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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta n.º 589: Joseph Blatter -"I'm Back!" - Tribunal iliba Platini e Blatter de Corrupção na UEFA e na FIFA

Berta 589.jpg Olá Berta,

O suíço Joseph Blatter, o ex-presidente da FIFA, disse no passado dia oito de julho algo que poucos terão ouvido:

     - “I’m back!”

Com efeito, querida amiga, isto aconteceu porque Joseph Blatter e Michel Platini foram ambos absolvidos das acusações de corrupção de que eram alvo, enquanto estiveram nos lugares de topo do futebol mundial e europeu respetivamente. Após seis anos de investigação, que se diluíram numa confrangedora falta de provas concretas, e ao fim de duas semanas de julgamento na Suíça, saíram ilibados. Desse dia, à moda dos antigos filmes de terror e suspense de Alfred Hitchcock, ficarão para a eternidade as palavras de Blatter:

     - “Olá amigos, estou de volta, ainda forte. Terminaram sete anos de mentiras. Agora o jogo está de novo na direção correta. Ou como disse Michel Platini: vão voltar a ter notícias nossas…”

Segundo informa a Agência Lusa, cara Berta: «Em 08 de julho, Michel Platini e Joseph Blatter, antigos presidentes da UEFA e da FIFA, respetivamente, foram absolvidos das acusações de corrupção, após seis anos de investigação e duas semanas de julgamento na Suíça. Numa entrevista ao canal televisivo LCI, Platini garantiu que não tem vontade de voltar ao futebol, embora queira encontrar "os culpados" que estiveram ausentes do julgamento por corrupção. Blatter e Platini eram suspeitos de terem combinado o pagamento ilícito de dois milhões de francos suíços (1,8 milhões de euros) por parte da FIFA ao então dirigente máximo da UEFA.

Platini terá recebido a quantia em 2011, alegadamente, pelos serviços prestados como conselheiro de Blatter entre 1998 e 2002. Ambos justificaram o pagamento tão diluído no tempo com o facto de as finanças da FIFA, na altura, não permitirem remunerações tão elevadas como as acordadas entre Blatter e Platini. O caso já foi julgado nas instâncias desportivas, tendo Blatter, que renunciou à presidência da FIFA em 2015, sido suspenso por seis anos de qualquer atividade ligada ao futebol, por "abuso de posição", "conflito de interesses" e "má gestão", e Platini recebido uma punição de quatro anos.»

Quer isto dizer que Blatter e Platini não foram a julgamento pela parafernália de casos de corrupção de que eram suspeitos, mas apenas foram julgados por aquela acusação que parecia ter mais provas e ser mais consistente para formular uma acusação e uma posterior condenação.

Ora, ambos foram inequívoca e absolutamente ilibados no passado dia oito de junho de toda a acusação do processo. E foi, nesse mesmo dia, que começou um outro processo por parte de ambos os ex-arguidos, trata-se do processo indemnizatório para a reputação do bom nome destes dois homens e da limpeza da sua imagem, entretanto caída pelas ruas da amargura, como é evidente.

Isto quer dizer, minha amiga, que estes homens querem agora dinheiro, muito, mas muito, dinheiro de compensação pelo seu nome ter sido arrastado indevidamente para a lama badalhoca da corrupção. Aliás, será mais correto dizer que isso é apenas o que Michel Platini quer, porque Blatter, por seu lado, prepara-se para voltar a concorrer às mais altas instâncias do futebol.

Mal estará o mundo do desporto se Blatter concretizar este seu sonho, à laia de vendeta, e conseguir voltar a ser eleito presidente da FIFA. Porque, afinal, para um cargo destes não basta ser incorrupto, é realmente preciso parece-lo.

Agora, imagina tu, Berta, que algo deste género acontece com José Sócrates, consegues? Nem quero sequer imaginar. As consequências seriam devastadoras para a imagem da nossa justiça. Por hoje fico-me por aqui, despede-se este teu velho amigo, com um beijo de franca amizade,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: De Júlio César a Marcelino da Mata e a Mamadou Ba

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Olá Berta,

Hoje, se me puderes ler em desabafo, agradeço-te de coração. Tenho andado bastante irritado com a polémica viral em torno das declarações de Mamadou Ba, um dos rostos do SOS Racismo em Portugal, sobre a pessoa do tenente-coronel Marcelino da Mata. Mais me irrita ainda que seja a direita a tomar as dores da defesa da honra do falecido militar e a querer crucificar o elemento ligado ao SOS Racismo.

Em primeiro lugar, esta não devia ser, nunca por nunca ser, uma questão política e muito menos uma temática ligada ao racismo. Em segundo plano, a história, quando se analisa e estuda e quando sobre ela se comenta, tem sempre de ser analisada à luz da época em que ocorreram os factos e não pode, sob pena de perder a sua essência temporal e geográfica, ser transportada para a realidade e para os valores da sociedade contemporânea.

Há ainda uma terceira abordagem, à qual terei o cuidado de voltar no final desta carta, e que diz respeito ao ditado: “À mulher de César não lhe chega ser honesta, deve também parecê-lo”. O princípio desta última premissa, se assim lhe podemos chamar, tem a ver com um dos problemas sociais mais graves da atualidade, não apenas em Portugal, mas que se tem generalizado pelo mundo supostamente civilizado e que começa a necessitar da devida correção.

