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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta nº. 280: Livro - O diário Secreto do Senhor da Bruma - II - Abordagens Sobre a Burrice (continuação - II - 5)

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Olá Berta,

São muitos os ditos sobre a burrice e os burros nas expressões utilizadas na língua de Camões. Cada um deles, contudo, parece querer ajudar os asnos humanoides a seguirem novos caminhos e a abandonarem a carneirada acéfala que segue modas e campanhas publicitárias, líderes populistas e outros chupistas.

Não se trata de defender nenhuma moral oculta, mas sim, de combater a burrice generalizada que se espalha mais rapidamente que vírus em dia de festa clandestina. Um alastramento ventoso por entre as multidões de seres que julgam que o pensamento e o livre arbítrio, são termos bonitos para constarem na Wikipédia ou em livros, nunca lidos, que lhes enfeitam as prateleiras das salas em suas casas bonitas e ocas, porém na moda. Mas é tempo de dar continuidade ao Diário Secreto do Senhor da Bruma, ainda sob a alçada do segundo capítulo:

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II

Abordagens sobre a Burrice (continuação - II - 5)

Março, dia 4:

Analisemos agora o provérbio “a ferramenta é que ajuda, não é o pisco em cima da burra”. Com efeito, sejam os alforges colocados no animal, para que ele transporte o que necessitamos, os arreios e demais preparos, para que puxe uma carroça ou, talvez, um arado para que lavre a terra, sejam outros exemplos do mesmo género, são tudo coisas, instrumentos ou ferramentas que possibilitam que o burro cumpra o seu propósito. Já o pássaro em cima do lombo ou perto das orelhas do animal, que dedicadamente vai devorando carraças e carrapatos, apenas o alivia a ele e pouco proveito direto representa para o dono do bicho.

Março, dia 5:

Aliás, na perspetiva do burro, o pisco, embora sendo um pássaro de tamanho diminuto, é muito mais importante do que todas as ferramentas que o seu proprietário possa arranjar para que ele cumpra uma tarefa. Mais uma vez o burro, ao representar a classe trabalhadora, serve para ilustrar a consideração que proprietários, chefes e empresários costumavam ter sobre quem para eles trabalhava, ou seja, nenhuma ou, praticamente, nenhuma. Se o pisco representa o cuidador personalizado importa mantê-lo e premiá-lo.

Ao fim e ao cabo, a ferramenta não ajuda o burro, inversamente prejudica-o, obriga-o mesmo a trabalhar sem o querer fazer e ao melhorar-lhe a produtividade também aumenta a sua exploração por parte do proprietário, patrão ou superior hierárquico. Eu cá sou pela liberdade dos burros e por um sistema de saúde digno. Vivam os piscos.

Março, dia 6:

Há que dar, contudo, valor ao povo que num simples provérbio punha a nu a injustiça do tratamento que recebia, ficando sempre remetido à categoria de burro, mesmo nunca o tendo sido. É por estas e por outras que depois, a dada altura, o copo deixa de encher, para, na mais pequena gota extravasar. É assim que surgem os dias das revoluções. Muitas vezes, o burro não é tão burro como a conta que dele faz o seu dono. Coisas da vida. Viva o 25 de abril. Viva a revolução. Vivam os asnos.

Março, dia 7:

Já o ditado “há falta de um grito, morre um burro no atoleiro” tem outro intuito. Com efeito, o zurrar destes animais não atinge os decibéis necessários para servir de alarme. O provérbio assiste na explicação que grandes tragédias acontecem pela falta de precaução ou medidas simples de segurança. Ora, fala-se na morte do jerico, e não de outro animal, para dizer que apenas um idiota não se previne e protege devidamente. Se a pessoa é burra e não são os seus pedidos de socorro que a podem ajudar numa situação de perigo, então, o local, o transporte, a casa ou o posto de trabalho têm de estar apetrechados com os meios preventivos necessários para que uma situação de perigo seja evitada.

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Conforme podes observar, pela foto que hoje ilustra a tua carta, o asno encontra-se pequenino, em segundo plano numa prateleira, quase abandonado à sua sorte, enquanto eu apareço armado em Moisés, saído de um banho de vitamina D da varanda das traseiras, onde o Sol se mantém firme e quente entre as 2 e as 7 da tarde, porque isto de viver confinado não me pode impedir de tratar devidamente da saúde.

Como sabes, depois dos meus AVC de 2019, regressou o ataque da vesícula em 2020, após 3 anos de pausa, penalizada por não me ser possível uma operação, relegada para uma suspensão quase permanente, enquanto o coronavírus se passeia alegremente pelo nosso Portugal e brinca às escondidas com a ilustre Direção Geral de Saúde e o respetivo Ministério da Saúde.

Um Ministério cheio de estrelas e de gente que gosta de se ver na televisão, seja Marta Temido, Graça Freitas ou aquela alegada baronesa das olheiras permanentes, vinda de Alte, do Algarve, uma tal de Secretária de Estado Adjunta e da Saúde, Jamila Madeira, filha do grande barão algarvio do PS, Dom Luís Filipe Madeira, que, embora tenha formação em gestão e mestrado em finanças, fala de saúde com a pompa e circunstância com que os burros olham para os palácios, ao fim do dia, quando a noite chega, para que a ignorância não salte à vista.

