de Lisboa, mas antevê que as suspeitas contra o ex-primeiro-ministro acabem por dar em nada, só falta mesmo pedir desculpa pelo seu ilegítimo golpe de Estado Institucional.
“Tenho a sensação de que começa a ser mais provável haver um português no Conselho Europeu, neste próximo Outono, em Bruxelas”, destaca, cinicamente Marcelo, a acenar com a cenoura a Costa. O Presidente da República aceitou a demissão de Costa e, dois dias depois, anunciou ao país a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições para 10 de março passado. Eleições estas que foram ganhas pela Aliança Democrática, coligação entre o PSD, partido a que Marcelo já presidiu, o CDS-PP e o PPM.
A decisão de Marcelo foi muito criticada, e ainda mais é agora com as conclusões da Relação. Mas o Presidente da República recusa comentar qualquer decisão judicial concreta. “Não vou comentar as decisões de justiça”, sublinhou, repetindo a ideia de que há uma forte probabilidade de António Costa se tornar presidente do Conselho Europeu. Como se a prática de um Golpe de Estado pudesse ser legitimada por um tacho na Europa.
Em dezembro de 2023, Marcelo já tinha desejado que o ex-primeiro-ministro “estivesse em condições de ter um lugar na Europa”. No entanto a PGR continua com o caso em aberto e não se prevê quando é que o encerrará. Primeiro é preciso que o povo esqueça o maquiavélico plano de Lucília Gago em concluiu, no meu entender, com Marcelo Rebelo de Sousa.
Tudo isto não passou de um Golpe de Estado, durante a permanência de uma maioria absoluta no Governo e perante um Presidente reduzido à sua menor expressão. A lei pode não ter sido violada, mas a consciência e o voto dos portugueses foram total e objetivamente fulminados pelas atuações da Drª. da PGR e pelo PR. E fico-me por aqui, despede-se com um beijo, Berta, este teu amigo de sempre,
O tema da violência policial, aqui há uns anos abordado em Portugal, por causa do espancamento abusivo e injustificado de um adepto de futebol, que pacificamente transitava na rua, perto de uma zona onde tinham acabado de acontecer diversos distúrbios sociais ligados a um jogo, já fez correr alguma tinta no país. Porém a coisa agrava-se quando juntamos a isto a palavra racismo.
O Renascer do Racismo com o Populismo de Direita
A ascensão de André Ventura nos meandros da política pode tornar este afastado e quase esquecido episódio numa prática, assustadoramente corrente, num abrir e fechar de olhos.
Com efeito, amiga Berta, os discursos de Ventura apontam para o desejo de transformação das nossas forças de segurança e não só, numa polícia de intocáveis, ameaçando a população civil com prisão, se ousarem, quiçá, insultar polícias ou magistrados.
O rastilho foi recentemente aceso com o caso do homem de raça negra que clemente dizia: “não consigo respirar”. Um homem que morreu pelo joelho de um polícia, que não abrandou, por mais de 8 minutos a pressão intencional, que exercia sobre o pescoço da vítima. Foi assim que morreu George Floyd, um óbito registado por telemóvel para o mundo ver, se poder indignar e, finalmente, condenar publicamente. A situação decorreu nos Estados Unidos da América, o país da alegada liberdade, e tem gerado protestos de revolta à escala mundial.
Para acicatar ainda mais os ânimos o Presidente Americano, um tal de Donald Trump, ordena à polícia que desmobilize uma manifestação pacífica perto da Casa Branca, a fim de atravessar a rua e, usando uma igreja como fachada, vir mostrar a bíblia, enquanto promete retaliação repressiva aos manifestantes revoltosos que considera terroristas.
Uns graus de latitude mais abaixo, a situação piora quando, também neste passado mês de maio, se descobre o macabro caso de um jovem de 30 anos, abatido pela polícia mexicana por resistir, imagine-se, ao uso de máscara na via pública. O facto foi ocultado por uns dias graças a uma tentativa de suborno, com pagamento de cerca de 8 mil euros à família, sem recursos, da vítima, mas acabou por ser denunciado e exposto na praça pública.