Todavia, já que falamos em Júlio César, pergunto-te, minha querida amiga Berta, que pensamentos tens quando te lembras dele? Igualmente, sem qualquer problema, eu próprio respondo à questão, pensas num grande imperador que foi capaz de levantar e erguer um grande império, que por acaso pertenceu a uma das duas mais importantes civilizações clássicas da nossa história ocidental.

Poderia também indagar o que achas dos reis de Portugal que expandiram o Condado Portucalense, a começar por D. Afonso Henriques e a parar apenas quando, já como Portugal, o país ocupou o Algarve. Pelo caminho ficaram batalhas sanguinárias com os reinos vizinhos cristãos e com os reinos mouros a Sul do país. Falas de heróis ou de assassinos, sem dó nem piedade, quando recordas a sua história? Também respondo, uma vez mais, que falas de heróis.

Aliás, por falar em Portugal, o mesmo se passa com os Descobrimentos Portugueses e com a implantação do império colonial português. Dentro do contexto histórico e analisando o pensamento de então, nem a escravatura pode ser condenada quando foi praticada em larga escala nessa altura. Foi necessário muita alteração de mentalidades e muita luta por princípios que hoje nos parecem evidentes, para que uma prática que vinha da pré-história e que era refletida como natural fosse considerada uma barbaridade. Afinal, a história deve ser analisada à luz da sua época.

Podia estar para aqui a falar do império zulu, mongol, chinês, grego, otomano, espanhol, inglês, alemão, soviético ou egípcio, aliás, não importa qual deles se analisa, se retirados do pensamento e da época, em resumo, do contexto, aquilo que fica é apenas e somente a atrocidade, a guerra e a barbárie, associadas sempre à sede de poder e de conquista dos protagonistas invasores e dos seus povos, ou seja, sem enquadramento a realidade fica comprometida e a verdade dos factos deixa de fazer sentido.

É curioso pensar que nem a história das principais religiões do mundo escaparia a uma análise fora de contexto, à luz dos princípios e valores que hoje nos regem, enquanto sociedade civilizada e integrada no século XXI. Todas, sem exceção, incluindo as orientais, tiveram de praticar aquilo que hoje apelidamos de atrocidades para vingarem na devida altura e se imporem a outros credos e crenças. Podemos nem sequer conhecer o percurso e engenho de cada uma delas em concreto, mas se as formos analisar em detalhe…

Por tudo o que aqui explanei, e muito mais havia para dizer e exemplificar, as afirmações do cidadão Mamadou Ba, enquanto individuo, não passam das opiniões do próprio e deviam ser enquadradas enquanto tal se, e aqui é que nasce o problema, ele não fosse um dos elementos da organização não governamental SOS Racismo e se as mesmas declarações não tivessem sido proferidas enquanto voz desta organização.

Neste enquadramento o senhor Mamadou Ba torna-se um falso moralista que ofende a própria organização que representa pela descontextualização que faz da pessoa do tenente-coronel Marcelino da Mata. As alegações de Mamadou Ba são sectárias e indignas de um dirigente do SOS Racismo e esta revelação deveria ser a condição necessária e suficiente para que a própria instituição afastasse este elemento da sua equipa.

O assunto nunca deveria servir de bandeira a uma direita histérica, armada em defensora de algo que não lhe pertence, mas que é parte integrante do nosso coletivo histórico enquanto povo e país. É por esta mesmíssima razão, e sem qualquer pejo, que considero que o tenente-coronel Marcelino da Mata foi um herói do seu tempo ao serviço do seu país, no seio das circunstâncias que rodearam a sua luta, tal como D, Afonso Henriques o foi no seu ou Alexandre, o Grande na sua altura.

Desenquadrar figuras históricas e analisá-las à luz dos nossos dias é, e se não é devia ser, um crime de lesa-memória da história dos povos e o seu julgamento nunca deveria ser de cariz político-partidário, mas de efetiva descontextualização da verdade e dos factos da própria história. Um raciocínio como o de Mamadou Ba, para chamar de assassino a Marcelino da Mata, da forma como foi feito, serve igualmente para que se possa considerar Jesus Cristo, um radical religioso, líder de um movimento terrorista.

Resumidas que estão, neste último parágrafo, as duas primeiras premissas com que comecei esta carta, amiga Berta, retorno igualmente à terceira: “À mulher de César não lhe chega ser honesta, deve também parecê-lo”, ou seja, se Mamadou Ba quer ser uma personalidade de relevo no seio da organização SOS Racismo, tem não apenas de ser integro nas suas avaliações como parecer isento nos pareceres que emite publicamente.

Sem estas qualidades o dito senhor apenas descredibiliza a entidade que representa e tira-lhe o prestígio e a atenção que deveria efetivamente ter. Agradeço-te, querida Berta, pela paciência que por vezes te obrigo a ter quando me lês. Contudo, a tua atenção acalma-me o espírito e serena-me das irritações que apanho com estes falsos defensores de direitos e princípios que escondem o seu próprio preconceito na sombra das instituições que representam. Por hoje fico-me por aqui, deixo um beijo saudoso,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: O Renascer do Racismo com o Populismo de Direita

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Olá Berta,

O tema da violência policial, aqui há uns anos abordado em Portugal, por causa do espancamento abusivo e injustificado de um adepto de futebol, que pacificamente transitava na rua, perto de uma zona onde tinham acabado de acontecer diversos distúrbios sociais ligados a um jogo, já fez correr alguma tinta no país. Porém a coisa agrava-se quando juntamos a isto a palavra racismo.

