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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta nº. 500: Portugal Está Mais Violento?

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Olá Berta,

Não sei se é de estar em casa em isolamento e devidamente confinado, se é de andar a ler mais notícias, mas é inegável que, desde março passado até hoje, tenho sentido que a criminalidade aumentou, ao que me parece, bastante. Ontem um sujeito, de máscara cirúrgica e boné, assaltou uma dependência bancária roubando mil duzentos e tal euros, em Vila Real. No mesmo dia um outro sujeito, em Borba, foi esfaqueado e estrangulado.

No sábado, um outro individuo foi apanhado a roubar equipamento hoteleiro de uma cozinha de um hotel encerrado. No domingo foi detida uma mulher suspeita de atear um fogo numa pensão na baixa de Coimbra, da qual resultou um morto. Isto que descrevi é apenas uma amostra pequena, referente a três dias, para não falar em violência doméstica ou de crimes de incumprimento do Estado de Emergência.

Podia arranjar bastantes mais, só destes três dias, mas apenas fui consultar as manchetes dos principais jornais entre sábado e segunda-feira. Para meu espanto, são todos crimes diferentes e se fosse ler um correio da manhã de fio a pavio encontraria certamente mais uma boa dúzia em um único dia e mais do que isso para os três dias aqui em causa nesta carta. O que achas disto, amiga Berta? Andará no ar algum concurso de como fazer mal ao próximo em tempos de pandemia?

Analisando as situações acho que está tudo a ficar maluco. Espero que o país consiga ser célere no combate ao coronavírus e que rapidamente voltemos a uma vida mais normal. Por agora, o que me vem à ideia é que as pessoas, com uma cabeça mais frágil, se estão a começar a passar. Gostava de saber se é só impressão minha ou se a criminalidade tem mesmo aumentado durante estes tempos pandémicos. Se vires alguma estatística sobre o assunto, avisa minha querida amiga. Pode ser? Por hoje não me alargo mais. Despeço-me com um cumprimento de muita saudade e com um beijo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta nº. 334: Não é em Campo de Ourique, mas não há duas sem três. Mais um Incêndio em Águas-.Furtadas

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Olá Berta,

Eu sei que tu não vais acreditar, amiga Berta, mas voltamos a ter mais uma coincidência em incêndios, em Lisboa, desta feita na Freguesia da Misericórdia, dos números 5 ao 15 da Rua das Gaivotas, a 1, 666 quilómetros (em linha reta) do primeiro fogo em Campo de Ourique. Pela Calçada da Estrela são 2100 metros de distância, a cerca de 9 minutos de carro da primeira ocorrência.

Desde sexta-feira esta é a terceira cobertura a arder, no espaço de 5 dias, num raio de 2 quilómetros, no coração da cidade. É verdade, todos os casos foram coberturas (mais propriamente águas-furtadas, num total de dez), em todos eles o corpo de Sapadores Bombeiros de Lisboa foi lesto a chegar ao local, todos os incêndios aconteceram do lado dos números ímpares da via, todos os três edifícios terminam em números ímpares, com especial incidência no 9, todos os prédios ficaram inabitáveis e todas as ocorrências aconteceram durante a tarde.

Desta vez a situação foi acompanhada por 60 bombeiros acrescidos em quase mais duas dezenas de operacionais e cerca de 16 viaturas. Situação muito semelhante também às 2 anteriores. Dos intervenientes no combate aos 3 fogos, apenas estiveram ausentes, os Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique. Porém, PSP, Polícia Municipal, Proteção Civil e o Corpo dos Sapadores Bombeiros de Lisboa, voltaram a marcar presença. Também a Câmara Municipal fez questão de acompanhar a situação.

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O Comandante dos Sapadores acompanhou de perto toda a situação, uma vez que se tratou de um caso ocorrido numa rua estreita e com muitas viaturas em serviço, a dar toda a assistência ao trabalho dos soldados da paz no local. Este é o mais complicado dos três incêndios dos últimos 5 dias em Lisboa, principalmente devido à exiguidade da rua e dos pinos colocados, para evitar estacionamentos selvagens, nos passeios estreitos. Aliás, são estas dificuldades que justificam que o fogo se tenha alastrado aos prédios contíguos em oposição aos fogos anteriores.

Ao todo arderam 6 águas-furtadas relativas aos edifícios dos números 5, 7, 9, 11, 13 e 15. Alguns dos prédios foram dados como inabitáveis, já no rescaldo da operação, assim como subiram de 13 para 20 os desalojados, embora todos tenham onde ficar e não tendo sido necessário a autarquia fornecer qualquer tipo de acomodação. Ora, minha querida Berta, espero terem terminado aqui os incêndios em coberturas em Lisboa. É preciso que esta situação termine com este caso, sem mais sequelas ou novos episódios nos próximos dias que se avizinham.