O infeliz sujeito chamava-se Giovanni López, a sua detenção foi filmada pelo irmão da vítima, que só o voltaria a ver, já morto, no hospital da cidade onde foi declarado o óbito. A tentativa de suborno foi imaginada e conduzida pelo perfeito da cidade que agora se encontra a ser, também ele, investigado. A indignação disparou com o galardoado, com o Óscar de melhor realização de 2018, Guillermo del Toro, a demonstrar publicamente a revolta perante o sucedido na sua terra natal. Estes acontecimentos obrigaram o Governador do Estado de Jalisco a vir a público prometer que os culpados serão punidos, a meu ver, minha amiga, tarde de mais, uma vez que a indignação já invadiu as ruas.
A tempestade perfeita parece formar-se quando, mais uns graus de latitude abaixo do México, mas precisamente na mesma altura, no maior país da América Latina, o Presidente da República do Brasil, que responde pelo inconcebível nome de Jair Bolsonaro, vem afirmar publicamente, e perante a televisão, que os grupos de populares que se manifestam contra ele, e contra o seu Governo, são não apenas marginais como também terroristas. Tudo a acontecer num país onde 9 em cada 10 dos mortos causados pela polícia brasileira no Rio de Janeiro são negros ou mestiços.
Numa altura em que muitos observadores internacionais apontam para a possibilidade crescente de o Brasil descambar numa guerra civil, entre os apoiantes do Presidente e os que o condenam, tudo parece cozinhado para uma monstruosa crise, sem precedentes, no admirável novo mundo.
Por enquanto, os reflexos desta violência irracional em Portugal, não nos remetem nem para a gravidade dos acontecimentos vindos das Américas, nem apontam ainda qualquer possibilidade de que isso possa transpirar para esta terra de costumes pacíficos, onde apenas o ex-comentador benfiquista da CmTV, o alegadamente mentecapto André Ventura, tenta gerar alguma exaltação de ânimos. Mesmo assim, seria interessante tentar saber se, após este último empate do Benfica em casa, frente ao Tondela, a posterior vandalização das casas de Bruno Lages, Pizzi e Rafa têm ou não a ver com o papel inflamatório do ex-comentador televisivo e atual deputado do Chega. Contudo, importa relembrar que, desde que este fulano apareceu a divulgar as suas ideias e baboseiras na praça pública, pelo menos a partir do verão de 2018, os relatos têm vindo a ganhar gravidade e frequência. Coincidência ou não, o inflamador não se livra da sombra que a ele se colou.
Quem é que já se esqueceu do raid levado a cabo pela polícia de Alfragide à Cova da Moura, que terminou com a detenção de um grupo de indivíduos de raça negra, que foram posteriormente sovados no interior da dita esquadra, e cujo caso ainda continua aberto e em julgamento? Ou da senhora também de raça negra que, por causa de um bilhete de autocarro, se viu terrivelmente maltratada e sovada pela polícia na Amadora, cujas notícias fizeram furor no início deste ano?
Ainda há também o vídeo de outro jovem de raça negra, maniatado pela polícia e a ser obrigado a respirar o fumo de escape de um automóvel ou o outro individuo da mesma raça, no final de janeiro, filmado por duas turistas a ser detido, enquanto um polícia proferia “tens um ar suspeito”, à noite na baixa de Lisboa, perante a suplica do fulano alegando nada ter feito. No entanto, não escapou a uma revista pública efetuada abusivamente por 4 polícias, que depois o levaram preso, sem nada ter sido aparentemente encontrado.