O Renascer do Racismo com o Populismo de Direita

A ascensão de André Ventura nos meandros da política pode tornar este afastado e quase esquecido episódio numa prática, assustadoramente corrente, num abrir e fechar de olhos.

Com efeito, amiga Berta, os discursos de Ventura apontam para o desejo de transformação das nossas forças de segurança e não só, numa polícia de intocáveis, ameaçando a população civil com prisão, se ousarem, quiçá, insultar polícias ou magistrados.

O rastilho foi recentemente aceso com o caso do homem de raça negra que clemente dizia: “não consigo respirar”. Um homem que morreu pelo joelho de um polícia, que não abrandou, por mais de 8 minutos a pressão intencional, que exercia sobre o pescoço da vítima. Foi assim que morreu George Floyd, um óbito registado por telemóvel para o mundo ver, se poder indignar e, finalmente, condenar publicamente. A situação decorreu nos Estados Unidos da América, o país da alegada liberdade, e tem gerado protestos de revolta à escala mundial.

Para acicatar ainda mais os ânimos o Presidente Americano, um tal de Donald Trump, ordena à polícia que desmobilize uma manifestação pacífica perto da Casa Branca, a fim de atravessar a rua e, usando uma igreja como fachada, vir mostrar a bíblia, enquanto promete retaliação repressiva aos manifestantes revoltosos que considera terroristas.

Uns graus de latitude mais abaixo, a situação piora quando, também neste passado mês de maio, se descobre o macabro caso de um jovem de 30 anos, abatido pela polícia mexicana por resistir, imagine-se, ao uso de máscara na via pública. O facto foi ocultado por uns dias graças a uma tentativa de suborno, com pagamento de cerca de 8 mil euros à família, sem recursos, da vítima, mas acabou por ser denunciado e exposto na praça pública.

O infeliz sujeito chamava-se Giovanni López, a sua detenção foi filmada pelo irmão da vítima, que só o voltaria a ver, já morto, no hospital da cidade onde foi declarado o óbito. A tentativa de suborno foi imaginada e conduzida pelo perfeito da cidade que agora se encontra a ser, também ele, investigado. A indignação disparou com o galardoado, com o Óscar de melhor realização de 2018, Guillermo del Toro, a demonstrar publicamente a revolta perante o sucedido na sua terra natal. Estes acontecimentos obrigaram o Governador do Estado de Jalisco a vir a público prometer que os culpados serão punidos, a meu ver, minha amiga, tarde de mais, uma vez que a indignação já invadiu as ruas.

A tempestade perfeita parece formar-se quando, mais uns graus de latitude abaixo do México, mas precisamente na mesma altura, no maior país da América Latina, o Presidente da República do Brasil, que responde pelo inconcebível nome de Jair Bolsonaro, vem afirmar publicamente, e perante a televisão, que os grupos de populares que se manifestam contra ele, e contra o seu Governo, são não apenas marginais como também terroristas. Tudo a acontecer num país onde 9 em cada 10 dos mortos causados pela polícia brasileira no Rio de Janeiro são negros ou mestiços.

Numa altura em que muitos observadores internacionais apontam para a possibilidade crescente de o Brasil descambar numa guerra civil, entre os apoiantes do Presidente e os que o condenam, tudo parece cozinhado para uma monstruosa crise, sem precedentes, no admirável novo mundo.

Por enquanto, os reflexos desta violência irracional em Portugal, não nos remetem nem para a gravidade dos acontecimentos vindos das Américas, nem apontam ainda qualquer possibilidade de que isso possa transpirar para esta terra de costumes pacíficos, onde apenas o ex-comentador benfiquista da CmTV, o alegadamente mentecapto André Ventura, tenta gerar alguma exaltação de ânimos. Mesmo assim, seria interessante tentar saber se, após este último empate do Benfica em casa, frente ao Tondela, a posterior vandalização das casas de Bruno Lages, Pizzi e Rafa têm ou não a ver com o papel inflamatório do ex-comentador televisivo e atual deputado do Chega. Contudo, importa relembrar que, desde que este fulano apareceu a divulgar as suas ideias e baboseiras na praça pública, pelo menos a partir do verão de 2018, os relatos têm vindo a ganhar gravidade e frequência. Coincidência ou não, o inflamador não se livra da sombra que a ele se colou.

Quem é que já se esqueceu do raid levado a cabo pela polícia de Alfragide à Cova da Moura, que terminou com a detenção de um grupo de indivíduos de raça negra, que foram posteriormente sovados no interior da dita esquadra, e cujo caso ainda continua aberto e em julgamento? Ou da senhora também de raça negra que, por causa de um bilhete de autocarro, se viu terrivelmente maltratada e sovada pela polícia na Amadora, cujas notícias fizeram furor no início deste ano?

Ainda há também o vídeo de outro jovem de raça negra, maniatado pela polícia e a ser obrigado a respirar o fumo de escape de um automóvel ou o outro individuo da mesma raça, no final de janeiro, filmado por duas turistas a ser detido, enquanto um polícia proferia “tens um ar suspeito”, à noite na baixa de Lisboa, perante a suplica do fulano alegando nada ter feito. No entanto, não escapou a uma revista pública efetuada abusivamente por 4 polícias, que depois o levaram preso, sem nada ter sido aparentemente encontrado.

