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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta nº. 651: Nas Costas de António Costa

Berta 651.jpg Olá Berta,

António Costa pediu ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que aceitasse a sua demissão do cargo de Primeiro-Ministro do Governo de Portugal. Isto passou-se ontem, no dia 7 de novembro de 2023. Minha cara, o homem que durante 8 anos aguentou casos e casinhos, que sobreviveu à queda de uma vintena de ministros e secretários de estado, que aguentou estoicamente uma imprensa dominada pelo lóbi da direita no país, cai, por vontade própria, quando a sua seriedade é posta em causa com a abertura de um inquérito entregue pela Procuradora Geral da República ao Supremo Tribunal de Justiça.

Ao contrário do que ouvi ontem ser dito por vários líderes da oposição e por muito comentador à esquerda, mas principalmente à direita, cara amiga, Costa cai, mas cai de pé. O poder judicial leva à queda de um Primeiro-Ministro que detinha uma maioria absoluta em Portugal, com um simples parágrafo vago, onde refere que Costa é citado no caso do lítio e do hidrogénio verde, onde foram constituídos 5 arguidos, até ao momento, entre os quais, o Ministro das Infraestruturas, João Galamba.

O julgamento e a condenação de Costa e dos outros intervenientes no caso começou ontem a ser julgado e condenado na praça pública e é por isso mesmo que, desta vez, a situação no final, amiguinha, não pode aparecer como sendo um grande monte de nada.

Um pasquim refere que, por exemplo, João Galamba foi comprado com jantares pagos por investidores, como se não fosse normal as reuniões entre investidores e representantes do Estado decorrerem às refeições e estas serem pagas por quem solicita a própria reunião. Quando o Estado, minha querida, solicita uma reunião é o Estado quem paga os comes e bebes, quando são os privados, são eles quem, no final, arcam com a despesa, sempre que as reuniões têm almoço ou jantar pelo meio. É esta a forma não normativa, mas há muito instalada em Portugal, que vem de muito antes ainda dos governos de Cavaco Silva.

Toda a situação versa possíveis favorecimentos por parte dos representantes do Estado a um grupo de investidores interessados em desenvolver os negócios do lítio e do hidrogénio verde em Portugal. No nosso país, caríssima, inversamente à maioria dos estados ocidentais, a criação de lóbis é ilegal, por isso, existe uma linha muito ténue entre o que é aceitável alguém fazer ou tentar fazer para tentar influenciar um Governo a entregar-lhe um qualquer negócio e a prática de atos de corrupção ativa ou passiva.

Pelo que li, o Ministério Público e a Procuradoria Geral da República consideram, perante os factos apurados durante a investigação de quatro anos já efetuada, que há matéria suficiente para que seja considerada a possibilidade dessa mesma linha vermelha ter sido ultrapassada. Podendo, portanto, Bertinha, haver lugar a situações efetivas de corrupção.

Espero sinceramente que assim seja. Quero acreditar que em julgamento ficará provado o favorecimento ilícito por parte do Estado nos negócios apontados às empresas envolvidas. Mais ainda, simpática confidente, considero fundamental que a justiça prove igualmente o envolvimento de António Costa em toda esta trapalhada.

Se assim for, eu, enquanto socialista, espero mão pesada do poder judicial para os prevaricadores. Numa altura destas, a terminarmos o primeiro quartel do século XXI, não pode haver contemplações para quem se deixa comprar, sejam eles do meu partido ou não. Sinceramente, amiga, isso interessa-me muito pouco. Se houver culpa provada, tem de haver uma pena compatível a ser aplicada, doa a quem doer.

Dito isto, não posso deixar de estranhar o “timing” escolhido para agir no final de quatro anos de investigação, Berta. Não podia o processo ter sido desencadeado a 29 de novembro deste ano? O poder judicial mediu o prejuízo que iria causar ao país ao agir a poucos dias da aprovação final do Orçamento do Estado? Saberão estes senhores as consequências dos atos que praticaram ao antecipar o caso em vez de aguardarem pouco mais de 15 dias?

O certo é que, minha fiel amiga, é que interromperam a negociação com os médicos que estava em fase final de acordo, deixaram o SNS mergulhado num caos, puseram em risco os aumentos das pensões e reformas, da descida do IRS, do aumento dos salários de toda uma nação, apenas porque sim ou era realmente imperativo agir agora e não 15 dias depois?

A suspeição do “timing” da justiça levanta uma lebre de possíveis interesses ocultos por parte do poder judicial. Porque raio não queriam eles que fosse aprovado e votado o Orçamento de Estado para 2024? Quem beneficia com isso? Poderá existir, amiguinha, alguma agenda oculta que todos nós desconhecemos até ao momento?

Espero bem que nenhuma destas dúvidas faça sentido. Espero igualmente que fique claro que a justiça não podia mesmo ter esperado os 15 dias pela aprovação do Orçamento do Estado para 2024. Espero que não existam quaisquer interesses ocultos (políticos, partidários ou de outro nível) a fervilhar nas catacumbas do nosso poder judicial, porque isso, a ser verdade, Berta, seria bem mais grave do que o próprio caso em si. Seria mesmo pôr em risco a própria democracia em Portugal a poucos meses desta fazer 50 anos desde a sua implementação.