Com um beijinho me despeço de ti, minha amiga, esperando trazer outras notícias brevemente, que não as de trágicas ocorrências de incêndio,

Gil Saraiva

Para ver o vídeo do drone:

https://www.cmjornal.pt/portugal/detalhe/exclusivo--imagens-de-drone-mostram-destruicao-pelo-fogo-de-varias-coberturas-em-predios-de-lisboa-ha-13-desalojados

 

 

 

Carta à Berta nº. 331: Um Incêndio à Minha Porta - O Rescaldo

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Olá Berta,

Conforme te informei ontem houve um incêndio aqui perto de casa, a menos de 50 metros, num terceiro andar, como o meu, mas esse de águas-furtadas. Estive lá a falar com os comerciantes e alguns moradores, mas não existiam ainda algumas certezas no que se referia à segurança e estabilidade do prédio. Quando abandonei o lugar ainda se estavam a avaliar condições técnicas e de habitabilidade para o edifício e também para o funcionamento dos 2 espaços comerciais do rés-do-chão. Estou a falar do fogo que deflagrou na Rua Francisco Metrass no número 59, onde por baixo fica a Cervejaria Europa e a Farmácia Porfírio, aqui bem no centro da minha aldeia de Campo de Ourique.

Soube já, durante este último sábado, que a estrutura do prédio não foi afetada e que está tudo dentro das normas nas condutas de gás que abastecem os moradores, que era a situação mais preocupante. Devido a isso quer o Restaurante Cervejaria Europa quer a Farmácia Porfírio poderam laborar, todo o dia, dentro da normalidade e sem problemas de maior. O senhor Paulo, gerente do restaurante, foi quem teve mais trabalho, ainda na sexta-feira, pois passou o resto da tarde em limpezas devido a alguma fuligem que lhe entrou porta adentro e também à água suja que lhe deixou a esplanada num estado caótico. Contudo, tudo ficou resolvido e ao final do dia já sabia que poderia voltar a abrir portas este sábado.

No rescaldo do incêndio também consegui saber que os 4 feridos ligeiros já se encontram bem e que nunca estiveram em perigo, na generalidade, a inalação de fumo foi a causa das assistências hospitalares. Também soube que todos os que não puderam regressar a suas casas foram realojados ou pela autarquia ou junto de familiares. Ficará a faltar tratar da cobertura de todo o edifício antes da chegada do próximo inverno.

Infelizmente não consegui descobrir para onde foi o senhor Manuel (nome fictício que usei para falar do ancião na habitação de quem, por descuido, se iniciou o fogo). Esse senhor é a pessoa que mais me preocupa, não apenas devido à idade, que já ultrapassou as oito décadas, mas principalmente porque deve estar bastante afetado com a tragédia que agora vive. Por ser fim de semana não consegui saber nada na Junta de Freguesia, contudo, penso que não terá sido descurada a sua situação.

Espero que continues a passar um bom fim de semana e até amanhã cara Berta. Recebe um beijo de despedida deste saudoso amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta nº. 330: Campo de Ourique: Um Incêndio à Porta de Casa...

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Olá Berta,

Ontem, à hora de almoço, quase às 13 e 30, tive o fogo a aquecer um início de tarde, já por si quente, embora arejado por uma brisa que se sentia na pele. Por outras palavras, um incêndio no terceiro andar, umas águas-furtadas, da minha rua, a Francisco Metrass. Por baixo, no rés-do-chão, ficam a Cervejaria Europa e, ao lado no mesmo prédio, a Farmácia Porfírio.

Relativamente à proximidade do edifício onde vivo distam uns 30 metros, mais coisa menos coisa, mas existe uma rua (a Almeida e Sousa) a separar-me do ocorrido. Foi perto, mas não demasiado próximo de mim. Não tendo o meu terceiro andar sido sequer penalizado pelo fumo intenso provocado pelo incêndio e, muito menos ainda, pelo trabalho dos Bombeiros Sapadores de Lisboa, coadjuvados pelos Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique.

A fotografia que te envio ilustra a minha perspetiva do local do incêndio e foi tirada já quase no final dos trabalhos a meio da tarde. Não me perguntes porquê, mas optei por não colocar imagens do incêndio propriamente dito. Não sei se é devido à proximidade e vizinhança, se por outro motivo que agora não discorro, mas poderás ver online, se tal te interessar, bastantes fotografias ilustrativas do fogo e até vários clips, com pequenos filmes, descrevendo o que se passou. Eu preferi só incluir a imagem que te envio.

Reconheço que, mesmo sendo jornalista, a cobertura de um evento que me é próximo me tira algum discernimento e lucidez, mas vou tentar dar-te uma ideia aproximada dos acontecimentos.

Pese embora o facto de saber o nome da pessoa residente no sótão onde o incêndio teve início, não pretendo aqui crucificá-lo, nem nada que se pareça, pelo que vou utilizar o nome fictício de Manuel.

O senhor Manuel é um ancião do bairro. Vive sozinho, nas águas-furtadas de um prédio sem elevador, que corresponde a um terceiro andar. A sua idade, que já ultrapassou as 80 primaveras dá-lhe o direito de se achar sabedor das coisas da vida e de rejeitar conselhos de vizinhos atrevidos e metediços na vida privada e alheia, com que nada tem a ver, muito menos a comentar.