Uma coisa é certa, eu, querida Berta, sou dos que não acredita em coincidências. Não é difícil gerar descontentamento à boleia da pandemia, do aumento do desemprego e da chegada anunciada da pior recessão das últimas décadas a Portugal. Se queremos manter o equilíbrio pacífico e ponderado que nos carateriza maioritariamente enquanto povo temos, urgentemente, de pôr um ponto final nas carreiras públicas daqueles que, usando de um populismo demagogo, tentam criar o conflito e o confronto. Basta olhar as sondagens para ver que a mediocridade medra facilmente e isso é realmente uma grande merda.

Será mera coincidência que, com tanta ocorrência, nos últimos 10 anos, não exista um único caso de condenação policial por atitudes racistas, pese embora as variadíssimas queixas da Amnistia Internacional e do SOS Racismo sobre os vários e frequentes casos em Portugal?

Já me sinto melhor depois de desabafar. Este teu amigo despede-se com um beijo de saudades,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta: Memórias de Haragano - Confissões em Português - Parte XV

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Olá Berta,

Ontem, ao falar da justiça e de possíveis forças ocultas, acabei por não dar exemplos, nem expor muito, o que penso sobre o assunto. Por isso, aqui vai a continuação:

Memórias de Haragano: Confissões em Português – Parte XV

“Não fiquei convencido no caso Carlos Cruz, como já te contei, caro leitor, nem tantos outros casos que se mediatizam para nos atirar areia para os olhos.

Esses e outros, que nem vale a pena referir, são os gladiadores escravizados, e antes senhores, do Coliseu de uma Justiça que não tem apenas os olhos vendados, mas que aparenta servir sociedades secretamente organizadas e portadoras de agendas especificas.

Podia falar aqui dos interesses escondidos da Opus Dei, da Maçonaria e de mais uma dúzia de organizações mais ou menos secretas, que vão desde os Rosa-Cruz, os Lions Club até aos beneméritos do Rotary Club, todos agindo na sombra em prol dos seus interesses. Talvez esteja a ser injusto, afinal isso é única e exclusivamente a minha forma de pensar.

Porém, vejamos: quem julga o bom ou mau trabalho dos juízes e determina se estão ou não ao serviço de algo menos visível? Outros juízes? Não me façam rir. Isso sim, era importante, digo mesmo, fundamental, podermos saber de forma bem clara e transparente quem lhes avalia os procedimentos e atuações, para que assim a nossa fé na justiça fosse reposta.

Se o Governo tem uma Assembleia da República que o fiscaliza, se o Presidente da República está sujeito ao julgamento popular através do voto, quem supervisiona o poder judicial? Eles, em Portugal, são uma carreira pública, não vão a votos, mas são controlados por quem? Haverá alguém que saiba?

De vez em quando lá nos atiram com um juiz, para a arena dos média, para nos distrair. Mas quem são esses juízes? Os que já estão tão queimados, que já nem os estagiários se oferecem para ir tomar um cafezinho com eles, ou os que precisam de um apertão por estarem a tentar fugir aos poderes ocultos?

Quando um procurador nos ofende em tribunal, antes que o que quer que seja fique provado, porque é que o referido senhor não é devidamente repreendido pelo atentado ao meu bom nome que, até ao veredito final, deveria continuar a ser considerado como bom? A justiça deveria ter júri na grande maioria dos casos, principalmente nos mais graves, e prazos. Sempre prazos e responsabilidades por incumprimento desses prazos. Enfim, os desabafos, como diz uma amiga minha, não me levam a lugar algum e, ainda, segundo ela, não interessam a ninguém (para quem pudessem ou possam serem relevantes e a quem, verdadeiramente, se interessasse ou interesse por eles).”

Eu sei que tu entendes as minhas dúvidas existenciais, querida Berta. Aliás, tu e pouca gente mais. A maioria conforma-se com o que existe e escolhe nem pensar nestes assuntos. Por hoje despeço-me amigavelmente com um beijo, saudoso,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta: Carta Aberta a Carlos Cruz - Parte III

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Olá Berta,

Concluindo a minha narrativa dos últimos dois dias, segue-se agora a última parte da Carta Aberta que publiquei, em 2004, endereçada a Carlos Cruz. Incrivelmente, 17 anos depois, a saga deste homem continua por concluir. Foi com ele que <<nasceram>> em Portugal os mega juízes, os casos de justiça hiperbólica, os segredos de justiça incumprida e nunca penalizada, todavia, agora que Carlos Cruz já tem 77 anos de idade, agora que já sabemos que existe corrupção e ao mais alto nível na justiça portuguesa, não seria a altura de julgarem este senhor, com a inclusão, devida e mais do que justa, de todas as provas? Porém, para já, voltemos à minha carta aberta.

Carta Aberta a Carlos Cruz (Parte III - 2004)

“Mas meus senhores e minhas senhoras, o mais grave disto tudo é: e se o Sr. Carlos Cruz for inocente? Aí a coisa fica feia, mesmo muito feia, porque não há valor monetário que pague uma injustiça deste calibre. Em quanto se indemniza um cidadão, com a imagem que a pessoa em causa tinha no país, pelos danos causados? Seria a falência do Estado Português! Porque a indemnização teria que ser realmente exemplar. Mas seria também a falência de todo o sistema judicial português, porque não serve, nem vale, dizer que foi um erro e lavar as mãos. Alguém teria que sofrer as devidas consequências e ser responsabilizado.