Uma coisa é certa, eu, querida Berta, sou dos que não acredita em coincidências. Não é difícil gerar descontentamento à boleia da pandemia, do aumento do desemprego e da chegada anunciada da pior recessão das últimas décadas a Portugal. Se queremos manter o equilíbrio pacífico e ponderado que nos carateriza maioritariamente enquanto povo temos, urgentemente, de pôr um ponto final nas carreiras públicas daqueles que, usando de um populismo demagogo, tentam criar o conflito e o confronto. Basta olhar as sondagens para ver que a mediocridade medra facilmente e isso é realmente uma grande merda.
Será mera coincidência que, com tanta ocorrência, nos últimos 10 anos, não exista um único caso de condenação policial por atitudes racistas, pese embora as variadíssimas queixas da Amnistia Internacional e do SOS Racismo sobre os vários e frequentes casos em Portugal?
Já me sinto melhor depois de desabafar. Este teu amigo despede-se com um beijo de saudades,
Ontem, ao falar da justiça e de possíveis forças ocultas, acabei por não dar exemplos, nem expor muito, o que penso sobre o assunto. Por isso, aqui vai a continuação:
Memórias de Haragano: Confissões em Português – Parte XV
“Não fiquei convencido no caso Carlos Cruz, como já te contei, caro leitor, nem tantos outros casos que se mediatizam para nos atirar areia para os olhos.
Esses e outros, que nem vale a pena referir, são os gladiadores escravizados, e antes senhores, do Coliseu de uma Justiça que não tem apenas os olhos vendados, mas que aparenta servir sociedades secretamente organizadas e portadoras de agendas especificas.
Podia falar aqui dos interesses escondidos da Opus Dei, da Maçonaria e de mais uma dúzia de organizações mais ou menos secretas, que vão desde os Rosa-Cruz, os Lions Club até aos beneméritos do Rotary Club, todos agindo na sombra em prol dos seus interesses. Talvez esteja a ser injusto, afinal isso é única e exclusivamente a minha forma de pensar.
Porém, vejamos: quem julga o bom ou mau trabalho dos juízes e determina se estão ou não ao serviço de algo menos visível? Outros juízes? Não me façam rir. Isso sim, era importante, digo mesmo, fundamental, podermos saber de forma bem clara e transparente quem lhes avalia os procedimentos e atuações, para que assim a nossa fé na justiça fosse reposta.
Se o Governo tem uma Assembleia da República que o fiscaliza, se o Presidente da República está sujeito ao julgamento popular através do voto, quem supervisiona o poder judicial? Eles, em Portugal, são uma carreira pública, não vão a votos, mas são controlados por quem? Haverá alguém que saiba?
De vez em quando lá nos atiram com um juiz, para a arena dos média, para nos distrair. Mas quem são esses juízes? Os que já estão tão queimados, que já nem os estagiários se oferecem para ir tomar um cafezinho com eles, ou os que precisam de um apertão por estarem a tentar fugir aos poderes ocultos?
Quando um procurador nos ofende em tribunal, antes que o que quer que seja fique provado, porque é que o referido senhor não é devidamente repreendido pelo atentado ao meu bom nome que, até ao veredito final, deveria continuar a ser considerado como bom? A justiça deveria ter júri na grande maioria dos casos, principalmente nos mais graves, e prazos. Sempre prazos e responsabilidades por incumprimento desses prazos. Enfim, os desabafos, como diz uma amiga minha, não me levam a lugar algum e, ainda, segundo ela, não interessam a ninguém (para quem pudessem ou possam serem relevantes e a quem, verdadeiramente, se interessasse ou interesse por eles).”