Mas chega de choramingar o meu estado de saúde. É o que é e, se tudo correr sem muitos mais incidentes, no final, espero que essa saga termine positivamente. Por hoje, este teu grande amigo, despede-se de ti, querida Berta, enviando um fino e requintado beijo postal, pois que através destas cartas nos comunicamos. Conforme sabes, estou sempre ao dispor para o que necessário for,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta nº. 276: Livro - O diário Secreto do Senhor da Bruma - Abordagens Sobre a Burrice - II - 1

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Olá Berta,

Depois do intervalo, na carta de ontem, regresso hoje ao Diário Secreto do Senhor da Bruma. Hoje para entrar numa temática um pouco sensível: a burrice. Sim porque se há coisa que não falta, pelo contrário abunda é gente burra neste nosso globo. Por incrível que possa parecer estes burros de cariz bem humano ocupam todo o planeta e falam, cada um em seu celeiro, todas as línguas conhecidas, pese embora o facto de cada um só falar a sua e pouco mais. Mas são efetivamente uma imensa maioria.

Atenção que ao escrever-te isto não estou a querer insultar ninguém. As pessoas são o que são, umas evoluem enquanto outras não, e, nem sempre, são culpadas da sua tendência flagrante para a asnice. Mas voltando aos jumentos, é hora de analisar o tema:

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II

 

Abordagens sobre a Burrice

(início - II - 1)

Fevereiro, dia 11:

Convém esclarecer, logo à partida, que ninguém é burro porque quer. Se a tendência gritante da humanidade para a asnice fosse uma opção, então ela já estaria extinta.

Nota: Não se deve ler de seguida o parágrafo da listagem que se segue no dia 12. Seria uma burrice. (aqui apenas pretendo deixar registado, para minhas futuras consultas, a lista quase exaustiva dos sinónimos que eu encontrei nas buscas efetuadas. Mais à frente tentarei fazer o mesmo usando, porém, os termos brasileiros).

Fevereiro, dia 12:

Sinónimos de burro, nominais ou figurativos na língua portuguesa:

Acéfalo, animal, asno, analfabeto, anta, apancadado, aparvalhado, asneirão, atónito, azêmola, babuíno, banana, bacoco, badana, beócio, besta, bestial, bobo, bom-serás, boquiaberto, boçal, bronco, borrego, bruto, burgesso, burrico, cabaça, cabeça-dura, cabeça-oca, cabeçudo, calino, cavalgadura, chochinho, choné, cretino, curto, débil mental, deficiente mental, desajeitado, disparatado, doudivanas, doido, energúmeno, enfadonho, entorpecido, estulto, estúpido, grosseiro, idiota, ignorante, imbecil, imperito, incapaz, inepto, ingénuo, insensato, jerico, jumento, lambão, lerdaço, limitado, lerdo, lérias, lorpa, lunático, manco, mentecapto, microcéfalo, molusco, néscio, obtuso, onagro, otário, pacóvio, palerma, pancrácio, papalvo, paralisado, patinho, pato, parvalhão, parvo, pascácio, paspalhão, patego, pateta, pedaço-de-asno, pequeno, perturbado, retardado, ridículo, rombo, rude, simplório, songo-mongo, sonso, sobreiro, tacanho, tanso, tapado, tantã, teimoso, toleirão, tolo, tonto, totó, toupeira, trouxa.

Fevereiro, dia 13:

Ninguém tem especial prazer em reconhecer que não passa de uma besta quadrada, de um verdadeiro asno, de um grande burro ou, simplesmente, de uma mula. Se pensarmos um pouco no assunto é normal. A burrice, seja qual for o seu grau, não só não dá currículo, como não ajuda nada no desenvolvimento pessoal e apenas se demonstra útil para aqueles que normalmente gostam de seguir a carneirada. Não se sabe a origem, mas é um facto que, todos os tipos de burros, têm um gosto especial pelos carneiros e seus rebanhos. Há quem defenda que os níveis intelectuais os aproximam mais do que as diferenças morfológicas os afastam. No entanto, não há certezas.

Fevereiro, dia 14:

Está, contudo, provado que a burrice não é uma mera condição hereditária. No final destes últimos anos do primeiro quartel do século XXI já sabemos, inclusivamente, que existem vários fatores externos ao individuo burro que contribuem sobremaneira para o seu desenvolvimento, disseminação e expansão exponencial. Os primeiros grandes contribuintes são, logo à partida, a sociedade e os países, com cada Estado a tentar convencer os seus cidadãos que as regras, leis e ordem do território são premissas inquestionáveis. O mesmo acontece com a religião, a filosofia, o associativismo e a política, só para abordar alguns dos gigantes.

Fevereiro, dia 15:

Todavia, o século passado juntou alguns ingredientes indispensáveis à massificação do idiota, quero dizer, do burro. Entre eles a rádio, a televisão, o cinema e todos os meios de comunicação do telefone aos telemóveis, até à internet e aos jogos eletrónicos. Depois somou-se-lhe a publicidade e a moda, e, já no nosso século, a globalização à séria, o capital desregulado, as redes sociais e a desinformação descarada. Um caldo perfeito para o mundo civilizado poder ser alarvemente invadido por gente burra.

Fevereiro, dia 16:

Estamos na era do asno moderno, mas que permanece em total negação da sua absoluta burrice. No final do segundo milénio era comum escutar provérbios sobre o assunto que sugeriam coisas do género: “À primeira cai qualquer, à segunda cai quem quer e à terceira só cai quem é burro”. Ora, esta fraseologia está totalmente obsoleta. O burro moderno cai logo à primeira e o mais espantoso, dizem alguns teóricos da burrice, é que muitos deles já nem caem, atiram-se.

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Mais uma vez não tenho remédio e já me estou a alongar na minha carta. Terás de reconhecer, amiga Berta, que a burrice é um tema fascinante. Contudo, amanhã também é dia. Despede-se este teu saudoso amigo, com um beijo, sempre ao dispor, caso seja necessário, e com um sorriso nos lábios

Gil Saraiva

 

 

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