Às vezes falamos da prepotência americana no mundo, mas um americano só pode estar preso sem provas 48 horas... quarenta e oito horas, qual dois anos e meio qual carapuça... Que raio de democracia existe no meu país onde o Ministério das Finanças aliado ao da Justiça nos recorda os tempos da Velha Senhora e os métodos e perseguições tão familiares a organizações como a Pide-DGS. Já viram que existe de novo medo no ar? Não notaram? As pessoas calam-se nos empregos para não serem despedidas. São tratadas pelos bancos que lhes deram todo o crédito do universo, como limões a quem se tem de espremer até ao último cêntimo, e o que os bancos não apanham, apanha o Fisco. Mas fazer barulho, revoltarmo-nos, nem pensar, que o sistema judicial está como todos sabemos.

Em resumo, Carlos Cruz, Senhor Carlos Cruz, eu acho que o Senhor não tem qualquer hipótese de sair inocente deste processo, mesmo que seja efetivamente inocente. A sua inocência remeteria a nossa democracia, o estado e o poder judicial para o Banco dos Réus e eles não vão permitir tal situação. Resigne-se! À partida será culpado: tenha ou não praticado qualquer crime, porque o inverso seria catastrófico. Se lhe serve de consolo, existe um português, que sem nunca o ter sequer conhecido pessoalmente e apertado a mão, acredita em si!”

Agora, em 2020, no ano da pandemia, já é tempo de acabar com tanta hipocrisia. Não tardará muito fará um ano que o último recurso de Carlos Cruz entrou na justiça. Estamos em tempo de desconfinamento, pois bem, julguem-no outra vez, como ele vos solicitou, agreguem ao processo, finalmente, todas as provas. Se, no final, o acusarem que assim seja, mas é preciso que seja feita justiça de uma vez por todas. Ou será que só um tal de Paulo Pedroso, o protegido do atual Presidente da nossa Assembleia da República, o socialista Ferro Rodrigues e o Herman José é que conseguiram sair limpos da acusação do então Procurador Geral da República, o senhor José Souto Moura? Como foi que cada um deles conseguiu provar a sua inocência, alguém sabe? Muitos devem, por certo, sabê-lo. Até consigo acreditar que ambos estariam realmente inocentes e que lhes foi permitido apresentar todas as provas disso perante a justiça. Mas, então, porque não se procede do mesmo modo com Carlos Cruz?

Não consigo entender. Mas, um caso que se iniciou em 2002, com acusações nominais feitas em 2003, já está em tempo de terminar. A justiça tem de prevalecer. Que se julgue de novo Carlos Cruz com inclusão, porque tal é imperioso, de todas as provas.

Então, minha querida Berta, fui demasiado teimoso da defesa da minha dama chamada Justiça? Espero que não e que a história te tenha agradado. É tempo de acabar com os bodes expiatórios, é tempo de fazer renascer a justiça em Portugal, para bem do Povo Lusitano. Nós merecemos isso hoje e sempre. Recebe um beijo deste teu amigo, em despedida até outra carta,

Gil Saraiva

Carteira Profissional de Jornalista: 5003 A

 

 

Carta à Berta: Carta Aberta a Carlos Cruz - Parte II

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Olá Berta,

Continuando a minha narrativa de ontem, segue-se agora a segunda parte da Carta Aberta que publiquei, em 2004, dirigida a Carlos Cruz. Amanhã enviarei o final dessa carta, uma vez que a primeira te agradou. Sabes, se na altura em que tudo isto começou tivessem acusado Carlos Cruz de uso, consumo e talvez até abuso de drogas elícitas, eu não ficaria espantado. Como te disse eu não o conheço pessoalmente, mas o ritmo de trabalho e a frescura que ele permanentemente conseguia apresentar sempre me pareceram para além das normais capacidades de um homem comum. Porém, embora houvesse quem o afirmasse, nunca falei com ninguém, dentro do meio, que me dissesse na cara que o tinha testemunhado. Portanto, tudo poderia até ser apenas mais um boato e nada mais do que isso.

Aliás, agora então, nada disso importa. O que me parece relevante é continuar a transmitir-te a carta que escrevi na altura e na qual me continuo a rever.

Carta Aberta a Carlos Cruz (Parte II - 2004)

“Quando penso que o Senhor Carlos Cruz não era ligado aos <<Laranjas>> então no poder; quando penso que nenhum dos outros implicados no caso hasteava a bandeira dos <<citrinos>> (a fugir para o amarelo cínico de uns populistas que de populismo apenas usavam o nome); quando penso que a bronca estoirou precisamente quando a coligação governamental parecia entrar em colapso, por falta de apoio dos portugueses; quando penso que apenas elementos da oposição, nem que fosse em termos de simpatia ou tendência partidária, ou os a ela ligados, foram envolvidos no escândalo; quando penso que um mês depois já os laranjinhas tinham recuperado mais de uma dezena de pontos nas sondagens; quando penso nas escutas telefónicas feitas à sombra de uma justiça cega e de base salazarista caduca e totalitária, a tudo e todos os que fossem ou apoiassem os socialistas; quando penso num país onde um juiz só pode ser julgado e condenado por uma dúzia de seus pares cooperativos e cooperativistas, sendo por isso esse magistrado eleito Português de Primeira Classe face aos outros filhos Lusos; quando penso... (e que raio, eu nem sou dos que acreditam em coincidências), cheira-me a esturro, a jogada bem montada, a cabala, a conjura desenvolvida ao mais alto nível.

Se o Sr. Carlos Cruz fosse culpado, já devia ter sido julgado e condenado há meses. (E não serve de nada afirmarem que ele não era o único nesta situação, que a coisa estava assim montada, que estas investigações demoram, que havia muitas pessoas nas mesmas circunstâncias... etc. Se havia não deveria haver! Nem um único!).