Eu sei que tu entendes as minhas dúvidas existenciais, querida Berta. Aliás, tu e pouca gente mais. A maioria conforma-se com o que existe e escolhe nem pensar nestes assuntos. Por hoje despeço-me amigavelmente com um beijo, saudoso,
Concluindo a minha narrativa dos últimos dois dias, segue-se agora a última parte da Carta Aberta que publiquei, em 2004, endereçada a Carlos Cruz. Incrivelmente, 17 anos depois, a saga deste homem continua por concluir. Foi com ele que <<nasceram>> em Portugal os mega juízes, os casos de justiça hiperbólica, os segredos de justiça incumprida e nunca penalizada, todavia, agora que Carlos Cruz já tem 77 anos de idade, agora que já sabemos que existe corrupção e ao mais alto nível na justiça portuguesa, não seria a altura de julgarem este senhor, com a inclusão, devida e mais do que justa, de todas as provas? Porém, para já, voltemos à minha carta aberta.
Carta Aberta a Carlos Cruz (Parte III - 2004)
“Mas meus senhores e minhas senhoras, o mais grave disto tudo é: e se o Sr. Carlos Cruz for inocente? Aí a coisa fica feia, mesmo muito feia, porque não há valor monetário que pague uma injustiça deste calibre. Em quanto se indemniza um cidadão, com a imagem que a pessoa em causa tinha no país, pelos danos causados? Seria a falência do Estado Português! Porque a indemnização teria que ser realmente exemplar. Mas seria também a falência de todo o sistema judicial português, porque não serve, nem vale, dizer que foi um erro e lavar as mãos. Alguém teria que sofrer as devidas consequências e ser responsabilizado.
Às vezes falamos da prepotência americana no mundo, mas um americano só pode estar preso sem provas 48 horas... quarenta e oito horas, qual dois anos e meio qual carapuça... Que raio de democracia existe no meu país onde o Ministério das Finanças aliado ao da Justiça nos recorda os tempos da Velha Senhora e os métodos e perseguições tão familiares a organizações como a Pide-DGS. Já viram que existe de novo medo no ar? Não notaram? As pessoas calam-se nos empregos para não serem despedidas. São tratadas pelos bancos que lhes deram todo o crédito do universo, como limões a quem se tem de espremer até ao último cêntimo, e o que os bancos não apanham, apanha o Fisco. Mas fazer barulho, revoltarmo-nos, nem pensar, que o sistema judicial está como todos sabemos.
Em resumo, Carlos Cruz, Senhor Carlos Cruz, eu acho que o Senhor não tem qualquer hipótese de sair inocente deste processo, mesmo que seja efetivamente inocente. A sua inocência remeteria a nossa democracia, o estado e o poder judicial para o Banco dos Réus e eles não vão permitir tal situação. Resigne-se! À partida será culpado: tenha ou não praticado qualquer crime, porque o inverso seria catastrófico. Se lhe serve de consolo, existe um português, que sem nunca o ter sequer conhecido pessoalmente e apertado a mão, acredita em si!”
Agora, em 2020, no ano da pandemia, já é tempo de acabar com tanta hipocrisia. Não tardará muito fará um ano que o último recurso de Carlos Cruz entrou na justiça. Estamos em tempo de desconfinamento, pois bem, julguem-no outra vez, como ele vos solicitou, agreguem ao processo, finalmente, todas as provas. Se, no final, o acusarem que assim seja, mas é preciso que seja feita justiça de uma vez por todas. Ou será que só um tal de Paulo Pedroso, o protegido do atual Presidente da nossa Assembleia da República, o socialista Ferro Rodrigues e o Herman José é que conseguiram sair limpos da acusação do então Procurador Geral da República, o senhor José Souto Moura? Como foi que cada um deles conseguiu provar a sua inocência, alguém sabe? Muitos devem, por certo, sabê-lo. Até consigo acreditar que ambos estariam realmente inocentes e que lhes foi permitido apresentar todas as provas disso perante a justiça. Mas, então, porque não se procede do mesmo modo com Carlos Cruz?
Não consigo entender. Mas, um caso que se iniciou em 2002, com acusações nominais feitas em 2003, já está em tempo de terminar. A justiça tem de prevalecer. Que se julgue de novo Carlos Cruz com inclusão, porque tal é imperioso, de todas as provas.