Na realidade o senhor Manuel já fora advertido, vezes sem conta, pelos vizinhos do seu prédio e pelos outros do prédio das traseiras do edifício, que assar sardinhas ou fazer grelhados, na varanda oposta à fachada da casa, era perigoso e que um dia ainda causaria um problema qualquer. Contudo, pensava o nosso ancião, ele não estava xexé nem sequer para lá caminhava, sabia perfeitamente aquilo que fazia. O problema deste raciocínio é que os imponderáveis acontecem, independentemente da idade dos protagonistas, e muitas vezes sem nada ter a ver com a sua atenção ou falta dela relativamente ao que estão a fazer.

Foi o caso de ontem. O ancião desta narrativa, afastou-se por uns minutos do almoço que estava a grelhar na varanda, quiçá para ir ver se os acompanhamentos já estavam confecionados e o desastre aconteceu. Poderia ter acontecido a qualquer um, porém, para azar do senhor Manuel foi a ele que lhe calhou a fava.

O incêndio espalhou-se rapidamente e o discernimento do protagonista, aflito com a situação, não foi suficiente para que reagisse em tempo útil. Tanto que, quando foi retirado das águas-furtadas, quase meia hora mais tarde, ainda andava, no meio de um fumo imenso, à procura do telemóvel e da chave da entrada para fechar a porta antes de abandonar a habitação. Com algum esforço acabou por entender que a porta teria de se manter aberta para que os bombeiros pudessem atuar e foi conduzido, atordoado e confuso, à saída do prédio.

Foram quatro as vítimas de inalação de fumo e as duas águas-furtadas do edifício ficaram sem cobertura e com estragos avultados. Até o prédio vizinho, mais recente, foi afetado pela água utilizada para apagar o fogo. Também os andares imediatamente anteriores às habitações do topo se viram afetados pela água, como não poderia deixar de ser. Quando às 18 horas vim para casa para escrever esta carta, amiga Berta, ainda os homens da Companhia do Gás, tentavam aferir se as condutas do prédio teriam ou não sido afetadas pela tragédia. Não cheguei a saber o resultado.

Conforme já dei a entender a pronta atuação dos bombeiros do bairro e dos sapadores da capital impediu uma tragédia de maiores dimensões. Contudo, embora seja fácil colocar a culpa no senhor Manuel, eu acho que se trata apenas de um retrato menos bonito da situação social em que vivemos desde finais do século passado. Todos sabemos que por toda a cidade e pelo país fora temos anciãos a viver sozinhos em suas casas sem a mobilidade necessária e muitas vezes o discernimento requerido, para que situações trágicas possam ser evitadas.

Deveria existir algum mecanismo social que ajudasse a prevenir estas situações. Mas entre dever e haver vai muito mais do que a diferença dos verbos. Aliás, recordo-me que no prédio onde habito, já lá vão umas dezenas de anos, vivia um casal de reformados no rés-do-chão (e ainda hoje vivem). O homem estava ausente e a senhora resolveu ir ao mercado municipal, situado no início da rua, fazer uma pequena compra. Porém, esqueceu-se da comida do cão ao lume.

O incêndio que se gerou foi igualmente debelado, atempadamente, pelos mesmos corpos de bombeiros que atuaram hoje e também não houve consequências de maior a relatar, exceto na referida cozinha. Hoje o casal vive com uma neta, o que me deixa muito mais descansado, ainda mais porque a memória e o discernimento da senhora se têm vindo sempre a degradar.

O que eu quero dizer, amiga Berta, é que o caso de hoje não é, nem será proximamente único e excecional. Na mesma situação aflitiva estão centenas de anciãos no nosso querido Bairro de Campo de Ourique (já para não falar do país). Muitos deles sem a totalidade e plenitude das suas capacidades. Algum tipo de acompanhamento e aconselhamento deverá ser alargado, pois já existem algumas iniciativas neste sentido, por forma a se poder ajudar a prevenir futuras situações trágicas desnecessárias e que nalguns casos podem até mostrar-se fatais.

Quanto ao incêndio de hoje não me posso esquecer de deixar demonstrada a minha solidariedade para com a Cervejaria Europa e para com o seu gerente, o senhor Paulo, que não só perdeu hoje a receita dos 19 clientes, que a quando do incêndio se encontravam a almoçar, mas que, quando me vim embora, ainda não sabia se poderia voltar a usar o gás proximamente.

Hoje foram 400 euros perdidos num almoço que até estava a correr melhor do que o costume, para os tempos de pandemia que vivemos. Porém, no momento a situação para ele e funcionários ficou mais incerta e insegura. Os mesmos votos deixo à farmacêutica, a Doutora Graça, e a todos os funcionários da Farmácia Porfírio que hoje se viu obrigada a fechar portas. Que as coisas corram pelo melhor a ambos é o que desejo. Despeço-me com um beijo amigo,

Gil Saraiva

 

 

 

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