Correndo até o risco da fuga do suspeito, a justiça não pode ter o direito de prender por meses a fio um presumível qualquer coisa, sem o poder provar num muito curto espaço de tempo. E não pode fazê-lo porque isso é injusto esteja o conceito expresso ou não na lei nacional. É imoral, não respeita a ética das instituições e a Lei portuguesa ainda tem uma base de decoro, penso eu, ou deveria ter.”

Bem, amanhã termino esta carta, contudo, não posso deixar de referir que agir e condenar sem que todas as provas possam entrar num determinado processo, com desculpas processuais ou outras, não mostra o melhor e o mais isento lado da justiça. Tudo me pareceu passar-se como se um qualquer tipo de sociedade secreta, tipo Maçonaria, Opus Dei ou outros do mesmo calibre estivessem a puxar cordelinhos usando o Senhor Comunicação como bode expiatório.

Não estou a afirmar que foi isso que aconteceu, mas foi o que eu, na altura com 24 anos de jornalismo e quase 9 de carteira profissional, pensei na época e, se queres saber, minha querida amiga, nem nisso fui o único ou original. Porém, infelizmente, todos se calaram, não fosse o prato derramar para o lado deles. Afinal, é preciso ter em conta que telhados de vidro existem em todo o lado. Despede-se, com um beijo franco e muita amizade, este rapaz aqui, o mesmo de sempre,

Gil Saraiva

 

Carta à Berta: Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 7) O Juiz

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Olá Berta,

Não sei se tens acompanhado, minha amiga, a discussão sobre a eutanásia. Terminar com a vida de alguém é efetivamente uma coisa séria. Mas nós vivemos em democracia e demos o poder de legislar, nas urnas, aos nossos representantes.

Os deputados, por muito que alguns lhes invejem a vida, mesmo sendo obrigados a votar, até contra a sua própria vontade, por disciplina partidária, por mais que se descubram desonestos no seu seio, são quem escolhemos, dentro das regras democráticas que traçámos para o país. São eles que regulam e criam as normas legislativas do país e foi precisamente para essa tarefa que os elegemos.

É a eles, que incumbe a responsabilidade de decidir o que fazer quanto a cada tema, de acordo com as maiorias parlamentares que arranjem, para cada um dos assuntos em causa, durante os anos que ali estão em funções. Portanto, terão de ser eles a votar a eutanásia e a definir as regras da sua execução, quer isso signifique a aprovação ou o chumbo da lei, apenas eles e mais ninguém.

Não me parece justo é ir pôr em causa a vida ou a morte de alguém, baseada na minha opinião, cuja área principal é o jornalismo, na opinião da Igreja Católica, que impõe o celibato aos padres e descrimina as mulheres, ou do meu eletricista que só quer saber de curto-circuitos, de minis e de futebol.

Votar a adoção e legalização da eutanásia por referendo é que seria profundamente errado. Se não confiamos no sistema temos, pelo voto, a possibilidade de o mudar. Mas não me peçam a mim para tomar o lugar que não é o meu e ir votar em algo sobre o qual até sei alguma coisa, embora tendo a consciência de não saber o bastante para aceitar essa responsabilidade.

Desculpa o aparte, mas o assunto anda na ordem do dia e eu sinto-me incomodado com algumas das coisas que vou ouvindo e lendo. Quanto à temática da nossa carta, sobre quadras sujeitas a tema, escolheste-me para hoje algo ligado à justiça. Por via das dúvidas fiz 3 quadras.

 

Série: Quadras Populares Sujeitas a Tema - 7) O Juiz.

 

O Juiz I

 

Se fores, em tribunal,

Injustamente acusado,

O juiz que te fez mal

Devia acabar culpado.

 

O Juiz II

 

Condenar, sem ter certeza,

Perdoar, por preconceito,

São critérios de tristeza

De juízes com defeito.

 

O Juiz III

 

Decidir, sem ter razão,

Num juiz é mais que asneira…

Se uma luva é para a mão,

Não se usa na carteira.

 

Gil Saraiva

 

Com estas 3 respostas me despeço, recebe um beijo amigo deste que nunca te esquece,

Gil Saraiva

Carta à Berta: 2019 terminou com mais uma Vítima Feminina de Violência Doméstica

Pai mata Filha( no 36º assassinato de )violência

Olá Berta,

Sei que ainda esta manhã te escrevi uma carta, minha querida amiga, mas o que li hoje nas notícias, nos jornais online, não podia ficar por comentar. É deveras deprimente viver num país onde o tratamento de um assunto tão sério ainda não tem a devida atenção, por parte das autoridades nacionais e, principalmente, do lado dos poderes legislativos e judiciais.

Desta vez, pela trigésima sexta, em 2019, foi um pai de 68 anos que, alegadamente, matou por negligência doméstica, uma filha de 43 anos e feriu o genro, enquanto limpava uma caçadeira.

Estava o ano quase a terminar e o patriarca queria celebrar a entrada do novo ano a tiros de arma de caça. A negligência, verdadeira ou não, causando uma morte e um ferido, não deixa de ser violência doméstica. Afinal, esta situação não pode ser tratada, certamente, como uma comemoração familiar, lá porque a arma iria, supostamente, servir para festejar a chegada do ano novo.