Então, minha querida Berta, fui demasiado teimoso da defesa da minha dama chamada Justiça? Espero que não e que a história te tenha agradado. É tempo de acabar com os bodes expiatórios, é tempo de fazer renascer a justiça em Portugal, para bem do Povo Lusitano. Nós merecemos isso hoje e sempre. Recebe um beijo deste teu amigo, em despedida até outra carta,
Continuando a minha narrativa de ontem, segue-se agora a segunda parte da Carta Aberta que publiquei, em 2004, dirigida a Carlos Cruz. Amanhã enviarei o final dessa carta, uma vez que a primeira te agradou. Sabes, se na altura em que tudo isto começou tivessem acusado Carlos Cruz de uso, consumo e talvez até abuso de drogas elícitas, eu não ficaria espantado. Como te disse eu não o conheço pessoalmente, mas o ritmo de trabalho e a frescura que ele permanentemente conseguia apresentar sempre me pareceram para além das normais capacidades de um homem comum. Porém, embora houvesse quem o afirmasse, nunca falei com ninguém, dentro do meio, que me dissesse na cara que o tinha testemunhado. Portanto, tudo poderia até ser apenas mais um boato e nada mais do que isso.
Aliás, agora então, nada disso importa. O que me parece relevante é continuar a transmitir-te a carta que escrevi na altura e na qual me continuo a rever.
Carta Aberta a Carlos Cruz (Parte II - 2004)
“Quando penso que o Senhor Carlos Cruz não era ligado aos <<Laranjas>> então no poder; quando penso que nenhum dos outros implicados no caso hasteava a bandeira dos <<citrinos>> (a fugir para o amarelo cínico de uns populistas que de populismo apenas usavam o nome); quando penso que a bronca estoirou precisamente quando a coligação governamental parecia entrar em colapso, por falta de apoio dos portugueses; quando penso que apenas elementos da oposição, nem que fosse em termos de simpatia ou tendência partidária, ou os a ela ligados, foram envolvidos no escândalo; quando penso que um mês depois já os laranjinhas tinham recuperado mais de uma dezena de pontos nas sondagens; quando penso nas escutas telefónicas feitas à sombra de uma justiça cega e de base salazarista caduca e totalitária, a tudo e todos os que fossem ou apoiassem os socialistas; quando penso num país onde um juiz só pode ser julgado e condenado por uma dúzia de seus pares cooperativos e cooperativistas, sendo por isso esse magistrado eleito Português de Primeira Classe face aos outros filhos Lusos; quando penso... (e que raio, eu nem sou dos que acreditam em coincidências), cheira-me a esturro, a jogada bem montada, a cabala, a conjura desenvolvida ao mais alto nível.
Se o Sr. Carlos Cruz fosse culpado, já devia ter sido julgado e condenado há meses. (E não serve de nada afirmarem que ele não era o único nesta situação, que a coisa estava assim montada, que estas investigações demoram, que havia muitas pessoas nas mesmas circunstâncias... etc. Se havia não deveria haver! Nem um único!).
Correndo até o risco da fuga do suspeito, a justiça não pode ter o direito de prender por meses a fio um presumível qualquer coisa, sem o poder provar num muito curto espaço de tempo. E não pode fazê-lo porque isso é injusto esteja o conceito expresso ou não na lei nacional. É imoral, não respeita a ética das instituições e a Lei portuguesa ainda tem uma base de decoro, penso eu, ou deveria ter.”
Bem, amanhã termino esta carta, contudo, não posso deixar de referir que agir e condenar sem que todas as provas possam entrar num determinado processo, com desculpas processuais ou outras, não mostra o melhor e o mais isento lado da justiça. Tudo me pareceu passar-se como se um qualquer tipo de sociedade secreta, tipo Maçonaria, Opus Dei ou outros do mesmo calibre estivessem a puxar cordelinhos usando o Senhor Comunicação como bode expiatório.