A Procuradoria Geral da República tem o dever de assentar a sua ação nos valores democráticos que nos regem. É imperativo que, num futuro muito próximo, fique provada a envolvência de António Costa em todo o processo. O Primeiro-Ministro deu as costas para suportar o peso das acusações e suspeitas em que foi envolvido. Ora, Portugal não é a Hungria, a Turquia ou Israel onde os valores democráticos são postos em causa pelo envolvimento político da justiça nos corredores da democracia. O Estado de direito não pode ser debilitado por quem devia defendê-lo a todo o custo. Enfim, amiga Berta, deixo-te com estas minhas preocupações. Um beijo, deste teu amigo de sempre,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta nº. 650: Falando de João Galamba

Berta 650 (1).jpgOlá Berta,

Não sei se te recordas, minha cara, que eu prometi falar-te do Ministro das Infraestruturas, João Galamba, na altura em que todos pediam que António Costa o corresse do Governo. Disse que não era o momento naquele instante, mas mais tarde, e que quando achasse que a conjuntura era mais oportuna, escreveria a minha opinião. Pois bem, a altura pode não ser ainda a ideal, mas já dá para explicar o que penso sobre esse assunto sem que gente, que nem me lê, me venha insultar sem motivo. De qualquer modo, para evitar processos legais, tudo o que eu escrever nesta carta fica, desde já, enquadrado no âmbito do alegadamente e não passa senão da minha opinião sobre o assunto.

Em primeiro lugar, amiguinha, devo esclarecer que conheço João Galamba pessoalmente, mas pouco. Falámos uma vez há sete anos e tal, a quando da primeira campanha de Costa para eleições legislativas. Conforme sabes eu sou do PS, quer o partido ou o seu governo estejam na moda ou não. Não é uma coisa nova, começou mais ou menos depois de abril de 74 e filiei-me, por fim, há 35 anos atrás.

Mas, minha querida, uma coisa é ser do PS e outra, bem diferente, é ter opinião própria, que nem sempre é coincidente com as ações e posições do partido ou do Governo dele proveniente. O meu sentido crítico não morre só porque sou socialista. Com efeito, conforme considero ser normal, há ocasiões em que a minha posição é mais crítica do que a da própria oposição e das opiniões manifestadas pelos representantes de outros partidos. É a vida.

Feita esta reflecção, importa dizer que sempre estive convencido que António Costa não demitiria João Galamba, nem que a vaca tossisse. Na altura todos achavam que isso ia acontecer e fui gozado até por elementos do próprio Partido Socialista. Não sei se foi por sorte, minha amiga, mas o tempo deu-me razão. É que Galamba não era um acólito de Pedro Nuno Santos, como a comunicação social apregoava, nem nunca foi. João Galamba sempre defendeu e foi fiel a António Costa e a mais ninguém.

Para além disso, Galamba, não se importa nada de servir de escudo a Costa. Foi graças a este quase jovem Secretário de Estado e depois Ministro, que a exploração de lítio arrancou em Portugal, quando todos pensavam que esta matéria prima ia seguir o mesmo caminho do petróleo e do gás natural, sendo posta de lado a sua exploração. Mas Galamba, cara menina, fez mais, exigindo aos que explorassem o lítio que este fosse refinado e transformado em baterias no país, tornando a sua comercialização num produto de grande valor acrescentado, ou seja, um produto de ciclo completo dentro do território nacional. Um feito notável a que pouca gente parece dar a devida valorização.

Com a TAP, não foi Galamba quem atuou no processo da indemnização dos 500 mil euros à administradora. Foi Pedro Nuno Santos. O que Galamba fez, isso sim, minha querida, foi despedir um assessor do Ministério das Infraestruturas que, após a saída de Nuno Santos, servia de moço de recados do ex-ministro e lhe continuava a facultar cópias dos processos que este anteriormente acompanhava, sem autorização expressa de ninguém no Governo.

Das mentiras atribuídas a João Galamba, Bertinha, nenhuma ficou provada, mesmo no complexo jogo de horas e minutos escarafunchados até à exaustão pela Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a TAP. No final, a Comissão Parlamentar proferiu um relatório para lamentar porque, mesmo sendo este efetuado por uma relatora socialista, não tinha como poder ser criticado pela oposição, sob pena de fugir do âmbito da própria comissão.

Ainda sobre a gestão da TAP, neste momento, tudo aponta que quem vai mesmo sair por cima, para além dos próprios portugueses, seja João Galamba e, por tabela, António Costa. Porém, amiguinha, ainda há dossiers Galamba com o destino por desvendar, o gasoduto até França, o alargamento do Porto de Sines, o Hidrogénio Verde, os combóis Rápidos até Madrid e Vigo, entre outros.

Galamba está pronto para continuar a ser o escudo de António Costa e, se algo correr mal, numa destas pastas, estou certo que será ele a assumir o ónus, sem beliscar Costa e isto incluindo a parte substancial da aplicação do PRR que é da sua competência.

Quer isto dizer, Berta, que, até 2026, João Galamba só sai se tiver de dar o corpo às balas por António Costa e mesmo assim, mesmo assim, duvido que o Primeiro-Ministro o deixe cair. É que a fidelidade tem um grande valor no mundo da política e não é compatível com falsas promessas, traições ou desamparos. Nada do que eu disse impede que a grande maioria dos portugueses deteste João Galamba, a comunicação social tratou de assegurar que assim fosse, mas isso não tem nada a ver com o que atrás escrevi. Por hoje é tudo, despeço-me com um beijo de saudade,

Gil Saraiva

 

 

 

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