Ainda por cima porque, a ser verdade que a arma se disparou por descuido, não faz sentido que o homem se tivesse posto em fuga, tendo no seu encalço a GNR local e depois a polícia judiciária. Todavia, mesmo que essa tese, defendida por outros familiares, prove ser a que realmente aconteceu, o descuido não foge do âmbito violento, ocorrido em casa.

O que me leva a concluir que os factos nunca deixarão de ser, por isso, um crime de homicídio doméstico, seja ele negligente ou não.

No meu entender, embora não seja um especialista da matéria, o trigésimo sexto de violência doméstica que provocou a morte de um familiar, em 2019, neste caso em sede de um acampamento permanente onde toda a família residia.

A morte ocorreu na zona de Ovar, a poucas horas da mudança de ano e pintou de negro a tragédia de um ano em que 3 vezes por mês, alguém é morto no seio do lar por um familiar. Ora, quando a grande maioria das vítimas são mulheres, é caso para nos levar a pensar que soluções urgentes e imediatas devem ser tomadas, porque é preciso pôr termo a esta carnificina sem sentido algum.

Se em 2016 os homicídios registados no âmbito familiar foram 4, mais um que os registados em 2015 e 2014, em 2017 esses números dispararam, passando para 20, em 2018 chegaram aos 28 e por fim em 2019, os homicídios por violência fecharam o ano nos 36, ou seja, 9 vezes mais do que há 3 anos atrás.

Quando uma taxa qualquer sobe 900 por cento em apenas 3 anos, seja ela que taxa for, algo não vai bem no reino ou na república. Mais grave ainda é quando essa percentagem refere a subida de um crime perfeitamente identificado.

Será que sou só eu que considera um absurdo a subida de 1200 por cento dos crimes de homicídio, no âmbito da violência doméstica, em 5 anos? É que saltar de 3 mortes, neste setor, em 2014 e 2015 para 36 em 2019 é precisamente o que aconteceu. Uma vergonha sem nomenclatura digna para a descrever.

Nos últimos 29 anos foram registados em Portugal quase 400 mil crimes de violência doméstica, com um crescimento anual médio superior a 19 por cento ao ano. Um facto, de tal forma assustador, que ameaça tornar este país, dito de brandos costumes, numa verdadeira casa (ou república, melhor dizendo) de horrores. Basta pensar que se estes casos fossem pessoas, e se essas pessoas constituíssem um partido, que fossem a votos nas legislativas portuguesas, ganhariam 10 lugares no atual parlamento.

No cerne de toda esta problemática estão, sem qualquer margem para dúvidas, digo eu que alegadamente me acho cheio de razão, minha querida, as sentenças amigáveis e permissivas dos juízes deste país. Quanto a mim, o conhecimento por parte da população deste tipo de julgamentos, das respetivas penas e do péssimo tratamento dos juízes perante as vítimas, gerou uma espécie de república das bananas, no que ao aparente desculpar dos culpados diz respeito, ou seja, toda o mundo tem a sensação de que existe uma impunidade generalizada no setor. É como se o próprio Estado estivesse de acordo com este status quo.

Ora, amiga Berta, isto é de todo inadmissível. Se eu tivesse 16 anos e Greta fosse o meu nome, formava um movimento contra o femicídio. Sim, porque para além das 31 mulheres mortas (dos 36 homicídios de violência doméstica), este ano que passou, houve outras tantas que escaparam a este fim, tendo os presumíveis culpados sido acusados de tentativa de homicídio.

Espero sinceramente que este 2020 seja o ano da mudança. É preciso parar, estancar e acabar de vez com este flagelo que assombra a nossa sociedade.

Despeço-me saudoso com mais um beijo de esperança, deste teu amigo de todos os dias,

Gil Saraiva

Carta à Berta: "Os Outros - Tragédia em 4 atos" Parte II - "Migrantes depois de Refugiados"

II Migrantes depois de Refugiados.jpg

Olá Berta,

Como está a ser o teu primeiro dia de 2020? Espero que tudo esteja a correr pelo melhor. A felicidade é a coisa mais importante. Nem importa de onde vem, importa é que se instale, se sinta em casa e que nos acompanhe sempre, em todas as ocasiões. Os dias de folga, são os tais menos bons, mas é normal, até a felicidade precisa de repouso,

Segue, a segunda parte do poema que comecei ontem, ainda no ano passado. Espero que te agrade:

 

"OS OUTROS - TRAGÉDIA EM QUATRO ATOS"

 

                           II

" MIGRANTES DEPOIS DE REFUGIADOS"

 

Entre bombas, escombros, sangue e tripas,

Foge quem pode porque a guerra é cega,

Não vê mulheres nem crianças,

Não vê nada nem ninguém.

 

A música virou ruído e o ruído trovão;

O povo não quer Bashar al-Assad nem o Estado Islâmico,

Quer uma Síria de paz dizem os sírios,

Quer um Estado Curdo gritam os oprimidos,

Mas o Estado é surdo seja islâmico ou não.

 

A guerra veste de santa, clama justiça

E todos se dizem senhores da razão e da verdade,

Mas ninguém dá ouvidos a ninguém;

Morrem civis aos milhares, gente de carne e osso,

Sem limite de idade, de género, de etnia ou de religião,

Morrem porque estavam ali, no local errado,

Na hora errada, apenas e mais nada.

 

Perante a atrocidade dá-se a debandada

E o povo foge, procura refúgio

Nos países mais perto, mas é enlatado

Em campos de fome e aperto,

Sem condições são refugiados que parecem presos,

Tratados a monte na beira da vida…

 

E honrosas exceções não fazem a regra,

Nem estancam a ferida aberta pela guerra.