Não estou a afirmar que foi isso que aconteceu, mas foi o que eu, na altura com 24 anos de jornalismo e quase 9 de carteira profissional, pensei na época e, se queres saber, minha querida amiga, nem nisso fui o único ou original. Porém, infelizmente, todos se calaram, não fosse o prato derramar para o lado deles. Afinal, é preciso ter em conta que telhados de vidro existem em todo o lado. Despede-se, com um beijo franco e muita amizade, este rapaz aqui, o mesmo de sempre,
Não sei se tens acompanhado, minha amiga, a discussão sobre a eutanásia. Terminar com a vida de alguém é efetivamente uma coisa séria. Mas nós vivemos em democracia e demos o poder de legislar, nas urnas, aos nossos representantes.
Os deputados, por muito que alguns lhes invejem a vida, mesmo sendo obrigados a votar, até contra a sua própria vontade, por disciplina partidária, por mais que se descubram desonestos no seu seio, são quem escolhemos, dentro das regras democráticas que traçámos para o país. São eles que regulam e criam as normas legislativas do país e foi precisamente para essa tarefa que os elegemos.
É a eles, que incumbe a responsabilidade de decidir o que fazer quanto a cada tema, de acordo com as maiorias parlamentares que arranjem, para cada um dos assuntos em causa, durante os anos que ali estão em funções. Portanto, terão de ser eles a votar a eutanásia e a definir as regras da sua execução, quer isso signifique a aprovação ou o chumbo da lei, apenas eles e mais ninguém.
Não me parece justo é ir pôr em causa a vida ou a morte de alguém, baseada na minha opinião, cuja área principal é o jornalismo, na opinião da Igreja Católica, que impõe o celibato aos padres e descrimina as mulheres, ou do meu eletricista que só quer saber de curto-circuitos, de minis e de futebol.
Votar a adoção e legalização da eutanásia por referendo é que seria profundamente errado. Se não confiamos no sistema temos, pelo voto, a possibilidade de o mudar. Mas não me peçam a mim para tomar o lugar que não é o meu e ir votar em algo sobre o qual até sei alguma coisa, embora tendo a consciência de não saber o bastante para aceitar essa responsabilidade.
Desculpa o aparte, mas o assunto anda na ordem do dia e eu sinto-me incomodado com algumas das coisas que vou ouvindo e lendo. Quanto à temática da nossa carta, sobre quadras sujeitas a tema, escolheste-me para hoje algo ligado à justiça. Por via das dúvidas fiz 3 quadras.
Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 7) O Juiz.
O Juiz I
Se fores, em tribunal,
Injustamente acusado,
O juiz que te fez mal
Devia acabar culpado.
O Juiz II
Condenar, sem ter certeza,
Perdoar, por preconceito,
São critérios de tristeza
De juízes com defeito.
O Juiz III
Decidir, sem ter razão,
Num juiz é mais que asneira…
Se uma luva é para a mão,
Não se usa na carteira.
Gil Saraiva
Com estas 3 respostas me despeço, recebe um beijo amigo deste que nunca te esquece,
Sei que ainda esta manhã te escrevi uma carta, minha querida amiga, mas o que li hoje nas notícias, nos jornais online, não podia ficar por comentar. É deveras deprimente viver num país onde o tratamento de um assunto tão sério ainda não tem a devida atenção, por parte das autoridades nacionais e, principalmente, do lado dos poderes legislativos e judiciais.
Desta vez, pela trigésima sexta, em 2019, foi um pai de 68 anos que, alegadamente, matou por negligência doméstica, uma filha de 43 anos e feriu o genro, enquanto limpava uma caçadeira.
Estava o ano quase a terminar e o patriarca queria celebrar a entrada do novo ano a tiros de arma de caça. A negligência, verdadeira ou não, causando uma morte e um ferido, não deixa de ser violência doméstica. Afinal, esta situação não pode ser tratada, certamente, como uma comemoração familiar, lá porque a arma iria, supostamente, servir para festejar a chegada do ano novo.
Ainda por cima porque, a ser verdade que a arma se disparou por descuido, não faz sentido que o homem se tivesse posto em fuga, tendo no seu encalço a GNR local e depois a polícia judiciária. Todavia, mesmo que essa tese, defendida por outros familiares, prove ser a que realmente aconteceu, o descuido não foge do âmbito violento, ocorrido em casa.
O que me leva a concluir que os factos nunca deixarão de ser, por isso, um crime de homicídio doméstico, seja ele negligente ou não.
No meu entender, embora não seja um especialista da matéria, o trigésimo sexto de violência doméstica que provocou a morte de um familiar, em 2019, neste caso em sede de um acampamento permanente onde toda a família residia.
A morte ocorreu na zona de Ovar, a poucas horas da mudança de ano e pintou de negro a tragédia de um ano em que 3 vezes por mês, alguém é morto no seio do lar por um familiar. Ora, quando a grande maioria das vítimas são mulheres, é caso para nos levar a pensar que soluções urgentes e imediatas devem ser tomadas, porque é preciso pôr termo a esta carnificina sem sentido algum.
Se em 2016 os homicídios registados no âmbito familiar foram 4, mais um que os registados em 2015 e 2014, em 2017 esses números dispararam, passando para 20, em 2018 chegaram aos 28 e por fim em 2019, os homicídios por violência fecharam o ano nos 36, ou seja, 9 vezes mais do que há 3 anos atrás.
Quando uma taxa qualquer sobe 900 por cento em apenas 3 anos, seja ela que taxa for, algo não vai bem no reino ou na república. Mais grave ainda é quando essa percentagem refere a subida de um crime perfeitamente identificado.
Será que sou só eu que considera um absurdo a subida de 1200 por cento dos crimes de homicídio, no âmbito da violência doméstica, em 5 anos? É que saltar de 3 mortes, neste setor, em 2014 e 2015 para 36 em 2019 é precisamente o que aconteceu. Uma vergonha sem nomenclatura digna para a descrever.
Nos últimos 29 anos foram registados em Portugal quase 400 mil crimes de violência doméstica, com um crescimento anual médio superior a 19 por cento ao ano. Um facto, de tal forma assustador, que ameaça tornar este país, dito de brandos costumes, numa verdadeira casa (ou república, melhor dizendo) de horrores. Basta pensar que se estes casos fossem pessoas, e se essas pessoas constituíssem um partido, que fossem a votos nas legislativas portuguesas, ganhariam 10 lugares no atual parlamento.
No cerne de toda esta problemática estão, sem qualquer margem para dúvidas, digo eu que alegadamente me acho cheio de razão, minha querida, as sentenças amigáveis e permissivas dos juízes deste país. Quanto a mim, o conhecimento por parte da população deste tipo de julgamentos, das respetivas penas e do péssimo tratamento dos juízes perante as vítimas, gerou uma espécie de república das bananas, no que ao aparente desculpar dos culpados diz respeito, ou seja, toda o mundo tem a sensação de que existe uma impunidade generalizada no setor. É como se o próprio Estado estivesse de acordo com este status quo.
Ora, amiga Berta, isto é de todo inadmissível. Se eu tivesse 16 anos e Greta fosse o meu nome, formava um movimento contra o femicídio. Sim, porque para além das 31 mulheres mortas (dos 36 homicídios de violência doméstica), este ano que passou, houve outras tantas que escaparam a este fim, tendo os presumíveis culpados sido acusados de tentativa de homicídio.
Espero sinceramente que este 2020 seja o ano da mudança. É preciso parar, estancar e acabar de vez com este flagelo que assombra a nossa sociedade.
Despeço-me saudoso com mais um beijo de esperança, deste teu amigo de todos os dias,