 

Só de Kobane, de Ain al-Arab, da fonte dos árabes,

Centenas, milhares, quase meio milhão,

Fugiu, deixou tudo, que a fonte secou,

Procurando o direito a não morrer,

Sem explicação ou sentido,

Com os filhos pela mão vazia de pão…

Chegados à Turquia, interesseira, vizinha,

São refugiados, amontoados, e serão tratados de qualquer maneira,

Sem dignidade, consideração ou sentimento …

E às portas da Europa, qual El Dourado,

Viraram migrantes, na busca de luz, de vida, de paz.

 

Pois é minha querida amiga. Infelizmente não é só no Curdistão que o fenómeno tem praça assente, mas em tanto lado. Não há sequer um fim à vista para esta tragédia humana, para este flagelo entre povos que apenas querem viver em paz.

Despeço-me com o costumeiro beijo, esperando que te continues a dar bem aí pelo Algarve. Desejo-te muita felicidade, este teu amigo de agora e sempre,

 

Gil Saraiva

 

Carta à Berta: A Bicha Justiceira Vence Novamente

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Olá Berta,

Não sei se já deste conta que o Natal se aproxima a passos largos. No Algarve é um pouco mais difícil, para quem vem de fora, dar pela chegada da quadra. Se fosses de frequentar os grandes centros comerciais ainda davas por ele, agora assim, não é tão evidente. Bem, não era, quando eu vivia aí pelo Sul. Hoje em dia até já pode ser de outra maneira.

Não sei se tens acompanhado “As Aventuras de uma Bicha Portuguesa”, peripécias que davam para pôr nome a um filme, do género do que acabei de dizer. Estou-me a referir ao icónico, pela negativa, José Castelo Branco.

Depois de ter declarado publicamente no verão passado que ia lançar a sua candidatura a Primeiro-Ministro, de ter feito um alarido público anunciando já ter recolhido 12 mil e quinhentas assinaturas, para a formação do seu partido “MJP”, ou seja, o “Movimento de Justiça Portuguesa”, acabou por se retirar prematuramente, alegadamente devido à saúde da sua Betty Grafstein, que se teria agravado ao ponto de ir ser operada no final de agosto passado, o que o obrigava a regressar, fora do previsto, rapidamente aos Estados Unidos.

A senhora de 92 anos foi realmente operada, aos olhos, e, 3 dias depois, já Castelo Branco a exibia num dos aparelhos do ginásio particular do apartamento desta em Nova Iorque.

Ficam no ar as dúvidas se realmente as 12 mil e quinhentas assinaturas existiam. Mas o amigo José, não é bicha que se preocupe com detalhes. Aliás, ele próprio se afirmou como tal, o que justifica eu estar a usar o mesmo termo. Foi precisamente quando em agosto anunciou a sua prematura saída da política:

” Vou continuar sempre a ser a bicha justiceiraEu não minto nem brinco em serviço”. Estas são palavras do próprio, que escolhe com orgulho, a denominação de bicha para se autoidentificar. Podes achar algo de incompreensível, mas tudo neste espécime tem esse tipo de caraterísticas de difícil entendimento.

Se pensarmos na personagem como pretenso líder da justiça portuguesa a situação ainda é mais confusa. José Castelo Branco, em 2003, foi detido no Aeroporto de Lisboa por contrabando de mais de 2 milhões de euros em joias, acabando o caso por ser resolvido pelos advogados de Betty Grafstein, com pagamento de pesadas coimas. Mais tarde, em 2013, foi condenado a 9 meses de prisão, com pena suspensa, a pedir desculpas publicamente e ao pagamento de mil euros por ter injuriado e dado uma cabeçada ao produtor Daniel Martins. Depois, em 2016, foi condenado por injurias e maus tratos a uma empregada doméstica, com 3 meses e 16 dias de prisão efetiva ou, em alternativa, ao pagamento de uma indeminização de 6 mil e 400 euros, que acabou por pagar.

Finalmente, esta quarta-feira, Castelo Branco foi novamente preso no Aeroporto de Lisboa, antes de partir para Nova Iorque, acusado de roubar um perfume da marca Dior. No presente momento aguarda julgamento, com termo de identidade e residência, sem autorização para sair do país, por determinação judicial.

Ora, perante um cenário destes, faz realmente sentido que uma pessoa com este perfil, casado com uma mulher 36 anos mais velha, proprietário de uma galeria de arte em Nova Iorque, de uma vivenda em Sintra e de um apartamento em Lisboa, que vive, não se sabe bem do quê, se excluirmos a fortuna da esposa, resolva criar um partido denominado “Movimento de Justiça Portuguesa”.

Minha querida Berta, eu acho que o Termo de Identidade e Residência, agora pendente sobre esta pessoa natural de Moçambique, e que ostenta passaporte português, tem, no fundo, a ver apenas com o facto da própria justiça o querer mais perto de si.

Como ainda não te enviei esta carta e já há novidades sobre a bicha rica, achei por bem um pequeno “update”.  José Castelo Branco conseguiu “provar”, ao que parece, que o perfume lhe caiu para dentro da carteira. Foram anuladas todas as acusações e já seguiu hoje para Nova Iorque. Como diria a bicha: “Money talks”. Mais absurdo só naquele antigo jornal… “O Incrível”.

Despeço-me com um beijo, sempre cheio de saudades, este teu amigo eterno,

Gil Saraiva

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